*Antonio Gramsci (1891-1937). Cadernos do Cárcere, v.1. p. 103. Civilização Brasileira, 2006.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
domingo, 8 de junho de 2025
Opinião do dia – Antonio Gramsci* (a força das ideias)
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Momento é propício para acordo Mercosul-EU
O Globo
Com Trump na Casa Branca, europeus têm
argumento persuasivo para convencer setores resistentes
Em tempos de instabilidade no comércio
mundial, o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da
Silva e Emmanuel
Macron em Paris deveria dar impulso à ratificação do acordo entre
o Mercosul e
a União
Europeia (UE). Finalizado em dezembro de 2024, o texto precisa ser
aprovado pelos Estados envolvidos. A entrada em vigor do acordo seria a melhor
resposta ao protecionismo do presidente americano Donald Trump. Exportadores
europeus e do Mercosul teriam a chance mútua de explorar novos mercados em
momento que o maior do mundo fecha suas portas. Diante de incertezas
crescentes, os dois blocos têm condição de sedimentar uma parceria estratégica
que demonstre o valor não apenas econômico, mas também estratégico do livre-comércio.
A negociação do acordo teve início em 1999. Já na largada, ele foi alvo de ataques de lobbies em ambos os lados. Na América do Sul, os protecionistas temiam a competição da poderosa indústria europeia. Na UE, os principais opositores foram os agricultores, em especial os franceses, receosos da competitividade do agronegócio em países como Brasil, Argentina e Paraguai.
Partidos revigorados - Merval Pereira
O Globo
As reformas de 2017 já proporcionaram efeitos virtuosos para o sistema partidário, diminuindo a hiper fragmentação (hoje o número de partidos efetivos é o mesmo que existia durante o governo Fernando Henrique Cardoso, 9, avaliam) e aumentando a disciplina interna
Há luz no fim do túnel. O cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas no Rio, considera questionável a tibieza dos partidos políticos brasileiros, que venho criticando, como uma das causas do empobrecimento de nossa democracia. Em pesquisa sobre os impactos das reformas na legislação eleitoral e partidária de 2017, com a criação do fundo eleitoral, o fim das coligações nas eleições proporcionais e a cláusula progressiva de desempenho, que desenvolve em colaboração com Matheus Cunha, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco, procura demonstrar que não apenas a fragmentação partidária “diminuiu drasticamente”, como também a lealdade e disciplina partidárias “aumentaram vertiginosamente”.
Desafio intelectual na política é romper o dogmatismo e a intolerância - Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
Nossos intelectuais estão apartados da
política ou aderiram à intolerância ideológica; é preciso repensar seriamente o
Brasil na nova ordem mundial e oferecer um rumo às elites política e econômica
Em quase todos os momentos importantes da
história do Brasil, alguns intelectuais se destacaram pelo esforço de produzir
uma síntese da realidade do país e inspiraram as suas respectivas gerações a
levarem adiante um projeto de nação. Não foi pouca coisa, num país no qual a
primeira universidade foi criada apenas em 1920, a Universidade do Rio de
Janeiro (com a união da Escola Politécnica à Escola de Medicina e à Faculdade
de Direito), pela necessidade de conceder o título de doutor honoris causa ao
rei Alberto I da Bélgica.
Fazem parte dessa constelação, entre outros, Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil –1936), com seu estudo sobre a formação do caráter nacional; Gilberto Freyre (Casa-Grande & Senzala –1933); Caio Prado Júnior (Formação do Brasil Contemporâneo -1942); Celso Furtado (Formação Econômica do Brasil –1959); Raymundo Faoro (Os Donos do Poder -1958); e Nelson Werneck Sodré (História da Burguesia Brasileira – 1964).
Petra Costa e seu Apocalipse nos Trópicos - Elio Gaspari
O Globo
A cineasta Petra Costa, autora do celebrado
“Democracia em Vertigem”, concluiu seu novo filme. Chama-se “Apocalipse nos
Trópicos” e trata do crescimento das igrejas evangélicas, desembocando no
bolsonarismo, para deslizar na derrota eleitoral de 2023 e nas cenas do 8 de
janeiro. O Brasil passou por momentos apocalípticos e vai bem, obrigado. O
longa-metragem estreia no Rio e em São Paulo no dia 3 de julho.
No mesmo estilo contido de seu filme anterior. Petra relembrou dias que hoje parecem esquecidos e estão encapsulados em volumes de processos sobre as tramas golpistas de 2023/2024. Neles, projetos apocalípticos como o Plano Punhal Verde Amarelo, acabam reduzidos a fanfarronadas de generais palacianos. Com a colaboração de Anna Virginia Balloussier, foram entrevistados líderes evangélicos, como o pastor Silas Malafaia.
Notícias de uma guerra particular - Bernardo Mello Franco
O Globo
Ególatras, presidente e empresário usam suas
próprias redes para trocar insultos e ameaças
O Salão Oval ficou pequeno demais para Donald Trump e Elon Musk.
O presidente do país mais poderoso do mundo e o homem mais rico do planeta
pareciam inseparáveis. Agora se tornaram inimigos viscerais, que trocam
insultos e ameaças em público.
A aliança trincou no fim de maio, quando Musk
começou a criticar o novo plano de gastos da Casa Branca. O mal-estar virou
barraco nesta quinta-feira, após Trump sugerir que o dono da Tesla ficou
irritado porque ele cortou o subsídio aos carros elétricos.
“Estou muito decepcionado com o Elon. Eu o ajudei muito”, afirmou o republicano. “Sem mim, Trump teria perdido a eleição. Que ingratidão”, devolveu Musk.
Tapas e beijos – Dorrit Harazim
O Globo
Trump e Musk têm estatura comparável. Quem
destruir o adversário destruirá a si também
Seria um pastelão de garotos mimados fossem outros os protagonistas, outras as armas. Mas a espetaculosa pancadaria de quinta-feira opôs o ego e o poder do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao ego e ao poder do titã bilionário Elon Musk. Coisa grande, portanto. Tratando-se de dois espécimens doentiamente fissurados pelo próprio umbigo, o rompimento vinha sendo dado como inevitável desde a meteórica junção das duas grifes. O que ninguém previu, porém, foi a vertiginosa sucessão de golpes. De parte a parte foi uma erupção dos demônios que hibernam em cada um. Não houve nocaute, nem poderia haver. Trump e Musk têm estatura (física até) comparável. Quem destruir o adversário destruirá a si também.
O domínio sobre os privilégios do poder – Lourival Sant’Anna
O Estado de S. Paulo
Musk acreditou que todos os seus interesses
seriam atendidos pelo governo
Os bastidores do rompimento entre Donald
Trump e Elon Musk são material para estudo de caso das armadilhas por trás do
desmonte do Estado e da deslegitimação das instituições. As críticas de Musk
agravam os temores acerca da política econômica de Trump e dividem o eleitorado
conservador.
Antes de entregar a chave de ouro da Casa
Branca a Musk, na sua despedida do governo, dia 30, Trump recebeu um dossiê que
mostrava que Jared Isaacson, indicado pelo dono da Space-X para administrar a
Nasa, foi doador de campanhas democratas.
Tanto Trump quanto Musk fizeram doações para campanhas democratas no passado. Mesmo assim, Trump chamou Musk e disse que não ia nomear Isaacson, bilionário amigo dele, cuja empresa Draken faz serviços de treinamento para as forças armadas americanas.
O apagão logístico dos Correios – Celso Ming
O Estado de S. Paulo
Os Correios passam por rápido processo de
sucateamento patrimonial e operacional. Seu último balanço acusou prejuízo
líquido de R$ 1,7 bilhão apenas no primeiro trimestre deste ano e patrimônio
negativo de R$ 6,1 bilhões. É o maior rombo entre as estatais federais.
Seus dirigentes acionaram a velha maquininha de lenga-lengas para tentar explicar um desastre que não vem de anteontem. Põem a culpa na “taxação da blusinhas”, o imposto de importação de pequenas encomendas de até US$ 50. E ainda se queixam da queda brutal na entrega de correspondências, produzida pela mudança de hábitos: ninguém mais manda cartas nem despacha telegramas pelo correio; prefere usar o e-mail ou, então, o WhatsApp. Até mesmo a remessa de boletos é feita digitalmente. Estamos diante de uma reviravolta estrutural desse segmento que deveria ter empurrado os Correios para a modernidade – e não para um apagão patrimonial e logístico.
Falta planejamento e sobra desperdício - Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo
O governo tende a funcionar, no dia a dia, como se a noção de planejamento embutisse apenas um jogo verbal
Com vento a favor, proteção dos anjos e algum empenho do empresariado, a economia brasileira poderá crescer pouco mais de 2% neste ano – 2,4%, segundo estimativa oficial – e sobre isso nem vale a pena especular, segundo a sabedoria da Roma antiga. “Carpe diem, quam minimum credula postero”, aconselhou o poeta Horácio em sua ode a Leuconoe. Algo como: aproveita o dia de hoje, porque pouquíssimo podes confiar no amanhã. Mas até na antiguidade havia algum planejamento, como indica, por exemplo, o desenho das cidades, ou como se observa na organização militar, nas fortificações, na distribuição populacional e na estocagem de alimentos. Coisas do passado?
China e EUA x minerais 'raros' - Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
Falta de terras-raras chinesas poderia parar
montadoras americanas e pioraram crise entre os dois países
Desde maio, fábricas de autopeças e veículos
americanas dizem ao governo deles e a jornais que estão à beira de interromper
a produção por falta
de terras-raras, 17 elementos químicos importantes para a produção de peças
e aparelhos eletrônicos e elétricos e muito mais. Europeus também se queixam da
escassez.
No final de maio, Donald Trump foi à sua rede social dizer que os chineses barravam exportações de terras-raras e, assim, descumpriam a trégua de Genebra. Nessa cidade suíça, em 12 de maio, chineses e americanos haviam acertado a suspensão de 90 dias na guerra comercial, a fim de negociar acordo maior.
Cansaço de bonitões e valentões - Dora Kramer
Folha de S. Paulo
Pesquisa mostra brasileiros fartos da velha
cantilena repetitiva e narcísica de Lula e Bolsonaro
O presidente da República aparece cercado de
adversários por todos os lados na última pesquisa
Quaest/Genial que projeta cenários para 2026. Empata com a maioria,
fica pouco à frente de uns dois menos votados e, no juízo de 66% dos
consultados, não deveria se candidatar à reeleição.
Situação difícil, definitiva até não fosse o imponderável um personagem presente e atuante na política. O Luiz Inácio da Silva (PT) apontado na pesquisa é diferente daquele que olha para si e vê um "bonitão" escolhido pelo divino para ser a redenção do Nordeste e a salvação da pátria.
Vinte anos do mensalão - Celso Rocha de Barros
Folha de S. Paulo
Mas o que aconteceu com os partidos de
direita que o PT, segundo Jefferson, comprava?
Há vinte anos, o então deputado Roberto
Jefferson deu
entrevista a esta Folha denunciando o mensalão.
Segundo Jefferson, o governo Lula estaria
pagando uma mesada para parlamentares que votassem a favor de suas propostas no
Congresso.
O escândalo
que se seguiu modificou profundamente a política brasileira, mas a
maior parte do público ainda não percebeu seus desdobramentos.
Em seu livro "Nervos de Aço" (Record, 2006), Jefferson deu mais detalhes sobre o que estava denunciando. Nos governos de direita, partidos como o PTB recebiam ministérios ou a chefia de órgãos públicos e ali cobravam suborno ("caixa dois") das empresas que faziam negócios com a administração pública.
Brasilidade é apelo forte à nação - Muniz Sodré
Folha de S. Paulo
Às elites cevadas no usufruto patrimonialista
do Estado não importa o que mudou em termos de classes
Em meio à impressão desoladora de que o país
possa estar perdendo o trem da história por decomposição de um Estado cansado,
carente de profunda transformação subjetiva e objetiva, a dinâmica nacional
revela-se animadora. São fatos de superestrutura, despercebidos nas análises de
macroestrutura, eventualmente corretas, mas alheias à rica totalidade do ser
social, que inclui criatividade de formas de vida e de formatividade estética.
Pelo menos é o que acorre à mente depois de assistir ao espetáculo extraordinário de João Bosco e seu quarteto, em que se reaviva o sentimento de brasilidade, invocado por Machado de Assis no século 19. Nada do nacionalismo fechado das autocracias, mas comunhão afetiva com o território. Antes, as performances de Chico, Gil, Caetano e Betânia nos palcos já pareciam ultrapassar a categoria show de entretenimento para se configurarem como convocações à partilha da alegria coletiva que ajuda a definir brasilidade. Ao mesmo tempo, filmes como "Ainda Estou Aqui", "O Agente Secreto" e "Malês" renovam a projeção do cinema nacional.
Crimes na rua Londres - Hélio Schwartsman
Folha de S. Paulo
Livro esmiúça história da prisão e posterior
soltura de ditador chileno Augusto Pinochet em passagem por Londres
Philippe Sands é um autor extraordinário. Ele
pega temas áridos e potencialmente aborrecidos, como o direito internacional,
os ilustra com histórias cujo fim todos já sabemos, como a prisão e posterior
soltura do ditador chileno Augusto Pinochet em passagem por Londres, e consegue
transformar isso num livro que lemos com a mesma avidez com que se devoram
novelas de detetives.
Em parte, Sands consegue esse efeito porque de fato faz um trabalho de detetive. Ele vai fundo em suas pesquisas, descobrindo personagens secundários que vão revelando novas facetas, às vezes inesperadas, da trama principal. E ele confere gravidade humana e densidade dramática a esses personagens.