quinta-feira, 19 de junho de 2025

Opinião do dia – Antonio Gramsci* (Introdução ao estudo da filosofia)

1) Hegemonia da cultura ocidental sobre toda a cultura mundial. Mesmo admitindo que outras culturas tiveram importância e significação no processo de unificação “hierárquica” da civilização mundial (e, por certo, isto deve ser admiti do inequivocamente), elas tiveram valor universal na medida em que se tornaram elementos constitutivos da cultura européia, a única histórica ou concretamente universal, isto é, na medida em que contribuíram para o processo do pensamento europeu e foram por ele assimiladas.

2) Mas também a cultura européia sofreu um processo de unificação e, no momento histórico que nos interessa, culminou em Hegel e na crítica ao hegelianismo.

3) Dos dois primeiros pontos, resulta que se leva em conta o processo cultural que se encarna nos intelectuais; não cabe tratar das culturas populares, para as quais é impossível falar de elaboração crítica e de processo de desenvolvimento.

4) Tampouco se deve falar dos processos culturais que culminam na atividade real, como se verificou na França do século XVIII; ou, pelo menos, só se deve falar deles em conexão com o processo que culminou em Hegel e na filosofia clássica alemã, como uma comprovação “prática”, no sentido já várias vezes e alhures mencionado, a saber, no da recíproca tradutibilidade dos dois processos, um, o francês, político-jurídico, o outro, o alemão, teórico-especulativo.

5) Da decomposição do hegelianismo, resulta o início de um novo processo cultural, de caráter diverso dos precedentes, isto é, no qual se unificam o movimento prático e o pensamento teórico (ou buscam unificar-se, através de uma luta teórica e prática).

6) Não é relevante o fato de que este novo movimento tenha seu berço em obras filosóficas medíocres, ou, pelo menos, não em obras-primas filosóficas. O que é relevante é o nascimento de uma nova maneira de conceber o homem e o mundo, e que essa concepção não mais seja reservada aos grandes intelectuais, mas tenda a se tornar popular, de massa, com caráter concretamente mundial, modificando (ainda que através de combinações híbridas) o pensamento popular, a mumificada cultura popular.

7) Que tal início resulte da confluência de vários elementos, aparentemente heterogêneos, não causa espanto: Feuerbach como crítico de Hegel, a escola de Tübingen como afirmação da crítica histórica e filosófica da religião, etc. Aliás, deve-se notar que uma transformação tão radical não podia deixar de ter vinculações com a religião.

8) A filosofia da práxis como resultado e coroamento de toda a história precedente. Da crítica ao hegelianismo, nascem o idealismo moderno e a filosofia da práxis. O imanentismo hegeliano torna-se historicismo; mas só é historicismo absoluto com a filosofia da práxis, historicismo absoluto ou humanismo absoluto. (Equívoco do ateísmo e equívoco do deísmo em muitos idealistas modernos: é evidente que o ateísmo é uma forma puramente negativa e infecunda, a não ser que seja concebido como um período de pura polêmica literária popular.)

*Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, V. 1, p. 363-5, 4ª Edição. Civilização Brasileira, 2011

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Governo fraco, Congresso destrutivo

Folha de S. Paulo

Diante da falta de liderança de Lula, parlamentares rejeitam propostas de ajuste fiscal e derrubam vetos corretos

Se havia alguma dúvida quanto à fraqueza política do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional, esta semana tratou de dissipá-la.

A tentativa parlamentar de derrubar os decretos presidenciais de aumento do IOF tramitará em regime de urgência. Houve ainda ameaças abertas de que dificilmente será aprovada a medida provisória que elenca providências com o objetivo de diminuir, de modo precário, o déficit das contas do Tesouro Nacional.

Na terça-feira (17), foi instalada Comissão Parlamentar Mista de Inquérito destinada a investigar o roubo de parte de aposentadorias e pensões do INSS. Ademais, uma série de vetos presidenciais foi derrubada com facilidade, para não dizer com escárnio pelos interesses do país.

A debilidade política da administração petista, de fato, é evidente desde as eleições de 2022.

Perto do fim - Merval Pereira

O Globo

O governo não quer cortar gastos, mas o Congresso e o Judiciário também não querem

Parece que está chegando o fim do mundo, e não estou falando sobre a entrada dos Estados Unidos na guerra de Israel contra o Irã. Trato de coisas nossas, como as recentes decisões do Congresso que aumentam gastos em benefício dos parlamentares. Em plena discussão sobre a necessidade de cortar gastos, o Congresso recusa-se a aumentar imposto, no que está certo, mas aumenta suas vantagens como se não houvesse amanhã. O pior, para o Brasil, é que provavelmente a oposição que domina o Congresso será governo a partir de 2026 e receberá um país quebrado.

Que tipo de lideranças são essas, que não pensam no futuro do país, preferem tratar do futuro pessoal de cada um, mesmo que agindo assim matem a galinha dos ovos de ouro?

Taxas de juros e outras questões - Míriam Leitão

O Globo

A decisão do Banco Central de subir juros é exagerada. Os juros estavam altos o suficiente e as projeções inflação já estavam caindo

O Copom elevou a taxa de juros para 15%, sem haver qualquer necessidade e com a maioria do mercado apostando em manutenção. A Selic em 14,75% já seria o suficiente para enfrentar a alta da inflação, porque isso representa 8% de juros reais, um número estratosférico. Disse que agora haverá uma “interrupção no ciclo de alta dos juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado”, e avisou que não hesitará em voltar a subir a taxa. A inflação está em queda, as projeções do mercado e do Banco Central estão sendo reduzidas, e a economia está desacelerando. A dose até agora aplicada na economia está fazendo efeito.

Não foi grande o aumento dos juros, apenas metade de meio ponto percentual, mas a decisão mostra um Banco Central inseguro, querendo provar que é “hawkish”, mais do que uma avaliação de que tecnicamente era preciso subir as taxas de juros.

Copom adota tom conservador para segurar juros altos no mercado - Alex Ribeiro

Valor Econômico

Mensagem é que os juros vão ficar altos por muito tempo, mas sem previsão de prazo

A decisão desta quarta-feira do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central era menos sobre uma alta residual de juros e mais sobre como convencer os mercados de que está comprometido com a estratégia de manter os juros altos por muito tempo.

É nesse contexto que devem ser entendidos tanto a decisão de levar a taxa Selic para 15% ao ano, maior percentual em quase duas décadas, como o tom conservador que permeia todo o comunicado divulgado.

A mensagem é que os juros vão ficar altos por muito tempo. Quanto tempo? Os participantes do mercado financeiro vão fazer as contas, mas isso é algo em aberto para o Copom: vai depender de quanto tempo for necessário para levar a inflação à meta.

Congresso faz o que quer e trata Lula como se já fosse um "pato manco" – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O governo não é uma coalizão, é um arquipélago partidário, cujo centro é controlado pelo PT, que o considera "em disputa". Isso não ajuda a estruturar a base e isola o governo

Para não dizer que não falei das pesquisas que avaliam o governo Lula, aqui vai um resumo da ópera. Datafolha (10-11 de junho): aprovação, 28%; desaprovação, 40%. Ipsos Ipec (junho): ruim/péssima, 43%; ótima/boa, 25%; regular, 29%; forma de governar: aprovação, 39%; desaprovação, 55%; confiança no presidente: confiável, 37%; não confiável, 58%. CNT/MDA (17 de junho): aprovação, 40,7%; desaprovação, 52,9%.

Qualquer que seja a pesquisa, variando entre 25% e 40% , a aprovação se mantém num patamar que coloca em risco a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sua rejeição está entre 40% e 53%, o que dificulta muito uma avaliação generosa do tipo "copo pela metade": ninguém pode afirmar que está quase cheio.

Ricos e pobres - William Waack

O Estado de S. Paulo

A ‘nova’ tática eleitoral do governo dificilmente supera o cansaço em relação a ele

A “fórmula mágica” adotada pelo Planalto para manter esperanças de vitória em 2026 é basicamente retornar ao Lula do “rico contra os pobres” de uns 30 anos atrás. É quando ele perdia eleições. Implícita nessa postura está a constatação, também dentro do Planalto, de que o “simples” assistencialismo não funciona mais como fábrica de votos. Daí a “pegada” mais agressiva, abraçada também pelo ministro da Fazenda – que está devolvendo ao “mercado” o aberto desprezo com que vem sendo tratado nos bastidores.

Juros vão a 15%. Mas param por aí - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

À última hora, para a definição de sua política de juros, o Banco Central teve de levar em conta que o mundo ficou pior. Precisou avaliar o impacto das grandes mudanças geopolíticas e econômicas ocorridas desde a reunião anterior do Copom (de 7 de maio), quando pareceu sinalizar uma pausa no ciclo de alta dos juros.

A mais importante dessas mudanças é a deflagração da guerra entre Israel e Irã, que levantou novas incertezas sobre o comportamento da inflação global, inclusive a do Brasil.

BC marca três acertos de uma vez - Alvaro Gribel

O Estado de S. Paulo

Se alguém tinha dúvidas sobre a independência do BC neste governo Lula, vai ter de repensar

O Banco Central acertou três vezes ao subir os juros para 15% ao ano na reunião de ontem. Primeiro, surpreendeu parte do mercado com a alta adicional de 0,25 ponto porcentual, o que vai ajudar a ancorar as expectativas de inflação. Segundo, deixou claro que os juros vão permanecer elevados por bastante tempo, para evitar interpretações equivocadas de que eles possam cair em virtude das pressões políticas. E, por fim, ainda deixou a porta aberta para um novo ciclo de alta, mais à frente, caso os preços não voltem para o centro da meta.

O BC também tinha motivos para manter a Selic em 14,75%, e não estaria errado se optasse por esse caminho. Mas a alta adicional vai aumentar a confiança de que a inflação não sairá do controle no País, e isso compensa esse torniquete mais apertado na política monetária. Por um lado, o impacto no mercado de juros será residual, já que a taxa já estava bastante alta; por outro, o efeito sobre as expectativas será muito maior, porque não era isso que estava precificado na curva de juros. Ganha-se muito a um custo pequeno.

Reis do ovo da serpente mentem e armam bote em meio a pandemia fiscal de Lula - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Entrevista de empresário à Folha expõe espírito reacionário que pode se aproveitar da impopularidade e de erros do petista

A entrevista do empresário Ricardo Faria, 50, o assim chamado "rei do ovo", publicada por esta Folha no último dia 15, foi um serviço prestado à exposição da estreiteza ordinária e triunfante de um tipo de empreendedor ornado com plumagem liberal que se compraz em papagaiar preconceitos contra os mais pobres, espírito antissocial e falsidades socioeconômicas.

Não se discute que possa ser esperto e muito bem-sucedido em sua atividade. Mantém residência fiscal no paraíso uruguaio e a sede de sua empresa num equivalente europeu, Luxemburgo.

O cartão de visitas das patacoadas proferidas pelo empreendedor foi a declaração a respeito do Bolsa Família. O benefício seria um empecilho à contratação de mão de obra no Brasil, uma vez que "as pessoas estão viciadas" e "presas" ao programa, o que impediria levá-las a "treinar e conseguir dar uma vida melhor".

Se o Brasil melhorou, o povo não percebeu - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

No Brasil atual, parece mínimo o espaço para inovações progressistas

A mais recente pesquisa Datafolha, publicada por etapas a partir de 13/6, destaca dois fatos especialmente importantes para o governo. O primeiro é a dissociação entre os indicadores econômicos positivos —o crescimento do PIB e a expansão do emprego formal— e o sentimento ambíguo dos brasileiros em face da situação do país e de si próprios, agora e no futuro.

Aumentou o contingente dos que acreditam que, nos últimos meses, as coisas mudaram para pior no Brasil, entendendo embora que para eles tudo continuou igual. Por outro lado, são otimistas as expectativas em relação ao país e ao entrevistado, que vê sua vida melhorando, a despeito de prever que a inflação e o desemprego continuarão em alta e que o poder de compra dos salários encolherá em futuro próximo.

Líderes do Congresso puxam a manada a serviço dos lobbies - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Grande derrotado com derrubada dos vetos é o consumidor, que pagará a conta

Congresso Nacional não derrotou o governo ao derrubar os vetos do presidente Lula e restabelecer jabutis com subsídios setoriais que podem custar R$ 245 bilhões na conta de luz nos próximos 15 anos. O grande derrotado é o consumidor de energia que, no final das contas, vai pagar a fatura.

A preços de hoje, os parlamentares transferiram uma conta de R$ 32 bilhões por ano aos usuários de energia, como apontam cálculos do governo. Vem mais por aí. Outros vetos, que ainda não foram analisados pelos parlamentares, devem custar mais R$ 300 bilhões se forem também rejeitados pelo Legislativo. A pretexto de dar um recado ao governo na guerra deflagrada contra o decreto de alta do IOF de Lula, os líderes do Congresso puxaram a manada para fazer algo que já queriam fazer.

BC avisa que juro cai no dia de são Nunca, de tarde - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

BC quer levar donos do dinheiro a baixar projeção de IPCA e evitar queda de juros no mercado

A queda da Selic está adiada para o dia de são Nunca, de tarde. Depois, vai cair devagar. No que importa, foi a mensagem do comunicado em que o Banco Central anunciou que a taxa básica de juros passou de 14,75% ao ano para 15%.

Talvez a talagada amarga de remédio sirva para abreviar a doença. Para parte da esquerda, Gabriel Galípolo estaria "à direita" de Roberto Campos Neto. Pois é. A gente não vai longe.

A linguagem foi tão relevante quanto o aumento: o BC vai observar expectativas de inflação e conjuntura a fim de avaliar se a Selic, em nível de arrocho "por período bastante prolongado", basta para levar a inflação à meta. Enfatizou: "exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado".

O BC anunciou que suspende a campanha de alta de juros, com ressalva retórica, a fim de reforçar o tempero de dureza: "não hesitará" em elevar a Selic.

Poesia | Elegia 1938, de Carlos Drummond de Andrade

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Música | Helio Delmiro no Estudio 66 com Ricardo Silveira