sábado, 21 de junho de 2025

Opinião do dia - Montesquieu*

“Para compreensão dos quatros primeiros livros desta obra, é preciso observar que o que chamo de virtude na república é o amor à pátria, isto é, o amor à igualdade. Não é absolutamente virtude moral, nem virtude cristã, é virtude política; e essa é a mola que faz mover o governo republicano. Chamei, portanto, de virtude política o amor a pátria e à igualdade.”

*Montesquieu (1689-1755), ‘Do espirito das leis’, p.31, Editora Nova Cultura, 2005

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Banco Central precisa ouvir a sociedade

O Povo (CE)

Está na hora de o presidente do Banco Central ampliar seu círculo de consultas para considerar também os setores produtivos

O aumento da taxa de juros, em 0,25 ponto percentual, surpreendeu até o mercado financeiro e analistas econômicos que esperavam a manutenção ou até mesmo uma redução do índice.

A decisão foi tomada em reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na quarta-feira, elevando os juros para 15% ao ano. Descontada a inflação, a Selic fica com a taxa de 9,53% de juro real ao ano, o maior percentual em duas décadas.

Uma das explicações do BC para elevar a Selic é que "o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda apresentam algum dinamismo". Ou seja, a economia está aquecida.

Para o BC, houve alguma "certa moderação" no crescimento econômico, mas seu relatório anota que "nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação". Ou seja, para o Copom, é necessário represar o crescimento econômico para fazer a inflação ceder.

Retrato da decadência - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

A agressão absurda e desmedida entre Israel e Irã é o capítulo final da Segunda Guerra Mundial. Judeus saíram da Europa e conseguiram um país para viver. Expulsaram os locais. Aprenderam as técnicas de genocídio e as aplicam em Gaza

É mais fácil matar um elefante, do que retirar seus despojos da sala. O ditado é antigo, mas se aplica à confusão político-militar que o mundo está passando sob a batuta histriônica de um presidente dos Estados Unidos que se comporta como adolescente em busca de novas emoções. Os tempos atuais apresentam profundas modificações na política internacional e no cenário do comércio entre as nações. Chama atenção a vertiginosa queda do dólar e no sentido inverso a vertiginosa valorização do ouro, quase cem por cento em pouco mais de um ano. A moeda norte-americana está sendo colocada sob suspeição em todos os centros financeiros do mundo.

A decadência norte-americana assusta. A queda do dólar é o meio encontrado por governos de países menos desenvolvidos para aumentar exportações, encarecer importações e elevar o saldo comercial. É uma prática velha conhecida dos brasileiros. Volta e meia, um governo resolve fazer ajuste no câmbio e eleva o preço das moedas fortes. O brasileiro deixa de viajar para o exterior, reduz compras no estrangeiro e passa a privilegiar o produto nacional, embora mais caro. País rico não costuma cometer este tipo de plano. É política de pobre. 

Regulamentação republicana – Pablo Ortellado

O Globo

Nossa vida nas redes segue uma selva digital, regida pelo autointeresse econômico das plataformas

Na entrevista que concedeu ao rapper Mano Brown, o presidente Lula defendeu, mais uma vez, a regulação das mídias sociais. Lula disse que é preciso “regular o comportamento nas mídias digitais” depois do advento da inteligência artificial. Enfatizou que isso é especialmente necessário, dada “a desfaçatez da extrema direita em usar isso”.

Um mês antes, a primeira-dama, Janja da Silva, havia solicitado ao presidente da China, Xi Jinping, apoio na regulamentação das mídias sociais, já que, segundo ela, o algoritmo de plataformas como o TikTok favorece “o avanço da extrema direita no Brasil”.

Bye bye, balão – Eduardo Affonso

O Globo

Falta representatividade (cadê o casamento homoafetivo na roça?), sobra machismo estrutural no ‘changez de dame’

Tudo começou, possivelmente, no início dos anos 1970, quando descobrimos o jeito certo de ler o Pato Donald. Para muitos, a leitura decolonial daqueles ratos, patos e cachorros antropomorfizados, que não tinham pais nem filhos (só tios e primos) foi um choque. O deliciosamente rabugento Tio Patinhas não passava de um velho muquirana acumulador (com certeza preso na fase anal retentiva, como todo capitalista), empenhado em se apossar de tesouros de tribos incapazes de administrar as próprias riquezas (opressores do Primeiro Mundo x oprimidos do Terceiro). Talvez houvesse etarismo e misoginia envolvendo Madame Min e Maga Patalójika, exploração do cão pelo cão na relação entre Pateta e Pluto e racismo no fato de alguns personagens pretos serem ratos. A imaginação infantil e sua prodigiosa capacidade de não dar a mínima para ideologias, entretanto, nos tinha protegido da verdade.

A cara de pau - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Na semana passada, a Advocacia Geral da União – o governo Lula – pediu ao Supremo o aval para que o ressarcimento a aposentados e pensionistas roubados fique de fora das regras fiscais em 2025 e 26. A demanda tem por fundamento o discurso – cara de pau – da imprevisibilidade. A AGU quer vender que esse assalto seria ocorrência excepcional, como se desastre natural. Uma enchente.

Assim: o INSS, instituição subordinada ao Ministério da Previdência, é infiltrado e pilhado por vários anos, a República não apenas deixa a roubalheira se estabelecer como mesmo lhe facilita o crescimento, o crime é afinal descoberto – e então a União reivindica a excepcionalidade do evento. Lupi e seus wolneys não tinham como prever.

O Brasil e a inclusão financeira - Fabio Gallo*

O Estado de S. Paulo

Apesar dos avanços já alcançados, a inclusão financeira ainda é frágil e incompleta no País

O recente relatório Brazil’s Journey Toward Financial Inclusion – Midterm Report, do Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV, oferece um retrato relevante dos progressos e desafios que o Brasil enfrenta para ampliar o acesso de sua população ao sistema financeiro formal. Além dos dados, ele evidencia avanços sociais cuja extensão nem sempre é visível no debate público.

Um dos avanços mais significativos está no acesso digital. O uso de contas digitais e plataformas como o Pix cresceu rapidamente, especialmente durante e após a pandemia, promovendo a bancarização de milhões. O relatório mostra que, com o apoio de diversas políticas públicas, o Brasil avançou na integração de pessoas ao sistema financeiro, por meio de contas bancárias, poupança, crédito, seguros e outros pilares da vida econômica moderna. Como reconhecem os autores: “Muitos brasileiros, especialmente os pobres, estão há muito tempo excluídos desse sistema. Mas isso começou a mudar”.

O Copom fez a coisa certa ao subir juros – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Está errado quando integrantes do governo dizem que a inflação está controlada, ‘só um pouquinho’ fora do teto da meta

O regime de metas de inflação baseia-se em teoria e décadas de prática mundo afora. Introduzido no Brasil em 1999, o sistema funciona bem em todas as economias relevantes. Sendo combinação de ciência e arte, há espaço para divergências. Nesta semana, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a taxa básica de juros (Selic) de 14,75% para 15% ao ano. Foi meia surpresa.

A maior parte dos analistas esperava manutenção da taxa. Parte minoritária acreditava na alta. Mas todos entendiam que qualquer opção fazia sentido. E, mais importante, ninguém contava com redução dos juros. A divergência, portanto, estava no detalhe de 0,25 ponto percentual — inexpressivo para o objetivo de trazer a inflação para 3% ao ano, isso lá em 2026.

O silêncio de Lula - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

A hora é de valorizar o câmbio

O silêncio do presidente Lula sobre a elevação dos juros para 15%, o maior patamar em quase duas décadas, preserva o presidente do Banco Central, Gabriel Galipolo, de ataques mais virulentos do PT e da esquerda.

Lula tem dado seguidas demonstrações de confiança no seu indicado para a presidência do BC e certamente Galípolo tem usado essa proximidade que conquistou na tentativa de explicar os movimentos do Copom de subida dos juros.

Qual a chance de Lula não estar sendo pautado nessas conversas? Baixíssima. O presidente do BC se transformou num conselheiro de Lula e de outros políticos de Brasília sobre temas econômicos, que vão além dos juros, como foi visto após a repercussão do decreto de alta do IOF.

Viajandão em Israel - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Retornados de Israel, prefeitos não sabem explicar motivo da missão nem de onde saiu o dinheiro

As autoridades que viajaram a Israel e foram surpreendidas pelo conflito com o Irã estão voltando ao Brasil. A julgar pelo que contam, parece terem vivido uma odisseia mais perigosa que a de Ulisses.

Se o herói grego no seu retorno para casa teve de enfrentar o ciclope Polifemo e a feiticeira Circe e resistir ao canto das sereias, eles relatam o confinamento em bunkers, os explosivos e mísseis voando sobre suas cabeças, a travessia demorada por terra até a Jordânia e a Arábia Saudita em busca de rotas alternativas de voo. "Glória a Deus", agradecem em suas redes.

Vale a pena ter bomba atômica? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Eventos geopolíticos da última década deixaram mundo mais instável; países podem estar refazendo seus cálculos nucleares

Líderes políticos racionais devem tentar obter uma bomba atômica? Até 2014, minha resposta teria sido um convicto "não". Desenvolver tecnologia bélica nuclear é caro. Manter arsenais, idem. E, pelo menos naqueles tempos pré-2014, era também relativamente inútil. Tanto o mundo bipolar da Guerra Fria quanto o unipolar da "Pax Americana" eram geopoliticamente mais estáveis que o atual. Não é que não ocorressem guerras, mas elas eram localizadas.

O leão e o sol nascente - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Guerra em Gaza, brutal e criminosa, divide israelenses, mas confronto com Irã unifica correntes políticas

Irã não é um país de fanáticos. Foi palco da Revolução Constitucional de 1906, fonte do primeiro parlamento no mundo muçulmano, extinto pelo monarca com apoio de tropas russas. Teve um governo nacionalista e democrático, de Mossadegh, um dos jovens líderes daquela revolução, entre 1951 e 1953, deposto no golpe articulado pela CIA e pelo MI6. O fanatismo islâmico emergiu com a revolução de 1979 — ou melhor, com o triunfo da facção dos aiatolás no turbulento período pós-revolucionário. Daí nasceu o objetivo de exterminar Israel.

A vingança dos barões - Luiz Gonzaga Belluzzo

CartaCapital

Donald Trump dedica-se à reconstrução dos poderes da oligarquia

Em artigo recente, Robert ­Reich, ex-secretário do Trabalho de Bill Clinton, desvelou a reiterada ocupação do Estado norte-americano pela oligarquia dos ricaços. Entre perplexo e indignado, Reich escreveu: “Trump escolheu 13 bilionários para seu regime. É o mais rico da história, incluindo a pessoa mais rica do mundo. Eles e Trump fazem parte da oligarquia norte-americana.”

Reich identifica o predomínio econômico-político dos mais ricos desde a fundação da República. “Muitos dos homens que fundaram os Estados Unidos eram oligarcas brancos escravistas. A maioria dos brancos era composta de agricultores, servos contratados, trabalhadores rurais, comerciantes, diaristas e artesãos. Um quinto da população norte-americana era negra, quase toda escravizada.”

O terror sionista e o colapso moral do Ocidente - Roberto Amaral*

“É mister bater, bater cem vezes, e cem vezes repetir: o direito não é um filho do céu, é simplesmente um fenômeno histórico, um produto cultural da humanidade”. Tobias Barreto. Ideia do direito, 1883.

O sionismo massacra o povo palestino dizendo que pune os guerrilheiros do Hamas, a resistência possível em meio ao desespero. A chamada “civilização ocidental” (mais indigna que nunca do título pomposo que se autoatribuiu) assiste, cúmplice, a uma limpeza étnica que muito lembra a paranoia nazista, interrompida com a derrota alemã na Segunda Guerra Mundial. Vai além do genocídio armênio (1915-1917), da partilha da Índia (1947), da tragédia da Bósnia levada a cabo pelo Ocidente (1992-1995), aproveitando-se do intocado vazio deixado pela falência da URSS.

A Europa, decadente mas ideologicamente ainda colonialista, embora servil ao Império, silencia diante de Gaza e condena o Irã pelos ataques que lhe movem EUA e Israel. A invasão da Ucrânia pela Rússia é definida como agressão a um Estado soberano, mas os bombardeios contra o Irã, que não atacou nem invadiu o território do adversário implacável, são considerados – nessa lógica viciada e hipócrita – legítimos, embora a Carta da ONU não tenha sido alterada nesse ínterim. Como condição para a paz necessária, a Europa e os EUA exigem que o país invadido não revide os ataques de que é alvo, e aceite uma capitulação incondicional, sob o risco de bombardeios avassaladores. A agressão, vendida como autodefesa, transmuda-se em virtude: o agressor é defendido e a vítima é condenada por defender-se.

Mais um Holocausto? - Maria Rita Kehl

CartaCapital

Lula está certo ao repudiar o genocídio do povo palestino e denunciar o massacre promovido pelo governo israelense

No ano passado, o presidente Lula quase enfrentou a abertura de um processo de ­impeachment por afirmar em voz alta o que muitos pensavam, mas evitavam dizer publicamente. Ele ousou perguntar por que o governo de Israel promovia um genocídio contra o povo palestino, de modo similar ao que fizeram os alemães nazistas contra os judeus no século passado. A iniciativa partiu da deputada Carla Zambelli, hoje foragida da Justiça. À época, ela conseguiu reunir 139 assinaturas para apresentar o requerimento. O pedido acabou arquivado e só serviu para aumentar o poder de barganha do chantagista Arthur Lira, então no comando da Câmara dos Deputados.

O depoimento de Bolsonaro - Pedro Serrano

CartaCapital

As provas são claras, consistentes e revelam a gravidade dos crimes cometidos contra a democracia

O Supremo Tribunal Federal tem impulsionado as ações penais derivadas das denúncias formuladas pela Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente da República Jair Bolsonaro e outros acusados pelos crimes de organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Realizado seu depoimento pessoal, rememoremos que Bolsonaro proliferou desinformações quanto ao processo eleitoral e às urnas eletrônicas. Além disso, o ex-presidente jamais reconheceu a vitória do presidente Lula nas eleições e estimulou atos antidemocráticos em frente aos quartéis. Também não podemos esquecer da ruidosa atuação da Polícia Rodoviária Federal com o intuito de impedir o exercício do direito ao voto, dos atos de terrorismo no Aeroporto Internacional de Brasília, em dezembro de 2022, e do fatídico dia 8 de Janeiro de 2023, ocasião em que símbolos dos poderes constituídos da República brasileira foram, sem precedentes na nossa história, desafiados.

Além da redução de danos - Marjorie Marona*

CartaCapital

Mais do que administrar contradições, o desafio do governo é reorganizar alianças em torno de um projeto claro de reconstrução social e democrática

O debate em torno da reforma tributária torna evidentes não apenas os desafios técnicos de reconfigurar um sistema regressivo e desigual, mas os limites de um modelo político exaurido. A dificuldade do governo Lula 3 em fazer a reforma avançar no Congresso não resulta de falhas circunstanciais na articulação. É, antes, expressão de algo mais estrutural: a falência do presidencialismo de coalizão, tal como operado durante a Nova República.

Desde as reformas institucionais de 2015, que ampliaram as emendas impositivas, fortaleceram o poder do Legislativo sobre o orçamento e enfraqueceram os mecanismos tradicionais de cooptação, o Executivo passou a operar sob condições profundamente alteradas. Se, antes, o presidencialismo de coalizão garantia algum grau de previsibilidade mediante a troca de cargos e recursos, hoje sobrevive em versão precária e disfuncional.

Crise, economia e política - Marcus Pestana

A crise é econômica, as soluções são políticas. Na verdade, o gargalo é fiscal. No resto, a economia não vai tão mal. PIB crescendo acima das expectativas, nenhum constrangimento cambial, inflação domada pela rígida política monetária do BC, desemprego baixo. Mas o dilema fiscal pode contaminar o resto.

Já disseram outros que as crises são as parteiras da história. E o primeiro passo para solução de problemas é a tomada de consciência sobre eles. O atual impasse entre governo federal e Congresso Nacional revela isso. Identificação de um obstáculo forte ao desenvolvimento do país, divergência quanto ao receituário a adotar. As limitações fiscais ocuparam o centro da cena política.

Poesia | Fazenda, de Carlos Drummond de Andrade , na voz do autor

 

Música | Paulinho da Viola - Coração leviano e Argumento