quarta-feira, 11 de junho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ao mobilizar tropas federais, Trump extrapola poderes

O Globo

Protestos violentos em Los Angeles devem ser reprimidos, mas não justificam uso de militares como polícia

É preocupante a escalada da violência desencadeada pelos protestos contra a deportação de imigrantes em Los Angeles. Manifestantes atacaram agentes de imigração com toda sorte de objeto — agressão que não cabe num protesto legítimo. Mais preocupante, porém, é o decreto assinado pelo presidente Donald Trump determinando o envio de tropas federais para conter os manifestantes.

Por meio do decreto, Trump mobilizou 4.100 soldados da Guarda Nacional, que, embora formalmente vinculada ao governo federal, só costuma agir por iniciativa dos estados. Também pôs de prontidão 700 fuzileiros navais para entrar em ação caso necessário. A medida abre um precedente perigoso para que forças militares atuem como polícia. Presidentes sempre temeram usar soldados treinados para matar inimigos contra seus próprios cidadãos. Ações de militares na repressão interna são excepcionais na História americana. Por ser movediça, a base legal para elas sempre funcionou como fator de dissuasão. Não para Trump.

Bolsonaro minimiza atos golpistas e politiza julgamento – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Ex-presidente é apontado pelo Ministério Público como o centro do esquema golpista, com base na delação do tenente coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens

O depoimento de Jair Bolsonaro, nesta terça-feira, no julgamento que apura sua responsabilidade na tentativa de golpe de Estado foi pautado pela naturalização dos atos golpistas nos quais esteve envolvido e pela politização da ação penal. O ex-presidente aproveitou a transmissão ao vivo da sessão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) para enaltecer o seu governo. Elogiou seu ministério "excepcional", disse que levou água para o Nordeste, dobrou o valor do Bolsa Família, criou o Pix e entregou o Porto de Santos e Itaipu Binacional com superavit. "Quando a gente começa a tapar os ralos da corrupção, aparecem as inimizades", ironizou.

Um outro dia em que o Brasil quase sofreu um golpe - Fernando Exman

Valor Econômico

Risco de ruptura existiu com bloqueio de estradas logo depois da eleição

O dia 1º de novembro de 2022 amanheceu em meio a muita tensão. Insatisfeitos com o resultado do segundo turno realizado dias antes, caminhoneiros bolsonaristas bloqueavam pontos estratégicos da malha rodoviária nacional. Em poucas horas, as obstruções passaram a atingir 25 unidades da federação e estavam saindo do controle.

Documentos com conteúdo golpista circulavam entre os aliados mais próximos de Jair Bolsonaro (PL), então presidente da República e comandante em chefe das Forças Armadas. Era intensa a atividade em grupos de aplicativos de mensagens compostos por auxiliares de escalões inferiores do Palácio do Planalto e da Esplanada dos Ministérios, nos quais a defesa de um golpe era feita com assombrosa naturalidade. Ainda não havia, no entanto, palavra alguma de Bolsonaro no sentido de reconhecer a derrota nas urnas para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro tropeça na política e não se livra das imputações em interrogatório no STF - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Aliados sinalizam descontentamento com desempenho de ex-presidente em depoimento

Auto-exilado no Texas, de onde tem feito pressões por sanções americanas ao ministro Alexandre de Moraes, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se desesperou ao ouvir o pai convidar seu algoz para vice durante seu interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (10). “Qualquer pessoa com dois neurônios entendeu a ironia da fala de @jairbolsonaro, entendeu que a ÚLTIMA pessoa no planeta que seria escolhida para vice dele seria Moraes”, escreveu no X.

MP mexe com nervos de quem estava calmo - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Projeto do governo para aumentar as receitas começa a enfrentar resistências antes mesmo de chegar ao Congresso

A medida provisória (MP) que trará novas mudanças na tributação para aumentar as receitas começou a enfrentar resistências antes mesmo de chegar ao Congresso Nacional.

E, chegando, já está combinado que o pau vai quebrar. Foi o que disse, com palavras mais elegantes, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), no evento “Agenda Brasil - o cenário fiscal brasileiro”, promovido por Valor, “O Globo” e rádio CBN na última segunda-feira. Não há compromisso de a MP ser aprovada, avisou.

A ideia de acabar com isenções do Imposto de Renda nas aplicações financeiras mexeu com o ânimo até de um setor que, por sua natureza, não se apavora facilmente: o de infraestrutura.

O ‘jogo do contente’ de Bolsonaro- Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Ex-presidente pede desculpas a Moraes e reduz tentativa de golpe a críticas às urnas eletrônicas

Um outro Jair Bolsonaro apareceu ontem diante do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator da ação penal sobre a trama golpista. Sem o estilo explosivo que lhe é peculiar, o ex-presidente baixou o tom e usou a estratégia do “jogo do contente” ao dar outra versão para o que ocorreu no Brasil após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022.

Durante todo o interrogatório, Bolsonaro procurou circunscrever sua participação na tentativa de golpe a uma saraivada de críticas às urnas eletrônicas. Foi muito mais do que isso, como revelaram as investigações da Polícia Federal e a denúncia da ProcuradoriaGeral da República, mas o excapitão adotou essa tática de defesa para reduzir sua pena.

Plano de autodestruição nacional - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Lula 3 coloca governo em pindaíba suicida, parte rica do país incentiva o desastre

O plano do governo de cobrar Imposto de Renda sobre os ganhos com certas aplicações financeiras causou choro e ranger de dentes por motivos certos e, na maior parte, errados.

Essas aplicações financiam setores importantes da economia. São, grosso modo, certificados de empréstimos diretos ou indiretos para a agropecuária, para o setor imobiliário e, talvez, também para a infraestrutura (eletricidade, transporte, logística, saneamento etc): LCI, LCA, CRI, CRA, debêntures incentivadas etc.

O imbrochável brochou - Mariliz Pereira Jorge

Folha de S. Paulo

Amém que Bolsonaro não será perdoado: que a Justiça o condene, que a história o engavete

Quem já foi vítima de abuso sabe: basta uma frase, uma imagem, uma voz. O corpo inteiro responde. Não é escolha, é memória. O trauma volta antes do pensamento. Foi o que senti ao assistir a Jair Bolsonaro no depoimento a Alexandre de Moraes no STF.

E sei que não estou sozinha. Para milhões de brasileiros, Bolsonaro não é apenas um ex-presidente. É um gatilho. Apesar de me dar ojeriza, essa palavra que virou muleta linguística talvez seja o que melhor define a lembrança de viver com a sensação constante de uma mira na nuca durante seu governo. Quatro anos sem um minuto de sossego. Um país assediado moralmente, submetido à pedagogia do ódio.

Condenação à vista - Vera Magalhães

O Globo

Interrogatórios confirmam delação e provas obtidas pela PF e réus não refutam acusação de que tramaram golpe em várias ocasiões

Nada nos dois dias de interrogatório dos primeiros réus da ação penal instaurada para julgar se houve tentativa de golpe de Estado no Brasil por parte de Jair Bolsonaro e seus ministros mudou o veredito que parece inescapável: a condenação dos oito integrantes daquilo que o Ministério Público Federal considera o núcleo crucial da trama.

A naturalidade com que, um a um, os réus confirmavam as provas reunidas pela Polícia Federal e as revelações do delator Mauro Cid pode facilitar em muito o trabalho dos ministros da Primeira Turma — e talvez ajude a explicar o aspecto mais surpreendente da jornada, o bom humor a toda prova do relator Alexandre de Moraes, um dos principais alvos daqueles que conspiraram contra a democracia investidos de seus cargos e mandatos.

Um réu no palanque - Bernardo Mello Franco

O Globo

Capitão fez discurso de candidato e sugeriu que golpe fracassou porque "não tinha clima"

Sem esperanças de escapar da condenação pela trama golpista, Jair Bolsonaro tentou usar o banco dos réus como palanque. Convocado a se defender no Supremo, o capitão engrenou um discurso de candidato. Exaltou o próprio governo, criticou o sucessor e se apresentou como opção para 2026.

O interrogatório começou em clima de horário eleitoral. Bolsonaro disse ter montado um ministério “excepcional”, afirmou que levou água ao Nordeste, citou o asfaltamento de uma estrada no Paraná. Num lapso de sinceridade, admitiu que sua ascensão foi uma trapaça da História: “Nem eu esperava ser eleito presidente, tendo em vista quem eu era”.

Alexandre de Moraes optou por não interromper o monólogo. À vontade, o capitão divulgou sua agenda de viagens e brincou que escalaria o ministro como vice em sua chapa imaginária — ele finge não se lembrar, mas está inelegível até 2030.

Memória de Mauro Cid é seletiva – Elio Gaspari

O Globo

O tenente-coronel alterna amnésias e lembranças tardias

Ao final do depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, o ministro Luiz Fux disse tudo:

— Este não é o momento próprio, mas vejo com muita reserva nove delações de um mesmo colaborador, cada hora apresentando uma novidade.

Cid é uma flor do entorno militar de Jair Bolsonaro. Ajudante de ordens do presidente da República, esbanjou seus 15 minutos de fama. Sempre que o ajudante de ordens do presidente ganha notoriedade, há algo de errado com o oficial e com seu chefe. Ninguém se lembra de que o major Tomás Paiva foi ajudante de ordens de Fernando Henrique Cardoso. Hoje ele é o comandante do Exército.

Alguns ajudantes de João Baptista Figueiredo, Costa e Silva e João Goulart fizeram fama, e deu no que deu. O marechal Castello Branco zuniu um oficial para o canil porque ele entrou em sua sala querendo saber quem era a mulher que dormira nos aposentos do Palácio Laranjeiras na noite anterior. Castello espinafrou-o e dispensou seus serviços. Quando o oficial deixava a sala, o marechal saciou-lhe a curiosidade: a “senhora” era sua neta, uma criança. O general Eurico Dutra, quando ministro da Guerra, testava candidatos pedindo que o acompanhassem no automóvel. Antes de entrar no carro, dizia que ia para casa, em Ipanema. Ao falar com o motorista, dava um percurso absurdo. Os candidatos que o corrigiram foram dispensados, e Dutra contratou o que ficou calado.

No STF, nenhum réu nega minutas e reuniões golpistas - Vera Magalhães

O Globo

Com diferentes graus de veemência, às vezes tentando minimizar importância de eventos, o fato é que nenhum dos integrantes do núcleo crucial da trama golpista diz que afirmações de Cid e provas são mentira

O mais impressionante das muitas horas de interrogatórios do chamado núcleo crucial da ação penal que trata da trama golpista é que nenhum dos réus ouvidos até agora pelo ministro Alexandre de Moraes nega o teor de minutas, reuniões, lives, trocas de mensagens e outras provas reunidas pela Polícia Federal e que mostram os vários momentos em que Jair Bolsonaro e seus auxiliares, militares e civis, analisaram a possibilidade de levar adiante alguma forma de contestar o resultado das urnas de 2022 e não passar o poder a Lula.

Garnier agora se diz 'muito triste' com atos golpistas - Bernardo Mello Franco

O Globo

Em interrogatório no STF, almirante negou ter oferecido tropas para golpe de Bolsonaro

Descrito como o mais radical dos comandantes militares nomeados por Jair Bolsonaro, o almirante Almir Garnier disse ter ficado “muito triste” com os atos golpistas de 8 de Janeiro.

No primeiro interrogatório desta terça, Garnier cumpriu à risca a estratégia de sua defesa e negou todas as acusações feitas pela Procuradoria e por ex-colegas de farda.

Três estratégias, três erros - Míriam Leitão

O Globo

Os três réus que depuseram nesta manhã de terça-feira no Supremo Tribunal Federal (STF) adotaram estratégias diferentes, nenhuma delas, no entanto, foram bem sucedidas no objetivo de destruir as provas que os ligam à tentativa de golpe em 8 de janeiro.

O almirante Almir Garnier Santos, por exemplo, decidiu ser objetivo, falar pouco, foi lacônico, mas respondeu todas as perguntas respeitosamente. O almirante jogou na defesa, com respostas bem pensadas, mas que não o ajudaram. Ele fez de conta que o que se propunha era uma GLO, e não um golpe. Disse ainda que a Marinha estava de prontidão porque tem que estar, afinal, as Forças Armadas são o “bastião desse negócio”.

Uma economia mundial cada vez mais arriscada - Martin Wolf

Valor Econômico

A guerra tarifária de Trump traz consigo a imprevisibilidade e a consequente perda de confiança

Estamos vivendo os primeiros estágios de uma revolução —a tentativa de conversão da república americana em uma ditadura arbitrária. Ainda não está claro se Donald Trump terá sucesso nessa tentativa. Mas o que ele quer fazer parece evidente. Seu modo de governar —ilegal, imprevisível, anti-intelectual e nacionalista— terá o maior impacto nos próprios Estados Unidos. Mas, inevitavelmente, também está tendo um impacto enorme no restante do mundo, dada a posição hegemônica dos EUA desde a Segunda Guerra Mundial. Nenhum outro país ou grupo de países pode —ou quer— ocupar esse lugar. Essa revolução ameaça o caos.

O caso Leo Lins e o risco do autoritarismo virtuoso – Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Mandar um comediante para a cadeia por arte degenerada não é um bom precedente democrático

Cresce hoje uma tendência preocupante: a disposição de negar direitos civis a quem consideramos moralmente inaceitável. O curioso é que esse impulso autoritário não é incompatível com crenças democráticas.

Como mostram décadas de pesquisa —inclusive o clássico estudo de Samuel Stouffer, "Communism, Conformity, and Civil Liberties"—, muitos que efetivamente valorizam a democracia não veem problema algum em negar a liberdade artística ou de expressão de indivíduos ou grupos percebidos —segundo os parâmetros de quem julga— como depravados, ameaçadores ou nocivos.

Ora, essa é justamente a definição mais consensual de intolerância política: a disposição de suprimir direitos civis e liberdades básicas a grupos e indivíduos cujas ideias e atitudes são vistas como ofensivas ou moralmente inaceitáveis. A intolerância se manifesta quando o compromisso com o pluralismo democrático, que exige o reconhecimento da legitimidade dos adversários, cede lugar à repulsa moral. E ela é situacional: os indivíduos tendem a ser tolerantes com grupos e pessoas que não desafiam seus valores centrais e intolerantes com os que os confrontam.

Trump não é um ator de boa-fé - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Presidente se vale de falso pretexto para intervir na Califórnia e com isso viola usos e costumes da democracia americana

Destruir a democracia americana não é tarefa simples, mas Donald Trump está se esforçando. A decisão de enviar tropas sob comando federal para reprimir protestos em Los Angeles, sem pedido das autoridades locais, viola, talvez não a letra, mas certamente o espírito de leis e tradições políticas norte-americanas.

Os Estados Unidos têm disposições para evitar que autoridades concentrem muito poder, especialmente o poder de polícia, e dele abusem. O comando sobre forças que portam armas é dividido entre vários atores, de prefeitos ao presidente. O governo federal está em princípio proibido de utilizar militares da ativa em repressão interna.

Rotina de desfaçatez – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

No relato de Mauro Cid, impressiona a desinibição com que agiam conspiradores sob Bolsonaro

A expressão do título é emprestada do discurso de posse do então ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, em maio de 2006, auge do mensalão. "Uma rotina de desfaçatez" é o que ele dizia assolar o Brasil e contra a qual chamava o país a reagir.

Pelo visto no interrogatório do tenente-coronel Mauro Cid no Supremo, não apenas não houve a necessária correção de rumos como o que se passou no governo de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, notadamente no período pós eleição presidencial, foi uma adesão total à prática do desaforo institucional, da corrupção de valores, da roubalheira de princípios.

Nas tetas do Leviatã - Felipe Castanheira

CartaCapital

Salim Mattar empunha a bandeira do liberalismo radical, mas não vive sem a mão amiga do Estado

Desde muito jovem, Salim Mattar declara-se liberal. O encantamento com a doutrina econômica é tamanho que ele vive a citar o fato de ter financiado a tradução para o português de A Revolta do Atlas, da filósofa norte-americana de origem russa Ayn Rand, uma defesa apaixonada do laissez-faire e ataques furibundos aos conceitos de coletividade. As ideias de Rand iluminam o tipo de liberalismo defendido, mas não praticado pelo empresário mineiro, cuja carreira no ramo de aluguel de carros começou em 1973, quando, em sociedade com quatro amigos, obteve um empréstimo de 50 mil cruzeiros, comprou quatro Fuscas e abriu as portas da Localiza.

No mundo real, dos negócios, Mattar não se difere da média dos empresários bem-sucedidos do Brasil. Seu sucesso e fortuna dependeram da generosa e seletiva mão visível do Estado, contra a qual vocifera. No fim da década de 1970, em plena ditadura, as boas relações com oficiais da Aeronáutica facilitaram a obtenção de um ponto privilegiado no recém-reformado Galeão, próximo ao desembarque dos passageiros. Como os voos no aeroporto, a Localiza decolou. Em 1984, o “empreendedor” associou-se à norte-americana National Car Rental, terceira maior locadora do mundo, e conquistou a liderança do setor no Brasil. Em 1989, o nosso liberal decidiu explorar um novo mercado. Por 2,5 milhões de dólares, comprou a Belair Táxi Aéreo, que tinha entre os sócios Luiz Gonzaga Dias, piloto de Fernando Collor de Melo. No mesmo período, que coincide com a eleição do alagoano à Presidência da República, a Belair amealhou um contrato com os Correios para operar os serviços de Sedex VIP. Mais uma vez, a mão visível do Estado veio em socorro de Mattar. Curiosamente, a estatal dispensou o processo de licitação para contratar a Belair.

Desocupando a moita... - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Não sei quem teve a brilhante ideia de tentar  apaziguar o clima de ódio  desencadeado  no campo da política, sugerindo  aos dois potenciais candidatos à eleição para Presidente da República, em 2026,  saírem  do caminho. Ambos já ocuparam o cargo, gozam dos privilégios de serem "exs", já aquinhoaram, com benesses do Estado ,   familiares , amigos e correligionários  e, nenhum dos dois fez uma gestão presidencial que os capacite à retornar. Seria um exagero, e até um abuso da ingenuidade popular. Ambiguamente  gozam de grande popularidade, mas também de uma enorme rejeição  pública. Alimentam-se desse furor marquetólógico , travando  falsas batalhas,  escondendo ou camuflando  verdades com versões convenientes. Os dois são fortes candidatos a serem derrotados nas próximas eleições. E a culpa não seria do "centrão". É deles mesmos.

Sobram rejeições, mas falta alternativa – Érico Firmo

O Povo (CE)

É esse o impasse institucional a que chegou o Brasil. As duas grandes forças são rejeitadas e o eleitor tampouco dá espaço, ou credibilidade, a alternativas a esses campos

O Brasil está num complicado buraco político e é difícil vislumbrar saída tão cedo. Governos sem maiorias sólidas tendem a levar a cenários de instabilidade. É preciso alicerce institucional muito consolidado para haver governo sem maioria confortável, ou mesmo minoritário, e ainda assim sólido. Não é apenas polarização. A pesquisa Quaest divulgada na semana passada mostra o impasse institucional que o Brasil vive. Dois terços dos que responderam ao levantamento defendem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não deve ser candidato à reeleição. São 66%. Percentual quase idêntico, 65%, afirma também que Jair Bolsonaro (PL) deve abandonar de imediato a retórica de que será candidato — pois está inelegível. O eleitor não quer Lula, não quer Bolsonaro, mas também não confere viabilidade eleitoral a nenhum projeto alternativo a ambos.

No mínimo, um equívoco - Ivan Alves Filho

Volta e meia, há setores que se reivindicam do campo progressista tratando bandido como vítima da sociedade.

Aqui, é preciso esclarecer, ainda que esquematicamente:

1. Vítima é o trabalhador, alvo da violência sem limites desses marginais, principalmente nos bairros populares e nas favelas. 

2.  Nos últimos anos, conforme as estatísticas oficiais, simplesmente duplicou o número de pessoas morando em favelas no Brasil, perfazendo 18% das casas brasileiras. Esse fato, por si só, já é uma violência execrável. 

3. Será que esses autoproclamados progressistas ignoram a formação de uma burguesia do crime no país, com base em uma espécie de capital-bandido que se infiltra em várias camadas da vida nacional? 

Afinal, o grama de cocaína vale mais do que o grama de ouro e isso não se deve ao acaso.

4. A questão da segurança pública se apresenta hoje como uma das maiores preocupações do nosso povo. Os autoproclamados progressistas fazem abertamente o jogo da extrema-direita. São muito ingênuos, seguramente.

*Ivan Alves Filho, historiador. 

Poesia | O outro Brasil que vem aí, de Gilberto Freyre

 

Música | O Show tem que continuar - Sombrinha (Sambabook Beth Carvalho)