terça-feira, 13 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Trégua tarifária entre EUA e China deveria perdurar

O Globo

Anúncio de negociação para acordo na guerra comercial é um alívio, mas, com Trump, tudo segue imprevisível

Trouxe alívio ao planeta o anúncio de uma trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China. A escalada tarifária iniciada por Donald Trump em fevereiro saiu de controle desde o início de abril, com retaliações em série. Quando negociadores dos dois países deram início a conversas na Suíça no sábado, os produtos chineses pagavam sobretaxa de 145% nos Estados Unidos, e os americanos de 125% na China. Mantido tal patamar, o comércio entre as duas maiores economias do mundo se tornaria inviável. Pelo que foi acertado, os dois lados suspenderão as barreiras por 90 dias enquanto tentam negociar um acordo definitivo. Nesse período, as sobretaxas cairão, respectivamente, a 30% e 10% (na prática, as tarifas serão de 40% e 25%, levando em conta os patamares anteriores à disputa). A redução é bem-vinda — e deveria perdurar.

O GPT vai mudar – Pedro Doria

O Globo

Mudanças em curso na OpenAI fatalmente afetarão os rumos de toda a indústria da IA

Algumas mudanças profundas em curso na OpenAI fatalmente mudarão os rumos de toda a indústria da inteligência artificial. Duas são estritamente de negócios, e a terceira tem a ver com o produto — é o GPT 5, esperado para algum momento do segundo semestre deste ano. Mas, bem antes desse lançamento, a empresa OpenAI se transformará, com a chegada de uma nova executiva. É a francesa Fidji Simo, de 39 anos, que ocupava o cargo de CEO da Instacart, uma companhia de e-commerce voltada para tecnologia de supermercados.

Para entender como as peças se encaixam, é preciso antes sobrevoar um pouco a história de como a OpenAI nasceu e se formou. A companhia vem de uma obsessão de Elon Musk. Em 2015, Musk já considerava que a IA estava a um passo de explodir e temia que, nas mãos do Google, se tornasse um monopólio privado. Foi por isso que passou o chapéu entre investidores do Vale do Silício, com o objetivo de criar uma empresa sem fins lucrativos que desenvolveria modelos abertos de IA para todos.

Credibilidade em jogo – Merval Pereira

O Globo

A intenção sempre foi salvar Bolsonaro, como se com isso conseguissem que ele pudesse se candidatar à eleição presidencial do próximo ano

Como diz um velho ditado, até um relógio parado está certo duas vezes ao dia. Assim também, até um Congresso esclerosado pelo fisiologismo ou patrimonialismo pode estar certo em algum momento. É o caso da proposta negociada pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, para equilibrar as penas dos indiciados na tentativa de golpe de 2023, reduzindo as dos “bagrinhos” e, quem sabe, aumentando as dos líderes.

Não é razoável que a imensa maioria de meros “inocentes úteis” recebam as mesmas penas e sejam acusados dos mesmos crimes que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus asseclas, militares ou civis. Mesmo que se entenda que ali não havia inocentes, não eram os financiadores e estrategistas que comandaram a depredação dos prédios públicos, mas uma “massa de manobra” incentivada a tal vandalismo pelos verdadeiros “estrategistas”, muitos deles infiltrados na multidão para facilitar a invasão.

Um bom alívio, mas não o fim da crise - Míriam Leitão

O Globo

Estados Unidos e China decidiram voltar à mesa de negociação, pois o tarifaço estava ferindo a economia de ambos

Quem piscou primeiro? Essa é a pergunta feita por uma reportagem escrita a seis mãos pelos jornalistas do Financial Times em Washington, Beijing e Londres. Falavam sobre o acordo anunciado entre Estados Unidos e China em que ambos os lados suspenderam temporariamente a maior parte das supertarifas que cada país impôs ao outro. No Brasil, fontes que acompanham essa guerra tarifária avaliam que há um alívio, mas não o fim da crise. Mesmo que a trégua seja mantida como solução permanente, o que ficaria de tudo isso é que os Estados Unidos elevaram sua tarifa contra todos os países, criaram barreiras ainda maiores para alguns produtos e quebraram as regras multilaterais de comércio.

Viagem de Lula marca a integração informal do Brasil na Rota da Seda – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O Itamaraty evita alianças formais que possam ser interpretadas como alinhamento geopolítico. A adesão formal ao projeto da China seria politicamente disruptiva

A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, a convite do presidente chinês, Xi Jinping, compensa em muito o desgaste causado por sua participação nas comemorações do Dia da Vitória em Moscou, como um dos convidados de honra do presidente Vladimir Putin. Enquanto a passagem por Moscou foi marcada por críticas da oposição no Brasil e um inegável desgaste político junto às chancelarias europeias, aliadas do presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, o encontro com dirigentes e executivos chineses marcou, informalmente, a integração do Brasil à chamada Nova Rota da Seda, o ambicioso projeto comercial e logístico da China.

A turnê de Lula e a bola de cristal de Bannon - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

O ideólogo do trumpismo colocou Lula, Putin e Xi no mesmo balaio num momento em que o presidente brasileiro faz turnê por Rússia e China

Steve Bannon foi taxativo ao “Financial Times”: “Donald Trump vai se recandidatar e vai ganhar”. A capacidade preditiva do ideólogo do trumpismo escalou quando ele apostou, duas semanas antes do conclave, na escolha de Robert Prevost para papa. O recuo na guerra comercial só viria dois dias depois, mas Bannon, mesmo sem tratar dela, também pareceu premonitório.

A guerra comercial foi, até aqui, um dos fatores mais determinantes para que Trump tenha chegado aos 100 dias com a mais baixa popularidade dos últimos 80 anos. Não tende a ser visto internamente como o provocador de muito barulho por nada, mas como um presidente que, frente às evidências, foi capaz de recuar e devolver otimismo aos agentes econômicos.

Bannon colocou Xi Jiping, Vladimir Putin e Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo balaio: “Xi, Lula e Putin são uma aliança ruim. Eles não se cruzam com Trump. Eles não vão ajudar com a Ucrânia. Eles vão fazer o que estiver no interesse deles”. Não é uma visão exclusiva de Bannon. A ideia de que o Brasil seja visto como parte dessa aliança foi o que levou conselheiros deste governo a sugerir que o país voasse baixo para aproveitar oportunidades sem cutucar a onça com a vara curta.

A sorte e o azar de novo na rota de Lula - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Uma coisa é o impacto econômico do fator Trump no Brasil a médio e longo prazos e outra é seu efeito político a curto prazo

Lá atrás, durante o segundo governo Lula, já havia a polarização política no país, entre o PT governista e o PSDB oposicionista. Foi a época em que “The Economist” colocou o Cristo Redentor decolando na capa e um jornalista da revista inglesa escreveu “Já é amanhã no Brasil”.

Tucanos procuravam depreciar o governo que dava certo e ganhava credibilidade internacional. Citavam três razões para o sucesso: herança, juízo e sorte. Herança porque Lula teria recebido a economia arrumada por Fernando Henrique Cardoso, com privatizações, inflação baixa e contas em dia. Juízo porque Lula teria seguido a mesma política neoliberal de FHC. E sorte por pegar um período de crescimento global e boom das commodities.

Há verdades e exageros nessas avaliações. Herança existia, mas incompleta, porque FHC deixara uma vultosa dívida externa a ser paga. Juízo era discutível, porque Lula não seguiu totalmente a política neoliberal. Houve lances de sorte, mas também o azar de enfrentar, em 2008, a maior crise financeira internacional desde 1929.

Governo Lula amplia a busca de aproximação com os EUA - Assis Moreira

Valor Econômico

Uma 'agenda positiva' no atual cenário desafiador tem sido levantada com os americanos

O governo Lula multiplica a busca por maior aproximação econômica com o governo Trump, ao mesmo tempo em que em Pequim o presidente qualifica de “indestrutível” a relação bilateral com a China.

No começo do mês, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em viagem à Califórnia, destacou a mensagem do interesse brasileiro em aprofundar a cooperação bilateral com os EUA, em meio ao choque tarifário trumpista que causa incertezas no país e globalmente.

Agora foi a vez de a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, com uma delegação do setor privado, sinalizar em Washington a importância que Brasília dá para os dois lados construírem uma agenda positiva nesse ‘cenário desafiador’.

Oposição digital, defesa analógica - Eliane Cantanhêde


O Estado de S. Paulo

Risco de Lula é eleitor trocar a ‘defesa da democracia’ de 2022 pela ‘anticorrupção’ em 2026

O maior risco do presidente Lula, talvez do País, é a troca da bandeira decisiva de 2022, democracia, para uma outra, demolidora, em 2026, corrupção. Lula conquistou o terceiro mandato e impediu o segundo de Jair Bolsonaro na onda da defesa democrática e precisa ser mais ágil e convincente para não chegar à próxima eleição afogado pela narrativa da corrupção, fantasma que o acompanha desde mensalão e Lava Jato.

Tem negócio - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O Parlamento, sobretudo a Câmara, já se lança a mais uma semana de férias. O maledicente dirá que o recesso talvez não seja tão mau, dada a agenda legislativa dos últimos tempos.

Debilitada a pauta parlamentar em função da delirante campanha por anistia – impunidade – a Bolsonaro, a turma afinal se uniu para aprovar o aumento do número de deputados e para tentar malocar, contrabandear mesmo, o ex-presidente no alcance da sustação de ação penal que só poderia beneficiar Alexandre Ramagem.

Toda essa vergonha – e então este “recesso branco” – desenvolvendo-se enquanto somos informados sobre novos detalhes da roubalheira bilionária aos aposentados, assalto facilitado por iniciativa do Congresso, agente decisivo na desmobilização de mecanismos de controle às concessões de descontos.

Brasil como potência média regional - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Torna-se urgente a formulação de uma política proativa do Brasil para a região, que promova a intensificação do intercâmbio regional

As recentes visitas de Lula à Rússia, à China e a organização dos encontros do Brics e da COP-30 reforçam a presença global do Brasil, mas colocam crescentes desafios para a política externa.

As grandes transformações que ocorrem no mundo, tanto na economia global quanto na nova ordem internacional, estão acarretando impactos em todos os países. O fortalecimento do regionalismo surge como uma resposta à redução das vulnerabilidades e ao aproveitamento das oportunidades que estão surgindo. A América do Sul, na contramão do que ocorre em outros continentes, continua desunida e fragmentada.

Ninguém ousa chamar pelo nome essa aristocracia? - Michael França

Folha de S. Paulo

Hereditariedade disfarçada de competência não é uma distorção do sistema

Parte de nossa elite especializou-se na arte da simbiose com o Estado. Quando não está no poder, está ao lado dele. E quando perde uma eleição, ganha uma licitação. O país é um exemplo de como a herança de uma elite aristocrática pode atravessar gerações sem jamais sair de cena.

Diferentemente das elites europeias, que aprenderam a ceder espaço sob a pressão de revoluções e guilhotinas, a brasileira adaptou-se aos novos tempos refinando seu controle. Tornou-se banqueira, tecnocrata, lobista e acionista do próprio privilégio. Tornou-se tudo, mas raramente republicana. Mudou de nome sem mudar sua natureza.

Atlas da Violência trouxe esperança - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Mesmo com o quadro sombrio, há também iniciativas que vêm funcionando

Pesquisa atrás de pesquisa reforça que a violência é, hoje, o tema que mais preocupa o brasileiro. O preço do ovo importa, assim como a fila no posto de saúde e a corrupção em Brasília, mas o medo de levar um tiro na cabeça a caminho do trabalho é maior. E, no entanto, segundo o Atlas da Violência 2025, publicado nesta segunda, os homicídios no Brasil vêm caindo.

Se pegarmos o pico da série —2017— tivemos uma queda expressiva de 31,8 para 21,2 homicídios por 100 mil habitantes atualmente. Os dados do Atlas são de 2023, então não é impossível que, ao se contabilizar os dados de 2024, vejamos uma piora. No entanto, não parece ser o caso: na cidade de São Paulo, por exemplo, 2024 teve menos homicídios do que 2023.

Nada com a hora do Brasil - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Cláudio Castro ainda propõe a mexicanização do problema, com agência antidrogas dos EUA atuando no Rio

Pelo longo tempo que se gastou em estudos, debates e xingamentos, era de supor que a PEC da Segurança Pública chegasse ao Congresso pronta para votação, pois o assunto é para ontem. Quem dera.

O presidente da Câmara, Hugo Motta, garantiu que a proposta —com relatoria do deputado Mendonça Filho, opositor do Planalto— sofrerá alterações. Depois tentou contemporizar: "O único apelo que faço é que a gente não permita a politização da discussão". Diante do clima aguardado, politização é uma palavra suave demais. A meteorologia em Brasília prevê barracos e sururus.

A quem interessar possa, todo o amor que houver nessa vida… - Ricardo Marinho

Há mais de um ano o Voto Positivo fez conhecer um texto onde se chamava a atenção sobre a “importância da leitura na primeira infância”. Naquele breve texto contava-se como um garoto se tornou leitor em outrora entre os livros de seu irmão mais velho e como hoje existem barreiras a leitura advindas da hipermodernização.

Daquela iniciativa brotou a curiosidade nos leitores e leitoras de se buscar saber como aquele menino antes de se tornar o leitor na primeira infância havia começado a ler.

Dessa dúvida interessante começamos um exercício dificílimo da busca da memorização.

Não sabemos os endereços para lhes contactar. Também não compõem de estar a mão facilmente nas memórias se elas e eles teriam caixa postal. Não saberíamos dizer se vovô português tinha uma para nossos parentes da Terra Estrangeira (1996). Sabe-se que esse recurso a despeito do seu proposito bem pode servir para destruir nomes preciosos por coordenadas ocas.

"Fumacinha...", me lembra o "charutão" da Universidade - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Essa história de "fumacinha”, nas gírias da língua portuguesa, é intrigante mesmo. Lembra-me um "fumacê”.  Nunca fumei ou consumi algo tóxico. Para dizer a verdade, nem cigarro. Mas não deixo de ser cúmplice indireto na fabricação e consumo amplo de um “charutão” que apareceu  na Universidade Católica de Brasília, durante um  encontro nacional de comunicação,  nas  férias de julho,  produzido clandestinamente pelos estudantes  para aquecerem-se e se divertirem naquela  noite gelada de inverno no campus .   

Como sói acontecer em eventos estudantis, eles sempre deixam para escolher a universidade anfitriã já próximo do da data do evento. Reitores, diretores, assessores das escolas superiores do Distrito Federal, consultados de última hora recusaram-se dar guarita à reunião. Mas a minha universidade, a dos padres, topou. Foi uma confusão, porque eram estudantes de quase 200 cursos de jornalismo, publicidade, relações públicas, marketing e, como não podia deixar de ser, também de sociologia.  Aproximadamente mil estudantes de comunicação.

Como vai o mundo? - Ivan Alves Filho,

Não é o Ocidente colonialista e imperialista que incomoda a Rússia e a China de hoje, conforme os governos ditatoriais desses dois países vêm divulgando a torto e a direito. Ou melhor, esse Ocidente histórico só incomoda em parte: vale dizer, quando as duas potências ex-socialistas e hoje imperialistas começam a disputar espaço com a União Europeia, sobretudo, na cena internacional. Aí, sim, essas potências desfilam suas acusações antiocidentais, manipulando situações reais até. 

Poesia | Ode ao burguês, de Mario de Andrade

 

Música | Roberta Sá - Sorriso Aberto