domingo, 27 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Gestão paraestatal volta a crescer no governo Lula

O Globo

Na indicação dos conselheiros da União em 63 empresas, prevalecem critérios políticos e pecuniários

O Conselho de Administração das empresas de capital aberto é uma garantia para os acionistas. Fiscaliza as decisões dos gestores responsáveis pelo dia a dia das corporações e contribui com a visão estratégica dos conselheiros, com o objetivo de aumentar a lucratividade e perpetuar o negócio. No Brasil, contudo, tem sido frequente a distorção desses princípios nas empresas em que o Estado detém participação acionária e o direito de indicar integrantes do Conselho. Embora não sejam formalmente empresas estatais, nem controladas pelo governo, suas atividades acabam por adquirir uma natureza paraestatal, influenciada pela política. Isso quando a motivação da indicação não é exclusivamente pecuniária (conselheiros são muito bem remunerados), prejudicando ao mesmo tempo a estratégia corporativa, a geração de riqueza e, em consequência, a economia brasileira.

Há, de acordo com levantamento do GLOBO, 63 companhias privadas ou de economia mista espalhadas por 20 setores em que o governo pode indicar nomes aos Conselhos de Administração ou Fiscal. Sob o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as escolhas têm obedecido à lógica de aumentar os ganhos de integrantes do primeiro e segundo escalões, alinhar a empresa às políticas do governo e distribuir favores. Nenhum desses critérios resulta na escolha de profissionais reconhecidos, com pensamento estratégico.

Mao, Trump e a confusão sob os céus - Luiz Sérgio Henriques

O Estado de S. Paulo

Por trás da guerra comercial desatada e dos conflitos militares correntes ou potenciais, existe, na verdade, uma grande questão democrática a ser enfrentada e desenvolvida

Se bem observarmos, nem tão amalucada assim é a insólita aproximação entre Mao Zedong e Donald Trump, que diferentes observadores passaram a fazer. “Há uma grande confusão sob os céus, a situação está excelente” – sob este lema paradoxal, o primeiro daqueles dois se lançou à destruição das velharias que supostamente atravancavam o processo revolucionário em seu país na década de 1960. Trump, o seguidor inesperado, esmera-se hoje em lançar sua própria versão do caos: uma espécie de guerra econômica de todos contra todos, esperando com isso refazer unilateralmente a primazia norte-americana, com base no medo e na chantagem.

Em ambos os casos, o pressuposto da ação política vem a ser uma revolução cultural que não deve deixar pedra sobre pedra. A burocracia do partido e do Estado chinês era o inimigo declarado do voluntarismo extremado de Mao, tal como, agora, o deep State se tornou o alvo do radicalizado partido trumpista. Assim, China e Estados Unidos voltam a ocupar a atenção geral, ainda que com sinal invertido. Antes, a China do camarada Mao pretendia ocupar o posto de vanguarda da revolução comunista, com o cerco das cidades (capitalistas) pelo mundo rural sublevado. Neste momento, contudo, revolucionária seria a América ultraconservadora, com o projeto de fazer retroagir a roda da História e moldar o mundo à imagem e semelhança de um passado irretocável – e inexistente.

Duas mulheres – Dorrit Harazim

O Globo

O menino, sem os dois braços, tem o torso coberto por uma camiseta regata e posa com os tocos à mostra

Uma está viva. Samar Abu Elouf, de 26 anos, mãe de três filhos, é fotojornalista veterana. Conseguiu ser retirada de Gaza nos primeiros meses da guerra e trabalha como freelancer para o New York Times em Doha, no Catar. Seu trabalho documental tem a força de silenciar quem o vê. As imagens são absolutas, sem retórica, por isso machucam tanto. O foco de Samar está nos poucos palestinos de Gaza que conseguem autorização de Israel para sair do enclave e buscar sobrevida longe da brutalização em curso.

Dez dias atrás uma das imagens de Samar foi premiada com o prestigioso troféu 2025 World Press Photo of the Year, pinçada entre 59.320 concorrentes. A cerimônia, realizada sob as arcadas góticas da Nieuwe Kerk, uma igreja em Amsterdã, costuma ser festiva, mas neste ano precisou aguardar até a vencedora conseguir discursar — seu rosto era um espelho de lágrimas silenciosas. A seu lado, a imagem premiada de um garoto palestino, Mahmoud Ajjour, de 9 anos, sem os dois braços. O retrato em tons de pintura flamenga é respeitoso, não grita, apenas pede reflexão. O menino tem o torso coberto por uma camiseta regata e posa com os tocos à mostra. Seu olhar parece perdido num abismo — abismo de toda uma geração de crianças palestinas moídas pela guerra.

Impunidade na veia - Merval Pereira

O Globo

O Brasil, também graças ao Supremo, regrediu no combate à corrupção pela desconstrução da Operação Lava-Jato, com incoerências que vão se acumulando no cotidiano

Os últimos dias foram pródigos em momentos que reviveram na nossa memória cívica fatos que destacam não apenas nossas dores recentes como nossas vitórias efêmeras contra a corrupção política que nos assola há anos, e voltou a ser tema central com a descoberta do desvio de dinheiro do INSS dos aposentados. A moribunda operação Lava-Jato, em seu talvez último lance, pegou o ex-presidente Collor de Mello, que conseguira escapar por mais de 30 anos das acusações criminais depois de ter sofrido impeachment- foi absolvido pelo STF, mas condenado politicamente.

Agora, apanhado novamente em crimes de corrupção, não escapou. O impressionante neste caso é a reincidência no erro. Collor, que fez questão de aparecer sorrindo na foto de sua audiência de custódia em Alagoas, sofreu punição política, foi destituído do governo, escapou da punição criminal e continuou fazendo as mesmas coisas até ser apanhado novamente. É exemplar de como a impunidade estimula a repetição dos crimes. Impressionante como políticos como Collor não conseguem se conter, continuam roubando sem medo de ser preso, de arriscar o que tinha recuperado. Perdeu os direitos políticos, voltou a ser eleito Senador, para repetir os mesmos crimes de corrupção.

Corrupção e a luta democrática - Míriam Leitão

O Globo

O combate à corrupção precisa ser resgatado dos seus descaminhos porque é também uma frente de defesa da democracia

A luta pela democracia tem muitas frentes. Uma delas é o combate à corrupção, que reforça a confiança dos cidadãos no sistema aberto e livre. A prisão de Fernando Collor de Mello lembra ao Brasil que a agenda de combate à corrupção precisa ser defendida. O caso identificado pela Controladoria Geral da União, de que desde 2019, sob olhares passivos da Previdência Social, estava sendo roubado o dinheiro de aposentados e pensionistas mostra como isso pode ser lesivo à população. O grande risco que a democracia corre nessa frente é que a extrema direita opera a versão de que há um conspiração no Supremo Tribunal Federal para livrar a esquerda das acusações de corrupção, e que ela seria a salvação, por isso estaria sendo “perseguida” pelo STF.

A roubalheira contra o andar de baixo - Elio Gaspari

O Globo

As últimas grandes roubalheiras nacionais, o “mensalão” e o “petrolão”, gravitavam em torno do dinheiro da Viúva e, de certa forma, ocorriam no andar de cima. Já a fraude da rede varejista Americanas poupava a Viúva, mas era coisa de maganos. Desta vez, graças à Controladoria-Geral da União e à Polícia Federal, descobriu-se que quadrilhas aninhadas em 11 entidades estavam roubando os aposentados do INSS.

Todo mês, tungavam coisa de R$ 50 de milhões de aposentados, gente que recebe, na média, R$ 4 mil. As quadrilhas conseguiram do INSS os dados pessoais das vítimas e fraudaram autorizações para os descontos.

A roubalheira contra os aposentados do andar de baixo envolveu um ervanário que vai a R$ 6,3 bilhões, mas só o prosseguimento das investigações chegará ao montante exato da tunga. Uma auditoria feita pelo TCU nas contas de um só ano já estimou o desvio em R$ 1,55 bilhão.

Encruzilhada dos destinos de Collor e Sarney é uma ironia da história – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

No dia da festa de aniversário de Sarney em São Luiz, o ministro do STF Alexandre de Moraes, em Brasília, determinava a prisão do ex-presidente Collor de Mello

No mesmo dia da festa de aniversário de José Sarney, em São Luiz, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em Brasília, determinava a prisão do Collor de Mello, em Maceió.

Entre afagos de familiares, amigos, aliados e antigos adversários, na noite de quinta-feira, o ex-presidente José Sarney comemorou seus 94 anos, numa festa que reuniu mais de 1500 pessoas na Fundação da Memória Republicana, localizada no antigo Convento das Mercês, no centro histórico de São Luiz, transformado em museu, no qual a memória do Maranhão, a história do Brasil e o legado do velho político maranhense se misturam. Seu acervo tem mais de 1 milhão de documentos, 24 mil livros (incluindo 3 mil raros), 50 mil registros audiovisuais e 5 mil itens iconográficos, doados pelo ex-presidente da República.

Collor, Lula e ‘politiquices’ – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Collor apavora Lula com o fantasma do petrolão e Bolsonaro, com o risco de prisão

A prisão de Fernando Collor joga luzes sobre a corrupção crônica no Brasil e traz de volta o fantasma do petrolão e da Lava Jato que assombra o presidente Lula, derrotado por ele em 1989. Já presidente, anos depois, Lula desprezou as acusações contra Collor como “politiquices”, disse que ele faria um “mandato extraordinário” ao voltar à cena política como senador e... o premiou com duas diretorias da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, epicentro do maior escândalo de corrupção da história brasileira.

Essas diretorias, a de Operações e a de Postos de Serviço da BR, viraram um balcão de negócios que, segundo a PF e a ação contra Collor no Supremo, lhe renderam R$ 20 milhões em propinas. Até hoje, é incompreensível que o petista Lula tenha dado esse presentão para um ex-presidente cassado por corrupção, senador inexpressivo e adversário que jogou sujo contra ele. No petrolão, sempre cabia mais um.

Economia vai bem, mas o chato tem razão - Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

Sem a cooperação governamental, a política anti-inflacionária permanece como tarefa exclusiva do Banco Central

Exibindo mais otimismo do que o mercado, o governo continua apostando em crescimento econômico de 2,5% neste ano, mas sem prometer às famílias um custo de vida muito mais suportável. Fora do governo, têm melhorado a cada semana as projeções de aumento da produção, já elevadas a 2% no final da semana passada. Mas a alta de preços prevista para o ano – aquele terror vivido nas lojas, nos supermercados e nos endereços de serviços – permanece acima do teto da meta, fixado oficialmente em 4,5%. No mercado, a inflação estimada para 2025 ainda estava em 5,57% no final da semana passada, segundo o boletim Focus, publicado pelo Banco Central (BC). Nem o pessoal do Ministério da Fazenda tem mencionado projeções abaixo de 5%, mesmo com a expectativa de uma boa safra de comida.

Márcio França é o mais cotado por Lula para o governo de SP

Geovani Bucci / O Estado de S. Paulo

Nome do ministro ganha força por falta de acenos de Alckmin e recados de Haddad de que não pretende concorrer ao cargo

O ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte e ex-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), é o nome mais provável para concorrer ao Executivo estadual nas eleições de 2026 pelo campo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Aliados de Lula ouvidos pelo Estadão/Broadcast afirmaram que uma eventual candidatura do pessebista foi vista com bons olhos em um jantar com deputados petistas em Brasília, há um mês, aproximadamente.

França se mostra disposto a concorrer e acredita que há chances de vencer, principalmente se o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) escolher disputar a Presidência. Nesse caso, a oposição trabalha com a possibilidade de o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), ser o candidato governista.

Ontem, durante evento do PSB em São Paulo, o ministro reforçou o movimento para 2026, mas disse que aguarda um aval de Lula. “Sou ministro e estou aguardando o presidente, como ele enxerga o quadro. Mas o desejo de disputar a eleição eu tenho”, declarou.

Aprovado por 61% e avaliado como ótimo ou bom por 41%, segundo Datafolha de 10 de abril, Tarcísio é visto como um nome forte demais se os planos atuais do governador forem mantidos e ele buscar a reeleição. No entanto, o cálculo da oposição é o de que Lula vai precisar de um palanque em São Paulo para vencer o próximo pleito novamente. Por sua vez, o ministro estaria disposto a encarar a missão.

Márcio França se lança como pré-candidato em evento

Samuel Lima - O Globo

Ao lado de Alckmin, Márcio França é celebrado como futuro candidato ao governo de São Paulo em congresso do PSB

Ministro do Empreendedorismo do governo Lula oferece palanque ao petista no maior colégio eleitoral do país ao mesmo tempo em que partido pressiona pela manutenção do vice

O ministro do Empreendedorismo, Márcio França, foi celebrado neste sábado (26), em evento do PSB, como principal aposta para enfrentar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em 2026. O movimento oferece ao presidente Lula um palanque competitivo no maior colégio eleitoral do país, ao mesmo tempo em que pressiona o PT a manter o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), na chapa de reeleição do próximo ano. O posto é cobiçado por partidos como o MDB, que tem uma bancada mais representativa no Congresso e mais prefeituras.

Ao lado de Caiado e Ratinho Júnior, Zema fala em união com governadores para vencer Lula em 2026

Luísa Marzullo – O Globo

Mineiro também aproveitou para reforçar o nome de seu vice na sucessão; chefes estaduais se reuniram em evento do agronegócio em Uberaba (MG)

Os governadores Romeu Zema (Minas Gerais), Ratinho Júnior (Paraná) e Ronaldo Caiado (Goiás) — todos de direita e pré-candidatos à Presidência — participaram neste sábado (26) da abertura da 90ª Expozebu, tradicional feira do agronegócio realizada em Uberaba (MG). Durante o evento, Zema sugeriu a possibilidade de os três se unirem em torno de uma candidatura única para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2026.

— No ano que vem, Caiado e Ratinho, tenho certeza de que estaremos tirando esse governo que persegue quem produz, que persegue quem trabalha. O Brasil não merece isso. Caminharemos juntos por um país melhor — declarou Zema.

O governador mineiro também voltou a indicar o vice-governador Mateus Simões (Novo) como seu sucessor natural em Minas. As reiteradas manifestações de apoio já motivaram representações no Ministério Público por suposta campanha antecipada.

Comida cara, ladrão no INSS - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Inflação de alimentos está à beira de ultrapassar ganhos da média dos salários

No dia 15 de janeiro, o governo cancelava medida que ajudaria a fiscalizar bandalheiras com o Pix. Até aquele dia, um vídeo de propaganda de um deputado da direita tinha sido visto 217 milhões de vezes, mais do que a população do país. O vídeo avacalhava o governo e espalhava o medo da vigilância sobre o Pix. A popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva caía pelas tabelas, diriam as pesquisas, mais tarde.

Uma semana depois da derrota do Pix, o governo começava a dizer que tomaria providências a fim de conter a inflação dos alimentos. Foi em 22 de janeiro, aquele dia em que Rui Costa, ministro da Casa Civil, falou de modo desastrado sobre "intervenções" para lidar com a carestia da comida. O governo queria dar a impressão de que se agitava a fim de tomar medidas. Houve reuniões com empresários. O governo baixou o imposto de importação de sardinha. Lula disse que caçava quem "passou a mão no direito" do povo de comer ovo.

Obrigado, Francisco - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Ele defendeu os mais pobres entre os pobres e os mais excluídos entre os excluídos

Quando o papa Francisco dizia que é impossível ser cristão e não dar prioridade aos excluídos, só estava citando o fundador da empresa milenar de que foi CEO nos últimos 12 anos.

Mesmo o então cardeal Joseph Ratzinger (futuro papa Bento 16), em seu combate à Teologia da Libertação, deixava claro que "o escândalo das gritantes desigualdades entre ricos e pobres – quer se trate de desigualdades entre países ricos e países pobres, ou de desigualdades entre camadas sociais dentro de um mesmo território nacional – já não é tolerado" ("Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação", 1984).

Collor não foge ao seu destino - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O ex-presidente ignorou a chance dada pelo STF em 1994 e caiu na mão da Justiça 31 anos depois

Arnon de Mello, pai de Fernando Collor de Mello, costumava repetir uma frase que pode se aplicar ao destino do filho: "O que não vem em maio, vem em setembro".

Queria dizer que das dívidas pendentes com a vida não se escapa. Mais cedo ou mais tarde, a fatura é resgatada. É o que aconteceu ao ex-presidente.

O primeiro eleito pós-redemocratização e primeiro também a sofrer um impeachment, em 1992, dois anos depois absolvido dos crimes que o tiraram do Palácio do Planalto e agora confinado a uma cela em Maceió, onde tudo começou como prefeito da capital alagoana.

O castigo não veio a cavalo, como reza o ditado, mas acabou vindo a bordo da Lamborghini e outros luxos da mesma envergadura comprados com o fruto da corrupção a que se deu ao desfrute junto à hoje extinta BR-Distribuidora, da Petrobras, valendo-se do mandato de senador.

A identidade ambígua do bandido - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

O alarme soas alto quando, no plano federal, muitos se elegem como bandidos-matadores

Tão elástico é o escopo do identitarismo que até mesmo criminosos podem se vangloriar de uma identidade específica. Há quem se defina orgulhosamente como "bandido e não band-aid". Semanas atrás, morreu em confronto com a polícia carioca um chefe do tráfico, bandido pleno, que se identificava como "Cheio de Ódio". Em "Dia Zero", série em que Robert de Niro interpreta dois chefões da máfia, diz um deles que não existe meio-bandido. O que contraria a dosimetria penal de "meio-termo" para o 8 de janeiro, sugerida por Michel Temer.

Toda e qualquer identidade se constrói na relação com a alteridade, buscando unidade nas identificações. A isso se presta a palavra bandido, largo espectro de sentido para outras, como criminoso, celerado, ladrão, chantagista. O italiano "bandito" designa alguém banido do convívio comunitário e mancomunado em bandos, com interesses próprios e disruptivos. Isso amplia o escopo do banditismo além da criminalidade penal, pois "bando" implica também desorganização social e moral de formas institucionais.

A religião ficou obsoleta? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro mostra redução de indicadores de fé nos EUA e oferece explicações para o fenômeno

Por um tempo, pareceu que os EUA não seguiriam o caminho da Europa Ocidental e permaneceriam uma nação firmemente religiosa. Não dá mais para acreditar nisso.

Os números não são mais favoráveis às igrejas. Em 1991, 6,3% dos adultos americanos diziam não ter nenhuma filiação religiosa. Em 2021, eram 29,3%. E as coisas ficam muito piores se deixarmos de olhar para a população como um todo e nos concentrarmos nos jovens. No recorte dos 18 aos 29 anos, os sem religião passaram de 7,9% para 43,4%.Algo parecido ocorre com vários outros indicadores de fé religiosa. Dados impressionantes de fechamento de igrejas, seminários e escolas religiosas reforçam essa percepção.

40 anos de reconstrução democrática: avanços, riscos e o muito por fazer - Roberto Amaral

Para Glauber Braga, deputado federal fluminense de esquerda, ameaçado de cassação política pelo chorume da política nacional, o consórcio fascismo/neoliberalismo/centrão.

A primeira leitura do quadro brasileiro de nossos dias leva analistas da vida política a reduzir o avanço da extrema-direita nativa a simples sintoma de uma tendência mundial, assim desapartado do processo histórico nacional.  Ora, o fenômeno político não habita as nuvens.  Se a história fosse apenas isso, ela estaria morta, pois nada mais haveria por fazer.  A anomia política se alimenta nesse refrão, que, ademais, pacífica a consciência dos que resistem ao combate.  É incontestável estarmos em face de fenômeno (avanço fascista) que se espalha em plano mundial, como foi a emergência do fascismo histórico nos anos 20 e 30 do século passado. Mas esta não é a história toda, pois, ademais de desconhecer as diferenças passadas e presentes das experiências fascistas (determinadas pela diversidade histórica de cada país), desconhece também a resistência antifascista diferenciada, levada a cabo de forma igualmente diferenciada, segundo condições especificas. Reduzir a emergência da onda fascista que nos aflige a simples manifestação de um fenômeno mundial, exilado da realidade brasileira, implica erro de método, e carrega consigo o risco de distorções estratégicas graves, como insinuar, para os que nada fazem, que não há mesmo o que fazer.  E a história nos diz que a serpente de há muito escapou do ovo.

Poesia | Às vezes tenho ideias felizes, de Fernando Pessoa

 

Música | Marisa Monte e Adriana Calcanhoto Beijo sem

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