Lula é quem mais tem a perder com o ‘nós contra eles’
O Globo
PT erra ao tentar manter aumento de impostos
e ao dizer que só os mais ricos pagarão a conta
No embate com o Congresso em torno do aumento
do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e o PT optaram mais uma vez pela tática do “nós contra eles”. Em vídeos
feitos para redes sociais, o “povo” carrega pesados fardos nas costas (os
impostos), enquanto personagens bem vestidos, representando os “ricos”, levam
pequenas sacolas simbolizando taxação leve. Mais uma vez, o governo tenta
justificar sua tentativa de promover um ajuste fiscal aumentando receitas, em vez
de cortar gastos. A tática usada para fustigar o Congresso é um equívoco tanto
do ponto de vista econômico quanto do político.
É verdade que a estrutura de impostos brasileira é regressiva (em termos proporcionais, as faixas de renda mais alta arcam com carga menor de impostos). Pode fazer sentido, por isso, corrigir a base de cálculo do Imposto de Renda em benefício das faixas de menor renda. Mas é absurdo acreditar que a alta do IOF afete apenas os mais ricos. O tributo recai sobre empréstimos, cartões de crédito e outras operações financeiras. Seu aumento nas transações cambiais encarece importações, alimentando a inflação e punindo os mais pobres. O empréstimo rotativo do cartão, usado sobretudo pelos pobres, também fica mais caro. E saem perdendo os microempreendedores individuais (MEIs), que buscam crédito para financiar equipamentos como carrinhos de venda ou máquinas de costura.