*Antonio Gramsci(1891-1937), Cadernos do
Cárcere, V. 3, p. 349, Civilização Brasileira, 2007
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
segunda-feira, 16 de junho de 2025
Opinião do dia - Antonio Gramsci* (Partido Político)
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
SUS precisa passar por choque de gestão
O Globo
Mesmo que haja falta de recursos, isso não
justifica o desperdício crônico que aflige sistema
O Sistema Único de Saúde (SUS), criado dois
anos depois da Constituição de 1988, tem por objetivo, expresso na Carta,
garantir o acesso à saúde como direito universal. Até hoje, 35 anos depois,
esse objetivo não é cumprido. O SUS apresenta problemas crônicos de gestão,
normalmente justificados com base na falta de recursos. Durante todo esse
tempo, os governos fracassaram diante da evidente necessidade de um choque de
gestão.
Mesmo numa área em que o SUS se destacava — a vacinação —, o desperdício tem sido flagrante. Entre 2023 e 2024, o prejuízo com lotes de vacinas que perderam a validade somou R$ 1,75 bilhão. “O Brasil ainda sofre resquícios da desorganização no Programa Nacional de Imunizações na gestão passada”, disse ao GLOBO Tânia Coelho, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Pode até ser. Mas as evidências sugerem que o desperdício no SUS é uma doença crônica, não uma afecção aguda adquirida neste ou naquele governo.
Terremoto partidário - Jairo Nicolau*
Folha de S. Paulo
[RESUMO] Desde 2017, com a aprovação de
sucessivas mudanças na legislação eleitoral, um turbilhão vem varrendo o
sistema partidário brasileiro. Novas regras, como a cláusula de desempenho e o
fim das coligações, afetaram duramente os partidos pequenos, levando a uma onda
de fusões, federações ou mesmo desaparecimento de siglas. Em consequência,
menos partidos têm conquistado representação na Câmara e no Senado, diminuindo
a fragmentação do Legislativo no Brasil, que já foi a maior do mundo.
Acompanhar o turbilhão de transformações
do quadro
partidário brasileiro na última década não é uma tarefa fácil. Poucos
jornalistas ou cientistas políticos conseguiram descrever, com segurança, as
mudanças recentes, tamanha a velocidade que apresentaram.
A partir de 2017, 13 partidos mudaram de
nome, cinco desapareceram por terem sido incorporados por outros, e duas novas
legendas (União e PRD) foram criadas a partir de fusões. De forma geral, o
Brasil, que chegou a 35 legendas distintas em 2015, deve passar agora a 24.
O PTB, que já abrigou Getúlio
Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, foi
um desses partidos com fim melancólico, ao se fundir com o Patriota para
formar o PRD (Partido da Renovação Democrática), em 2023.
Estão em curso uma atribulada e ainda incerta
fusão de PSDB e Podemos e uma federação entre União e PP.
O
PSDB talvez seja o caso mais impressionante de declínio de um partido na
história do Brasil. Durante três décadas, foi um protagonista das eleições
presidenciais (com duas vitórias de Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998,
e a disputa do segundo turno nas quatro eleições seguintes).
Além disso, elegeu bancadas significativas no
Congresso e conquistou um número expressivo de prefeituras e governos de
estado. O símbolo disso era São Paulo, onde o partido elegeu o governador sete
vezes seguidas entre 1994 e 2018.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo
Leite, uma das principais lideranças tucanas, deixou
o partido em maio deste ano para se filiar ao PSD. A governadora de
Pernambuco, Raquel Lyra, fez
o mesmo movimento em fevereiro.
O PSDB, que chegou a eleger 99 deputados federais em 1998, tem atualmente apenas 13, uma bancada menor que a do Podemos (15 deputados).
O congresso e as eleições de 2026 - Marcus André Melo*
Folha de S. Paulo
Em um cenário de reeleição, as condições de
governabilidade seriam críticas, e acentuariam as patologias atuais
As defecções no âmbito da coalizão de governo
e a fragmentação
da centro-direita e da direita radical, há pouco mais de um ano para
as eleições presidenciais, tem sido o foco das atenções. Para além dos fatores
que levam às defecções —o
declínio da popularidade presidencial e da avaliação de governo—
há questões relativas à influência do controle massivo daquele campo político
sobre o Congresso e no nível subnacional, e como esse controle impacta a
eleição presidencial.
Os efeitos das eleições em um nível —presidencial— sobre os demais, e vice-versa, é tema clássico da ciência política (coattails effects, no jargão). No Brasil, a eleição de um prefeito impacta a subsequente eleição de deputados federais do mesmo partido no município em aumento da ordem de 30%, em estimativa de Avelino et al. Neste caso é um coattail inverso, discutido aqui.
Trump e Musk põem ideia de progresso em xeque – Fernando Gabeira
O Globo
Avanço científico não significou
amadurecimento emocional. Pelo contrário, passa sensação de que estamos
regredindo
O homem mais rico do mundo, Elon Musk, entrou
em choque com o homem mais poderoso do mundo, Donald Trump.
Uma semana depois, fizeram as pazes. Mais que o conteúdo da divergência,
interessa perguntar que mundo é este, em que são simultaneamente o mais rico e
o mais poderoso.
É um mundo tecnológico e cientificamente sem paralelo na História da humanidade. Eles discordam do ritmo da conquista de Marte. Ambos dispõem de redes sociais próprias e nelas se comunicam com milhões com um movimento de dedos.
Golpistas de 1964 eram mais inteligentes – Miguel de Almeida
O Globo
Seria impossível a Castello Branco emular
qualquer pensamento à luz da lógica reversa presente na oratória de Bolsonaro
Fico feliz de o general Augusto Heleno não ter presenteado Bolsonaro com “A máquina do golpe”, de Heloisa Starling. Nada garante que o enredo narrado pela historiadora fosse compreendido ou assimilado. Lá estão os passos dados pela oposição na criação de um clima propício à quartelada que resultou na ditadura militar.
Vamos partir das palavras e cobranças para a ação? - Bruno Carazza
Valor Econômico
Se houver real intenção para fazer um ajuste
fiscal estrutural ainda neste mandato, não faltam propostas
Um estrangeiro desavisado que observasse o
noticiário político-econômico brasileiro na semana passada poderia ser levado a
acreditar que haveria no país um pacto multipartidário para superar a crise
fiscal.
Logo na segunda-feira, em evento organizado pelo Valor, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), conclamou diversos grupos sociais a darem a sua cota de colaboração: “A situação do país é grave e é preciso ter responsabilidade. Ninguém quer abrir mão de nada: quem está ganhando acima do teto quer continuar ganhando, o parlamentar não quer corte de emenda, o governo não quer discutir determinado assunto porque desagrada a sua base. Tem que tratar as coisas com responsabilidade”, criticou.
Gleisi diz que se Congresso derrubar pacote emendas serão afetadas: ‘bate aqui, bate lá’
Por Sofia Aguiar, Renan Truffi e Fernando Exman / Valor Econômico
Ministra diz que fará novas reuniões com
lideranças do Congresso sobre corte de despesas
Com a responsabilidade de
resolver um dos maiores impasses do governo Lula nesta terceira gestão, a
ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), está adotando uma
postura pragmática quanto às negociações em torno do novo pacote fiscal. O governo,
diz ela, vai tentar demover os parlamentares de derrubarem as medidas, mas
alerta: se os congressistas insistirem nesse caminho, o resultado vai afetar
também as emendas do Legislativo porque um novo contingenciamento e bloqueio
das contas públicas será inevitável: “Bate aqui e bate lá”.
Gleisi
recebeu o Valor para
uma conversa sobre o cenário conturbado vivido pelo Planalto nos últimos dias.
Apesar da situação, a ministra avalia que o Executivo acerta nas propostas e
faz acenos ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que era alvo frequente de
suas críticas enquanto presidente do PT.
De acordo com ela, o governo fará novas reuniões com lideranças do
Congresso para avançar nas discussões sobre corte de despesas. Por outro lado,
descarta qualquer alteração nos pisos de saúde e educação e na desvinculação
dos benefícios previdenciários e assistenciais do salário mínimo.
Sobre
as críticas de que o governo precisa ir além do aumento da arrecadação, Gleisi
rebate e pede que tais partidos proponham um texto nesse sentido. “Ninguém quer
votar medida impopular. Da esquerda à direita. Ninguém quer pôr o dedo na
castanha quente”, disse.
De olho
no cenário eleitoral de 2026, a titular da articulação política acredita que
Lula “chegará bem” ao pleito, mesmo sob queda de aprovação da gestão petista.
Porém, para ela, o chefe do Executivo federal tem que viajar mais pelo Brasil
como forma de promover o governo.
A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:
Israel e a dominação do Hamas - Denis Lerrer Rosenfield
O Estado de S. Paulo
Se a ação militar de Israel em Gaza seguir restrita ao uso da força, corre o risco de perder a batalha pela mente da população e de setores importantes da opinião pública
Um dos aspectos críticos da ofensiva israelense em Gaza tem consistido na ausência de trabalho junto da população civil, aprisionada, em certo sentido, entre o Hamas e as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), embora fosse até agora um sustentáculo do grupo terrorista. Israel já derrotou militarmente o Hamas, mas nada fez para anular seu domínio sobre a população civil, que continuou a ser capturada e dominada por ele. Conquistava territórios e, depois, os abandonava, como se o seu trabalho estivesse concluído.
A falsa negociação - Diogo Schelp
O Estado de S. Paulo
Possível jogo de cena com Israel revela nova tática improvável de Donald Trump
Nos últimos meses, Donald Trump vem apresentando ao mundo seu pequeno manual de técnicas improváveis de negociação. Uma delas é criar o caos para colher concessões. A outra é colocar as exigências em um patamar elevadíssimo, apenas para recuar em seguida. Tal comportamento foi sintetizado em uma sigla, TACO, que em inglês significa algo como “Trump sempre amarela”. “Isso se chama negociação”, respondeu o presidente americano quando perguntado sobre a expressão que virou meme.
A difícil decisão de Trump no Oriente Médio - Oliver Stuenkel*
O Estado de S. Paulo
Fantasma de décadas volta a rondar: o Oriente
Médio distrai os EUA de seu ‘grande jogo’ na Ásia
Se fosse necessário apontar o maior erro de política externa cometido pelos EUA nas últimas décadas, seria o excesso de recursos e energia dedicado ao Oriente Médio – simbolizado pela desastrosa invasão do Iraque em 2003. A guerra não apenas desestabilizou toda a região e negativamente afetou a reputação dos EUA no mundo, mas também desviou a atenção de Washington do que realmente representa seu principal desafio estratégico: o deslocamento do poder global em direção à Ásia e a ascensão da China.
Mais um capítulo do ajuste econômico – Luiz Carlos Trabuco Cappi
O Estado de S. Paulo
A reconquista do grau de investimento das agências de classificação de risco é o alvo
Os debates a respeito da estabilidade fiscal
construíram oportunidade histórica para mudar o Brasil de patamar. Na linha do
tempo, quando superamos o problema da dívida externa, vencemos as crises
cambiais e derrotamos a hiperinflação, endereçamos a esperança de uma economia
mais estável, previsível e de crescimento com desenvolvimento social. No
entanto, faltou consolidar medidas para garantir a solidez das contas públicas,
o que pode ser feito agora.
Medidas estruturantes são mais difíceis, mas são elas que vão permitir finanças públicas saudáveis e duradouras. Os debates acirrados em torno da proposta de solução das contas públicas no curto prazo, para este e o próximo ano, permitiram o amadurecimento da noção de que é preciso olhar além das medidas temporárias e emergenciais.
O corporativismo legislativo e a irredutibilidade das bancadas estaduais - Lara Mesquita*
Folha de S. Paulo
Projeto que aumenta número de deputados abre
espaço para distorções indesejáveis
O prazo para que o Congresso legisle
sobre uma regra clara para a redistribuição
proporcional das cadeiras da Câmara dos Deputados se encerra no dia 30
de junho. Pressionados pelo calendário, senadores apresentaram pedido de
urgência para a apreciação do PLP 177/2023 e pretendem votá-lo ainda nesta
semana.
O projeto, já aprovado pela Câmara no início de maio, define que a distribuição das vagas entre os estados deve seguir o método das maiores médias, já utilizado no sistema eleitoral brasileiro, respeitados os limites constitucionais de, no mínimo, 8 e, no máximo, 70 deputados por estado. Mais do que isso, propõe que a redistribuição só ocorra após o próximo censo demográfico, previsto para 2030, e aumenta em 18 o número total de cadeiras para a Câmara dos Deputados a partir da eleição de 2026.