quarta-feira, 30 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Maré favorável à ultradireita reflui com ‘efeito Trump’

O Globo

Vitória de liberais no Canadá depois de campanha antitrumpista traz inspiração a outros países

A vitória de Donald Trump no ano passado parecia prenunciar o avanço da ultradireita populista no mundo todo. Antes mesmo da posse, Elon Musk, arauto do trumpismo, não perdeu tempo para tentar influenciar eleições na Alemanha e pelo mundo. Parecia que as democracias seriam varridas pelo populismo da direita radical. Passados três meses, Trump começa a surtir o efeito oposto nas disputas eleitorais.

Nas eleições de segunda-feira no Canadá, Mark Carney liderou a vitória do Partido Liberal, de centro-esquerda, para mais um mandato — o quarto consecutivo. O fator determinante na campanha foi a bandeira anti-Trump. Se o estilo errático e caótico que impera na Casa Branca persistir, é bastante provável que outras eleições mundo afora tenham desfecho semelhante.

Em tempos de incerteza, os canadenses correram para a opção mais segura e sensata. Carney é um novato na política. Nunca concorrera a cargo eletivo. Assumiu o posto de primeiro-ministro em março, ao vencer a disputa no partido após a desistência do impopular Justin Trudeau. Sem carisma, com francês deficiente, tem um currículo em que se destacam dois postos de natureza técnica, a presidência dos bancos centrais de Canadá e Inglaterra. O conhecimento técnico e o estilo sereno, muitas vezes vistos como desvantagens em tempos de polarização, se converteram em atributos fundamentais para enfrentar o trumpismo.

STF se cansou de brigar sozinho - Vera Magalhães

O Globo

Ministros demonstram incômodo de se indispor com o Congresso enquanto governo, fraco, se omite

As conversas ainda mais incipientes para a construção de uma saída negociada para os condenados do 8 de Janeiro evidenciam que o Supremo Tribunal Federal (STF) se cansou de comprar todas as brigas políticas do Brasil enquanto o governo não consegue se articular minimamente para deixar de ser um mero coadjuvante nas mais prementes discussões da política nacional.

Depois de duelar por meses a fio com a cúpula do Congresso tentando disciplinar as emendas parlamentares, devolvendo alguma transparência ao Orçamento da União e alguma capacidade de o Executivo programar os gastos federais, estabeleceu-se neste primeiro semestre uma circunstância em que os ministros têm de brigar em duas frentes contra o golpismo.

Numa, o grupo mais duro em relação aos que perpetraram o ataque aos Três Poderes em janeiro de 2023 começou a ver ganhar corpo na sociedade a versão segundo a qual tudo não passou de arruaça ocasional de um bando composto por donas de casa, velhinhas desavisadas e outros iludidos, sem comando nem qualquer objetivo político a alcançar.

O paradoxo de Sobral Pinto - Elio Gaspari

O Globo

A História é mesquinha com quem condena. São comuns os julgamentos em que promotores e/ou magistrados encarceram réus acompanhando a vontade dos poderosos ou ainda o sentimento da opinião pública. Passa o tempo, e a poeira do tempo acaba os encobrindo. É o paradoxo da biografia do advogado Sobral Pinto (1893-1991). Todo mundo se lembra do campeão na defesa das liberdades públicas nas ditaduras do Estado Novo e de 1964. A poeira cobriu a memória do combativo promotor dos anos 20, que pedia cadeia para os tenentes insurretos. (Passados 40 anos, os tenentes viraram generais da última ditadura e continuavam o detestando.)

O Supremo Tribunal Federal condenou a 14 anos de prisão em regime fechado a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos. No dia 8 de janeiro de 2023 ela escreveu com batom “Perdeu Mané” na estátua da Justiça que enfeita a Praça dos Três Poderes. Houve algo de cenográfico na decisão. A maioria dos ministros acompanhou o voto de Alexandre de Moraes. Tudo bem, mas o mesmo Moraes havia concedido a Débora o benefício da prisão domiciliar.

Cassação na surdina Bernardo Mello Franco

O Globo

Acusado de assassinato, deputado perdeu mandato por excesso de faltas

Numa semana marcada por morte do Papa, escândalo do INSS e prisão de Fernando Collor, a notícia passou quase batida. Não deveria. Na quinta passada, a Câmara cassou o deputado Chiquinho Brazão. Ele é acusado de planejar a execução da vereadora Marielle Franco.

Brazão foi preso em março de 2024 e responde a processo por homicídio e organização criminosa no Supremo. O que surpreendeu em sua cassação foi o pretexto usado pela Câmara. Réu por assassinato, ele perdeu o mandato por excesso de faltas.

Federação e fusão de partidos miram o pós-Bolsonaro – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O ex-presidente da República, que ainda se recupera de complexa cirurgia no abdome, já é tratado como carta fora do baralho pelas lideranças desses partidos

Sepultado o projeto de anistia dos envolvidos no 8 de Janeiro de 2023 pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), o PP e o União Brasil, e o PSDB e o Podemos se movimentam para ocupar o espaço vazio na centro-direita, deixado pela inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, que convalesce ainda de uma grave cirurgia e está impedido de disputar as próximas eleições pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mesmo que não venha a ser condenado no processo no qual é acusado de tentativa de golpe de Estado — além de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado —, Bolsonaro já é tratado como carta fora do baralho pelas principais lideranças desses partidos.

Aliança rumo a direita - Lauriberto Pompeu

O Globo

Maior grupo partidário do país, federação União-PP é lançada com gestos à oposição e desafia o governo Lula

Alguns dos principais políticos recém-reunidos emitiram sinal de distância cada vez maior do petista para 2026, embora as siglas contem com quatro ministérios

O anúncio da federação União-PP foi marcado na terça-feira pelo gesto de aproximação da nova agremiação à direita e ao ex-presidente Jair Bolsonaro, no momento em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta dificuldades para organizar a base e negociar sua agenda no Legislativo. Maior força do Congresso, com 109 deputados e 14 senadores, bem como em número de prefeitos (1.330) e governadores (6), o grupo divulgou um manifesto político no qual defende “um choque de prosperidade” e menos intervenção do Estado na economia — governos do PT são, constantemente, alvos de críticas pelo tamanho da máquina pública e o papel conferido ao Estado como indutor do desenvolvimento.

Alguns dos principais políticos da federação emitiram sinal de que o grupo está cada vez mais distante de Lula para 2026 e mais próximo da oposição, embora conte com quatro ministérios. Pelo governo, compareceram os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esportes), indicados por União e PP.

Viagem no tempo rumo à estreia do ‘Valor’ - Fernando Exman*

Valor Econômico

Manchete do jornal de 2 de maio de 2000 serviu de cartão de visita para que qualquer governo passasse a compreender que a partir de então a imprensa nacional teria um veículo com olhar atento para as contas públicas

Dizem os especialistas na teoria da relatividade que pode até ser possível viajar para o futuro, mas praticamente inviável teletransportar algo ou alguém em direção ao passado. Às vésperas do 25º aniversário deste jornal, pode-se apelar para uma licença poética e discordar da ciência neste caso. Revisitar a primeira edição do Valor contraria a tese de Albert Einstein e seus discípulos.

São de arrepiar alguns relatos de integrantes da equipe pioneira, quando foi anunciado que a sucursal de Brasília emplacara a primeira manchete do jornal: “Carga fiscal recorde só reforça caixa da União”.

Abaixo do título em letras garrafais, o texto da principal matéria da edição de 2 de maio de 2000 detalha os efeitos do ajuste fiscal realizado no país, com elevação da carga tributária para um nível recorde e concentração da maior parcela das receitas obtidas com impostos e contribuições nas mãos do governo central, em prejuízo de Estados e municípios. A matéria mostra, também, como esse esforço se deu por meio da cobrança de taxas de má qualidade, as quais passaram a incidir em cascata sobre a produção.

Vai começar a batalha de R$ 30,9 bilhões - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Ressarcimento aos aposentados lesados no escândalo do INSS é só uma das despesas que precisam ser encaixadas no orçamento deste ano

Nos próximos dias, será travada nos bastidores do governo uma batalha de R$ 30,9 bilhões. O governo divulgará, no dia 22, as novas projeções para receitas e despesas deste ano e, por consequência, o valor dos gastos que precisarão ser congelados para alcançar a meta fiscal do ano, o déficit zero. E aí está a disputa: mirar no zero ou mirar na parte de baixo da margem de tolerância, R$ 30,9 bilhões abaixo?

A primeira opção serviria para fortalecer o compromisso do governo com o arcabouço fiscal. A segunda evitaria cortes impopulares nas despesas e atenderia outra frente de batalha do governo: a baixa popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se disse “candidatíssimo” à reeleição.

Por que os EUA perderão para a China - Martin Wolf*

Valor Econômico

A China também tem cartas poderosas na manga

O “dia da libertação” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com suas supostas “tarifas recíprocas” contra o resto do mundo - possivelmente as propostas de política comercial mais excêntricas já feitas), tornou-se, depois de um recuo precipitado diante do fogo cerrado dos mercados, uma guerra comercial contra a China. Isso pode (ou não) ter sido o que se pretendia desde o início. Então, será que Trump conseguirá vencer? Mais do que isso, os EUA, como são agora, depois da segunda chegada de Trump à Casa Branca, podem ter a esperança de triunfar em sua rivalidade mais geral com a China? A resposta, nos dois casos, é “não”. E não porque a China seja invencível, longe disso. Mas porque os EUA estão jogando fora todos os ativos de que precisam para manter seu status no mundo contra uma potência tão enorme, capaz e determinada quanto a China.

Anistia não, reduzir pena sim - Antonio Cláudio Mariz de Oliveira

O Estado de S. Paulo

Qual a razão pela qual a sociedade brasileira deverá apagar essa conduta vil e repelente de sua história?

A Constituição federal prevê intervenções dos Poderes Executivo e Legislativo na configuração de três institutos nela consagrados que têm por escopo minimizar o rigor e as agruras do processo penal e das decisões proferidas pelo Poder Judiciário.

A doutrina considera a anistia, a graça e o indulto como atos de indulgência, que extinguem a punibilidade daquele que responde a um processo ou já sofreu condenação.

O Estado renuncia ao seu direito-dever de punir.

O destino do inquérito das fake news - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Investigação do fim do mundo completa seis anos e vira ‘botão de segurança’ do STF

Na madrugada de 14 de março, quando uma “lua de sangue” aparecia no céu com o eclipse total e bolsonaristas ampliavam a ofensiva por anistia, o inquérito das fake news completava seis anos. Desde 2019 tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF), a investigação que ficou conhecida como “inquérito do fim do mundo” foi prorrogada até junho, mas a verdade é que não tem data para acabar. Na prática, virou uma espécie de “botão de segurança” da Corte.

Sob a batuta do ministro Alexandre de Moraes, também relator da ação envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros réus por tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, a investigação tem um foco amplo, geral e irrestrito. Foi aberta por Dias Toffoli, então presidente do STF, para apurar notícias falsas, ofensas e ameaças aos magistrados e à própria democracia.

Desastre econômico e fuga de aliados - Andrés Oppenheimer

O Estado de S. Paulo

Não será fácil restaurar a credibilidade dos EUA após 100 dias de governo errático

O presidente Donald Trump, que prometeu consertar a economia e alcançar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia no primeiro dia da presidência, completa 100 dias no cargo e até mesmo alguns de seus apoiadores mais ativos admitem que seu segundo mandato tem sido um desastre.

O índice de ações S&P 500 caiu 10% nesses primeiros três meses, o pior declínio no período de qualquer presidente dos EUA desde a Grande Depressão, de acordo com o Dow Jones Market Data. As tarifas sobre países amigos e hostis, que o presidente foi forçado a reverter parcialmente, diante de uma onda de críticas, levaram o FMI a prever uma desaceleração econômica global. O FMI agora projeta que o crescimento econômico global cairá de 3,3% para 2,8% este ano.

No escuro com Trump - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Empresas nos EUA deixaram de fazer novas projeções em função das incertezas com o tarifaço

Nem chegou à metade, e a temporada de balanços do primeiro trimestre deste ano das empresas nos Estados Unidos já causou um choque entre os analistas – não pelos lucros ou vendas registrados no período, mas, sim, pelo crescente número de empresas que se recusaram a fazer projeções sobre os seus resultados nos próximos trimestres.

É o que se chama de “guidance”, ou seja, as estimativas para o ano inteiro de métricas, como receitas e indicadores operacionais, que são habitualmente divulgadas com os resultados do trimestre recém-apurado. Muitas vezes, são as estimativas, mais do que os resultados concretos do período em questão, que influenciam o comportamento dos investidores, correndo para comprar ou, se decepcionados, para desovar as ações de uma empresa.

Jogo sujo da CBF e da Nike - Mariliz Pereira Jorge

Folha de S. Paulo

Parceria segue invicta, enquanto a seleção e o país continuam a tomar de lavada

A notícia é que a CBF e a Nike devem lançar uma camisa vermelha para a seleção. A cor divide mesas de bar, famílias e timelines desde que virou sinônimo de comunismo, feminismo, gayzismo e outras palavras que a histeria aprendeu a gritar sem entender o que significa. Claro que causou alvoroço. Os patriotas do amarelo se sentem traídos. Os progressistas da Santa Cecília acham revolucionário. A CBF faz o que sabe: capitaliza.

O novo uniforme não é um gesto político, é uma planilha de Excel com costura. Não é homenagem aos povos indígenas ou qualquer outro banho de marketing com cara de conscientização social. Tampouco um manifesto contra o sequestro da identidade de um povo. A tonalidade é nova, o truque é velho: lança-se a polêmica, finge-se ousadia, alimenta-se a polarização —e assiste-se à mágica do engajamento virar lucro. De preferência, em três vezes sem juros.

Trump perde eleição no '51º estado' - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Desfeitas de presidente americano ao Canadá revertem desvantagem do Partido Liberal, que conquista seu quarto mandato

Donald Trump queria transformar o Canadá no 51° estado americano, mas o que conseguiu foi dar sobrevida ao Partido Liberal (PLC) daquele país, que, até a chegada do agente laranja ao poder, parecia fadado a uma derrota eleitoral histórica.

Nas pesquisas de janeiro deste ano, os conservadores abriam mais de 20 pontos percentuais de vantagem sobre os liberais. É verdade que muito da impopularidade se devia ao desgaste pessoal do então premiê Justin Trudeau, que sofria da fadiga de material de quase dez anos no poder.

Bolsonaro aposta na morbidez e gera repulsa - Wilsom Gomes

Folha de S. Paulo

A exibição do próprio corpo mutilado transforma sofrimento em espetáculo repulsivo

Que Bolsonaro é um personagem que se representa em dois registros performáticos, alternados conforme a conveniência, é algo que venho afirmando há anos. Há, de um lado, o modo valentão, arruaceiro, irreverente e afrontoso, que serve bem ao vitalismo de quem aprecia líderes autoritários, fortes e que se impõem. Mas há também a chave oposta: a do coitadinho, da vítima, do perseguido e do sofredor, que exige comoção e compaixão —acompanhadas, naturalmente, de um sentimento de revolta contra quem lhe teria infligido tamanha injustiça.

Os dois modos se sucedem em circuito contínuo, sempre nesta sequência: primeiro, a bravata, o insulto, a ameaça expelida em nuvens de perdigotos, a exibição da coragem viril; depois, caso algo dê errado, o ator troca a máscara e reaparece coberto de dores e tormentos, lágrimas nos olhos ou expressão resignada, clamando por solidariedade dos seus diante do cerco de inimigos implacáveis.

Afrouxem os cintos, a reforma sumiu - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

As anunciadas trocas de ministros parecem ter caído no limbo das incertezas governamentais

Não faz muito tempo porta-vozes governistas diziam haver dois remédios para a crise de popularidade: melhorar a comunicação e dar um trato no visual do ministério.

A primeira medicação (placebo?) segue sendo aplicada à espera da recuperação do paciente, mas a segunda parece suspensa. Se temporária ou definitivamente, as circunstâncias vão se encarregar de nos informar.

Qual a saída? - Ivan Alves Filho*

Diariamente - ou quase -, a imprensa brasileira vem estampando escândalos econômicos de toda natureza. Isso é muito preocupante. Para as finanças públicas, naturalmente; mas, também, para a política e a ética. A associação com episódios de corrupção anteriores é quase automática e atinge em cheio o governo Lula. Com pouco mais de dois anos de existência, o governo caminha melancolicamente para o fim. Infelizmente, eu escrevi, quando da montagem ainda do seu gabinete ministerial, em 2022, que Lula da Silva não tinha projeto de nação e sequer projeto de governo. Possuía somente um projeto de poder pessoal. E que sua gestão não tinha como dar certo. Sempre foi assim, isto é, a busca pela perpetuação pura e simples no poder. Só que agora a fórmula está esgotada. 

Poesia | Sempre a mesma primavera, de Pablo Neruda

 

Música | Nada Mais (Lately) | João Fênix e Ney Matogrosso