segunda-feira, 16 de junho de 2025

Opinião do dia - Antonio Gramsci* (Partido Político)

"Será necessária a ação política (em sentido estrito) para que se possa falar de "partido político"? Pode-se observar que no mundo moderno, em muitos países, os partidos orgânicos e fundamentais, por necessidade de luta ou por alguma outra razão, dividiram-se em frações, cada uma das quais assume o nome de partido e, inclusive, de partido independente. Por isso, muitas vezes o Estado-Maior intelectual do partido orgânico não pertence a nenhuma dessas frações, mas opera como se fosse uma força dirigente em si mesma, superior aos partidos e às vezes reconhecida como tal pelo público. Esta função pode ser estudada com maior precisão se se parte do ponto de vista de que de um jornal (ou um grupo de jornais), uma revista (ou um grupo de revistas) são também "partidos", "frações de partido" ou "funções de determinados partidos",

*Antonio Gramsci(1891-1937), Cadernos do Cárcere, V. 3, p. 349, Civilização Brasileira, 2007

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

SUS precisa passar por choque de gestão

O Globo

Mesmo que haja falta de recursos, isso não justifica o desperdício crônico que aflige sistema

O Sistema Único de Saúde (SUS), criado dois anos depois da Constituição de 1988, tem por objetivo, expresso na Carta, garantir o acesso à saúde como direito universal. Até hoje, 35 anos depois, esse objetivo não é cumprido. O SUS apresenta problemas crônicos de gestão, normalmente justificados com base na falta de recursos. Durante todo esse tempo, os governos fracassaram diante da evidente necessidade de um choque de gestão.

Mesmo numa área em que o SUS se destacava — a vacinação —, o desperdício tem sido flagrante. Entre 2023 e 2024, o prejuízo com lotes de vacinas que perderam a validade somou R$ 1,75 bilhão. “O Brasil ainda sofre resquícios da desorganização no Programa Nacional de Imunizações na gestão passada”, disse ao GLOBO Tânia Coelho, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Pode até ser. Mas as evidências sugerem que o desperdício no SUS é uma doença crônica, não uma afecção aguda adquirida neste ou naquele governo.

Terremoto partidário - Jairo Nicolau*

Folha de S. Paulo

[RESUMO] Desde 2017, com a aprovação de sucessivas mudanças na legislação eleitoral, um turbilhão vem varrendo o sistema partidário brasileiro. Novas regras, como a cláusula de desempenho e o fim das coligações, afetaram duramente os partidos pequenos, levando a uma onda de fusões, federações ou mesmo desaparecimento de siglas. Em consequência, menos partidos têm conquistado representação na Câmara e no Senado, diminuindo a fragmentação do Legislativo no Brasil, que já foi a maior do mundo.

Acompanhar o turbilhão de transformações do quadro partidário brasileiro na última década não é uma tarefa fácil. Poucos jornalistas ou cientistas políticos conseguiram descrever, com segurança, as mudanças recentes, tamanha a velocidade que apresentaram.

A partir de 2017, 13 partidos mudaram de nome, cinco desapareceram por terem sido incorporados por outros, e duas novas legendas (União e PRD) foram criadas a partir de fusões. De forma geral, o Brasil, que chegou a 35 legendas distintas em 2015, deve passar agora a 24.

O PTB, que já abrigou Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, foi um desses partidos com fim melancólico, ao se fundir com o Patriota para formar o PRD (Partido da Renovação Democrática), em 2023.

Estão em curso uma atribulada e ainda incerta fusão de PSDB e Podemos e uma federação entre União e PP.

O PSDB talvez seja o caso mais impressionante de declínio de um partido na história do Brasil. Durante três décadas, foi um protagonista das eleições presidenciais (com duas vitórias de Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998, e a disputa do segundo turno nas quatro eleições seguintes).

Além disso, elegeu bancadas significativas no Congresso e conquistou um número expressivo de prefeituras e governos de estado. O símbolo disso era São Paulo, onde o partido elegeu o governador sete vezes seguidas entre 1994 e 2018.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, uma das principais lideranças tucanas, deixou o partido em maio deste ano para se filiar ao PSD. A governadora de Pernambuco, Raquel Lyrafez o mesmo movimento em fevereiro.

O PSDB, que chegou a eleger 99 deputados federais em 1998, tem atualmente apenas 13, uma bancada menor que a do Podemos (15 deputados).

O congresso e as eleições de 2026 - Marcus André Melo*

Folha de S. Paulo

Em um cenário de reeleição, as condições de governabilidade seriam críticas, e acentuariam as patologias atuais

As defecções no âmbito da coalizão de governo e a fragmentação da centro-direita e da direita radical, há pouco mais de um ano para as eleições presidenciais, tem sido o foco das atenções. Para além dos fatores que levam às defecções —o declínio da popularidade presidencial e da avaliação de governo— há questões relativas à influência do controle massivo daquele campo político sobre o Congresso e no nível subnacional, e como esse controle impacta a eleição presidencial.

Os efeitos das eleições em um nível —presidencial— sobre os demais, e vice-versa, é tema clássico da ciência política (coattails effects, no jargão). No Brasil, a eleição de um prefeito impacta a subsequente eleição de deputados federais do mesmo partido no município em aumento da ordem de 30%, em estimativa de Avelino et al. Neste caso é um coattail inverso, discutido aqui.

Trump e Musk põem ideia de progresso em xeque – Fernando Gabeira

O Globo

Avanço científico não significou amadurecimento emocional. Pelo contrário, passa sensação de que estamos regredindo

O homem mais rico do mundo, Elon Musk, entrou em choque com o homem mais poderoso do mundo, Donald Trump. Uma semana depois, fizeram as pazes. Mais que o conteúdo da divergência, interessa perguntar que mundo é este, em que são simultaneamente o mais rico e o mais poderoso.

É um mundo tecnológico e cientificamente sem paralelo na História da humanidade. Eles discordam do ritmo da conquista de Marte. Ambos dispõem de redes sociais próprias e nelas se comunicam com milhões com um movimento de dedos.

Golpistas de 1964 eram mais inteligentes – Miguel de Almeida

O Globo

Seria impossível a Castello Branco emular qualquer pensamento à luz da lógica reversa presente na oratória de Bolsonaro

Fico feliz de o general Augusto Heleno não ter presenteado Bolsonaro com “A máquina do golpe”, de Heloisa Starling. Nada garante que o enredo narrado pela historiadora fosse compreendido ou assimilado. Lá estão os passos dados pela oposição na criação de um clima propício à quartelada que resultou na ditadura militar.

Vamos partir das palavras e cobranças para a ação? - Bruno Carazza

Valor Econômico

Se houver real intenção para fazer um ajuste fiscal estrutural ainda neste mandato, não faltam propostas

Um estrangeiro desavisado que observasse o noticiário político-econômico brasileiro na semana passada poderia ser levado a acreditar que haveria no país um pacto multipartidário para superar a crise fiscal.

Logo na segunda-feira, em evento organizado pelo Valor, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), conclamou diversos grupos sociais a darem a sua cota de colaboração: “A situação do país é grave e é preciso ter responsabilidade. Ninguém quer abrir mão de nada: quem está ganhando acima do teto quer continuar ganhando, o parlamentar não quer corte de emenda, o governo não quer discutir determinado assunto porque desagrada a sua base. Tem que tratar as coisas com responsabilidade”, criticou.

Gleisi diz que se Congresso derrubar pacote emendas serão afetadas: ‘bate aqui, bate lá’

Por Sofia Aguiar, Renan Truffi e Fernando Exman / Valor Econômico

Ministra diz que fará novas reuniões com lideranças do Congresso sobre corte de despesas

Com a responsabilidade de resolver um dos maiores impasses do governo Lula nesta terceira gestão, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), está adotando uma postura pragmática quanto às negociações em torno do novo pacote fiscal. O governo, diz ela, vai tentar demover os parlamentares de derrubarem as medidas, mas alerta: se os congressistas insistirem nesse caminho, o resultado vai afetar também as emendas do Legislativo porque um novo contingenciamento e bloqueio das contas públicas será inevitável: “Bate aqui e bate lá”.

Gleisi recebeu o Valor para uma conversa sobre o cenário conturbado vivido pelo Planalto nos últimos dias. Apesar da situação, a ministra avalia que o Executivo acerta nas propostas e faz acenos ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que era alvo frequente de suas críticas enquanto presidente do PT.

De acordo com ela, o governo fará novas reuniões com lideranças do Congresso para avançar nas discussões sobre corte de despesas. Por outro lado, descarta qualquer alteração nos pisos de saúde e educação e na desvinculação dos benefícios previdenciários e assistenciais do salário mínimo.

Sobre as críticas de que o governo precisa ir além do aumento da arrecadação, Gleisi rebate e pede que tais partidos proponham um texto nesse sentido. “Ninguém quer votar medida impopular. Da esquerda à direita. Ninguém quer pôr o dedo na castanha quente”, disse.

De olho no cenário eleitoral de 2026, a titular da articulação política acredita que Lula “chegará bem” ao pleito, mesmo sob queda de aprovação da gestão petista. Porém, para ela, o chefe do Executivo federal tem que viajar mais pelo Brasil como forma de promover o governo.

A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:

Israel e a dominação do Hamas - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

Se a ação militar de Israel em Gaza seguir restrita ao uso da força, corre o risco de perder a batalha pela mente da população e de setores importantes da opinião pública

Um dos aspectos críticos da ofensiva israelense em Gaza tem consistido na ausência de trabalho junto da população civil, aprisionada, em certo sentido, entre o Hamas e as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), embora fosse até agora um sustentáculo do grupo terrorista. Israel já derrotou militarmente o Hamas, mas nada fez para anular seu domínio sobre a população civil, que continuou a ser capturada e dominada por ele. Conquistava territórios e, depois, os abandonava, como se o seu trabalho estivesse concluído.

A falsa negociação - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Possível jogo de cena com Israel revela nova tática improvável de Donald Trump

Nos últimos meses, Donald Trump vem apresentando ao mundo seu pequeno manual de técnicas improváveis de negociação. Uma delas é criar o caos para colher concessões. A outra é colocar as exigências em um patamar elevadíssimo, apenas para recuar em seguida. Tal comportamento foi sintetizado em uma sigla, TACO, que em inglês significa algo como “Trump sempre amarela”. “Isso se chama negociação”, respondeu o presidente americano quando perguntado sobre a expressão que virou meme.

A difícil decisão de Trump no Oriente Médio - Oliver Stuenkel*

O Estado de S. Paulo

Fantasma de décadas volta a rondar: o Oriente Médio distrai os EUA de seu ‘grande jogo’ na Ásia

Se fosse necessário apontar o maior erro de política externa cometido pelos EUA nas últimas décadas, seria o excesso de recursos e energia dedicado ao Oriente Médio – simbolizado pela desastrosa invasão do Iraque em 2003. A guerra não apenas desestabilizou toda a região e negativamente afetou a reputação dos EUA no mundo, mas também desviou a atenção de Washington do que realmente representa seu principal desafio estratégico: o deslocamento do poder global em direção à Ásia e a ascensão da China.

Mais um capítulo do ajuste econômico – Luiz Carlos Trabuco Cappi

O Estado de S. Paulo

A reconquista do grau de investimento das agências de classificação de risco é o alvo

Os debates a respeito da estabilidade fiscal construíram oportunidade histórica para mudar o Brasil de patamar. Na linha do tempo, quando superamos o problema da dívida externa, vencemos as crises cambiais e derrotamos a hiperinflação, endereçamos a esperança de uma economia mais estável, previsível e de crescimento com desenvolvimento social. No entanto, faltou consolidar medidas para garantir a solidez das contas públicas, o que pode ser feito agora.

Medidas estruturantes são mais difíceis, mas são elas que vão permitir finanças públicas saudáveis e duradouras. Os debates acirrados em torno da proposta de solução das contas públicas no curto prazo, para este e o próximo ano, permitiram o amadurecimento da noção de que é preciso olhar além das medidas temporárias e emergenciais.

O corporativismo legislativo e a irredutibilidade das bancadas estaduais - Lara Mesquita*

Folha de S. Paulo

Projeto que aumenta número de deputados abre espaço para distorções indesejáveis

O prazo para que o Congresso legisle sobre uma regra clara para a redistribuição proporcional das cadeiras da Câmara dos Deputados se encerra no dia 30 de junho. Pressionados pelo calendário, senadores apresentaram pedido de urgência para a apreciação do PLP 177/2023 e pretendem votá-lo ainda nesta semana.

O projeto, já aprovado pela Câmara no início de maio, define que a distribuição das vagas entre os estados deve seguir o método das maiores médias, já utilizado no sistema eleitoral brasileiro, respeitados os limites constitucionais de, no mínimo, 8 e, no máximo, 70 deputados por estado. Mais do que isso, propõe que a redistribuição só ocorra após o próximo censo demográfico, previsto para 2030, e aumenta em 18 o número total de cadeiras para a Câmara dos Deputados a partir da eleição de 2026.

Poesia | Correm turvas as águas deste Rio, de Luís Vaz de Camões

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Música | Elba Ramalho, Geraldo Azevedo - Petrolina-Juazeiro