O Globo
O homem mais rico do planeta acaba de provar
que nem todo o dinheiro do mundo compra uma eleição
Loser. Loser. Loser. Essa é a pior ofensa para um empresário como Elon Musk, que Trump transformou no gênio da “eficiência da América Grande”. O homem mais rico do planeta. Está prestando enorme serviço ao mundo livre. Musk conseguiu, com a derrota fragorosa de seu candidato conservador para a Suprema Corte do estado de Wisconsin, provar que nem todo o dinheiro consegue comprar uma eleição.
Seria uma semana de holofotes apenas para
Trump e seu tarifaço delirante. Mas Musk quis dar a seu patrão na Casa Branca
uma vitória. A de um juiz patriota contra uma juíza “progressista de esquerda
radical”, num estado decisivo. Musk gastou US$ 23 milhões (mais de R$ 130
milhões) nessa campanha de uma corte estadual. Deu, publicamente, cheque de US$
1 milhão por um voto em seu juiz. Em jogo, entre outras coisas, estará o
julgamento do direito ao aborto.
Perdeu, mané. E foi pelo voto de eleitores republicanos arrependidos. Desconfortáveis com os ataques trumpistas a todos os aspectos da vida real da classe média. E da lucidez. Não falo só de educação e universidades. Saúde. Emprego. Liberdade de expressão. Deportação ilegal. Agora, o fantasma da recessão e da inflação. Um isolacionismo típico de ditaduras, de esquerda e direita. O contrário da ideologia liberal que orgulha os americanos.
O bilionário de cabeceira de Trump vai rachar
esse governo. Musk, como se sabe, vem de uma família tão racista que seus avós
maternos se mudaram do Canadá para a África do Sul do apartheid. E lá o bebê
Elon nasceu e cresceu, num ambiente de segregação máxima. Suas saudações
nazistas e seu descontrole emocional incomodam. Seus discursos inflamados com
boné ao lado do presidente também. Afinal, de louco basta um na Casa Branca.
O significado simbólico de Wisconsin é
poderoso e me intrigou mais que o tarifaço. As taxas eram previstas. Essa
derrota, não. Musk é desprovido de inteligência política. Usou seu X para
chamar o voto em Wisconsin de “uma daquelas situações estranhas em que uma
eleição aparentemente pequena pode determinar o destino da civilização
ocidental”.
Quis comprar uma corte de juízes. Meteu o
dedo na tomada. Seu chefe também.
Estimulado por Musk, Trump acusou a candidata
da oposição de “libertar pedófilos e estupradores”. Pediu ao eleitor que
evitasse um DESASTRE, com maiúsculas. Losers. Patéticos. A juíza democrata
Susan Crawford ganhou. E as análises apontam como causa um sentimento forte do
eleitorado: o ressentimento contra “um governo de bilionários”. Sem empatia
pelos comuns.
Está viva a democracia americana. Prestem
atenção. É só a primeira derrota depois das urnas do ano passado. Wisconsin se
tornou a plataforma do descontentamento.
O mundo já enxerga a cruz na testa lisa de
Musk, o dono da SpaceX e da Tesla que empunhou a motosserra de gastos públicos
nos EUA. Um homem com fortuna declarada de quase R$ 2 trilhões. Dinheiro pode
até trazer felicidade, mas não traz inteligência.
Eu torcia para Musk permanecer no governo,
pois é tão sem noção que constrange até o próprio Trump. Em fevereiro, o
bilionário escreveu em seu X: “Eu amo @realDonaldTrump tanto quanto um homem
heterossexual pode amar outro homem”. Acho que esse amor começa a perder
reciprocidade.
Musk está para ser defenestrado – e sabe
disso, como admitiu em comício no Wisconsin: “Não vou a lugar nenhum. Talvez eu
vá para Marte, mas ele fará parte dos Estados Unidos”.
Musk é o alter ego de Trump. Veremos como o mundo vai se livrar dessa dupla megalomaníaca.
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