*Amartya Sen, indiano, um dos criadores do
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e ganhador do Prêmio Nobel de Economia
(1998), em 23/07/2000, em entrevista ao GLOBO
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
sábado, 14 de junho de 2025
Opinião do dia - Amartya Sem*
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Ataque de Israel ao Irã amplia risco no Oriente Médio
O Globo
Houve alívio com atraso no programa nuclear,
mas é impossível prever consequências do confronto
O vigoroso ataque de Israel contra o Irã, com o objetivo de destruir instalações militares e nucleares, contou com 200 caças, uma base de drones plantados em território iraniano pelo serviço secreto israelense, veículos infiltrados e armas teleguiadas para atingir o alvo. Como resultado, os mais altos comandantes militares, líderes da Guarda Revolucionária e cientistas do programa nuclear foram mortos. Bombardeios atingiram centros de pesquisa, fornecedores de equipamentos, lançadores de mísseis e instalações armadas. A usina de Natanz, uma das sedes do programa nuclear iraniano, foi severamente danificada.
Não serve o IOF? Há outros impostos – Carlos Alberto Sardenberg
O Globo
Parece que boa parte das medidas do novo
pacote fiscal resulta de improviso para arrancar receita onde for mais fácil
“Estes são os meus princípios. Se você não
gosta deles, eu tenho outros” (Groucho Marx)
Lembrei-me da frase quando o ministro
Fernando Haddad anunciou a Medida Provisória contendo uma nova leva de aumento
de impostos. Algo assim: não gostaram do IOF? Temos outros impostos.
O ministro não nega que esteja elevando tributos, mas assegura que são justos. Trata-se, diz, de eliminar distorções do mercado financeiro e ampliar a base de pagantes, alcançando os mais ricos. O presidente Lula foi mais explícito. Na quinta-feira, numa solenidade em Minas, disse que não ganhou a eleição para beneficiar os ricos. Acrescentou um número: R$ 860 bilhões — esse seria o volume anual de isenções fiscais ou gastos tributários.
Qual a responsabilidade do especialista? – Pablo Ortellado
O Globo
Poucos intelectuais contemporâneos são tão influentes quanto o psicólogo social Jonathan Haidt. Seu último livro, “A geração ansiosa” (Companhia das Letras), reuniu uma série de evidências conectando o uso crescente de mídias sociais em celulares e o aumento de transtornos mentais entre jovens e adolescentes. Além de sugerir uma relação causal, Haidt defende medidas concretas, como proibir celulares nas escolas e retardar o acesso dos adolescentes às mídias sociais. O sucesso do livro — e a velocidade com que suas recomendações vêm sendo adotadas em diversos países — causou inquietação na comunidade científica, sentimento capturado num relatório publicado na semana passada.
Para emplacar em 2026? - Eduardo Affonso
O Globo
‘Acho que o senhor vai gostar do Haddax
Classic. Tirando o arcabouço, que ficou meio frágil, é um carro com potencial’
Interior (bem interiorzão). Concessionária
hipotética de carros usados imaginários, em algum ponto de um lugar mítico
chamado Brasil. Manhã de sábado.
Zé, maltrapilho e maltratado, conversa com o
vendedor, que o olha com mal disfarçado desdém.
— Então, de 2019 a 2023 eu andei de carro de boi. Sofri muito. Daí resolvi mudar radicalmente e troquei por uma carroça. Estou com ela há dois anos e não aguento mais. Só vou poder trocar em 2026, mas já queria dar uma espiada nos modelos disponíveis.
O desastre de Trump - André Gustavo Stumpf
Correio Braziliense
A crise da Califórnia e a truculência do
presidente norte-americano parecem ter o objetivo de desviar a opinião pública
dos problemas imediatos e reais
O povoado de Nuestra Senõra de Los Angeles de
la Porciúncula, ou simplesmente Los Angeles, foi fundado em setembro de 1871
por um grupo de 44 pessoas predominantemente afro-americanos, 11 homens, 11
mulheres e 22 crianças, dois espanhóis e alguns nativos. Hoje, é a segunda
maior cidade dos Estados Unidos, no estado mais populoso do país, Califórnia,
que ostenta o produto interno bruto semelhante ao do Japão. Se fosse um país,
seria o quarto mais rico do mundo.
A Califórnia também sedia as mais valiosas e principais universidades norte-americanas. Foi ali que começou o movimento dos hippies, paz e amor, que se transformou em violento protesto por todos os Estados Unidos contra a guerra do Vietnã. Os protestos empolgaram o país de ponta a ponta e culminaram com a monumental marcha contra Washington. O formidável movimento constrangeu o governo federal, que foi levado a negociar o fim do conflito. Hoje, o Vietnã é um país amigo que faz negócios regulares com os norte-americanos.
Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa - Bolívar Lamounier
O Estado de S. Paulo
Dispor-se ou não a fazer ao menos um modesto esforço para levar a sério o vocábulo ‘política’ equivale à diferença entre um cidadão e um marginal
Faz tempo que a discussão sobre o ajuste
orçamentário insipidou o noticiário brasiliense; desculpem-me, pois, os
leitores se retorno a três outras coisas insípidas que me empenho em lhes expor
a cada duas semanas.
O primeiro dos três é Lula, que não é propriamente um aborrecimento, mas uma preocupação que ainda aflige todos nós, brasileiros. O segundo é nosso desinteresse pela política, de modo geral, no qual chegamos a intuir algo de errado, mas carecemos de potência para sobrepujar nossa preguiça e o gozo de alguns prazeres que, bem ou mal, vez por outra nos é dado desfrutar. O terceiro, que na verdade é um resumo dos dois anteriores, é a certeza de que, mesmo se tivéssemos as qualidades que a situação requer, o esforço individual de cada um não faria grande diferença.
Fanfarrões - Carlos Andreazza
O Estado de S. Paulo
Hugo Motta informou que pautará a urgência do
projeto que sustaria o decreto que estabelecera novas alíquotas para o IOF.
Votação prevista para segunda. Até lá, um longo mar a atravessar. E nenhuma
deliberação de mérito no horizonte. Muitas águas sobre as quais negociar.
Fantasiado de fiscalista, Motta usa Haddad de escada – para (tentar) encontrar uma identidade à sua gestão na Câmara e para acarinhar a oposição, que o percebe como governista de primeira classe nos voos de Lula pelo mundo.
A ideia errada de Trump sobre a China – Fareed Zakaria
O Estado de S. Paulo
Presidente não entende influência de Pequim e torna EUA mais vulneráveis
O acordo comercial do presidente Donald Trump
com a China, anunciado esta semana, é certamente vago. Mas parece seguir o arco
familiar do que um comentarista do Financial Times inteligentemente apelidou de
“comércio Taco” – a visão do mercado de que “Trump Sempre se Acovarda” – com
uma reviravolta.
O acordo consiste principalmente em um retrocesso para o estado de coisas antes de Trump iniciar sua guerra comercial, exceto que os americanos ainda pagarão uma taxa tarifária de 55% sobre os bens da China (em comparação com a tarifa de 10% da China sobre os produtos americanos).
O PL da Devastação e a miopia climática - Oscar Vilhena Vieira
Folha de S. Paulo
Se aprovado, projeto deveria ser vetado pelo
presidente
Na contramão dos esforços para conter e
mitigar a crise climática, o Congresso Nacional está prestes a aprovar o PL
2159/21, que implodirá importantes mecanismos de proteção socioambiental
estabelecidos pela Constituição de 1988 que vêm sendo implementados ao longo
das últimas décadas.
Para atender aos interesses imediatos e à ganância de alguns setores da economia, o Parlamento comprometerá os interesses gerais de toda a comunidade, assim como o próprio desenvolvimento sustentável da economia brasileira, que tem na preservação ambiental e na biodiversidade a sua maior vantagem competitiva.
Submissão esconde estratégia – Alvaro Costa e Silva
Folha de S. Paulo
Ex-presidente está conformado com a prisão e,
aconselhado por Temer, tenta punição mais branda
A certa altura do depoimento de Bolsonaro ao STF, Alexandre
de Moraes perguntou: "O senhor está dizendo que a cogitação, a
conversa, o início dessa questão de estado de sítio e estado de defesa teria
sido em virtude da impossibilidade de recurso eleitoral, é isso?".
"Sim, senhor", respondeu o capitão, prejudicando sua defesa e admitindo ter cometido o crime de que é acusado, tramar um golpe após a derrota para Lula, pois em contexto legal as medidas citadas não se justificam. Não houve fraude nas eleições. Como o próprio Bolsonaro de novo reconheceu, usando uma linguagem que seus apoiadores não terão dificuldade de entender: "Tivemos que entubar o resultado".
O fabricante de emergências - Demétrio Magnoli
Folha de S. Paulo
Trump cria retórica para usar prerrogativas
excepcionais, e EUA já não são mais um país estável
Os EUA já não podem mais ser classificados
como um país institucionalmente estável. Nas democracias, a estabilidade das
instituições não é afetada por crises políticas, polarização partidária ou
manifestações populares. Tudo isso faz parte do jogo. A instabilidade emerge,
porém, quando o Executivo ergue sua lança contra a separação e independência
dos Poderes. É precisamente essa a estratégia de Trump.
A tática consiste na fabricação retórica de emergências que propiciariam a utilização de prerrogativas excepcionais. Segundo a Casa Branca, contra todas as evidências, os EUA enfrentam uma emergência econômica, uma invasão estrangeira, ameaças reais à condução da política externa e, finalmente, uma rebelião interna. Dessa paisagem caótica, puramente imaginária, nascem justificativas para a invocação de estatutos legais destinados a enfrentar cenários capazes de colocar em risco a segurança nacional.
Sem amparo legal, 'ataque preventivo' de Israel contra Irã configura agressão - João Paulo Charleaux
Folha de S. Paulo
Argumento de Tel Aviv para bombardeio não
encontra justificativa na Carta da ONU, que regula uso da força entre
Estados-membros
O "ataque preventivo" que Israel realizou
na madrugada desta sexta-feira (13) contra o Irã é um crime
de agressão. A ideia de bombardear um país para debelar uma ameaça presumida
não está amparada pelo único documento do mundo que diz quando uma guerra é
legal ou ilegal: a Carta da ONU.
Esse documento, elaborado e subscrito por todos os países, após a Segunda Guerra Mundial, proíbe a guerra. Ele diz que a força não deve ser usada entre Estados-membros das Nações Unidas, salvo sob duas exceções muito estritas, contidas no artigo 51. A primeira delas é quando há aprovação do Conselho de Segurança. É preciso que essa instância analise os argumentos e determine coletivamente que o uso da força é o único recurso possível para que um Estado-membro responda a uma agressão sofrida.
Por que Israel ataca o Irã agora? - Hélio Schwartsman
Folha de S. Paulo
Netanyahu age com um olho na geopolítica e
outro em vantagens eleitorais de que precisa para evitar a cadeia
Há décadas Israel fala em atacar o Irã para impedir o regime dos aiatolás de conseguir sua bomba atômica. Por que decidiu agir agora? A resposta tem algo de "Os Canhões de Agosto", obra em que Barbara Tuchman explica a 1ª Guerra Mundial como resultado de erros de cálculo cometidos por todas as partes. Eram decisões que até faziam sentido num contexto, mas que, no instante seguinte, se revelaram uma armadilha da qual era quase impossível recuar.
Além de 2026
Sergio Lirio/ CartaCapital
Reeleger o presidente Lula tem de ser o
centro da ação do PT, diz Edinho Silva, mas é preciso também preparar o futuro
Candidato da principal corrente e apoiado por Lula, Edinho Silva, ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara, se eleito para comandar o PT, dedicará a maior parte da energia no primeiro ano de mandato, se não toda, a uma missão que considera central: reeleger o presidente em 2026. “É fundamental para a história brasileira”, afirma. O futuro da legenda não escapa, porém, ao seu radar. A agremiação, afirma, precisa reconectar-se com as bases e entender as mudanças econômicas e sociais em curso, se quiser se fortalecer e continuar relevante, principalmente depois de Lula, sua maior e mais simbólica liderança, deixar de disputar eleições. A batalha entre democracia e fascismo, acredita o dirigente petista, será não só difícil, mas, no mínimo, de “médio prazo”. Segundo ele, o PT precisa abraçar a defesa da democracia direta e de uma profunda reforma político-eleitoral que valorize os partidos e detenha o culto à personalidade típico da extrema-direita.
O tempo curto do governo - Aldo Fornazieri
CartaCapital
As pesquisas de opinião calibrarão o jogo das
ambiguidades e das barganhas dos partidos de centro-direita
O governo Lula empilha crises
autofabricadas. Além de alimentar o fogo da oposição, essas crises deprimem a
avaliação tanto do governo quanto de Lula. Elas mantêm em evidência um
paradoxo: o bom desempenho geral da economia é sufocado pela desastrosa
condução política.
O problema da inflação, é certo, incide sobre o mau humor dos consumidores. Mas o governo não tem uma narrativa, nem para explicá-la nem para evidenciar que ela tende a ceder nos próximos meses. Os dados do emprego, da renda, do consumo das famílias e do crescimento evaporam, seja porque o governo mostra não ter rumo e direção, seja porque se comunica mal.
Luta de classes - André Barrocal*
CartaCapital
O ministro Fernando Haddad insiste em taxar
os mais ricos, o Congresso quer sacrificar a base da pirâmide
Uma revoada de abonados pousou em Brasília nos últimos dias para fazer lobby contra as medidas alternativas preparadas no governo em substituição ao plano de elevar o Imposto sobre Operações Financeiras. Para fechar as contas federais e manter políticas públicas em 2025 e 2026, a equipe econômica havia colocado na praça, em 22 de maio, um pacote para conseguir 60 bilhões de reais com o aumento do IOF, tributo que Jair Bolsonaro e Paulo Guedes tinham resolvido, na saída de cena em 2022, tornar irrelevante. Houve esperneio e ranger de dentes entre a turma de sempre, ricos acostumados a pagar pouco ou nada de Imposto de Renda. O Congresso, claro, ficou sensibilizado com a situação desses pobres-coitados e ensaiou derrubar a MP do IOF. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aceitou dar um passo atrás. Não desistiu, porém, de fazer com que os “moradores de coberturas” paguem a conta. Eis o motivo da romaria à capital federal.
Abram alas para a nova geração - Marcus Pestana
Consenso e discordâncias - Cristovam Buarque
Veja
A tragédia educacional é um fato. O difícil é atacá-la com eficácia
O Brasil tem um consenso sobre a tragédia de sua educação, mas ainda enfrenta quatro grandes discordâncias: sobre as causas desse estrago; suas consequências; as metas que devemos perseguir; e os caminhos para atingi-las. A Unesco nos instala em 72º lugar entre 125 países avaliados; o Pisa, em 57º entre 79 participantes. O país tem cerca de 10 milhões de adultos incapazes de ler. Entre os que leem, a maioria não compreende, interpreta ou analisa o que lê. Cerca de 100 milhões de brasileiros estão despreparados para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Soma-se a isso o genocídio intelectual provocado pela brutal desigualdade de oportunidades conforme a renda e o endereço do indivíduo. Não há polêmica quanto ao reconhecimento desse quadro.