quinta-feira, 12 de junho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Se governo finge não haver crise fiscal, Congresso deve agir

O Globo

Ninguém aguenta mais imposto. Ou Executivo e Legislativo cortam gastos, ou então país caminhará para o caos

Diante da inércia do Executivo em tomar as medidas necessárias para ajustar as contas públicas, o presidente da Câmara, Hugo Motta, afirmou ter passado da hora de discutir cortes em despesas obrigatórias: “O Brasil caminha para a ingovernabilidade completa para quem quer que venha a ser presidente”. Ele tem razão. E faria bem em se adiantar. A questão não diz respeito só ao Executivo, mas também à Câmara e ao Senado. Todo mundo está cansado de saber as medidas necessárias para conter a explosão da dívida — e, definitivamente, aumentar impostos não está entre elas.

O pacote frustrante ensaiado pelo governo é mais uma ofensa ao brasileiro. Depois de muito suspense, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com os presidentes da Câmara, do Senado e líderes partidários para discutir alternativas à alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) rechaçada pela classe política e pelo setor produtivo. O próprio Haddad falara em medidas de longo prazo. O que se viu foi a enganação de sempre: o avanço sobre o contribuinte para tapar o rombo de um governo perdulário.

Abundância para os trabalhadores - Dani Rodrik*

Valor Econômico

Para as pessoas reais, um emprego é uma fonte de orgulho, dignidade e reconhecimento social

A maneira mais segura de se perder um público progressista é começar a falar sobre o lado da oferta da economia, a importância dos incentivos e os perigos do excesso de regulamentação. Essas ideias são tradicionalmente associadas a agendas conservadoras. O novo livro de Ezra Klein e Derek Thompson, “Abundance”, pretende mudar tudo isso.

Como Klein e Thompson apontam, a esquerda tem se concentrado tradicionalmente em soluções do lado da demanda. Um princípio fundamental do New Deal nos Estados Unidos e da social-democracia na Europa é o gerenciamento keynesiano da demanda agregada para garantir o pleno emprego. Outro princípio é o das transferências públicas para mitigar o impacto do desemprego, dos problemas de saúde e da velhice.

Congresso se tornou um ambiente tóxico para alguns ministros de Lula - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Haddad rebate as críticas sobre as contas públicas num ambiente hostil

Depois do incidente com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que foi agredida verbalmente por senadores de oposição e se retirou de uma sessão da Comissão de Infraestrutura no Senado, pautada pelo negacionismo ambiental e a misoginia, foi a vez do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passar por constrangimentos na Comissão de Finanças e Tributação (CFT), cujo presidente, Rogério Correia (PT-MG), encerrou a sessão nesta quarta-feira (11/6), depois que os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ) iniciaram um tumulto em resposta a uma crítica feita por Haddad.

O Congresso se tornou um ambiente tóxico para alguns ministros do Lula mais visados por serem petistas ou de outros partidos de esquerda, por causa da radicalização ideológica. A “política do espetáculo” passou a ter como palco privilegiado as diversas comissões das duas Casas. Por definição, na psicologia social, um ambiente tóxico é caracterizado por relações interpessoais marcadas por comportamentos negativos e prejudiciais, como bullying, assédio, discriminação e falta de respeito. É marcado por desentendimentos e conflitos, clima opressivo e comportamento agressivo.

Haddad apanha sozinho - Malu Gaspar

O Globo

O bate-boca entre Fernando Haddad e os bolsonaristas Carlos Jordy (PL-RJ) e Nikolas Ferreira (PL-MG), que encerrou com tumulto a audiência pública em que o ministro deveria explicar os novos aumentos de impostos, foi apenas o clímax de um dia em que o governo apanhou mais que Judas em Sábado de Aleluia.

Enquanto Haddad e os parlamentares se acusavam aos gritos de molecagem, os presidentes da federação que une União Brasil e PP, com ao todo 109 deputados, 14 senadores e quatro ministros, anunciavam que, sem propostas de cortes de gastos, nenhum aumento de imposto seria aprovado. De manhã, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já havia dito que as medidas de Haddad despertariam reação “muito ruim” no Congresso e no empresariado.

O embate que sobrevive ao ocaso bolsonarista - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

O ocaso bolsonarista, evidenciado com o comportamento acuado do ex-presidente durante seu depoimento no Supremo Tribunal Federal, desnorteou sua tropa de choque, mas não contribuiu para reduzir a temperatura no debate político brasileiro

No primeiro embate da extrema-direita com o primeiro escalão do governo depois daquela sessão na Primeira Turma, o que se viu, na verdade, foi a escalada de tom. A ida do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na tarde desta quarta, à Comissão de Finanças, Tributação e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados, acabou abreviada depois do bate-boca entre governistas e dois expoentes do bolsonarismo, os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ). Nada mais simbólico da interdição do debate do que a suspensão da audiência no momento em que Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR), um dos deputados com mais quilometragem em questões fiscais e tributárias, ia falar.

Golpistas acoelhados - Merval Pereira

O Globo

Nos depoimentos no STF sobre a tentativa de golpe, nenhum dos réus conseguiu se safar das acusações

Tentativa de golpe de Estado é crime e merece ser punida; mesmo porque, se o golpe fosse bem-sucedido, não haveria julgamento dos que hoje estão no banco dos réus no Supremo Tribunal Federal (STF) — ou os lugares estariam trocados. Considerar normal que um presidente da República reúna comandantes militares para discutir a possibilidade de decretação de Estado de Sítio ou Estado de Emergência para tentar impedir a posse do presidente eleito nas urnas é ser alienado — ou pensar que os outros são.

Se não havia nenhuma prova de que as urnas eletrônicas haviam sido violadas para dar vitória ao adversário, embora Bolsonaro tenha tentado de todas as maneiras encontrar indícios de adulteração do resultado, não havia justificativa para usar as medidas extremas contidas na Constituição para evitar a posse do eleito. Se não bastassem as conversas sobre a necessidade de impedir que o candidato do PT assumisse o governo, houve o 8 de Janeiro.

Todas as estrelas do interrogatório - Míriam Leitão

O Globo

Os réus mentiram e omitiram em seus depoimentos, mas confirmaram o roteiro golpista articulado ao fim do governo Bolsonaro

Réus podem mentir. E foi o que fizeram os réus do núcleo crucial da ação penal sobre a tentativa de golpe no Brasil. Uns mais que outros. Mas não apresentaram elementos para destruir o conjunto probatório que há contra eles, até porque confirmavam a acusação nos muitos atos falhos. “Não tinha clima”, admitiu Jair Bolsonaro. “Não havia possibilidade”, afirmou o general Augusto Heleno. Não é que o golpe não foi tentado. Ele foi. Só não foi concluído. Os réus mentiram, omitiram, minimizaram atos, alteraram a natureza das reuniões, mas confirmaram todo o roteiro do que foi tentado ao fim do governo Bolsonaro, antes de decidirem “entubar” o resultado eleitoral.

O emperramento do ajuste fiscal - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Tudo se passa como se a questão fiscal tivesse de piorar muito para, só então, começar a melhorar – ou melhor, tivesse de piorar muito para que governo e o Congresso acabem por concluir que é preciso ir bem mais fundo do que neste momento estão dispostos a ir.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já havia avisado que o problema é estrutural. E, nisso, mostrou que avançou no diagnóstico. Até agora, o governo Lula atribuía todos os descalabros fiscais às “heranças malditas”. Se o problema é estrutural, exige soluções estruturais, e não remendos em cima de remendos.

Força de Lula vai definir nome da direita em 2026 - Silvio Cascione

O Estado de S. Paulo

O interrogatório de Jair Bolsonaro no STF reaqueceu especulações sobre sua provável condenação e prisão antes da eleição de 2026. O avanço célere do processo reforçou entre parlamentares a ideia de que ele será forçado a sair de cena, abrindo espaço para o governador Tarcísio de Freitas assumir a candidatura da direita.

Esse cenário é verossímil, mas incompleto. O futuro de Bolsonaro, mesmo em caso de prisão, continuará a depender de sua própria vontade – e essa vontade está condicionada à força de Lula. Há quem acredite que, uma vez condenado, Bolsonaro se convencerá de que não poderá sustentar a narrativa de que ainda é candidato e será pressionado a recuar, indicando um nome mais palatável ao centro, como Tarcísio. O governador tem boa avaliação em São Paulo e trânsito institucional no STF, o que o tornaria peça útil num eventual indulto em 2027.

Bolsonaro e a história - William Waack

O Estado de S. Paulo

Ex-presidente fez uma confusa defesa política num julgamento que não será ‘técnico’

No exercício de sua autodefesa no julgamento do STF, o ex-presidente Jair Bolsonaro fez jus à fama de “autêntico”. Deixou claro que chegou à Presidência sem saber muito bem como, governou no improviso sem saber muito bem como e agora tenta se livrar da cadeia sem saber muito bem como.

Surge desse interrogatório como um personagem quase literário. Para usar a imagem do filme do mesmo nome, um Macunaíma parido com farda em vez de fralda. Nas entrelinhas reconhece ter sido o pior adversário de si mesmo. A ponto de se desculpar.

Vídeos vis, vãos e vadios - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

No pântano cultural em que nos atolamos, uma imagem fingida ainda valerá mais do que mil palavras sinceras. Por muito tempo

Quando você vê no horário nobre da TV um vídeo mostrando que ninguém mais pode confiar num vídeo, pode ter certeza de que a crise de credibilidade da imagem bateu no limite do insuportável, até mesmo para os profissionais de televisão. E é isso, rigorosamente isso, o que estamos vendo agora.

No domingo passado, o Fantástico pôs no ar este alerta: duvide do vídeo. Numa reportagem impecável (embora leve, informal e quase sorridente), a telerrevista da Globo mostrou que os recursos de inteligência artificial já conseguem fabricar cenas perfeitas com personagens que nunca existiram – ou, o que é pior, cenas mais do que convincentes com personagens que existem, mas nunca fizeram nada daquilo que se vê na tela. Sim, a crise de credibilidade é real e chega até nós como um terremoto. É bom pensar duas vezes, ou mais de duas, antes de acreditar nos filminhos ou filmões que se insinuam para os seus olhos. Você talvez escape das armadilhas. A grande maioria das pessoas, porém, continuará caindo em cada uma delas.

Estados nacionais em ritmo de desmanche - José Serra

O Estado de S. Paulo

Não é só no Brasil ou nos EUA. Os últimos anos têm presenciado lances expressivos na desorganização do Estado e de suas instituições

As últimas semanas testemunharam a dissolução de relações institucionais em ritmo alarmante. No Brasil e no mundo, as trapalhadas têm demonstrado que profissionalismo e interesse público são atributos cada vez raros nos governos e nas cúpulas de negócios. Felizmente, as economias ainda têm um certo grau de resiliência para lidar com o tamanho dos descalabros em curso.

Tomando os exemplos mais dramáticos, comecemos pelo “Império Americano”. Elon Musk foi um eleitor determinante no sucesso de Trump e do Partido Republicano na última eleição, seja pelo apoio financeiro, seja pelo canal de comunicação com setores mais dinâmicos do empresariado americano. O início de grande prestígio do magnata dos foguetes e carros elétricos transformou-o num dos mais influentes conselheiros de Trump.

Mais gambiarra nas contas do governo - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Revolta político-econômica vai depenar pacote de medidas para elevar receita

O que vai sair do pacote de medidas "estruturantes" e do catadão de dinheiros para cobrir o buraco das contas do governo em 2025 e 2026? Um troço desestruturado.

O governo declara que não quer conter o aumento de despesa. O Congresso, com cara-de-pau cínica, apenas cobra a contenção do gasto que frequentemente aumenta. Vão sobrar gambiarras a fim de manter a luz acesa em 2025. Para 2026, continua o risco de apagão, antes previsto para 2027.

revolta contra impostos, falta de pagamento de emendas parlamentares e a pré-campanha eleitoral vão depenar os planos do governo de aumentar impostos. Poderia ser pior.

Não sei o que posso falar, nem você - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Liberdade de expressão virou jogo de bet, e essa loteria é do interesse judicial

Leo Lins diz a auditórios frases assim: "Tem ser humano que não é 100% humano. O nordestino do avião? 72%." "Como vou emagrecer?’ Pegando Aids! Você não adora comer de tudo? Sai comendo gay sem camisinha!" Foi condenado a prisão, multa e indenização. O Brasil tem lei contra discriminação. Mas Leo Lins usa crachá de humorista. Por isso, diz, pode caçar risada por qualquer bagatela.

Gilmar Mendes processou dois jornalistas por reportagem que descrevia investigação da compra, pelo governo de Mato Grosso, de universidade da qual o ministro era sócio. Derrotado em primeira e segunda instâncias, ganhou no STJ.

Os golpistas no banco dos réus - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Julgar Bolsonaro pela tentativa de golpe não desgasta a democracia aos olhos da opinião pública

Todo golpe de Estado bem-sucedido parece testemunhar a inteligência estratégica de seus líderes e sua capacidade de planejá-lo em detalhe e de aproveitar o momento certo para desfechá-lo. Toda tentativa de golpe fracassada assemelha os seus preparativos a conversas de botequim e sua realização a uma pantomima mal ensaiada e encenada por parlapatões.

Esta há de ser a inescapável sensação de quem tiver acompanhado os depoimentos à primeira turma do STF dos sete réus da ação penal 2.668. Como se sabe, ela apura as responsabilidades do núcleo central da trama golpista encabeçada por Jair Bolsonaro para impedir a posse de Lula nas eleições de outubro de 2022.

Bolsonaro entubou – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

O verbo 'entubar', de sóbrias acepções, já foi usado pelo Pasquim num sentido fora das quatro linhas

Ante repetidas perguntas do Supremo Tribunal Federal e da Procuradoria-Geral da República sobre seus esperneios contra a lisura das eleições que o varreram do governo em 2022, o réu Bolsonaro, entre engasgos e espasmos, exclamou: "Tivemos que entubar o resultado das eleições". O intrigante nessa resposta não é o "tivemos", quando ele admite que só a contragosto aceitou o veredicto das urnas. O surpreendente é sua ressurreição do verbo "entubar" em seu significado fora das quatro linhas.

Eleições 2026 e a tecitura da Frente Democrática - Ricardo Marinho

Não se pode e talvez não se deva esperar que os processos eleitorais em uma democracia sejam uma travessia num rio longo e calmo. Quase sempre nos valemos da travessia do rio Rubicão (49 a.C.) na Antiguidade, mas não nos faltam tantos outros nos sertões mineiros de Guimaraes Rosa (1908-1967).

Ao fim e ao cabo, 2026 está logo ali e, para seu sucesso, 2025 é peça incontornável para que a disputa que, tendo como objetivo a vitória eleitoral, necessita que os candidatos demonstrem suas credenciais e talentos para governar melhor o país e os estados.

O problema surge quando, em vez de priorizar esses aspectos proativos do governar, predominam as brigas e as discussões, esquecendo-se que, em uma democracia, os vencedores devem ser capazes de unir o povo em torno dos nossos objetivos de desenvolvimento sustentáveis e estabelecer um denominador comum que os torne viáveis ​​também para os não vitoriosos, alcançando assim uma governança que permita o bom funcionamento do país e dos estados.

Poesia | Poema do amigo aprendiz, de Fernando Pessoa.

 

Música | Alceu Valença - Pagode Russo