domingo, 18 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

China é o pior exemplo para regular redes sociais

O Globo

Única lição que enviado de Xi Jinping teria a ensinar a Lula é sobre como implantar censura

Encontros entre chefes de Estado levam meses para ser planejados. Detalhes são discutidos à exaustão, e os temas escolhidos de comum acordo. Nesses encontros, arroubos de espontaneidade e improviso são sinônimo de amadorismo — até porque não costumam dar em nada. Para os chineses, em particular, a regra são eventos coreografados por um rígido protocolo. Por isso foi inoportuna a manifestação da primeira-dama Janja Lula da Silva num encontro fechado, durante a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim. Como revelou o portal g1, Janja pediu a palavra para criticar os efeitos da rede social chinesa TikTok no Brasil, segundo ela benéfica ao avanço da extrema direita. Não foi a primeira vez em que externou tal preocupação. No encontro do G20 no Rio de Janeiro em novembro passado, usou um palavrão para atacar Elon Musk, dono do X.

Prazos fatais - Merval Pereira

O Globo

Lula tem problemas a enfrentar, desde a idade avançada até a possibilidade real de perder a eleição. A impopularidade de seu governo coloca mais essa dúvida a resolver antes da decisão final

À medida que se aproxima a eleição presidencial do ano que vem, os dois lados que concentram as preferências do eleitorado não têm um candidato definido, por razões diversas. A direita tem seu maior líder, o ex-presidente Jair Bolsonaro, lutando para viabilizar uma candidatura já impugnada pela Justiça Eleitoral. A esquerda, no poder, mantém-se dependente do presidente Lula, sem uma alternativa viável que permita a ele decidir se vai para a reeleição, ou se pode descansar aos 81 anos, idade que terá se iniciar seu quarto mandato em 2027.

Lula tem problemas a enfrentar, desde a idade avançada até a possibilidade real de perder a eleição. A impopularidade de seu governo coloca mais essa dúvida a resolver antes da decisão final. A obstinação de Bolsonaro em colocar-se como candidato viável, não abrindo espaço para a direita se organizar diante de um adversário fragilizado no momento facilita o governo, porque divide a oposição, que tem pelo menos quatro governadores em condições de disputar, embora apenas o de São Paulo, Tarcísio de Freitas, seja uma figura nacional capaz de vencer a disputa.

Bastava tão somente… - Míriam Leitão

O Globo

Novos detalhes do planejamento do golpe de Bolsonaro revelam que o país esteve a um triz de uma nova tragédia autoritária

O triz que estivemos de uma nova tragédia autoritária se vê nas conversas do policial federal Wladimir Matos Soares com o advogado Luciano Diniz. O advogado diz: “Bastava tão somente para dar um susto, dissolver o STF… Puf, acabou meu irmão. Como faz falta um Figueiredo. O Médici, o Médici.” O agente responde que o plano estava pronto, mas Bolsonaro foi “traído” pelo Exército. “A gente ia empurrar meio mundo de gente, pô. Matar meio mundo. Estava nem aí cara.” E acrescenta, “o Alexandre de Moraes realmente tinha que ter tido a cabeça cortada”.

A certeza da impunidade de Wladimir Matos se vê num detalhe revelado. Ele guardava todas essas informações tórridas, mensagens escritas e em áudio, provas de crime, no notebook da Polícia Federal. As provas estavam com ele quando foi preso, em novembro de 2024, no Rio. Wladimir Matos havia sido deslocado para a cidade porque 80% do efetivo da PF participava da segurança do G20, mas foi deixado em uma posição periférica, pois já estava sendo monitorado.

A morte precoce do presidencialismo de coalizão - Beatriz Rey*

O Globo

Não foi necessariamente o modelo que fracassou, mas sua implementação atual, marcada por falhas em aspectos cruciais da articulação política

No debate público, tornou-se recorrente a ideia de que o presidencialismo de coalizão está esgotado — “morreu” — e de que, para ser compreendido, precisa ser rebatizado. Esse argumento ganhou força recentemente, depois de o deputado Pedro Lucas Fernandes (União-MA) recusar o convite para assumir o Ministério das Comunicações no governo Lula. Comentou-se que, hoje, vale mais a pena permanecer como deputado que aceitar um cargo ministerial.

No entanto essa leitura simplifica demais a dinâmica institucional. A relação entre Executivo e Legislativo pode ser avaliada com base em três parâmetros fundamentais — e o governo Lula enfrenta dificuldades em dois deles. A percepção de crise no presidencialismo de coalizão, portanto, precisa ser qualificada: não foi necessariamente o modelo que fracassou, mas sim sua implementação atual, marcada por falhas em aspectos cruciais da articulação política.

Um homem – Dorrit Harazim

O Globo

Seus valores eram universais, e sua moral danada de límpida

Sendo a vida um rio que precisa ser atravessado, cabe-nos construir uma ponte capaz de nos sustentar do primeiro engatinhar ao último arrastar de perna. Não é tarefa pouca. Tanto assim que boa parte dos bípedes acaba desperdiçando fortunas ou aflições erigindo passarelas impermanentes, ocas, que desabam ao primeiro infortúnio e acabam varridas da História. José “Pepe” Mujica, que completaria 90 anos nesta terça-feira, nunca confundiu o ser com o ter. Atravessou o tumultuoso rio de sua vida sem precisar escorar-se em vanglórias nem vitimizações. Sua ponte a tudo resistiu. Fora construída de material nobre e raro: a simples decência humana.

A julgar pelos registros nas mídias, elogiosos segundo a régua convencional de atributos, havia morrido um “símbolo da esquerda”, um “ícone da esquerda” ou, no máximo, um “herói da esquerda da América Latina”. Assim fazendo, apequenaram o morto. Isso porque Mujica foi, antes de tudo, um homem inteiro. Seus valores eram universais, e sua moral danada de límpida. “Dediquei a vida a mudar o mundo e não mudei nada, mas não importa — dei sentido à minha vida sonhando, lutando, pelejando. Parto daqui feliz”, explicou ao jornal El País no ano passado, já bastante doente.

O negócios da amarelinha - Bernardo Mello Franco

O Globo

A menos de um ano da Copa do Mundo, a entidade que comanda o futebol brasileiro está acéfala. Na quinta-feira, a Justiça afastou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. Ele é suspeito de arquitetar uma fraude para se segurar no cargo.

A decisão do desembargador Gabriel Zéfiro não foi propriamente uma surpresa. Dos últimos seis chefões da CBF, cinco foram afastados por envolvimento em escândalos. A lista é encabeçada pelo notório Ricardo Teixeira. Dono da bola por 23 anos, ele foi banido do futebol pela Fifa, acusado de embolsar propina em contratos milionários.

Seu sucessor, o malufista José Maria Marin, foi preso no chamado Fifagate. Passou cinco anos detido no exterior e voltou para casa graças à pandemia. O presidente seguinte, Marco Polo Del Nero, foi banido pelas mesmas práticas corruptas. Para escapar das algemas, adotou a tática de esconder o passaporte e não sair mais do Brasil.

Ética, confiança e democracia - Celso Lafer

O Estado de S. Paulo

A falta de ética é um movimento destruidor da substância do Estado Democrático de Direito, consagrado pela Constituição cidadã de 1988

É generalizada a percepção de que, no momento atual da vida brasileira, a preocupação com a ética não tem predominado na conduta dos atores políticos, tanto da situação quanto da oposição.

Dessa carência de eticidade provém a redução da confiança nas instituições do País que alcança o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Democracia requer confiança. Uma confiança que se vê comprometida pela presença de uma política “fértil em meios e manhas” (nas palavras de Rui Barbosa), voltada para o bem particular de alguns.

São requisitos de confiança nas regras da democracia, como esclarece Bobbio, tanto a confiança da cidadania nas instituições quanto a confiança recíproca entre os cidadãos que integram a comunidade política. Esta, por sua vez, se vê comprometida pela fragmentação polarizadora, permeada pela intolerância da sociedade brasileira.

Neste contexto, vale a pena lembrar que a palavra corrupção vem do latim, corrumpere, com o significado originário de estragar, decompor, perverter. Este significado na filosofia aristotélica é uma das espécies do movimento que leva à destruição da substância. A falta de ética é um movimento destruidor da substância do Estado Democrático de Direito, consagrado pela Constituição cidadã de 1988.

CPI para quem e o quê? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

CPI do INSS estará a serviço da guerra política, das redes sociais e das mazelas do Congresso

Este nosso 2025 está de amargar. Não bastassem a perversidade de Donald Trump, a guerra sem fim na Ucrânia e o aniquilamento de Gaza, o ambiente no Brasil se deteriora perigosamente numa polarização insana em que os dois lados se autodestroem e preocupam o País. Assim, o primeiro caso da gripe aviária chega na pior hora e o que menos interessa na criação de uma CPMI do INSS é justamente o interesse nacional.

Um dado particularmente cruel é o efeito da crise aviária no Rio Grande do Sul, mas o impacto é nacional. O embargo ao frango brasileiro começou com China, União Europeia, Argentina, Uruguai e Chile e continua, com perdas que podem atingir os US$ 200 milhões e neutralizar a expectativa de uma supersafra de 326 milhões de toneladas na agricultura. Alegria de pobre dura pouco.

O que move Donald Trump – Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Em sua viagem à Península Arábica, presidente dos EUA fechou negócios trilionários

Cinco objetivos movem a política externa e de segurança de Donald Trump. O primeiro é gerar riquezas para os EUA, para si mesmo e pessoas próximas. A viagem à Península Arábica escancarou isso. Trump fechou negócios trilionários envolvendo até os chips americanos mais sofisticados, cuja venda até aqui se limitava a uma pequena lista de aliados estratégicos, excluindo parceiros como as monarquias do Golfo, que compram armas da China e podem compartilhar essa tecnologia com ela.

O presidente tratou também dos investimentos de sua empresa na região, como uma Trump Tower em Jeddah e um campo de golfe em Doha. O filho de seu enviado especial ao Oriente Médio, Steve Witkoff, tem investimentos imobiliários na península e Jared Kushner, genro de Trump, um fundo de investimentos.

Endividamento e influenciadores retroalimentam embriaguez das bets - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A epidemia de apostas esportivas virou doença social responsável por grande parte do endividamento da população. O termo “bets” virou sinônimo de uma cultura esportiva

Movido pelo sonho de ganhar dinheiro fácil, o jogo de azar vicia. Logo no começo de O Andar do Bêbado: como o acaso determina nossas vidas (Zahar), de Leonard Mlodinow, sobre a teoria das probabilidades, há um exemplo de como abstrair a realidade em prol da nossa percepção dos fatos: um homem ganhou na loteria nacional espanhola com um bilhete que terminava com o número 48. Orgulhoso, revelou a tese que o levou à fortuna. “Sonhei com o número 7 por 7 noites consecutivas”, disse, “e 7 vezes 7 são 48”. Ou seja, se a pessoa acha que uma coisa é, então ela será, não importa que não seja.

A esmagadora maioria das pessoas não conhece a teoria das probabilidades, muito menos calculá-las. Sabe apenas que as chances de ganhar na Mega-Sena são maiores quando se forma um grupo de apostadores, embora se ganhe menos, do que quando se faz uma aposta de R$ 15 sozinho. Por isso, milhões fazem as duas coisas simultaneamente. E perdem. A probabilidade de acerto sempre é maior para o maior número de dezenas, mas existe a aleatoriedade…

Compreender o papel da aleatoriedade na vida é difícil. Embora seus princípios básicos surjam do cotidiano, as consequências são contraintuitivas. Em qualquer série de eventos aleatórios, há grande probabilidade de que um acontecimento extraordinário (bom ou ruim), em virtude puramente do acaso, seja seguido de um acontecimento mais corriqueiro, como fazer uma aposta simples na Mega-Sena e não ganhar. Ninguém ganha se não jogar, o acaso tem sua lógica.

Visita de Lula à China: Estratégia e Disputa Global por Minerais - Raul Jungmann*

Correio Braziliense

O Congresso Nacional consome suas energias com a polarização ideológica, enquanto procrastina o exame de uma Política Nacionalde Minerais Estratégicos, para a qual recebeu dezenas de sugestões

A recente visita do presidente Lula à China é muito mais do que o pacote da ordem de 27 bilhões de dólares que rendeu ao Brasil, por ora. É o desfecho de uma paciente estratégia dos chineses, pelomenos desde 2005, e que até 2021, registrou investimentos de 141bilhões de dólares na América Latina.

O Brasil não estava só. A programação se deu no do fórum China-Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que reuniu outros chefes de Estado latinos, em Pequim. Para o anfitrião, Xi Jinping, a consolidação das relações que seu país constrói com paciência chinesa na região.

O estágio atual dessa construção coloca a China na liderança da disputa por reservas minerais que está no topo da agenda geopolítica global. Por isso, recente relatório encomendado pelo parlamento europeu para orientar suas decisões legislativas, define a América Latina como um "campo de batalha" entre Estados Unidos, China e Europa na disputa por minerais estratégicos.

O grande massacre de galinhas - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Americanos perderam 169 milhões de aves por causa do H5N1; aqui, vigilância é muito melhor

Em 2020, misturas genéticas de um vírus da influenza aviária deram em um tipo perigoso, "altamente patogênico", de H5N1, reconhecido de início em gansos na China, em 1996. Em maio de 2021, descobriram-se raposas infectadas em um centro de reabilitação animal na Holanda. Em janeiro de 2022, soube-se de aves silvestres infectadas nos Estados Unidos e de leões-marinhos no Peru, que morriam às centenas. Em fevereiro, a doença apareceu em uma criação americana de perus, o começo do desastre comercial das granjas por lá.

A cronologia do espalhamento do H5N1 lembra cenas iniciais de filmes-catástrofe do clichê. Vê-se a raposinha na cena campestre. Depois, bichos começam a morrer no mato ou nas praias. Corte então para o noticiário de TV que mostra o descarte de milhares de frangos sacrificados. A seguir, aparecem cientistas que haviam avisado as autoridades do problema, sem sucesso.

Tarcísio é um bebê reborn - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Estratégia do bolsonarismo de ganhar voto de pobre sem precisar aumentar salário fascina os ricos

Na semana passada correu a notícia de que o ex-presidente Michel Temer estava tentando organizar uma candidatura de "centro-direita" com quatro governadores que certamente anistiarão o Jair se forem eleitos presidente (TarcísioCaiadoZema e Ratinho Jr.) e Eduardo Leite, que não sabemos se anistiaria.

A ideia seria discutir a candidatura a partir de um programa semelhante ao contido no documento "Ponte para o Futuro", manifesto que garantiu apoio da elite ao impeachment de Dilma.

Ao que parece, Temer estava tentando enquadrar o movimento de direita que já se articula para 2026 em outros termos: com Eduardo Leite ali na cota para não golpistas e, o que é mais importante, sem mencionar o Jair.

Um grito de socorro abafado - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Embora a paisagem humana carioca pareça ser a mais afetada pela calamidade cívica, o problema é da nação

Na adolescência, era bom dançar ao som de "Blue Gardenia", composta e cantada por Nat King Cole. Ele inscrevia esse nome no melhor do cancioneiro romântico, suavizando o mesmo título de um filme policial (1953), também na boa tradição do thriller americano. Mas a Gardênia Azul que batiza uma comunidade na zona oeste do Rio de Janeiro reitera o alerta nacional para o descontrole territorial. Ali, o Comando Vermelho desbancou a milícia e passou a taxar o comércio, em alguns casos a R$ 10 mil por mês, além de obrigar restaurante a fornecer 70 quentinhas diárias para os traficantes. Na verdade, tráfico e milícia desbancam o Estado.

Poesia | A queima de livros, de Bertolt Brecht

 

Música | Maria Lúcia Godoy - BACHIANAS BRASILEIRAS nº 5 - Cantilena e Martelo - H.Villa-Lobos