*Karl Marx (1818-1883). “O 18 Brumário de
Luís Bonaparte (1852”, p.7. Os Pensadores, Marx, v. II. Editora Nova Cultura /Abril,
1988.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
segunda-feira, 19 de maio de 2025
Opinião do dia – Karl Marx* (A vontade humana}
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Adoção de moeda alternativa ao dólar envolve riscos
O Globo
Predomínio da divisa americana nos negócios
globais foi ameaçado por Trump, mas substituição não é trivial
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva voltou a defender na semana passada a adoção de uma alternativa ao dólar nos
negócios internacionais. Lula manifestou preocupação com a “vantagem imensa”
que os Estados Unidos obtêm por emitir a principal moeda do planeta (o dólar
domina 88% do comércio global e 57% das reservas internacionais). A ideia não é
nova. Quando ministro das Finanças do governo Charles de Gaulle, o futuro
presidente da França Valéry Giscard d’Estaing batizou tal vantagem de
“privilégio exorbitante”.
Graças à demanda por dólares e papéis de seu Tesouro, os Estados Unidos têm o “privilégio” de pagar juros mais baixos para tomar dinheiro emprestado. Com isso, podem financiar déficits públicos crescentes sem se preocupar com crises cambiais ou corridas contra sua moeda. Em contrapartida, a valorização do dólar encarece as exportações. Por isso os arautos do trumpismo a criticam como artificial e atribuem a ela a desindustrialização.
Uma crise no topo do mundo – Fernando Gabeira
O Globo
Com os anos, percebi que meu retiro
espiritual estava baseado numa área explosiva, um grande perigo para a
estabilidade mundial
Desculpem um tema tão distante, mas veio à
memória uma viagem que fiz ao Himalaia, ainda no fim do século. O estopim foi
um atentado contra turistas em Pahalgam e o perigo de guerra nuclear
entre Índia e Paquistão. Foi
uma viagem mais voltada para o espírito. Tomar um chá no topo do mundo, sei lá.
Kashmir ainda era uma palavra em inglês, que supunha ser masculina.
Desembarquei em Srinagar, uma cidade famosa
pelas suas pensões no Lago Dal, as houseboats, que você alcança com pequenas
embarcações, as shikaras. Dali, viajei uns 60 quilômetros até Gulmarg, que no
inverno vira estação de esqui. Vi tropas de burros subindo a montanha, tocadas
por homens vestindo sobretudos. A quietude do lugar, a sensação de estar num
ponto alto do mundo eram fascinantes.
O problema acontecia quando voltava a Srinagar: sempre havia manifestações com a polícia quebrando o pau literalmente, porque eram cassetetes de madeira. Aos poucos, a viagem espiritual foi sendo atropelada pelo caminhão da História. O Kashmir virou Caxemira, espaço de um drama que começou antes da independência da Índia, mas se tornou agudo com a repartição do país.
A cara do Brasil - Miguel de Almeida
O Globo
A manobra de Hugo Motta para aumentar, e não
diminuir, o número de deputados novamente deturpa a representação. Mas hoje ele
é a face eleita do Brasil
De passagem pelo Brasil, anos atrás,
perguntaram a Umberto Eco o que era afinal Silvio Berlusconi, então eleito
primeiro-ministro. “Infelizmente ele é a cara da Itália de hoje”, respondeu.
Não havia ali ironia, apenas cínico conformismo diante do personagem folclórico
e corrupto. O Brasil de 2025 seriam os 315 deputados que votaram para aliviar o
golpista Alexandre
Ramagem e o chefe do bando? Ou seria o notório ex-ministro Carlos
Lupi? Sem muito esforço: é Lula da
Silva e sua Janja, ao
lado de Nicolás Maduro, entusiasmado com o ditador Vladimir Putin?
Posso olhar para o lado, fugindo dos tipos eleitos pelo voto popular, e pensar em Alaíde Costa, que, aos 89 anos, lança um álbum avassalador: “Uma estrela para Dalva”, em homenagem a Dalva de Oliveira. É um Brasil com outro tipo de civilização, ainda educado e poético, que não precisa mostrar a bunda, como Anitta, em assanhada vulgaridade. Ao lado de Guinga, Antonio Adolfo e André Mehmari, entre outros, Alaíde oferece um repertório de canções — algumas de Herivelto Martins, com quem Dalva foi casada, como “Ave Maria no morro” — de quando o brasileiro acreditava no país do futuro. Mais certo se aferrar à definição de Oswald de Andrade, imbatível: “O Brasil é um monte de gente dando adeus”. Ou seria um “país de chegadas”?
O Copom vai continuar subindo a taxa Selic? - Alex Ribeiro
Valor Econômico
Existe a possibilidade de uma nova alta de
juros em junho porque foi exatamente isso o que o Comitê disse na ata e no
comunicado da sua reunião
Sim, o Comitê de Política Monetária (Copom)
do Banco Central pode continuar subindo a meta da taxa Selic, que atualmente se
encontra em já elevados 14,75% ao ano. Mas essa é uma possibilidade, não uma
certeza. E, cada vez mais, os ajustes de curto prazo vão ficando menos
importantes - e o que vai contar é o sangue frio para manter os juros apertados
pelo tempo necessário para colocar a inflação na meta.
Existe a possibilidade de uma nova alta de juros em junho porque foi exatamente isso o que o Comitê disse na ata e no comunicado da sua reunião. Na leitura de parte dos analistas econômicos, a ata foi mais suave que o comunicado e, portanto, o Copom deu pistas de que a Selic não sobe mais.
O lobby presente na educação à distância - Bruno Carazza
Valor Econômico
Decreto de regulação do EaD sofreu resistência de representantes do setor, contrários à melhoria na qualidade da formação de profissionais
Um decreto que o governo anuncia para hoje,
apertando as regras para os cursos de educação à distância, movimentou os
corredores e gabinetes de Brasília nos últimos meses. Representantes dos
maiores grupos educacionais do país fizeram uma verdadeira blitz em diversos
órgãos para suavizar a nova regulação e preservar uma fonte considerável de
lucro.
Dados do Censo da Educação Superior, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram que a oferta de vagas em cursos de educação à distância (EaD) cresceu 167,5% nos últimos cinco anos, enquanto na modalidade presencial elas caíram 13,5%.
Republicanos aposta em Tarcísio para o Planalto, apesar de obstáculos
Victoria Abel / O Globo
Entre os desafios do político é apresentar-se
como opção viável ao posto, sem macular a fidelidade ao ex-presidente
O Republicanos tem
dobrado a aposta em Tarcísio
de Freitas como candidato à Presidência em 2026, depois que pesquisas
internas mostraram o potencial do governador de São Paulo para enfrentar Luiz
Inácio Lula da Silva. Para chegar à corrida, porém, Tarcísio precisa enfrentar
barreiras impostas por aliados e pelo próprio ex-presidente Jair Bolsonaro.
Preocupado em evitar fissuras com seu padrinho político, o gestor tem dito
publicamente que irá disputar a reeleição.
A primeira das dificuldades de Tarcísio é apresentar-se como opção viável sem macular a imagem de político fiel a Jair Bolsonaro. Por enquanto, a ordem é continuar a sinalizar para a disputa local e evitar o assédio de figuras do Centrão que o veem como a melhor alternativa para o Palácio do Planalto.
Falta coragem – Diogo Schelp
O Estado de S. Paulo
Quem conseguir se apresentar como a melhor alternativa ao atual governo terá mais chances em 2026
O ex-presidente Michel Temer recentemente
verbalizou um clichê político que poucos se arriscam a refutar. Trata-se da
afirmação de que qualquer candidato da direita ou centro-direita precisa estar
em paz com Jair Bolsonaro para ter viabilidade eleitoral. Essa é uma ideia que
o próprio Bolsonaro faz questão de repetir sempre que pode, até porque é o que
lhe sobra sem o direito de disputar eleições.
Temer recorreu a esse falso truísmo depois da reação à notícia de que ele havia iniciado conversas com governadores com ambições presidenciais sem a participação de Bolsonaro. O governador Tarcísio de Freitas, um dos que foram contatados por Temer, soltou um enfático “não” quando perguntado se existe direita sem Bolsonaro. Mas isso está longe de ser uma verdade incontestável.
Lula, Putin e a mentira - Denis Lerrer Rosenfield
O Estado de S. Paulo
Stalin, ao aliar-se a Hitler, tinha, ademais, como objetivo aproveitar-se da situação da guerra, concretizando uma política anticapitalista e antidemocrática
Quanto mais o presidente Lula viaja, piores ficam a reputação internacional do Brasil e a sua própria imagem. A foto de Lula, na Rússia, com seus aliados autocratas e ditadores, apenas reforça seu pouco comprometimento com a democracia, além de ficar de fora do jogo geopolítico mundial, apesar de pretender o contrário. Alinhar-se com Putin, desprezando a Ucrânia, inclusive, nada dizendo a respeito de bombardeios de civis, alvejando mulheres, idosos e crianças, trai o humanitarismo que diz defender. Bolsonaro não foi reeleito por falar demais. Lula segue pelo mesmo caminho.
A Alemanha deve proibir a AfD? - Oliver Stuenkel
O Estado de S. Paulo
Quanto mais um partido antidemocrático
cresce, mais difícil combatê-lo
Oque fazer quando um número crescente de eleitores apoia um partido que representa uma ameaça à ordem democrática? Esse é o dilema que a Alemanha enfrenta. O partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que obteve 20,8% dos votos nas eleições federais em fevereiro e ficou em segundo lugar, foi oficialmente classificado, no início de maio, como uma organização “comprovadamente extremista de direita” pelo Escritório Federal de Proteção da Constituição (BfV). Na semana seguinte, o BfV anunciou que suspenderia a avaliação até que a Justiça decidisse sobre uma ação movida pela própria AfD contra a decisão – mas sem revogar a classificação anterior.
Inclusão e oposição: o legado da emenda 25 - Lara Mesquita
Folha de S. Paulo
Medida que permitiu reorganização de partidos
e voto dos analfabetos foi tão ou mais importante que eleição de Tancredo
O ano de 1985 foi um marco para a
redemocratização brasileira. Em janeiro daquele ano, o primeiro presidente
civil depois de mais de 20 anos de ditadura militar, Tancredo
Neves, foi eleito. Ainda uma eleição indireta, restrita aos membros do
Colégio Eleitoral —composto pelos membros do Congresso Nacional e delegados das
assembleias legislativas estaduais.
Tão ou mais importante que a eleição de
Tancredo Neves foi a aprovação da emenda
constitucional 25 (EC 25), promulgada em 15 de maio de 1985.
Aprovada por ampla maioria na Câmara e no Senado, a emenda alterou a Constituição de 1967 e incluiu previsão de eleições diretas para presidente ao final do mandato presidencial vigente, além de eleições diretas, em novembro de 1986, para prefeitos de capitais e outras cidades que até então se encontravam com sua autonomia limitada.
O Executivo enfraquecido e o paradoxo brasileiro - Marcus André Melo
Folha de S. Paulo
O poder dos presidentes tem crescido em todo
mundo, até sob a forma de ‘presidencialização do parlamentarismo’
O Poder do Executivo se enfraqueceu sob Lula 3. Esse declínio teve início há cerca de uma década. Há aqui um paradoxo: em todo o mundo, tem ocorrido o contrário: o poder dos presidentes vem experimentando uma expansão secular de suas competências constitucionais. Mesmo em países parlamentaristas, tem-se observado o fenômeno que a ciência política classifica como "presidencialização do parlamentarismo", cujo traço mais notável é a perda da colegialidade dos governos de gabinete e o surgimento de líderes acima dos partidos.
Fausto vendeu sua alma ao bolsonarismo: uma tragédia brasileira - Fernando Castelo Branco*
O Povo (CE)
Em crise existencial profunda, tédio mortal e
orgulho desmedido, vai até a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e faz um
pacto com Mefistófeles, o diabo de Goethe, "o espírito que sempre
nega". Que negou a pandemia, o distanciamento social, a vacina, que
tentando um golpe de estado negou a própria democracia
Fausto, personagem de Goethe, é um homem sábio, "estudei filosofia, direito, medicina
e, infelizmente, também teologia", aos 15 anos até venceu um prêmio
literário em um concurso de redação sobre a vida e obra de Luís de Camões, e
deixou a pequena Sobral para conhecer Lisboa às expensas do governo português.
Um prodígio!
Fausto é não apenas um homem erudito, doutor em várias ciências, visiting scholar na Harvard Law School, é também o servo preferido de Deus, homem em quem se deposita a fé na humanidade. Confiante em sua tenacidade, Deus aceita o desafio, e permite que Fausto seja tentado pelo Diabo. "Enquanto ele viver na Terra, / Não te proíbo que o tentes. / O homem erra enquanto busca". E como erra, esse homem que busca.
Por que Janja incomoda a tantos – Guálter George
O Povo (CE)
Precisamos falar da socióloga Rosângela Lula
da Silva, popularmente identificada como Janja, que vem a ser a mulher do atual
presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e que assumiu protagonismo
no cenário político dos últimos dias, "acusada" por gente da própria
base de estragar os efeitos positivos de uma viagem do marido à China marcada
por anúncios de investimentos e acertos bilionários para o Brasil. O que fez
ela então, para carregar tal peso?
Antes de chegar ao episódio específico é preciso discutir o que tem representado a entrada de Janja na vida de Lula, em relação às suas consequências políticas. Há uma diferença abissal entre o comportamento dela e o da antiga cônjuge do petista, Marisa Letícia, esta sempre apontada como fundamental à trajetória dele pelo papel de dona de casa que cumpriu exemplarmente até quase à morte, que aconteceu em 2017. Diz-se, inclusive, que sem ela teria sido mais difícil até criar o PT diante do suporte que oferecia, de sua posição doméstica, para os encontros e reuniões do grupo precursor que tinha Lula como ponto central.
Criticar a primeira-dama não é misoginia - Lygia Maria
Folha de S. Paulo
Resposta de Janja a discordâncias em relação
à sua fala sobre as redes sociais, durante evento na China, é tiro no pé do
feminismo
Um dos maiores inimigos do feminismo é
o uso de pautas caras ao movimento como escudo contra críticas a mulheres.
Por óbvio, nem toda discordância com atos ou
falas de pessoas do sexo feminino é machista, ainda mais quando elas integram o
campo da política. Nessas situações, principalmente, a crítica é uma ferramenta
histórica de escrutínio do poder.
Tal escudo é nefasto porque coloca as mulheres num lugar irracional e vitimista. Parece que somos incapazes de demonstrar que uma oposição não se sustenta. Resta só a opressão ressentida e, às vezes, imaginária.
Leão XIV e os desafios do mundo contemporâneo - Manfredo Oliveira*
O Povo (CE)
Sabemos que estamos diante da possibilidade
de nossa própria extinção de tal modo que a catástrofe ecológica se mostra hoje
como o inimigo verdadeiro e, assim, constitui um desafio para humanidade
inteira
Dirigindo-se ao colégio de cardeais, o
papa Leão XIV afirmou que gostaria que renovassem juntos a plena
adesão ao caminho que a Igreja universal percorre desde o Concílio Vaticano II.
Entre várias características deste caminho, citou duas centrais: o cuidado
amoroso com os marginalizados/excluídos e o diálogo confiante com o mundo
contemporâneo.
Isto implica uma tomada de consciência dos traços da civilização técnico-científica que construímos na modernidade, em que a ciência e a técnica deram à ação humana um alcance de dimensão planetária, ampliando o horizonte de sua responsabilidade. A ação humana, tecnicamente potencializada, pode deteriorar, de forma irrevogável, a natureza e o próprio ser humano. Tal postura pressupõe uma dicotomia radical entre homem e natureza e compreende ciência e técnica como instrumentos de domínio.