sexta-feira, 16 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Novo ‘penduricalho’ para juízes não faz nenhum sentido

O Globo

Justiça remota é necessária, mas não justifica até 8 folgas a mais por mês para os magistrados

Não passa de desvario a resolução do Conselho da Justiça Federal (CJF) de conceder até oito dias mensais de “licença indenizatória” a magistrados que atuarem remotamente fora da própria jurisdição. Na prática, ela poderá representar um aumento real de quase 27% na remuneração mensal de cada juiz. O texto não exclui outra licença, paga por acúmulo de funções. Aprovado em março pelo CJF, o texto com o benefício foi publicado na semana passada no Diário Oficial da União. Trata-se de mais um dos proverbiais “penduricalhos” a elevar os vencimentos da elite do funcionalismo para além do teto constitucional (R$ 46.336, ou o equivalente ao salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal). Somente no ano passado, os auxílios e indenizações recebidos acima desse limite chegaram a R$ 6,7 bilhões. Não há justificativa para tamanho descalabro, reflexo de desconexão da realidade fiscal do país.

É verdade que certas regiões sofrem com atrasos em decisões judiciais por não contar com o número necessário de magistrados para dar conta do acúmulo de processos. Portanto é mais que bem-vinda a iniciativa de usar a tecnologia para que os juízes possam atuar temporariamente noutras comarcas sem abandonar suas funções originais. O inaceitável é a resolução do CJF aproveitar uma demanda legítima da população por decisões mais ágeis para criar um novo “penduricalho” a engordar os vencimentos da elite do funcionalismo público.

Bolsonaro conduz a direita como gado - Vera Magalhães

O Globo

Enquanto ex-presidente condiciona apoio a submissão completa a teses inadmissíveis como a do indulto, governo segue preso a um labirinto de crises reais e outras autoimpostas

A direita brasileira saiu do armário e ganhou corpo graças à arrancada e à vitória de Jair Bolsonaro em 2018, mas, desde então, demonstra incapacidade de se livrar de sua tutela, mesmo depois da inédita derrota de um presidente no cargo e da debacle judicial enfrentada por ele desde que deixou (a contragosto) o poder.

Bolsonaro trata o eleitorado e os aliados que se convencionou chamar de bolsonaristas como gado. Que faça isso não surpreende ninguém, pois condiz com a maneira autoritária com que sempre se conduziu na vida pública. O constrangedor é que políticos que hoje detêm mandatos —conferidos, portanto, por voto popular— se submetam a esse jugo que nem faz sentido nem parece ser condição determinante para seu futuro eleitoral.

Bastou verificar que governadores de seu campo ideológico começaram a ensaiar conversas para uma candidatura única da direita no ano que vem para que Bolsonaro pulasse na frente para interditar o campo e dizer que o candidato tem de ser ele ou, no limite, alguém de sua família designado por ele.

O filhotismo é uma das principais características do bolsonarismo desde que Jair lançou o filho Carlos, então menor de idade, para enfrentar a própria mãe na disputa pela vereança no Rio, uma vez que ela, à época já divorciada do chefe do clã, tinha cometido a audácia de achar que o mandato lhe pertencia e pleiteava a possibilidade de se reeleger. É dessa forma desrespeitosa que Bolsonaro segue tratando aqueles que ajudou a impulsionar politicamente, como se, uma vez apoiados por ele, mantivessem a marca a ferro do capitão no couro para sempre.

A lição de Mujica - Bernardo Mello Franco

O Globo

Pepe Mujica havia acabado de tomar posse quando um de seus antecessores o aconselhou a ser mais formal. “O presidente precisa criar uma aura de mistério ao seu redor”, justificou Luis Alberto Lacalle. Na visão do conservador, era necessário “manter a distância” para exercer o poder.

“Nem lhe dei bola”, contou Mujica, tempos depois. Ele respeitava o adversário, mas não tolerava a ideia de subir num pedestal. Acreditava que o presidente era um cidadão como outro qualquer. Por isso dispensou mordomias, manteve seu Fusca azul e continuou a viver numa modesta chácara na periferia de Montevidéu.

O método Lula do riso na política e diplomacia - Andrea Jubé

Valor Econômico

Resta saber se tanta alegria irá sobreviver aos problemas domésticos

O riso era considerado uma arma poderosa na Idade Média. No enredo de “O nome da Rosa”, clássico de Umberto Eco, uma obra de Aristóteles sobre a comédia é guardada a sete-chaves na biblioteca de restrito acesso de um mosteiro beneditino na Itália, para que jamais fosse consultada ou manuseada. “O riso sacode o corpo, deforma as linhas do rosto, torna o homem semelhante ao macaco”, acusou em determinado trecho o abade Jorge, guardião do acervo e vilão da trama, que se passa no século XIV.

No livro, o monge franciscano Guilherme de Baskerville é chamado para investigar uma série de assassinatos de religiosos em pleno mosteiro, mortos após manusearem o livro proibido. Naqueles tempos, a Igreja Católica era hegemônica e impunha com rigor seus dogmas aos plebeus, sem brechas para questionamentos ou reflexão. A indisciplina era punida pela Inquisição.

A Tropicália libertadora de Tom Zé - José de Souza Martins*

Valor Econômico

A obra musical e poética desse grande e criativo compositor contém desafios poderosos porque é uma obra de insurgência contra o convencional

Na noite do mesmo dia em que recebi a biografia de Tom Zé, comecei a lê-la. Com voracidade. (“Tom Zé: Fiz meu berço na viração”, texto de Ivo Mineiro Teixeira, conversas com Tom Zé por Giuliana Simões e Flávio Desgranges, ed. Hucitec.) Sem poder parar. O livro desvenda a sonoridade do avesso que é o de nossa realidade e de nossa mentalidade conformista, da lógica de ocultação dos segredos sonoros e poéticos que nesse avesso há.

A biografia de Tom Zé é a da descoberta da oposição reveladora que há entre Salvador, a cidade, e o interior da Bahia, o sertão. Porque mundos de lógicas diferentes e antagônicas, cujo desencontro deixou em nossa história um monturo de resíduos sonoros estigmatizados e desprezados. O lixo da lógica.

A obra musical e poética desse grande e criativo compositor contém desafios poderosos porque obra de insurgência contra o convencional, contra o que mede o que só tem sentido se não for medido. O que não parece ser o que é.

Quem atira a primeira pedra? – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro quer mesmo a CPMI do INSS? E Lula, vai trazer especialista em censura da China?

Nem o presidente Lula nem seu antecessor Jair Bolsonaro têm o que comemorar numa semana de feriadão branco, em que as cúpulas dos três Poderes estavam fora do País e Câmara e Senado continuaram dormitando, mas as notícias não pararam de sair aos borbotões. Más notícias. E para ambos, ou criadas por ambos.

Lula se misturou ao que há de pior entre ditadores mundo afora na Rússia e estragou os êxitos na China ao derrapar no TikTok, no voluntarismo de Janja e na própria ideologia. Bolsonaro não resiste a novos áudios sobre a tentativa de golpe nem à notícia, documentada, de que as denúncias de corrupção contra aposentados e pensionistas do INSS vêm desde o seu governo, em 2020.

A trégua comercial e o Brasil - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Na Coluna desta quinta-feira foi dito que a trégua comercial entre Estados Unidos e China produziu algum alívio, mas não reduziu as incertezas e acrescentou outras. E isso tem impacto sobre a atividade econômica global e interna.

Convém agora conferir como fica a economia brasileira diante da nova ordem econômica, que vai sendo forjada, e do novo quadro comercial que tende a redesenhar o fluxo global de produção e distribuição.

Quando se apresentava apenas o efeito do tarifaço, com casca e tudo, tal como anunciado – sem os acordos individuais com cada país que vieram depois –, muitos analistas concluíram que o Brasil poderia aproveitar mercados que se estreitavam com a guerra comercial. Por exemplo, o Brasil poderia exportar mais grãos, carnes e petróleo para a China que se fecharia ao fornecimento para os Estados Unidos. Enfim, o tarifaço e o desmanche da ordem econômica mundial estariam criando novas oportunidades que poderiam ser aproveitadas pelo País.

Petróleo barato no Brasil petroleiro - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Cotação menor de commodities deve piorar um tanto mais perspectivas de receitas e rendas

Donald Trump disse que um acordo com o Irã está próximo. O que Trump diz se escreve na areia. É lavado e apagado quase a cada maré. Ainda assim, a possibilidade de que o Irã possa voltar oficialmente ao mercado de petróleo e exportar mais deu uma derrubada no preço do barril. Esse tipo de notícia interessa mais e mais à economia brasileira.

Opep voltou a aumentar oficialmente sua produção, além até do previsto (a ênfase no "oficialmente" se deve ao fato de que uma quantidade relevante de petróleo é vendida atrás dos panos). Prevê-se desaceleração grande da economia mundial neste ano.

Qual deve ser o papel de Janja? - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Episódio na China, com jeito de 'gossip' político, recoloca a discussão sobre função de maridos e mulheres de autoridade política

vazamento de um suposto constrangimento causado pela primeira-dama Janja da Silva em jantar com o líder chinês Xi Jinping acabou por expor um pouco do ambiente palaciano de desavenças e intrigas do governo Lula.

Não há novidade nesse jogo de rasteiras pelas costas, disputas e armadilhas no mundo do poder.

O episódio, até bastante ameno, desperta contudo algumas questões, a começar pela discussão sobre qual seria o papel público do "primeiro-cônjuge", digamos assim, já que mulheres casadas também exercem funções de liderança de governo e Estado, e o mesmo vale para o arco-íris de gêneros e orientações —só para citar um exemplo próximo, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, é gay assumido e casado.

Protagonismo de Janja, com apoio de Lula, não é só o de primeira-dama – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O contraponto é Michelle Bolsonaro, uma liderança evangélica, que pode vir a ser a candidata de Bolsonaro à Presidência, pois ele está inelegível

Mexeu com Janja, mexeu comigo. É mais ou menos esse o recado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ao sair em defesa da primeira-dama Janja Lula da Silva, no caso da conversa sobre a atuação do TikTok no Brasil durante o jantar de gala com o presidente da China, Xi Jinping, em Pequim. "Fui eu que fiz a pergunta. Eu perguntei ao companheiro Xi Jinping se era possível ele enviar para o Brasil uma pessoa da confiança dele para a gente discutir a questão digital, e sobretudo o TikTok. E aí a Janja pediu a palavra para explicar o que está acontecendo no Brasil, sobretudo contra as mulheres e contra as crianças", disse Lula.

A declaração irritada de Lula foi uma resposta a notícias de que Janja havia cometido uma grande gafe e criado constrangimento junto a Jinping, ao questionar a atuação do TikTok, um comportamento fora dos padrões do Itamaraty no cerimonial da diplomacia presidencial. A informação foi divulgada pela jornalista Andreia Sadi, da Globo News, e teve ampla repercussão. A resposta do presidente chinês foi de que o Brasil tem todo o direito de regulamentar o TikTok e até banir a rede social do país, se achar necessário.

O novo papa: Leão XIV - José Sarney*

Correio Braziliense

Leão XIV escolheu um grande desafio com um grande peso. Será que ele vai adiante? É difícil, mas não impossível

Está muito cedo para saber-se o que aconteceu nas quatro sessões que levaram os cardeais a escolher o cardeal Robert Prevost, americano e peruano, para tornar-se o papa Leão XIV. Ele adquiriu a nacionalidade peruana, uma vez que a legislação daquele país exige que todo o cidadão que esteja há mais de 10 anos ali se naturalize peruano. Só ele pode dizer se foi uma vontade pessoal e um amor que cresceu ou se apenas cumpriu uma exigência legal. O certo é que, de uma forma ou de outra, a legislação pode ter influenciado na sua escolha.

Poesia | Aos que hesitam - Bertolt Brecht (1898-1956)

 

Música | Carlos Lyra & Leila Pinheiro - Saudade fez um samba - Se é tarde me perdoa