domingo, 23 de outubro de 2016

PT pode apoiar nome do PMDB para presidir o Senado

Marina Dias, Daniel Carvalho – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com aval do Planalto para substituir Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) tem buscado todas as forças da Casa para garantir unanimidade em torno de sua candidatura, negociando, inclusive, cargos para o PT na Mesa Diretora.

Segundo a Folha apurou, senadores petistas procuraram Eunício para saber se ele estaria disposto a adotar, na eleição de fevereiro, o critério da proporcionalidade para a distribuição de postos no comando do Senado. Em troca, receberia o apoio de pelo menos parte da bancada do principal partido de oposição ao governo de Michel Temer.

Para se eleger presidente da Casa, o senador precisa do voto de 41 dos 80 colegas. O PMDB de Eunício tem 18 parlamentares na Casa. O PT, partido da ex-presidente Dilma Rousseff, conta com 10.

Líder dos petistas no Senado, Humberto Costa (PT-PE) disse que a atitude da sigla é em defesa da proporcionalidade e que, caso o candidato do PMDB adote o critério, terá o apoio da bancada do PT.

"Em princípio, isso vai fazer com que a gente vote no nome que for sugerido pelo maior partido da Casa, o PMDB", disse Costa à Folha.

Ele pondera, porém, que o tema ainda não foi discutido a fundo com a bancada e que, se algum senador divergir do método, haverá debate.

"Mas creio que a tendência será respeitar o critério de proporcionalidade. Essa é a nossa prática mais comum."

Os petistas querem garantir o mínimo de poder para o partido em postos-chave no Senado, com a acomodação de servidores ligados à sigla em cargos da Mesa Diretora.

Os mais pragmáticos do partido lembram que já abriram mão de muito espaço ao perderem a liderança do governo. Hoje, o PT ainda tem a primeira vice-presidência e a quarta secretaria da Mesa.

Os considerados mais ideológicos pelos colegas, como o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), por sua vez, preferem não se aliar a um nome que votou pelo impeachment.

FOGO AMIGO
Antes mesmo do início da campanha oficial, Eunício tem sido alvo de fogo amigo dentro do próprio PMDB.

As informações plantadas vão desde problemas com a saúde do senador –que ele desmente– até candidaturas paralelas de correligionários, como Garibaldi Alves (RN).

Aliados de Eunício dizem que até mesmo auxiliares de Temer ensaiaram um movimento de "entusiasmo" a Garibaldi que, na visão deles, seria "menos independente" que Eunício. Ainda segundo os interlocutores do líder do PMDB no Senado, os ministros mais próximos ao presidente não têm força política –leia-se votos– para interferir na eleição da Casa.

O nome de Garibaldi como concorrente interno de Eunício surgiu em 29 de agosto, dia do depoimento de Dilma Rousseff na sessão do julgamento final do impeachment.

Enquanto a ex-presidente respondia a perguntas de senadores na tribuna, o boato sobre Garibaldi ganhou força nos bastidores e ele se apressou a desmentir a história para o colega de partido.

A indicação de Eunício à presidência da Casa já havia sido negociada há dois anos, no pacote que incluiu a eleição de Renan ao cargo e a de Romero Jucá (RR) ao comando do PMDB. No novo xadrez, se Eunício se eleger, Renan poderia ficar com o seu posto de líder do PMDB na Casa.

Um observador do Senado, no entanto, diz que Eunício deve tomar cuidado por ter se lançado muito cedo. O longo tempo de campanha, mesmo que discreta, significa mais tempo de exposição como vidraça, avalia o parlamentar.

Até o momento, a candidatura de um peemedebista deve ser a única no ano que vem e a proporcionalidade é um critério geralmente utilizado, mas que pode ser vetado por decisão política.

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