terça-feira, 10 de junho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Cadê as ‘medidas estruturantes’ para resolver crise fiscal?

O Globo

Executivo e Legislativo perdem outra oportunidade de apresentar propostas capazes de controlar dívida pública

É frustrante o pacote de medidas fiscais engendrado pela parceria entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para contornar a crise desencadeada pelo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Em entrevista ao GLOBO, Motta havia prometido se empenhar por “medidas estruturantes”, capazes de reverter a trajetória de descontrole da dívida pública. Pelo que veio à tona até agora — o anúncio oficial só deverá ser feito depois da chancela do presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, nada parecido foi feito. O pacote se destaca mais pelo que deixou de fora do que pelo que traz. Mais uma vez, Executivo e Legislativo perderam uma oportunidade.

Fortes, para quê? - Merval Pereira

O Globo

Os “donos” dos partidos administram as contradições com manipulação dos fundos partidário e eleitoral, destituição de comissões provisórias e negociações programáticas precárias e superficiais

O fortalecimento dos partidos políticos, como registrei aqui na coluna de domingo baseado em estudo do cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getulio Vargas no Rio, tem diversos aspectos complementares que precisam ser levados em conta para uma avaliação prospectiva otimista da nossa política partidária. Paradoxalmente, a realidade desse revigoramento, alcançado com a introdução das cláusulas de barreira e da proibição das coligações em eleições proporcionais, é ao mesmo tempo razão para preocupação, pois os partidos que ficaram no jogo são dominados por grupos políticos estabelecidos que controlam não apenas a máquina eleitoral, mas também as votações no Congresso e a distribuição das verbas bilionárias dos fundos eleitoral e partidário.

Mauro Cid confirma as acusações de sua delação contra Bolsonaro – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O general Walter Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice na chapa de Bolsonaro, fazia parte de um grupo que tentava agir contra o resultado das eleições

Quem esperava um ambiente tenso e cheia de surpresas na primeira sessão de tomada depoimentos dos acusados de tentativa de golpe de Estado, na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), ficou decepcionado. O que houve nesta segunda-feira (9) foi uma oitiva em que o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, durante os interrogatórios, deixou muito à vontade o tenente-coronel Mauro Cid, delator do caso, e os advogados de defesa dos réus que também os inquiriram.

O clima era de muita cordialidade, a ponto de o ex-presidente Jair Bolsonaro, o principal acusado, apertar a mão de seu ex-ajudante de ordens e principal acusador, Mauro Cid, que também bateu continência para os generais Paulo Sérgio, ex-ministro da Defesa, e Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, seus superiores hierárquicos. Entretanto, Cid confirmou que Bolsonaro recebeu, leu e sugeriu alterações na chamada minuta do golpe, que previa medidas autoritárias para reverter o resultado das eleições de 2022.

Desfecho de Bolsonaro se aproxima sem refresco para Lula - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Maré baixa com a qual Bolsonaro chega à reta final do julgamento não traz alívio para o governo

A cena foi captada pelo fotógrafo do Supremo Tribunal Federal, Ton Molina. O ex-presidente Jair Bolsonaro sorri, benevolente, enquanto aperta a mão do tenente-coronel Mauro Cid no auditório da Primeira Turma. O ex-ajudante de ordens retribui o cumprimento e aperta os lábios num sorriso constrangido. Quando andava lado a lado com Bolsonaro, que tem 1,85m, seu ex-ajudante de ordens lhe alcançava os ombros. Ontem, ao cumprimentá-lo de lado no auditório, parecia ainda menor.

A cena, que aconteceu antes do início da sessão, não encontrou sua tradução no depoimento do ex-ajudante de ordens. A benevolência de Bolsonaro com o colaborador sem o qual a denúncia dificilmente teria evoluído para este julgamento não colheu a cumplicidade do seu ex-ajudante de ordens. Mauro Cid foi ameno com o ex-chefe, mas repetiu, em grande parte, o que havia dito na delação premiada do ano passado, inclusive a edição da minuta golpista por Bolsonaro, que deixaria o ministro relator, Alexandre de Moraes, como o único preso em decorrência do ato presidencial.

Coisas que acontecem num certo país infeliz - Pedro Cafardo

Valor Econômico

O debate econômico se dá basicamente em torno de problemas fiscais, que podem ter impacto nos próximos anos, mas não afetam hoje o humor e o dia a dia das pessoas

Num certo país infeliz, espalha-se um enorme pessimismo sobre a economia e, aparentemente, resultados bastante positivos para a vida real de pobres e ricos são quase ignorados nas análises.

Nesse país infeliz, argumenta-se que a inflação está incontrolável, mas ela atingiu em média 4,73% ao ano nos dois últimos anos. Nos quatro anos anteriores, havia alcançado 6,17% ao ano. E a inflação média atual está abaixo da média dos últimos trinta anos (6,5% ao ano), desde que foi criada a atual moeda em circulação.

Nesse país, propala-se que o descontentamento advém das classes mais pobres, que estariam sendo fulminadas por uma inusual inflação dos produtos alimentícios. Mas os alimentos subiram 8% no ano passado, menos que a renda das famílias em geral, que cresceu 10%, e muito menos que a renda das famílias mais pobres, que aumentou 19%.

Lula errou a estratégia e se complica com agenda fiscal para 2026 - Bruno Carazza

Valor Econômico

Agenda de ajuste fiscal estrutural de Hugo Motta pode impor medidas impopulares a Lula às vésperas da eleição

Nicolau Maquiavel em 1513 já alertava ao governante de Florença que o mal se faz de uma só vez, enquanto o bem se distribui aos poucos. Muitos séculos depois, já com os regimes democráticos disseminados, o economista William Nordhaus desenvolveu em 1975 um modelo econômico que demonstra que os governantes tendem a adotar uma postura de austeridade no início do mandato, buscando gerar uma gordura para gastar mais no final. O objetivo é estimular a economia perto da eleição, aumentando as chances de serem mantidos no cargo ou fazerem o seu sucessor.

Luiz Inácio Lula da Silva optou por subverter essa ordem ao derrotar Bolsonaro em 2022. Àquela época, premido pela necessidade de garantir um maior apoio popular depois de um pleito tão disputado e polarizado, o petista resolveu negociar com o Congresso, com a PEC da Transição, uma autorização para gastar R$ 165 bilhões a mais. Assim, Lula conseguiu iniciar seu terceiro mandato pisando no acelerador, turbinando a economia com aumento do Bolsa Família, reajuste real do salário-mínimo, antecipação do pagamento de precatórios e a recomposição de inúmeras políticas públicas sucateadas pelo seu antecessor.

Equipe econômica chegou à forma autoaplicável de redução linear de 10% do gasto tributário – Míriam Leitão

O Globo

Por Luciana Casemira

A equipe econômica desenvolveu uma forma autoaplicável de reduzir linearmente 10% do gasto tributário, que somam cerca de R$ 800 bilhões. No entanto, o acerto feito na reunião neste domingo, a casa do presidente da Câmara, Hugo Motta, para ser editada uma lei complementar e não uma PEC como estava previsto, tira desse pacote a Zona Franca de Manaus que representa uma importante renúncia, revelou uma fonte ao blog na manhã desta segunda-feira. Na visão do governo, as propostas discutidas nesse domingo trocam o IOF, imposto que admitem pode causar distorções, por medidas que acabam com distorções do mercado e podem trazer aos cofres públicos montante igual ou até maior de recursos.

Segundo essa fonte, o corte linear nos gastos tributários foi bem recebido pelos líderes, especialmente, os presidentes das duas Casas. A grande preocupação da equipe era aprovar a medida e ela não ser implementada, por isso, é importante ter chegado a uma fórmula que permita que a redução dos benefícios fiscais seja autoaplicável.

Mas será que não percebem? – Pedro Doria

O Globo

Não é razoável prender alguém por contar piadas. Não é razoável prender alguém por cantar músicas ou recitar poemas ou escrever livros. Se chegamos ao ponto de não achar sequer razoável algo assim, é porque perdemos a noção do que uma democracia quer dizer. Não é só isso: deixamos de fingir ser garantistas e abraçamos o punitivismo. As defesas da prisão do MC Poze do Rodo e de Léo Lins põem esquerda e direita rigorosamente no mesmo lugar. De um lado, querem calar os músicos gente do Partido Novo, do MBL e esses tipos. Do outro, quer prender o humorista a patrulha dos bons costumes de esquerda. Um é incapaz de perceber que se porta como espelho do outro.

Portugal: nos passos de Donald Trump? - Roberto Goulart Menezes*

Correio Braziliense

Sob o novo governo de Portugal, as exigências devem se tornar cada vez mais difíceis de serem cumpridas por migrantes que deixam o Brasil rumo às terras lusitanas

A decisão do governo de Portugal de expulsar 5.368 imigrantes brasileiros, após terem seus pedidos de residência fixa negados, resulta da pressão que a extrema-direita tem exercido na política migratória do país. Na eleição legislativa realizada em maio deste ano, o Partido Chega ficou com a segunda maior bancada, tendo conquistado 60 das 230 cadeiras no parlamento. 

Embora não esteja na coligação que governa o país, o Chega tem crescido como força política entre os portugueses por seu discurso anti-imigração e xenofóbico, principalmente contra cidadãos brasileiros e de ex-colônias portuguesas na África. O líder do partido de extrema-direita português é admirador fervoroso de Donald Trump. Desde que tomou posse em janeiro de 2025, Trump adotou uma política imigratória que tem produzido efeitos perversos sobre diferentes comunidades de imigrantes nos Estados Unidos, incitando o ódio e espalhando o medo mesmo entre os que têm autorização para trabalhar e residir no país.

Ideologia na política externa - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Chegou a hora de o governo e o Congresso discutirem, com o setor privado, políticas inovadoras para definir o lugar do Brasil no mundo

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, inaugurou, em abril passado, o projeto Pátria Grande do Sul, no Estado de Bolívar, no sul do país, na fronteira com Roraima. Foram entregues 180 mil hectares de terra ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que fará um trabalho em conjunto com o governo venezuelano para ampliar a produção de alimentos seguindo o viés da agroecologia. De acordo com Maduro, serão produzidos 30 mil hectares de feijão, além de frutas, mamão, cana-de-açúcar, inhame, frango, carne de porco, carne bovina e seus derivados, vegetais, milho e galinhas. O MST também prepara a produção de um banco de sementes nativas tradicionais e um viveiro de mudas para reflorestamento.

Barroso explícito - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Será o caso de lembrar, contra a malandragem de que haveria um vácuo legislativo: a lei existe. Desde 2014. O Marco Civil da Internet. Boa legislação, produto de longo debate público.

Lei em que consta, sim, a responsabilização de plataformas por conteúdos publicados por terceiros. Responsabilização não automática. Previsão perfeitamente constitucional, em consonância com o princípio segundo o qual somente se agiria – para, por exemplo, apagar publicações – em resposta a uma determinação judicial, protegida a circulação de ideias da imposição (está na moda) de censura prévia.

Em proteção também ao espírito do tempo – emanado do Supremo – que transforma qualquer crítica em ataque, enfatize-se: a lei existe e prevê a responsabilização. Com filtros. Filtros judiciais. Difícil apontar-lhe a inconstitucionalidade. Impossível, a omissão parlamentar.

Um comediante é pior do que um estuprador? - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Prisão de Leo Lins é injusta, e comparação com outros países mostra o quão aberrante foi a sentença

Dias difíceis para a liberdade de expressão no Brasil. Um jornal é condenado por publicar a remuneração de um juiz. Um músico, MC Poze, é investigado por suas letras. Finalmente, um humorista, Leo Lins, é condenado a 8 anos de prisão por suas piadas.

É um índice de nossa polarização o fato de que, via de regra, quem é contra a condenação do humorista é a favor da prisão do músico e vice-versa. Direita e esquerda se espelham: de diferentes lados, a liberdade de expressão está em xeque.

Neste momento cabe um alerta: muitos dos indignados com a condenação de Leo Lins defendem que o Brasil deveria ter a liberdade de expressão dos EUA, onde é permitido ser abertamente racistanazista, etc. Podemos discutir os prós e contras desse modelo, mas o fato é que essa não é a lei brasileira. Aqui, a liberdade de expressão tem mais limites, especialmente quando ofende grupos historicamente subalternizados.

O dilema da direita - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Melhor chance de conservadores seria sair com candidato que rejeitasse Bolsonaro, mas fazê-lo poderia custar passagem para o segundo turno

Lula experimenta problemas de popularidade e cientistas políticos se perguntam se a outrora incontestável vantagem do incumbente em eleições continua funcionando a pleno vapor. Nos últimos tempos, assistimos a vários pleitos em que o fato de estar no poder operou mais como ônus do que como bônus para o ocupante do posto que buscava a reeleição.

Ainda assim, é arriscado apostar contra a força da máquina do governo federal. É difícil imaginar um cenário em que Lula ou outro candidato situacionista não sejam pelo menos competitivos em 2026. É só lembrar que, em 2022, Jair Bolsonaro, mesmo carregando nas costas a pecha de golpista e a gestão desastrosa da pandemia, ficou apenas 1,8 ponto percentual atrás de Lula.

Capitão Fulano, o deputado linha-dura - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

O crime organizado atua no país inteiro, mas parlamentares são contra a PF liderar as investigações

A farra das emendas bilionárias não chega à segurança pública. Reportagem de Raquel Lopes e Mateus Vargas mostrou que, neste ano, as bancadas estaduais ignoraram a área. Sete unidades que estão entre as mais violentas do país –Alagoas, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe– não receberam um tostão.

Governo é o pai das crises – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Lula não consegue reverter avaliação negativa porque não olha para o lado certo do problema

Ministros ouvidos na última semana sobre a resistência da opinião pública em conferir crédito de confiança ao governo, e com isso inverter a curva da desaprovação versus aprovação nas pesquisas, insistiram no argumento de que o problema são os outros.

Na versão deles, é a população que não compreende o quanto tem sido beneficiada, a comunicação que precisa ser ajustada, a oposição que não dá trégua e os revezes sofridos pelo presidente Lula (PT) —que são muitos e difíceis de enfrentar.

As trombadas dos capitais - Luiz Gonzaga Belluzzo

CartaCapital

Em meio a enxurrada de recursos de arbitragem com juros e especulação com moedas, emergentes levam surras periódicas

As danças e contradanças dos movimentos internacionais de capitais são desconsideradas por gregos e troianos no debate econômico nativo.

(Escrevi nativo para homenagear meu grande amigo Mino Carta.)

As continuadas flutuações do real perante o dólar deflagraram uma avalanche de opiniões que desrespeitam e ­ignoram o fenômeno monetário-financeiro internacional. As opiniões derramam-se em queixas que atribuem à irresponsabilidade fiscal os sucessivos e intensos declínios de valor do nosso Real diante do patrono do sistema monetário internacional, o Mister Dólar.

Mais uma crise da democracia liberal burguesa: Análise Estrutural, Perspectivas e o Futuro - Cláudio Carraly*

A democracia liberal burguesa atravessa uma das fases mais profundas de crise estrutural em sua história contemporânea, sua legitimidade, outrora ancorada na promessa de liberdades civis, sufrágio universal e Estado de Direito, hoje se vê minada por contradições internas agudas, transformações econômicas desestabilizadoras e a emergência de alternativas, tanto as regressivas e autoritárias quanto as progressistas e emancipatórias. A análise desta crise exige um olhar abrangente, que não apenas descreva fenômenos visíveis como a ascensão de populismos de extrema-direita (que historicamente surge como um “coringa” do capitalismo em épocas de profunda crise interna), bem como a corrosão profunda de instituições multilaterais. Precisamos voltar a analisar o caráter de classe intrínseco à democracia liberal, suas limitações históricas e seu papel funcional na reprodução das desigualdades sociais.

Crônica | O poeta, de Rubem Braga

 

Poesia | Tomara, de Vinicius de Moraes

 

Música | Alceu Valença - Cabelo No Pente