
Não creio que minhas recordações me traiam se digo que, entre nós, a primeira tentativa orgânica de inserção do pensamento de Gramsci na cultura política da esquerda ocorreu no interior do Partido Comunista Argentino. Ela fez parte de uma proposta, jamais explicitamente declarada, de atualização ideológica e cultural, que teve em Héctor P. Agosti seu mais inteligente e consciente promotor. Pensador e ensaísta de destaque, importante membro do grupo dirigente do Partido Comunista, Agosti foi – nos anos 50 – o centro de gravidade de um movimento intelectual tendencialmente gramsciano. A história da formação e do desenvolvimento desse movimento, de suas direções conflitivas com direções políticas que impediam a circulação de idéias, de sua marginalização da esfera de decisões até mesmo em seu próprio ambiente de trabalho, de seu choque e de sua ruptura com o comunismo dos anos 60, de sua divisão e posterior marginalização, tudo isso encerra a essência do processo de introdução de Gramsci na Argentina. É provável que algo análogo tenha ocorrido no Brasil no final dos anos 60, quando se iniciou a tradução de alguns volumes dos Cadernos. "
ARICÓ, José (1931-1991). Geografia de Gramsci na América Latina. Gramsci e a América Latina, págs. 26-27, 2ª edição. Editora Paz e Terra 1993.
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