Barack Obama deixou para vir ao Brasil só no seu terceiro ano de governo e chega no próximo final de semana cercado de expectativas. Mas a impressão que se tem, mesmo sem o Wikileaks espalhar, é que a viagem está minguando. Agora, mais essa: o famoso discurso, para o qual o Consulado no Rio sonhava com a Cinelândia, o Aterro do Flamengo e coisas assim, nem deve ser mais no Brasil; está sendo transferido para o Chile!
O que importa para o Brasil, para Dilma Rousseff e para a vida real, porém, não é salamaleque -simbologia do primeiro presidente negro dos EUA, discurso grandioso, reuniões protocolares com empresários, lenga-lenga sobre ações conjuntas na África e cooperação em biocombustíveis -que, cá pra nós, vêm desde George W. Bush.
O que interessa para a pragmática Dilma e para o emergente Brasil são notícias concretas no principal flanco das relações bilaterais: o saldo da balança. Se, além de Michele e de seu sorriso encantador, Obama trouxer um suculento pacote na área comercial, pronto, a viagem terá sido um sucesso.
Como bem registrou Carlos A. Cavalcanti, da Fiesp, no jornal "Valor Econômico", a verdade é que as relações na área política vão bem, obrigada. Uma cutucada daqui, outra dali (só para marcar o viés ideológico), mas as visitas de primeiro escalão e os planos comuns intensificaram-se desde Bush-Lula e nunca mais pararam. O calcanhar-de-Aquiles é outro: o comércio.
"No campo comercial, a qualidade da relação deteriorou-se, sobretudo da perspectiva brasileira", escreveu Cavalcanti. Eis o porquê: "O pior deficit do Brasil é com os EUA, embora o quinto melhor superavit dos EUA seja conosco".
É preciso dizer mais? Na relação do emergente com a maior potência, quem perde é o emergente, quem lucra é a potência. É aí que Obama pode mostrar se a visita é só badalação ou não.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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