segunda-feira, 30 de junho de 2025

Opinião do dia – Ulysses Guimarães*

“Todos os nossos problemas procedem da injustiça. O privilégio foi o estigma deixado pelas circunstâncias do povoamento e da colonização, e de sua perversidade não nos livraremos, sem a mobilização da consciência nacional.

Liberdade, Soberania, Justiça. Sobre estas ideias simples construíram-se as maiores nações da história. Elas serão o âmago da nossa razão comum no trabalho de dotar a Nação de uma nova e legítima Carta Política.” 

*Ulysses Guimarães, no discurso de instalação da Assembleia Constituinte, 2 de fevereiro de 1987.


O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Explosão de gastos com BPC exige mudança profunda

O Globo

São positivas tentativas de disciplinar concessão. Mas é essencial rever correção acima da inflação

O aumento sem controle dos gastos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um exemplo perfeito de como as melhores intenções podem agravar o desequilíbrio crônico das contas públicas. O BPC foi criado pela Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) em 1993, com o objetivo de garantir sustento a idosos com mais de 65 anos ou a pessoas com deficiência, de famílias cuja renda mensal per capita não ultrapasse 25% do salário mínimo (R$ 379). Hoje atende 6,7 milhões. O gasto com o benefício em 2026 será de R$ 133 bilhões, de acordo com previsão do governo. Mantidas as atuais regras de acesso e reajuste, tal despesa chegará a R$ 1,48 trilhão em 2060 — alta superior a 1.000%, muito além da projetada para a população de beneficiários idosos (192%) ou com deficiência (55%).

O BPC não para de emitir sinais de alarme. Só nos primeiros quatro meses deste ano, as despesas com o benefício cresceram 11,6% acima da inflação em relação a 2024. Em 31 meses, o número de beneficiários deu um salto de 33%, abrigando mais 1,6 milhão de pessoas. Mais de 25% das concessões hoje dependem de decisão judicial.

Atualidade e desdobramentos possíveis da demagogia política - Paulo Fábio Dantas Neto*

Reclamar da política é sempre uma opção para políticos em dificuldades eleitorais. Impõe-se quando, numa democracia, outra opção lhes falta, seja por uma situação objetiva que os limita, seja por uma atitude subjetiva que os orienta, estrategicamente. Quando as condições objetivas e subjetivas atuam na mesma direção, reclamar da política converte-se em pregação queixosa de algum tipo de antipolítica. Dito de outro modo: se a barriga estiver cheia, o apetite político glutão pode ser adiado, embora sempre se mantenha latente e a postos, como diretriz de conduta. De barriga vazia, a fome e a vontade de comer criam uma sinergia tal que voltar a comer vira programa de ação imediato, apesar de circunstâncias adversas. Um passo imprudente adiante pode fazer o ator político passar da queixa eloquente ao ato inconsequente. Estágio avançado em que, na maionese da demagogia, prosperam tentações golpistas.

O cercadinho do Hugo Motta - Miguel de Almeida

O Globo

O posto de deputado ou senador é um empregão como poucos para tanta falta de responsabilidade

Pelas redes circula um abaixo-assinado pelo fim das mordomias dos parlamentares. Até agora, angariou milhares de apoios. O posto de deputado ou senador é um empregão como poucos para tanta falta de responsabilidade. Fora o majestoso salário, as verbas de gabinete (combustível, vale-paletó etc.), as emendas secretas e o fundo eleitoral tornam a ocupação um pedaço de paraíso na Terra.

A atual fotografia do Congresso Nacional não é um espelho do Brasil. O que está ali é uma distorção provocada pelas anomalias impostas ao sistema eleitoral, num caso bem pensado de esculhambação. Com o intuito de esmorecer a vontade popular e tornar irrelevante a participação dos eleitores, tipo:

— Deixe esses caras para lá, vou cuidar da minha vida.

Políticos como os Bolsonaros e Sóstenes Cavalcante contam com o desânimo e o ódio da população na desmontagem da democracia representativa. Quanto pior, melhor.

Perde-perde - Irapuã Santana

O Globo

Mais uma vez, amplia-se o custo da máquina pública quando o momento exige contenção e responsabilidade fiscal

A Constituição estabelece que o número de deputados federais e a representação por estado, de forma proporcional à população, devem ser definidos por meio de lei. Além disso, prevê que sejam feitos os ajustes necessários no ano anterior às eleições, sem que nenhuma unidade federativa tenha menos de oito ou mais de 70 parlamentares. Mais tarde, a Lei Complementar 78/1993 estabeleceu o máximo de 513 deputados.

Em agosto de 2023, o STF entendeu que o Congresso demorava a adequar o número de vagas na Câmara e fixou um prazo até a data de hoje para que isso fosse cumprido.

Congresso aprova medidas que vão custar R$ 106 bilhões aos cofres públicos neste ano

Por Cássia Almeida / O Globo

Iniciativas do Legislativo ou mudanças em projetos do Executivo ampliam gastos ou barram cortes em benefícios fiscais

A queda de braço entre o Congresso e o Executivo, que chegou ao ápice na semana passada com a derrubada do decreto presidencial que aumentou a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), está fazendo o desequilíbrio fiscal do país se agravar. Se o governo tem optado, na maioria das vezes, por um ajuste fiscal ancorado no aumento de receitas, o Congresso também adotou medidas que acabaram ampliando gastos ou barrando propostas de ajuste apresentadas pelo Executivo.

Levantamento da Tendências Consultoria feito a pedido do GLOBO mostra que medidas recentes do Legislativo tiveram impacto de mais R$ 100 bilhões só neste ano. São iniciativas que elevaram despesas públicas, travaram cortes de gastos ou rejeitaram limites a isenções fiscais.

A lista de algumas dessas medidas (veja quadro ao lado) soma R$ 106,9 bilhões em 2025. No ano que vem, a conta sobe para R$ 123,25 bilhões, com os efeitos da decisão do Congresso de ampliar o número de deputados e o início do programa de renegociação de dívida com os estados (Propag), projeto de lei do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que praticamente retirou os juros do pagamento da dívida dos estados, mantendo somente a correção pela inflação. O projeto foi sancionado pela União em janeiro deste ano. Antes, havia juro de 2% ao ano. O impacto esperado é de R$ 20 bilhões a partir do ano que vem.

— O Congresso sentou em cima do encaminhamento para reduzir supersalários, houve a questão dos estados, sem contar com o aumento de deputados e o novo patamar de emendas parlamentares. Mas não podemos esquecer que o governo aumentou os gastos com a PEC da Transição em 2023, em R$ 200 bilhões — diz Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria.

Mulheres são a esperança no Irã – Fernando Gabeira

O Globo

É preciso reconhecer que regimes revolucionários não caem por impulso externo. Será preciso que a oposição derrube

A guerra nos bombardeia com fatos e versões. No curto tempo que sobra, tento entender um pouco melhor seus grandes atores: Israel e Irã. A história de Israel como Estado é curta, mas cheia de peripécias. No caso do Irã, tentei revisitar alguns textos, enquanto caíam as bombas.

Um documento muito discutido na época foi a série de reportagens de Michel Foucault no Irã, feitas na véspera da Revolução Islâmica. Ele foi a Teerã duas vezes em 1978, a convite do jornal italiano Corriere della Sera. O regime do xá Reza Pahlavi estava no fim, com o Exército massacrando milhares na Praça Jaleh.

Por que os lobbies são tão fortes no Brasil? - Bruno Carazza

Valor Econômico

Uma ampliação da discussão proposta por Samuel Pessôa sobre os motivos de o Congresso brasileiro ser tão facilmente capturado por grupos de pressão

Leitura obrigatória de todos os domingos, a coluna de Samuel Pessôa na Folha de S.Paulo de ontem aborda um tema de importância fundamental: a vulnerabilidade do nosso sistema político aos lobbies e grupos de pressão.

Para o economista da FGV, a força desmesurada de pequenos grupos organizados sobre os Poderes da República distorce o nosso processo de escolhas sociais. Assim, a legislação, o orçamento público e o sistema tributário acabam favorecendo empresários de determinados setores e certas categoriais profissionais em detrimento do interesse coletivo.

BC mira 2026 com juro alto por muito tempo - Alex Ribeiro

Valor Econômico

A estratégia é cumprir objetivo de levar a inflação para a meta no horizonte relevante de política monetária

O Banco Central vai deixar os juros básicos bem altos por bastante tempo para levar a inflação para a meta. A estratégia é cumprir esse objetivo no horizonte relevante de política monetária. E o horizonte relevante de política monetária é o período de 12 meses até dezembro de 2026.

Essa foi talvez a mensagem mais importante da entrevista do Relatório de Política Monetária (RPM), divulgado na semana passada, e do pronunciamento feito pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, em um evento promovido pelo Banco Barclays, em São Paulo, na sexta.

Esquerda chilena escolhe comunista como candidata

O Estado de S. Paulo

Ex-ministra do Trabalho vence prévias da esquerda e será candidata governista na disputa pela sucessão de Boric

Jeannette Jara, ex-ministra do Trabalho de Gabriel Boric, do Partido Comunista Chileno, venceu ontem as prévias da coalizão governista e será a candidata da esquerda nas eleições presidenciais de novembro no Chile.

Jara alcançou 60% das preferências, segundo dados oficiais do Serviço Eleitoral (Servel). Em segundo lugar, bem distante, ficou a ex-ministra Carolina Tohá, de centro-esquerda, com 27%. Em seguida, vieram Gonzalo Winter (9%), da Frente Ampla, partido de Boric, e Jaime Mulet (2,7%), do partido minoritário Federação Regionalista Verde Social.

Fadiga na Paulista - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Há desconexão entre o que Bolsonaro tenta ser para seus apoiadores e o que pode fazer por eles

Nem a sonoplastia dramática, acionada quando a voz ganhava certa intensidade, salvou o discurso de Jair Bolsonaro do marasmo. O público de verde e amarelo na Avenida Paulista, ontem, saiu dali satisfeito por prestar apoio ao seu líder político e reafirmar as próprias convicções, como a teoria de que os atos de 8 de janeiro foram fabricados pela esquerda, e emoções, como o ódio a Alexandre de Moraes e a Lula, mas Bolsonaro já não é capaz de entregar muito mais do que isso. A fadiga com o que ele tem a dizer é evidente.

A repetição de bordões, como “Deus, pátria, família e liberdade”, e da retórica messiânica (“valeu a pena o sacrifício”) nem é o maior problema. A questão é que há uma desconexão entre o que Bolsonaro tenta ser para seus apoiadores, ou seja, o salvador da pátria (“a missão do capitão não acabou, ele ainda vai contribuir muito com o Brasil”, disse o governador Tarcísio de Freitas), e o que o ex-presidente realmente pode fazer por eles.

Construir pontes, não muros - Antonio Cláudio Mariz de Oliveira

O Estado de S. Paulo

O apelo de Francisco aplica-se aos países e aos sistemas políticos e econômicos que internamente criam barreiras entre os vários segmentos sociais

O papa Francisco foi um frasista como poucos que o mundo produziu. Não frases de efeito, de impacto midiático. Os seus dizeres eram sempre recheados de conteúdo, de mensagens para reflexão sobre a realidade que nos cerca. Devem ser considerados como lição de vida, como ensinamento para o comportamento do homem, da sociedade e das nações. Podem ser acolhidos ou não, mas, com certeza, sempre conduzem a uma análise que, em regra, abala convicções já sedimentadas e desperta consciências.

Um exemplo de sua sensibilidade, acuidade e completa ausência de preconceito foi a declaração que fez em visita a um presídio. Ao reunir-se com os presos, afirmou “eu poderia ser um de vocês”. Mostrou ter plena ciência de que o crime é um fato humano e social, que pode envolver qualquer um de nós.

Israel, Irã e o Ocidente - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

O Irã terminou indiretamente por confessar a sua fraqueza, implicitamente a sua derrota

No imediato pós-Guerra, o Irã confrontou-se com um dilema: o de permanecer no culto à morte, conforme a sua retórica de destruição do Ocidente e do Estado de Israel, em particular, tudo subordinando ao martírio e ao sacrifício que são a sua expressão, ou o de fazer um cálculo de perdas e danos, considerando o futuro, devido à sua fragorosa derrota militar. Apesar de sua retórica belicista e macabra, exibiu a mera aparência do que parecia ser. Terminou, porém, optando pela racionalidade estratégica, assumindo-se mais como Estado do que como organização terrorista.

Quem responde pelo uso do dinheiro público? - Lara Mesquita*

Folha de S. Paulo

Se deputados e senadores querem continuar a definir os rumos do Orçamento, é preciso discutir a responsabilização do Legislativo

O assunto da última semana foi a votação para derrubar o decreto que regulamentava a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Os impactos, as causas e, sobretudo, o que isso significa para a relação entre o Executivo e o Legislativo e para os 18 meses que o governo Lula 3 tem pela frente.

O governo precisa reduzir despesas ou aumentar a arrecadação. Não está claro se deputados e senadores não aceitarão nenhum tipo de corte de despesas ou apenas se não aceitam aqueles que atingem o setor produtivo, como o fim das desonerações da folha de pagamento.

Razões do mal-estar em relação à democracia brasileira - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Quando os parceiros de coalizão são rejeitados pelos seus apoiadores, a avaliação do sistema piora 

Cresce a percepção de que há algo errado em nossas instituições. Diria até que é quase consensual na opinião pública que as relações entre os três Poderes são disfuncionais. Isto se estende ao próprio funcionamento da democracia no país. Não temos dados para 2025, mas, segundo pesquisa sobre a satisfação com a democracia do Pew Research Center em setembro de 2024, o Brasil está ligeiramente abaixo da mediana global que é 45%.

Poesia | Amar e ser amado, de Castro Alves -

 

Música | Modinha | Assucena e João Camarero (Tom Jobim e Vinícius de Moraes)