sexta-feira, 13 de junho de 2025

Opinião do dia – Antonio Gramsci*

Observações e notas críticas sobre uma tentativa de “Ensaio popular de sociologia”

Um trabalho como o Ensaio popular destinado essencialmente a uma comunidade de leitores que não são intelectuais de profissão, deveria partir da análise crítica da filosofia do senso comum, que é a “filosofia dos não-filósofos”, isto é, a concepção do mundo absorvida acriticamente pelos vários ambientes sociais e culturais nos quais se desenvolve a individualidade moral do homem médio. 

O senso comum não é uma concepção única, idêntica no tempo e no espaço: é o “folclore” da filosofia e, como o folclore, apresenta-se em inumeráveis formas; seu traço fundamental e mais característico é o de ser uma concepção (inclusive nos cérebros individuais) desagregada, incoerente, inconsequente, conforme à posição social e cultural das multidões das quais ele é a filosofia. Quando na história se elabora um grupo social homogêneo, elabora-se também, contra o senso comum, uma filosofia homogênea, isto é, coerente e sistemática.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Responsabilizar redes sociais por conteúdo é avanço

O Globo

STF formou maioria para acabar com imunidade. Resta definir regra que valerá daqui para a frente

Representa um avanço indiscutível a maioria formada no Supremo Tribunal Federal (STF) para responsabilizar as redes sociais por conteúdo que veiculem. Até o momento, sete dos 11 ministros se manifestaram pela inconstitucionalidade, no todo ou em parte, do artigo 19 do Marco Civil da Internet. Tal artigo estabelece que plataformas digitais só são obrigadas a remover conteúdo mediante ordem judicial, garantindo-lhes imunidade por crimes cometidos por meio delas até que haja sentença. Só que danos no meio digital costumam ser instantâneos, e, quando o juiz ordena a retirada do conteúdo ilegal, o estrago já está feito. Na prática, a imunidade assegurada pelo artigo 19 transforma as redes sociais em terra sem lei.

A experiência comprova que as plataformas digitais têm sido omissas — quando não coniventes — ante vários crimes. Redes sociais continuam inundadas de agressões, estímulo a mutilação ou suicídio, venda de produtos ilegais, propaganda extremista, discurso de ódio contra minorias, além de serem veículo para difusão de toda sorte de conspiração contra a democracia.

Uma classe social emparedada - José de Souza Martins*

Valor Econômico

Contos do belíssimo livro póstumo de Anna Maria Martins, “Contos reunidos”, resultam das necessidades expressionais da classe média brasileira

Antonio Candido, professor de teoria literária da Universidade de São Paulo, em seu fundamental e decisivo livro “Formação da literatura brasileira”, usa com frequência a concepção, por ele desenvolvida, de necessidades expressionais. Isto é, diferentes manifestações literárias, no tema, na forma e no estilo, sem deixar de ser invenções de um autor, são também modos determinados de dizer o que por meio do autor a sociedade tem carência de dizê-lo.

O belíssimo livro póstumo de Anna Maria Martins, também da Academia Paulista de Letras, “Contos reunidos” (2022), é primorosa obra em muitos sentidos. Mas também e sobretudo porque seus contos resultam, pode-se dizer, das necessidades expressionais da classe média brasileira.

Políticos estão com os nervos à flor da pele - Andrea Jubé

Valor Econômico

Em Minas, Lula falou em “clima ruim” na Câmara, e não errou

No dia em que mais dois institutos insuspeitos (Datafolha e Ipsos-Ipec) mostraram que a avaliação negativa do governo continua superando a positiva, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva partiu para o ataque. Em um evento em Minas Gerais, Lula subiu o tom dos discursos, disparou contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem ainda polariza, e saiu em defesa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que foi alvo de bolsonaristas em audiência na Câmara dos Deputados.

Há tempos, aliados do presidente atribuem a queda de popularidade, entre outros motivos, à resistência de Lula ao confronto, porque ele prefere manter o perfil conciliador. A crítica comum a aliados, principalmente do PT, é de que o presidente erra ao não fazer a disputa política, enquanto dedica muito tempo à política internacional. As declarações do presidente nessa quinta-feira sugerem uma guinada para o embate.

“Você vê que ele é um covardão, viu o depoimento dele, estava com os lábios secos, estava quase se borrando”, disse o presidente sobre o comportamento do antecessor no interrogatório sobre a trama golpista em que foi ouvido pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira (10). Na denúncia, ele desponta como um dos supostos líderes da intentada. “É muito fácil ser corajoso dentro de casa, no celular, falando mal dos outros”, desafiou Lula, durante anúncio de investimentos pelo acordo de recuperação da Bacia do Rio Doce, em Mariana.

Afinal, o que quer o Congresso? - Vera Magalhães

O Globo

Enquanto cobram e ameaçam o governo, fiscalistas de redes sociais que habitam o Parlamento dão um jeito de aumentar os gastos públicos com projetos em causa própria

A semana marca um ponto de quase ruptura na relação entre o governo Lula e o Congresso, que já não era das melhores. O que começou, nas palavras do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na madrugada de domingo para segunda-feira, com uma “reunião histórica” termina com um ultimato. O que falta entender, além do motivo para a maionese ter desandado, é: o que querem Câmara e Senado em termos de corte de gastos?

É fácil encher a boca para dizer que o Executivo tem de fazer o dever de casa e demonstrar disposição em fazer cortes estruturais nos gastos primários, mas, a cada tentativa do governo, retrucar com um “aqui não”, como tem sido o comportamento de deputados e senadores nos últimos anos.

Mais que isso: sempre que podem, os fiscalistas de redes sociais que habitam o Parlamento dão um jeitinho de aumentar os gastos públicos, em vez de reduzi-los. O céu não tem sido o limite para aumentos de repasses para emendas, fundos eleitoral e partidário, salários e vencimentos dos próprios parlamentares, como propugna um projeto apresentado pelo próprio Hugo Motta acabando com a vedação ao acúmulo de aposentadorias para parlamentares com mais de 65 anos e vencimentos por mandatos em curso.

Sindicato dos ricos e o ajuste - Bernardo Mello Franco

O Globo

Hugo Motta exige cortes do governo, mas blinda emendas e aumenta gastos na Câmara

Na terça-feira, Hugo Motta disse a uma plateia de empresários que o governo precisa fazer o “dever de casa” e cortar gastos para equilibrar as contas públicas. No mesmo dia, o deputado apresentou projeto de lei que autoriza parlamentares a acumularem salário e aposentadoria especial.

Desde 1997, políticos que exercem mandato não podem somar os contracheques. Quem prefere a aposentadoria deve renunciar à remuneração do cargo. Depois de 28 anos, o presidente da Câmara resolveu se insurgir contra a “exceção arbitrária”. Sua proposta, apresentada como ideia da Mesa Diretora, define a regra atual como uma “discriminação indevida” e um obstáculo “ao pleno exercício da cidadania”.

A regulação possível – Flávia Oliveira

O Globo

Conteúdos nas plataformas digitais ameaçam, sobretudo, a saúde mental e a vida de crianças e adolescentes

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, nesta semana, para responsabilizar plataformas digitais por conteúdos que ameaçam, sobretudo, a saúde mental e a vida de crianças e adolescentes brasileiros. O Judiciário tardou quanto foi possível a decisão de que o Congresso Nacional se omitiu intencionalmente por, pelo menos, um par de anos. Flávio Dino, hoje no STF, era ministro da Justiça no ano (2023) em que o número de ataques a escolas bateu recorde no país: em 15 episódios de violência extrema, nove pessoas morreram e 29 ficaram feridas. Na quarta-feira, ao votar pela inconstitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, ele lembrou que das redes sociais brotaram aqueles crimes.

Lula não pode contar com a Câmara para tirar dos ricos e dar aos pobres – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O presidente disse que não foi eleito para criar "benefício para rico" e defendeu os gastos sociais feitos pelo governo.  Rebateu críticas de "empresários" e "banqueiros"

Popularizada nos anos 1970 pelos economistas neoliberais, a "Curva de Laffer" é uma tese do economista norte-americano Arthur Laffer, que lhe empresta o nome, segundo a qual a redução de impostos é uma forma de aumentar a arrecadação. Foi adotada pelo presidente Ronald Reagan. Laffer fez parte de seu governo e é considerado o pai da corrente econômica que estuda os impactos causados pela diminuição da carga tributária na inflação, emprego, produtividade etc.

De acordo com sua teoria, os consumidores se beneficiam de uma maior oferta de bens e serviços a preços mais baixos e as oportunidades de emprego aumentam. Já com o imposto excessivo, as pessoas evitam pagar (evasão, sonegação) ou a economia desacelera, o que provoca queda de arrecadação. Usando cálculos matemáticos, Laffer estabeleceu um ponto de máxima arrecadação: acima disso, aumentar tributos provocaria queda de receita.

A pós-verdade: a substituição do fato pela narrativa - José Sarney*

Correio Braziliense

As verdades são tantas que é impossível saber qual delas realmente é a verdade. A soma de informações que nos chegam é tão grande que não podemos estabelecer uma escala de valores para absorvê-las

Estamos vivendo coisas com que nunca sonhamos. Uma delas, a pós-verdade, que colocou a mentira no lugar da verdade, que deixou de ser o que é para tornar-se o que as emoções da rede social definiram como verdade. O fato foi substituído pela narrativa. 

As descobertas científicas colocaram em nossas mãos milagres. Podemos, numa tela vazia em nossa frente, por artes de Deus ou do diabo, ver o que se passa em todos os lugares do mundo no instante mesmo em que estão acontecendo. Com uma pequena caixinha que cabe na palma de minha mão, posso localizar qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo e falar com ela, através dela me comunicar, saber e transmitir notícias, prever o tempo, fazer cálculos matemáticos e recuperar mensagens que me mandaram de outra máquina fabulosa — sua excelência, o computador —, que com um teclado que também me conecta com todo o mundo no mesmo instante em que me fornece todas as informações que desejo, milhões e milhões de dados sobre tudo, a cada segundo, sem um centro organizador e produtor, que vão se multiplicando quando alguém mais se junta a esse processo, que não tem limites e atinge o infinito, que é o conceito de rede.

Ideias fora do lugar - Nina Ranieri*

O Estado de S. Paulo

A democracia, assim como o Estado de Direito, não pode ser um tema distante da população; a desinformação e a descrença alimentam os Estados iliberais

Em 2024, 2 bilhões de pessoas foram às urnas em mais de 60 países, no maior comparecimento eleitoral da história da democracia representativa. Paradoxalmente, o relatório de 2025 do V-Dem, índice global sobre qualidade democrática, revela que eleições livres retrocederam em 25 países; a liberdade de associação, em 22; e o Estado de Direito, em 18. A recessão democrática, observada desde 2010, se aprofundou: o nível de democracia em 2023 voltou ao patamar de 1985 em todas as regiões do mundo, especialmente na Europa do leste e na Ásia do sul e central. Hoje, cerca de 90 Estados vivem sob regimes autocráticos ou de tendência autocrática, onde estão dois terços da população mundial. Estados amplamente democráticos não passam de 80.

A recessão se agrava com o surgimento de Estados iliberais – democracias sem direitos, nas quais governos são eleitos democraticamente, mas, uma vez no poder, alteram constituições para se perpetuar, restringem direitos, fragilizam a oposição e bloqueiam o pluralismo. Jogando o jogo, subvertem as regras. Tudo “dentro das quatro linhas”. É um f enômeno contemporâneo, de múltiplas trajetórias: Rússia, Turquia, Hungria, Romênia, Venezuela... A lista é longa. É como se a democracia sofresse de uma doença autoimune, até que os cidadãos perdem a capacidade de mudar governos democraticamente.

Sensação de claustrofobia - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

No banco dos réus, ex-presidente, generais e delegados federais deram um show sem graça e sem nexo

A estratégia do ex-presidente Jair Bolsonaro de encenar o boa gente, dizer que tudo foi só “retórico” e “desabafo”, fazer gracinha para o ministro Alexandre de Moraes e chamar golpistas de malucos foi um fiasco. Ele se submeteu ao ridículo à toa. Desagradou aos seguidores, não agradou a ninguém, não vai mudar o rumo do julgamento no Supremo nem teve algum ganho político ou midiático. Só perdeu.

Pacote fiscal e o risco político – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Os atritos políticos ao redor do pacote fiscal vêm crescendo há dias e prometem ainda mais acirramento, dada a forte oposição do Congresso às medidas adotadas pelo ministro Fernando Haddad.

Até agora, o governo Lula se recusou a passar o facão nas despesas públicas porque teme perder voto popular. E é um comportamento que se repete. Se tiver, por exemplo, de rever o critério de correção do salário mínimo, que atualmente leva em conta a inflação do ano anterior e o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes, para cortar despesas com aposentadorias e com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o presidente Lula imagina que enfrentaria reação negativa dos mais de 40 milhões de beneficiários do INSS e dos quase 6 milhões de beneficiários do BPC.

A conversa de quem não quer imposto - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Ninguém quer pagar a conta inevitável de contenção de gastos e do aumento de impostos

A "sociedade não aguenta pagar mais imposto", se ouve e se lê por aí. A frase faz lembrar daquelas pessoas que dirigem seus veículos particulares e se queixam do "trânsito horrível, cheio de carro". Ou de turistas que reclamam dos seus destinos de viagem "lotados, cheios de turistas". Não se acham parte do problema ou da solução. Um dia, isso se chamou "ideologia" e conversa fiada da luta de classes.

É mais difícil ouvir que "a sociedade" não quer mais receber aposentadorias públicas, benefícios sociais, Justiça, universidade, SUS, polícia, vacinas, vigilância sanitária, estatísticas, política monetária e defesa contra cartéis, para citar apenas exemplos diretos de serviços e benefícios bancados por impostos, ou favores estatais para empresas.

Que tal os congressistas cortarem na própria carne? - Bráulio Borges

Folha de S. Paulo

Ajustar emendas parlamentares para nível de 2015-19 reduziria gastos em R$ 40 bi

Após uma série de idas e vindas, o governo federal publicou uma medida provisória nesta semana apresentando um conjunto de novas medidas para compensar um aumento menor do IOF (em relação à majoração anunciada por decreto há algumas semanas). A despeito disso, o Congresso sinalizou que irá pautar na semana que vem a votação de um projeto de decreto legislativo (PDL) para sustar a elevação do IOF.

Conversas fiadas em torno do golpe - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Ligeireza com que oficiais discutiram uso deturpado da Carta para impedir a posse de Lula mostra que é preciso mudar a cultura militar

Militares do entorno de Jair Bolsonaro não hesitaram em discutir a utilização —deturpada e ilegal, registre-se— de dispositivos constitucionais como o estado de sítio para impedir a posse de um presidente eleito. Quem o diz são os próprios réus do julgamento da trama golpista, que admitiram em seus interrogatórios ter tido esse tipo de conversa.

A sinuca do capitão - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Acuado, Bolsonaro na frente do juiz foi a antítese da figura do herói destemido que tanto cultivou

Vestido em pele de cordeiro, Jair Bolsonaro (PL) sentou-se na frente do juiz sabendo da impossibilidade de convencê-lo de sua inocência. Cumpria a tarefa de não piorar a situação jurídica na base de confrontos com os quais alimentou sua persona política.

E, assim, no interrogatório conduzido por Alexandre de Moraes, o ex-presidente construiu um dilema para si.

Como será visto daqui em diante pelos adoradores do mito? Um homem prudente premido pelas circunstâncias ou um valente de fancaria que já havia se recolhido ao silêncio, corrido para fora do país depois da derrota e agora chama de "malucos" e "pobres coitados" os que o defendiam na porta de quartéis?

Crônica | Othon Bastos lê crônica de Rubem Braga

 

Poesia | Bertolt Brecht - Poemas e frases

 

Música | Alceu Valença - Flor de Tangerina