segunda-feira, 28 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

COP30 exige esforço maior no combate a emissões de gases

O Globo

Apenas 19 de 197 países que integram convenção da ONU apresentaram novas metas previstas pelo acordo

No ano em que o Brasil sediará a COP30, conferência da ONU sobre o clima, em Belém, o mundo enfrenta dificuldades crescentes para cumprir o que foi acertado na COP21, dez anos antes, em Paris. Aprovado por consenso e assinado formalmente em abril do ano seguinte nas Nações Unidas, em Nova York, o Acordo de Paris estabelece que os países tomarão medidas para que, neste século, a temperatura global não suba além de 2°C, ou desejavelmente 1,5°C, ante os níveis da era pré-industrial. O ano passado já foi 1,5°C mais quente, e ainda faltam sete décadas e meia para acabar o século.

Um ano isolado não define tendência, mas 2024 já é resultado da incapacidade de os países cumprirem o prometido em Paris. Cada um deles define de modo voluntário as próprias metas para corte de emissões de gases de efeito estufa, conhecidas pela sigla em inglês NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Apesar de todo o esforço diplomático, nos últimos cinco anos as emissões aumentaram o equivalente a 1 bilhão de toneladas de CO₂ (dióxido de carbono) — de 52,8 bilhões para 53,8 bilhões por ano. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) calcula que, assim, o planeta chegará a 2100 com temperatura 3,1°C acima dos níveis da fase pré-Revolução Industrial. Se o mundo já enfrenta eventos climáticos extremos mais intensos e frequentes, daqui para a frente poderá ser pior.

Subterrâneos das redes sociais – Fernando Gabeira

O Globo

Somos um país muito presente na internet, onde se articulam atentados em escolas, assassinatos e outros crimes

Três homens foram presos no Domingo de Páscoa. Planejavam matar um morador de rua, no Rio, e transmitir o crime ao vivo pela rede Discord. A notícia passou um pouco batida. Para mim, que acompanho algumas pesquisas, como as de Michele Prado sobre extremismo na internet, foi mais um sinal do tenebroso subterrâneo das redes sociais.

Por coincidência, um órgão da ONU, o Instituto Inter-Regional de Pesquisa sobre Crime e Justiça das Nações Unidas (Unicri), lançou um documento sobre o abuso das tecnologias digitais, focando na América Latina, África e Ásia. É um texto de 84 páginas que recomenda aumentar o investimento em investigações, a intensidade das pesquisas e a responsabilidade das big techs.

O mercado é de esquerda? – Demétrio Magnoli

O Globo

Não é um partido, mas a estrutura constituída por incontáveis agentes que, em ambiente competitivo, buscam preservar e ampliar sua riqueza

O ouro bateu na marca recordista de US$ 3.500 a onça na segunda passada, dia 21. Na terça, 22, Trump desmentiu a si mesmo, assegurando que não tentaria violar a lei para demitir Jerome Powell, presidente do banco central (Fed) dos Estados Unidos, e insinuou a hipótese de recuo na guerra tarifária com a China. Na quarta, 23, os índices das Bolsas voltaram a subir. Seria o mercado financeiro, no fim das contas, de esquerda?

A indagação ridícula poderia ser uma réplica lógica ao discurso de Lula e do PT, que cultivam o hábito de apontar o mercado como agente político da direita: o “inimigo do povo”, o longo tentáculo dos bancos, a mão invisível do imperialismo. A ideia, que circula há décadas, atingiu o paroxismo durante a campanha movida pelo governo contra Roberto Campos Neto e, mais amplamente, contra a independência do Banco Central.

A batucada encontra o futuro - Preto Zezé

O Globo

A Tardezinha não é apenas um evento. É uma plataforma onde o entretenimento não é fim, mas ponto de partida

A Tardezinha não é apenas um evento. É um fenômeno que faz do samba um vetor de futuro. Nascida no improviso caloroso das tardes cariocas, chegou a 2025 celebrando dez anos com alma de festival, fôlego de multinacional e coração de roda de amigos. Se antes era domingo de sol e cerveja gelada, hoje é estratégia, inclusão e legado. Uma plataforma onde o entretenimento não é fim, mas ponto de partida.

Lula vai entregar a LAI de bandeja para os políticos? - Bruno Carazza

Valor Econômico

Dois projetos sob análise do presidente podem ser grande retrocesso contra transparência, favorecendo supersalários e mau uso de recursos públicos

O governo levou quase uma década para descobrir uma quadrilha que descontava pequenas quantias de milhões de aposentados e pensionistas, lesando a população em mais de R$ 6 bilhões desde pelo menos 2016.

Mesmo dispondo de uma estatal para gerenciar os sistemas de arrecadação e benefícios previdenciários (Dataprev) e de contar com milhares de auditores fiscais (que atuam na Receita Federal e no INSS), de Finanças e Controle (CGU) e ainda agentes, peritos e delegados da Polícia Federal, a fraude bilionária atravessou mandatos de pelo menos três presidentes da República (Temer, Bolsonaro e Lula) até ser desbaratada.

Despesas com juros em 12 meses se aproximam de R$ 1 trilhão - Sergio Lamucci

Valor Econômico

Reduzir esses gastos exige uma estratégia fiscal que não é fácil nem indolor, passando principalmente por conter o ritmo de crescimento dos dispêndios obrigatórios

Os gastos com juros do setor público consolidado se aproximam de R$ 1 trilhão no acumulado em 12 meses. Até fevereiro, nessa base de comparação, essas despesas ficaram em R$ 923,9 bilhões, o equivalente a 7,78% do PIB, respondendo por quase todo o déficit nominal do período, de R$ 939,8 bilhões, ou 7,91% do PIB. O resultado primário (que não engloba despesas financeiras) ficou negativo em R$ 15,9 bilhões, ou 0,13% do PIB. O déficit nominal é a soma dos gastos com juros e do resultado primário.

As despesas com juros, como se vê, são cavalares, o que se deve à combinação de uma dívida pública elevada e uma Selic muito alta. Estimativa da agência de classificação de risco Moody’s é de que só as despesas com juros da União atinjam R$ 995 bilhões em 2025, depois dos R$ 853 bilhões de 2024. O setor público consolidado inclui ainda Estados, municípios e empresas estatais não financeiras, excluindo Petrobras e Eletrobras.

Brasil não é ‘problema’ para EUA e diálogo é o caminho, defende Alckmin

Valor Econômico

Para ele, tarifaço de Trump pode acelerar acordo Mercosul-UE

O vice-presidente Geraldo Alckmin dedicou ao cenário internacional boa parte de seu pronunciamento no Agrishow, uma das maiores feiras de tecnologia para a agropecuária do país, neste domingo (27), em Ribeirão Preto (SP). Em meio ao cenário de guerra comercial, Alckmin, que também é ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços, disse que o Brasil “não é um problema” para os Estados Unidos, já que o comércio bilateral é superavitário para o lado americano.

“E tem mais: dos dez produtos que eles mais exportam para nós, em oito eles não pagam imposto. O caminho é o diálogo. No olho no olho, o máximo que pode acontecer é todo mundo ficar cego. É diálogo e conquistar mercados.”

No Rio, chanceleres do Brics discutirão tarifas de Trump e alternativa ao dólar

Camila Zarur / Valor Econômico

Parceria contra doenças socialmente determinadas também está na pauta de discussões

Os ministros de Relações Exteriores dos 11 países que fazem parte dos Brics vão se reunir nesta segunda e terça-feira (28 e 29), no Rio de Janeiro. O encontro, que também contará com a participação de países parceiros do grupo, é o primeiro dos chanceleres sob a presidência brasileira do bloco.

De acordo com o embaixador Maurício Lyrio, principal negociador brasileiro no grupo e secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, o Brasil tem como prioridade para o encontro do Brics debater temas como comércio exterior, mudança do clima e arquitetura multilateral de paz e segurança.

Bem-vindo à era do dólar fraco - Humberto Saccomandi

Valor Econômico

Nas negociações bilaterais sobre tarifas, o governo Trump parece estar buscando ativamente desvalorizar o dólar, para favorecer a competitividade e a produção locais

Apesar de dizer que adora tarifas comerciais, o presidente dos EUA vem insinuando que as tarifas são um meio para forçar os países a negociar com os EUA. Essa negociação inclui vários tipos de facilitações e privilégios para os EUA. Mas, paralelamente a isso, o governo americano parece estar embarcando ativamente num outro modo de reduzir o enorme déficit comercial do país: promover um dólar fraco.

As negociações em troca de redução de uma parte das tarifas aplicadas e/ou ameaçadas pelo governo Trump envolvem uma variedade de temas. E são sempre (a não ser no caso da União Europeia) negociações bilaterais, nas quais os EUA têm maior capacidade de pressão e retaliação.

Quando o ministério não compensa - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Em tempos de alta desaprovação, comandar um ministério é muito custoso

A decisão do líder do União Brasil na Câmara, deputado Pedro Lucas, de recusar o convite do presidente Lula para o Ministério das Comunicações reacendeu interpretações apressadas de que o presidencialismo de coalizão estaria em crise.

Alega-se que os ministérios teriam perdido valor diante da maior influência do Legislativo sobre o orçamento, sobretudo após o advento do orçamento impositivo. Hoje, argumenta-se, valeria mais para um deputado permanecer no Congresso – com cerca de R$ 37 milhões em emendas de execução obrigatória – do que assumir um ministério com orçamento supostamente esvaziado e retornos eleitorais incertos.

Francisco e a extrema direita no catolicismo - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Sem dúvida, o papado de Francisco foi um grande contraponto à ascensão de lideranças de extrema direita e regimes autoritários. Seu legado para a Igreja Católica e para o mundo foi de extrema importância para a defesa das igualdades e para a ampliação das vozes do Sul Global dentro da Igreja, vindas da Ásia, África e América Latina.

Atualmente, a América Latina está na liderança no número de fiéis com mais de 40% dos católicos do mundo, e o Brasil segue sendo o país com o maior número absoluto, com 182 milhões devotos, o maior rebanho do mundo.

Corrupção e perda de valor dos ministérios - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Escândalos de corrupção impactam a opinião pública quando a economia vai mal, criando incentivos adicionais para o governo expandir o gasto

No momento, há uma notável confluência de notícias que eleva brutalmente a saliência da corrupção na agenda política: o escândalo dos descontos em aposentadorias e pensões do INSS (trazendo à tona o caso dos consignados, que envolveu o ex-ministro Paulo Bernardo e a atual ministra Gleisi Hoffmann); a queda do ministro Juscelino Filho, após denúncia da PGR; o asilo concedido à ex-primeira-dama do Peru e a prisão de Ollanta Humala, no âmbito do Odebrechtgate; e, por fim, a prisão de Collor em um processo decorrente da Lava Jato.

O texto que se escreve com as pernas - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Francisco Octaviano pode ter sido o primeiro a dizer flanar e, ao fazer isto, também balzaquear

Anos de leitura de João do Rio me convenceram de que ele fora o inventor de "flanar", versão brasileira do verbo francês "flâner": andar ao léu, passear sem destino. Qual não foi minha surpresa ao mergulhar há pouco na obra do jornalista, político e diplomata Francisco Octaviano (1826-1889) e descobrir que ele já tinha usado "flanar" em 1848, quase 60 anos antes de João do Rio. E por que a surpresa? Porque, para os anais, o autor de "A Alma Encantadora das Ruas", de 1908, fora o primeiro a criar a teoria para a já então velha prática carioca de sair por aí.

Poesia | A Vida Bate, de Ferreira Gullar

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Música | Beth Carvalho - Por um dia de graça