quarta-feira, 14 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Homicídios caem em um país ainda muito violento

Folha de S. Paulo

Número se reduz 20,3% em dez anos, mas taxa segue entre maiores do mundo; autoridades têm muito a avançar em políticas

Não é todo dia que se podem celebrar dados de segurança pública em um país acostumado a conviver dolorosamente com a violênciaA recém-divulgada redução de 20,3% dos homicídios entre os anos de 2013 e 2023 precisa ser valorizada, no devido contexto.

De acordo com o Atlas da Violência, publicado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nesse período o número anual de vítimas caiu de 60.474 para 45.747, e a taxa por 100 mil habitantes, de 28,8 para 21,2 —com pico de 31,8 em 2017.

É notável que, a despeito da melhora, nos últimos anos a criminalidade passou a figurar entre as principais preocupações mencionadas por brasileiros em pesquisas de opinião. Talvez o fenômeno deva algo ao acirramento da polarização política, mas é fato que o país se mantém entre os mas violentos do mundo, só superado por outros 14.

Opinião do dia - Pepe Mujica*

 

A vida é linda. Com todos os seus altos e baixos, eu amo a vida. E estou perdendo-a porque é minha hora de ir embora. Que sentido podemos dar à vida? O homem, comparado a outros animais, tem a capacidade de encontrar um propósito. Se você encontrar [um propósito], você terá algo pelo qual viver. Aqueles que investigam, aqueles que tocam música, aqueles que amam esportes, qualquer coisa. Algo que preencha sua vida.

Espero que a vida humana seja prolongada, mas estou preocupado. Há muitas pessoas loucas com armas atômicas. Muito fanatismo. Deveríamos estar construindo moinhos de vento. No entanto gastamos em armas. Que animal complicado é o homem. Ele é inteligente e estúpido."

*Pepe Mujica,(1935-2025), ex-presidente do Uruguai.

Já é 2026 em Nova York - Vera Magalhães

O Globo

Governadores alardeiam tese do fim da reeleição como caminho para quebrar a polarização entre lulismo e bolsonarismo

Não só boa parte do poder e do dinheiro brasileiros se mudou para Nova York nesta semana, como já vive em 2026. Os prognósticos correntes nas conversas nos muitos eventos simultâneos na cidade não são nada animadores para Lula e o governo.

O presidente brasileiro escolheu exatamente as mesmas datas da Brazilian Week, efeméride anual que reúne políticos e empresários nos Estados Unidos, para visitar Rússia e China. Estabeleceu-se, assim, uma espécie de polarização também nas agendas internacionais.

Em Nova York, o governo federal está com contingente modesto, representado pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, e pelo secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan. A maioria dos ministros acompanha Lula. Um dos resultados é a presença em bem maior número de governadores, muitos assumidamente pré-candidatos a presidente no ano que vem (e já a pleno vapor).

O acerto de Lula e Haddad sobre as eleições de 2026 - Malu Gaspar

O Globo

Fernando Haddad nunca confirmará em público, mas já acertou nos bastidores com o presidente Lula: vai se desincompatibilizar do Ministério da Fazenda em abril de 2026 para disputar as eleições. A qual cargo ele vai concorrer ainda não se sabe. Conforme informou Andréia Sadi em seu blog na última terça-feira (13), a preferência do presidente é que Haddad concorra para uma das duas vagas que serão abertas para o Senado Federal, para fazer frente ao bolsonarismo na Casa.

A Câmara em modo 18+ - Miguel Caballero*

O Globo

Para ninguém perder cadeiras, criam-se 18 novas vagas de deputado (e suas cotas, auxílios e verbas indenizatórias...)

Na semana passada, os jornais informavam que, depois de presidir a Câmara, Arthur Lira fazia sua “reestreia na planície” na comissão sobre a reforma do Imposto de Renda. Poderia (deveria) ser uma notícia de fevereiro ou março, mas já estamos em maio. Nesta semana, com o sucessor de Lira, Hugo Motta, em Nova York, os parlamentares ganharam um “recesso informal”. Com um ritmo de projetos aprovados similar ao do ápice da pandemia, a atual legislatura tem sido marcada pela ausência de votações importantes.

Menos quando são importantes para os próprios deputados. No último dia 6, a letargia virou celeridade na adequação da distribuição dos assentos na Casa à população dos estados medida no último Censo. A mudança havia sido determinada há quase dois anos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi deixada de lado e, em poucas horas, a Câmara aprovou a urgência e o mérito da proposta de reconfiguração. Para ninguém perder cadeiras, criam-se 18 novas vagas de deputado (e suas cotas, auxílios e verbas indenizatórias...).

José Mujica foi exemplo de austeridade e ética para a esquerda no poder - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Ex-presidente uruguaio faleceu nesta terça-feira, aos 89 anos, no sítio onde vivia, nos arredores de Montevidéu. Liderou pela palavra e pelo exemplo, com diálogo e sem ressentimentos

A morte do ex-presidente José Mujica, nesta terça-feira, foi anunciada pelo presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, em mensagem pelo X (antigo Twitter). A esquerda latino-americana perdeu o líder político mais carismático de sua geração, que talvez só possa ser equiparado ao ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, que liderou a luta contra o apartheid por mais de duas décadas, mesmo estando preso.

José Alberto “Pepe” Mujica Cordano nasceu em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, Uruguai. Ex-guerrilheiro, agricultor e político, presidiu o país entre 2010 e 2015, sendo amplamente reconhecido por seu estilo de vida austero, sua retórica humanista e sua atuação firme em defesa da democracia, dos direitos sociais e da soberania popular.

Pepe Mujica deixa um legado de integridade, coerência e compromisso com os valores humanos. Sua trajetória inspira líderes e cidadãos ao redor do mundo a repensarem as prioridades da vida e da política, valorizando a simplicidade, a empatia e a justiça social. Como presidente, manteve a simplicidade e as críticas ao consumismo. Em 2013, fez um discurso marcante na ONU, em que criticou o consumismo e a lógica do crescimento econômico sem limites. “Desenvolvimento não é consumir mais. É ser mais feliz com menos”, afirmou Mujica. O discurso viralizou nas redes sociais.

Um ponto de partida para a CPI Mista do INSS - Fernando Exman

Valor Econômico

Requerimento de informações da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara de abril de 2023 já levantava suspeita de fraude

Cerca de 50 dias atrás, conta um líder da oposição, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) alertou alguns interlocutores no Congresso que um escândalo na Previdência Social estava para eclodir e poderia abalar a República.

Paulinho da Força já havia apresentado reclamações a autoridades do governo, apontando que associações estavam descontando indevidamente recursos dos aposentados. Em resposta, relata, ouviu que o problema já havia sido resolvido. Insatisfeito com o retorno, também procurava integrantes do Tribunal de Contas da União (TCU). Tentava, sem sucesso, que a análise do caso avançasse na Corte de Contas desde 2023.

Problema fiscal tratado com paliativos - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Expectativa é que relatório bimestral não apresente contenção grande de despesas, pois as receitas têm apresentado bom desempenho

É triste, mas não se espera muita coisa do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias (RARDP), também conhecido como “bimestral”, que será divulgado até o dia 22. O documento atualizará as projeções de receitas e despesas para este ano e indicará a contenção de despesas necessária para cumprir a meta fiscal do ano, o déficit zero.

Especialistas ouvidos pela coluna não acreditam que o equilíbrio será alcançado. Tampouco acham que o governo fará agora um aperto mais forte nos gastos para atingir esse objetivo.

“A meu ver, o bimestral deveria trazer um contingenciamento ou bloqueio significativo, algo como R$ 30 bilhões ou R$ 35 bilhões”, disse à coluna o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto.

A inflação ‘Poliana’ do Banco Central - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Chama a atenção de vários analistas quão otimistas são as projeções do BC para o IPCA

Chama a atenção de vários analistas quão otimistas estão as projeções de inflação do Banco Central, em particular a de 2026, que agora é o horizonte relevante para a política monetária. A questão é que praticamente ninguém ainda entendeu direito o porquê de essas estimativas estarem bem abaixo do consenso das projeções do mercado.

Para o ano inteiro de 2026, a projeção de inflação do BC, divulgada no comunicado da última reunião do Copom, é de 3,6%. Esse número é quase 1 ponto porcentual (0,90 ponto) abaixo da mediana das estimativas dos analistas para o IPCA de 2026 (de 4,50%) na última pesquisa Focus.

Congresso inventa inimigos imaginários - Raphael Di Cunto

Folha de S. Paulo

Imunidade parlamentar vem desde a Monarquia, mas Legislativo perde a vergonha em defendê-la

A imunidade parlamentar existe desde a primeira Constituição brasileira. Em 1824, a Monarquia já determinava que deputados e senadores não seriam presos "por autoridade alguma", salvo com aval do próprio Legislativo ou se pegos em flagrante delito de pena capital.

Cada deputado e senador representa milhares de pessoas, e essas vozes não podem ser caladas por enfrentarem outras autoridades, criminosos ou o poderio financeiro. É uma prerrogativa valiosíssima, especialmente em relação à liberdade de opinião e em regimes de exceção, como na ditadura militar.

BC pode aliviar, arrocho segue - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Selic pode subir mais um tico, como insinua ata do BC, mas debate central é alta da dívida pública

Banco Central bem que gostaria de ter encerrado a campanha de alta da Selic, que chegou a 14,75% ao ano na quarta passada. Nesta terça, na exposição de motivos dessa alta extra de meio ponto percentual, reiterou que deixa a porta aberta para mais alguma alta, de 0,25 ponto percentual, como havia feito no comunicado da decisão da semana passada. Foi o que disse na chamada "Ata do Copom". Se tiver qualquer fio de esperança, deixa a coisa em 14,75%.

Ainda assim, afora milagres, a taxa de juros de um ano, no mercado, deve ficar em 8% ao ano ou mais até fins do governo Lula, em termos reais —descontada a inflação. Está ora perto de 9% ao ano (triscou em 10% no pânico de dezembro).

PT repete script que quase o destruiu - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Governo repete protocolo petista de gestão de crise, mesmo sem acusação de corrupção

Diferentemente dos últimos governos —inclusive, mas não só, os do PT—, a administração Lula tem enfrentado vários tipos de crises, mas não acusações de corrupção ou de negligência em episódios de desvio de recursos públicos. Nosso justificado pessimismo com os padrões morais da política não deve nos impedir de reconhecer isso.

Mas agora, com a descoberta de quadrilhas mancomunadas com funcionários públicos desviando parte da aposentadoria de velhinhos há anos, impunemente, o nível da crise mudou. Roubar a bolsa do órfão e da viúva é indignidade que ofende qualquer um com o mínimo de decência.

Saber que o governo não só fracassou em impedir como também demorou a agir, mesmo alertado, é politicamente indesculpável. E, obviamente, é tarde demais para dizer que não sabia ou que não podia ter feito algo para impedir que bilhões fossem desviados em seu turno de guarda.

Morre Pepe Mujica, referência na esquerda latino-americana

O Globo e agências internacionais

Uma das figuras mais populares de seu país, ele lutava contra um câncer no esôfago e no fígado e duas doenças autoimunes

O ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica, uma das figuras mais populares do Uruguai e mais influentes na esquerda na América Latina, morreu nesta terça-feira, aos 89 anos de idade. Diagnosticado com câncer de esôfago em abril de 2024, ele anunciou, em janeiro deste ano, que o tumor havia se espalhado para o fígado e, "por ser um idoso", seu corpo não aguentaria novos tratamentos. Dias antes da morte, sua mulher, a ex-vice-presidente Lucía Topolansky, disse que Mujica estava recebendo cuidados paliativos para aliviar a dor.

— Não posso fazer nenhum tratamento bioquímico nem cirurgia porque meu corpo não aguenta — disse Mujica em abril, acrescentando: — Estou morrendo. O que peço é que me deixem em paz. Que não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo já terminou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso.

Poesia | Poética, de Manuel Bandeira

 

Música | João Bosco e Orquestra Ouro Preto - O Bêbado e a Equilibrista