sábado, 7 de junho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Censo 2022 reflete mutação religiosa do Brasil

O Globo

Católicos seguem maioria, e evangélicos avançam, embora seu crescimento tenha ficado aquém do projetado

Os dados sobre religião do Censo 2022, divulgados ontem pelo IBGE, revelam uma transformação na sociedade brasileira. O Brasil continua sendo um país majoritariamente católico, mas a proporção de evangélicos na população continua a crescer — em 2022, correspondiam a 26,9% da população, ante 21,6% em 2010. É verdade que os católicos são mais que o dobro disso, ou 56,7% dos brasileiros, mas essa proporção era de 65,1% em 2010 e, até 1980, ficava acima de 90%. E, embora o Brasil continue a ser um país predominantemente cristão, os brasileiros que declaram não ter religião aumentaram de 7,9% a 9,3% em 12 anos. Tais mudanças espelham as mutações sociais por que o país vem passando nas últimas décadas.

As denominações evangélicas têm sido o segmento religioso que mais ganha adeptos. Entre 1991 e 2022, sua participação praticamente triplicou, de 9% para 26,9%. Tais números confirmam uma realidade observada em muitas cidades brasileiras, onde a quantidade de templos se multiplica. Mas também é preciso pontuar que, embora em 2022 a proporção de evangélicos tenha atingido o maior patamar já registrado, ela ficou aquém do esperado pelos pesquisadores, algo em torno de 30%. No últimos dois Censos, o crescimento havia sido de 6,5 e 6,1 pontos percentuais — desta vez ficou em 5,3 pontos.

Os brasileiros estão cansados de Lula e Bolsonaro – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Parece que a população manifesta cansaço com a falta de austeridade e contenção no uso do dinheiro público

Quase metade dos brasileiros, ou exatamente 48%, considera que a economia piorou — tal é um dos resultados da pesquisa Quaest divulgada na última quarta-feira. Na rodada anterior, em março, o descontentamento era maior: 56% dos entrevistados. Houve, portanto, ligeira melhora na percepção, mas ainda assim o dado chama a atenção.

Depois de dois anos de crescimento acima de 3%, com desemprego baixo, quase metade dos brasileiros acha que a economia está pior. Mas o presidente Lula acredita que vai muito bem. Ele não perde oportunidade para alardear o “pibão” e zombar dos analistas que antecipam desaceleração. Nos bastidores, Lula cobra de sua equipe mais esforço para “mostrar” à população que o Brasil vai melhor do que ela pensa. De novo, o problema seria de comunicação. Mas não é. Outros dados da mesma pesquisa mostram que a população percebe problemas que o governo não quer ou não pode ver.

Uma piada ruim - Eduardo Affonso

O Globo

Piadas não matam. O que mata é a violência, da polícia, dos traficantes, das milícias. É o desvio de bilhões dos pensionistas

Um humorista foi condenado a oito anos de prisão (e a pagar indenização milionária) por fazer piadas. Piadas ruins, mas, ainda assim, piadas. Que não zoavam militares, juízes, padres e outros senhores do poder divino ou temporal. Os intocáveis de hoje são as minorias, essa coisa difusa que, em última instância, inclui todo mundo. Some mulheres, idosos, crianças, afrodescendentes, indígenas, judeus, crentes, gays, trans, calvos, pais de pet, periféricos, gordos, nordestinos, pessoas com deficiência, HIV ou disfunção erétil — e veja quem sobra.

A sentença diz que o humorista reproduz “discursos e estereótipos que incentivam a perseguição religiosa, a exclusão das minorias e discriminação contra pessoas com deficiência”. Como nos tempos da TV a lenha, quando os intérpretes de vilões de novelas eram xingados nas ruas (e jamais convidados a apresentar bailes de debutantes), a juíza não entendeu a diferença entre o artista e a persona cômica. Não sabe que rir da piada em que a velhinha leva um tombo é diferente de empurrar uma velhinha escada abaixo.

O Barão de Itararé também foi preso — era o governo Vargas. Juca Chaves foi preso, a turma do Pasquim foi presa — era a ditadura militar. As piadas, nesses casos, eram ótimas, mas o que incomoda não é a qualidade do humor, e sim se o alvo da risada tem poder de decidir sobre aquilo de que se pode rir e sobre o que se deve calar. O Barão pendurou na porta de sua sala o cartaz “Entre sem bater”. Pode ser a hora de deixar um “Entre sem prender” na bilheteria dos espaços onde adultos pagam para o ato consensual de rir do que acham risível.

Não se trata Léo Lins – Pablo Ortellado

O Globo

Pena que ele recebeu é superior à aplicada a Sérgio Nahas pelo assassinato da mulher a tiros

A condenação de Léo Lins a mais de oito anos de prisão e multa dividiu o país. A enorme controvérsia não diz respeito particularmente ao humorista ou ao tipo de humor que pratica, mas às enormes implicações de uma regulação dura da liberdade de expressão. Para ter uma ideia, a pena que ele recebeu é superior à aplicada a Sérgio Nahas pelo assassinato da mulher a tiros. Se uma condenação duríssima como essa passa incontestável e se estabelece como precedente para condenações futuras, quais as implicações para o exercício da liberdade de expressão, em especial no âmbito do humor?

As instituições fora de lugar - Miguel Reale Júnior

O Estado de S. Paulo

É a consequência do presidencialismo de cooptação, do sistema eleitoral proporcional e da proliferação de partidos sem conteúdo, além de uma classe política desinteressada

Não há nem harmonia nem independência entre os Poderes, há desarticulação. O Legislativo, antes de legislar, administra, destinando de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões para obras, na maioria pulverizadas, visando a atender aos interesses eleitorais dos congressistas, sem respeito a qualquer política pública.

Segundo a Constituição federal (CF), o Orçamento compreende metas e prioridades da administração. No entanto, com a aprovação das Emendas Constitucionais 86/2015, 100/2019 e 105/2019, as emendas individuais de parlamentares à Lei Orçamentária e as de bancada passaram a ser de execução obrigatória, além de se criarem emendas de comissão e Pix, esta com recursos alocados diretamente a Estados e municípios. Cada parlamentar tornouse um ordenador de despesa de recursos da União.

O silêncio dos líderes empresariais nos EUA - Fareed Zakaria

O Estado de S. Paulo

Eles costumavam se opor ao poder, mas agora não emitem opiniões diante da destruição de Trump

Antigamente, os CEOs americanos se sentiam livres para criticar as políticas governamentais, muitas vezes com uma reclamação familiar. O ex-CEO da Verizon Communications Inc., Ivan Seidenberg, explicou que ao atingir praticamente todos os setores da vida econômica, o governo estava “injetando incerteza no mercado”.

O então CEO da Cisco Systems Inc., John Chambers, concordou. “As empresas não gostam de incerteza”, disse. Isso foi durante o primeiro mandato de Barack Obama, quando o governo tentava tirar a economia de uma crise financeira global única.

Alta de gastos de estados e municípios serve de alerta - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Cobrança do ajuste nas finanças públicas deve ser para todos

crescimento dos gastos dos estados e municípios em ritmo muito maior do que o do governo federal tem passado ao largo das cobranças dos parlamentares e serve de alerta nas negociações políticas deste domingo (8) em torno de um acordo de novas medidas fiscais para substituir o decreto de alta do IOF.

Uma das causas para essa expansão, apontada em estudo publicado nesta semana pelo Ibre-FGV, é que o Congresso tem aprovado nos últimos anos medidas que elevaram as despesas do governo federal, mas que, na prática, representam um repasse maior de recursos da União para os governos regionais.

É o caso da complementação do Fundeb (fundo voltado para a educação básica), receitas de royalties de petróleo, e as chamadas emendas Pix, que têm baixa transparência e facilitam a inclusão de despesas no Orçamento por deputados e senadores..

Depois de Musk - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Trump carece de ideologia, mas escolheu governar com os nacional-populistas

Musk saiu detonando. Qualificou o "Big Beautiful Bill", projeto orçamentário de Trump, como uma "abominação repugnante": "vergonha daqueles que votaram por ele". É a primeira cisão relevante no governo Trump —e a evidência de que, no lugar de sentenças condenatórias sobre o "fascismo", deve-se entender a complexidade.

No primeiro mandato, um Trump inseguro cercou-se de figuras do establishment e apoiou-se na burocracia profissional. O resultado foi o cerceamento de seus impulsos mais destrutivos. No mandato atual, o presidente libertou-se dos grilhões. Convocou arautos extremistas, sicofantas e bajuladores, declarou guerra à burocracia estatal e desafiou a autoridade dos juízes. Mesmo assim, seu governo não é um monolito, mas um arco-íris ideológico.

O pôr do sol do euro - Rodrigo Zeidan

Folha de S; Paulo

Eventual ataque especulativo pode destruir moeda única; risco é remoto, mas existe

O título desta coluna é inspirado no livro de Alberto Bagnai, polímata, professor (e atualmente deputado) italiano que escreveu "Il Tramonto Dell'Euro", em 2012. Ele defendia a saída do país da zona do euro, embora hoje se concentre em combater a multiplicação de regulações ineficientes da União Europeia.

Somos amigos e discordava da sua posição, mas devo admitir que os custos sociais da moeda única estão aumentando. Parte é azar, mas o principal motivo é o abandono informal do Tratado de Maastricht.

Para além da Amazônia: a hora de agir pelo Cerrado é agora! - Dandara Tonantzin

Correio Braziliense

O Cerrado espera mais do que menções protocolares: busca compromissos sólidos, metas ambiciosas e financiamento real para sua conservação

Desde as primeiras luzes do dia até o cair da noite, o Cerrado pulsa vida: é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupa 22% do território brasileiro e abriga quase 30% das águas superficiais do país, alimentando dezenas de bacias que banham outros biomas. No entanto, vive sob a chancela de leis flexíveis que permitem uma exploração sem freios e do racismo ambiental que impõe desafios para as populações que ali habitam.

Desafios para o Congresso na área trabalhista - José Pastore*

Correio Braziliense

Parlamentares terão muito trabalho para atender aos pedidos do STF em campos do mundo do trabalho que implicam em decisões difíceis e onerosas

O Supremo Tribunal Federal (STF) deu prazos para o Congresso Nacional aprovar três leis que são exigidas pela Constituição de 1988 na área trabalhista. A primeira é a lei sobre a licença paternidade, porque a regra atual de cinco dias foi aprovada pelos constituintes como provisória. A segunda é a lei sobre a proteção dos trabalhadores contra os problemas causados pela automação, também prevista na Constituição e, até hoje, não aprovada. A terceira é a lei de proteção dos trabalhadores contra os trabalhos penosos. As três são requeridas pela Carta Magna. São três imensos desafios:

O equilíbrio fiscal e o IOF - Marcus Pestana

Não é novidade para ninguém: o Brasil está submetido a uma aguda e crescente restrição fiscal. Os números presentes no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2026, enviado pelo governo ao Congresso Nacional, revelam que o estrangulamento será absoluto a partir de 2027 e se agravará nos anos seguintes. A IFI lançou alertas sobre isto. É a crônica de uma morte anunciada sem o tempero literário de Gabriel Garcia Márquez.

O governo perde cada vez mais espaço de liberdade para governar. As despesas discricionárias ou não obrigatórias tenderão a ser negativa a partir de 2027. Temos, no Brasil, o orçamento mais engessado do mundo. Há mecanismos automáticos, retomados após a revogação do “Teto de Gastos”, que estabelecem vinculações das despesas de saúde e educação às receitas correntes e a indexação aos aumentos concedidos ao Salário-Mínimo, sempre acima da inflação, do piso da previdência, BPC, Auxílio Desemprego e Abono Salarial.

Uma briga didática - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Disputa entre Trump e Musk expõe pontos fracos da democracia americana e põe apoiadores em dissonância cognitiva que pode ter efeito salutar

Dois egos desproporcionalmente grandes não podem ocupar o mesmo espaço de poder ao mesmo tempo. À luz da psicologia, um rompimento entre Donald Trump e Elon Musk era mais ou menos inevitável. Ainda assim, surpreendem a velocidade da deterioração da relação entre os dois e os termos fortes com os quais um qualifica o outro agora.

As divergências entre o par vinham se acumulando já havia algum tempo, mas apenas uma semana atrás eles ainda tentavam dar um ar de civilidade ao divórcio. Na sexta-feira (30), Trump organizou na Casa Branca uma despedida para Musk, que deixava o governo para cuidar de suas empresas. Ali trocaram palavras elogiosas e juraram amor eterno.

Crônica | O Padeiro - Rubem Braga (Narrado por Juca de Oliveira)

 

Música | Samba da utopia (Jonathan Silva)