sexta-feira, 6 de junho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Acordo sobre o Galeão traz boas perspectivas

O Globo

É louvável entendimento para manter concessionária, mas é preciso preservar as restrições a voos no Santos Dumont

É bem-vindo o acordo, aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), permitindo que a concessionária RIOgaleão continue à frente do Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão. O atual contrato, firmado em 2014 com prazo até 2039, será reformulado, dando mais fôlego à operadora. Mesmo assim, o terminal terá de passar por um processo simplificado de leilão até março de 2026, e a RIOgaleão precisará apresentar ao menos uma proposta pelo valor mínimo para participar do certame. De modo geral, o entendimento agradou ao governo e à concessionária. Mas, para funcionar, é fundamental manter as restrições de voos no Aeroporto Santos Dumont.

O acordo cria uma regra pela qual, dependendo do número de passageiros no Santos Dumont, haverá um acerto de contas entre a concessionária e o governo. No primeiro ano (2025), se for inferior a 8 milhões, a concessionária pagará ao governo um valor correspondente à diferença; se for superior, será o contrário. Esse patamar sobe para 9 milhões em 2026, 10 milhões em 2027 e daí para a frente dependerá da alta na demanda por voos. Como o movimento atual está em 6,5 milhões, há incentivo para o governo manter as restrições, pois receberá por isso. Mas poderá abrir mão do dinheiro se quiser aumentar o movimento até os 10 milhões. É isso que não pode acontecer.

Batalha contra universidades enfraquece os EUA - Fernando Abrucio*

Valor Econômico

A mão pesada da autocracia trumpista não vai melhorar a academia, provavelmente irá prejudicar o país em seu desenvolvimento

O presidente Donald Trump escolheu vários inimigos em seu segundo mandato, e seu objetivo é neutralizá-los ao máximo para ter um poder autocrático. A oposição democrata, estados da federação, juízes independentes, a mídia, a China e os países que não aceitam ser satélites dos EUA, em suma, a lista é grande dos que devem ser perseguidos e enfraquecidos. Um dos escolhidos são as universidades, cujas ideias não são controladas pelos algoritmos das redes sociais amigas do trumpismo. Atacá-las faz sentido para quem quer perpetuar-se no poder, mas tem um efeito colateral: debilitar o poder real e simbólico dos Estados Unidos.

“Fazer a América grande de novo” é o slogan básico do trumpismo. Aparentemente, ela contém um projeto de longo prazo para os Estados Unidos: reindustrializar o país, aumentar a renda da classe média, ter novamente uma ordem internacional dominada pelos EUA e garantir que os “valores culturais mais profundos” vençam a guerra contra as ideias liberais que estariam pervertendo a nação. Trump seria o escolhido, no sentido religioso da palavra, para levar adiante esse plano, o que só seria possível com uma estratégia que lhe garanta muito poder no curto prazo - quem sabe até garantindo a possibilidade de um terceiro mandato.

A cruz de Marina Silva - José de Souza Martins

Valor Econômico

É preciso perguntar o que os ofensores representam no Senado da República, porque agrediram a unidade da Federação que deveriam representar e claramente não representam

Inacreditáveis as grosserias de membros da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal dirigidas à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, no final de maio, quando de seu depoimento sobre áreas de conservação na região Norte. Elas obscureceram os vários dilemas de fato em jogo nas aparentes discordâncias de um falso embate.

Os insultos revelaram graves preconceitos contra ela individualmente, contra o que ela é, como mulher e como ministra de Estado numa área sensível, a ambiental, assunto do qual é internacionalmente qualificada.

Marina falou em política de Estado, não de partido. Um dos opositores do governo falou, portanto, como opositor do Estado, em pendências de 30 anos, em que a questão foi abordada por diferentes governos e partidos.

PL acha que Bolsonaro elege até um poste em 2026 - Andrea Jubé

Valor Econômico

Chapa mais comentada entre lideranças alinhadas com o bolsonarismo é a de Tarcísio para presidente e de Michelle para vice

Notório pelas “malasartimanhas” na política e atento às pesquisas públicas e internas, o presidente nacional do PL, ex-deputado Valdemar Costa Neto, explicou a alguns interlocutores por que acredita que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pode se tornar mais conhecido nacionalmente e cair no gosto popular.

A teoria do cacique do PL é de que Tarcísio acertou logo na estreia de sua gestão pelo modo como enfrentou as tempestades que devastaram o litoral norte de São Paulo em fevereiro de 2023, e isso o cacifou para disputar o voto nacional.

Rejeição a Lula e Bolsonaro deixa eleição aberta aos demais candidatos – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Com seu prestígio e a força do governo, se for candidato, o petista terá um lugar garantido no segundo turno; vencê-lo são outros quinhentos. Isso dependerá do seu índice de rejeição

Papel, caneta e tinteiro sobre a mesa, Getúlio Vargas escolhia com cuidado as palavras que escreveria na carta endereçada ao presidente Washington Luís em 10 de maio de 1929, para sepultar todas as desconfianças que o Palácio do Catete nutria a seu respeito: "Pode Vossa Excelência ficar tranquilo de que o Partido Republicano do Rio Grande do Sul não lhe faltará com seu apoio no momento preciso", garantiu ao presidente da República, a propósito da sucessão presidencial.

Dias depois de entregar a carta, Getúlio fez a bancada gaúcha encenar um beija-mão de apoio ao presidente Washington Luís e aproveitou um portador para lhe enviar de presente um caixote de linguiças, salsichas e enlatados de Olderich, prestigiada marca gaúcha, como cesta de ano-novo. Com três anos de mandato pela frente no governo do Rio Grande do Sul, dissimulava sua oposição à candidatura de Júlio Prestes, o candidato de preferência dos paulistas. Toda vez que alguém questionava a lealdade de Getúlio, o presidente da República exibia a carta do político gaúcho.

Janela para a popularidade - Flávia Oliveira

O Globo

O mau humor guarda relação com a alta da comida, que pesa mais para quem ganha menos

A régua de popularidade apresentada pela Quaest nesta semana sugere que está aberta a janela de oportunidade para o presidente da República melhorar sua avaliação. A fresta é sazonal. Desde a posse para o terceiro mandato, em 2023, os melhores índices de aprovação de Luiz Inácio Lula da Silva foram obtidos a partir da virada do primeiro para o segundo semestre de cada ano. Não por acaso, é o período habitual de desaceleração ou queda no preço dos alimentos, variável que tem se mostrado aderente à satisfação com um governo que tem na população de baixa renda sua força eleitoral.

O plano Z do bolsonarismo - Bernardo Mello Franco

O Globo

Governador de Minas pisoteia História para ser notado pelo capitão

Romeu Zema declarou que a existência da ditadura militar no Brasil é “questão de interpretação”. O governador de Minas quer ser notado por Jair Bolsonaro. Para isso, mostrou-se disposto a pisotear a História e insultar as famílias de mortos e desaparecidos.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, Zema disse que dará indulto ao capitão se chegar à Presidência. Além de afrontar a Justiça, a promessa se assemelha a uma venda de terreno na lua. Há dois anos, o próprio Bolsonaro tentou tirar Daniel Silveira da cadeia. O Supremo anulou a canetada por desvio de finalidade.

Centro conservador desponta como alternativa - Murilo Medeiros*

O Globo

Eixo ideológico mudou. Social-democracia das últimas três décadas deu lugar ao conservadorismo pragmático

A 14 meses do início do processo eleitoral de 2026, as placas tectônicas da política brasileira se movimentam de forma silenciosa. O governo Lula, sem tração no Parlamento e abatido por gargalos econômicos e perda de credibilidade, corre contra o tempo para reverter a queda de popularidade. A oposição encontra-se fragmentada, dispersa e ancorada à inelegibilidade de Jair Bolsonaro.

O sistema político brasileiro, após uma fase de grande inconstância e polarização sistemática, passa por um período de reajuste, marcado por novas bases de governabilidade, com poder menos assentado no Executivo e mais alicerçado no Parlamento.

Ainda há ética na política no Brasil? - Roberto Livianu*

O Globo

Há inúmeros, incontáveis, exemplos de políticos impunes ao longo do tempo, mesmo praticando todo tipo de delito

Em outubro de 2020, o senador Chico Rodrigues, então vice-líder do governo, foi flagrado com R$ 33 mil entre as nádegas. Na época, o fato grotesco, de óbvia conotação delituosa, fez com que um dono de lanchonete de Brasília colocasse placa em seu estabelecimento avisando que aceitaria pagamentos em dinheiro, se provenientes da carteira dos clientes.

Certamente, muitos devem se perguntar o que se passou com tal político, diante do dever de decoro parlamentar e da Lei de Improbidade, ainda que esmagada pela Lei 14.230/21. Chico Rodrigues não só jamais foi punido, como acaba de ser eleito para integrar a Mesa Diretora do Senado da República, uma espécie de prêmio pelos bons serviços à pátria.

O psicodrama fiscal - Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

O governo Lula é o favorito para herdar o caos financeiro que não pode superar num período de campanha. Isso liquida qualquer esperança de programas de longo prazo

Toda esta discussão sobre o IOF serve para nos educar sobre o universo fiscal, saber que existem impostos regulatórios, por exemplo. A reação instantânea ao aumento do imposto revelou, mais uma vez, a sensibilidade social sobre o tema, demonstrando que há pouco espaço para avançar nesta direção.

O mais interessante, para quem não é especialista, é examinar este permanente psicodrama do governo e do Congresso, uma vez que os gastos da máquina sempre crescem e há limites visíveis na paciência popular.

As bets comendo a renda do povo - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, sugeriu sobretaxar as apostas esportivas (bets) para diminuir o impacto do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e “criar opções mais saudáveis de arrecadação”.

Mercadante adverte que essas plataformas vêm corroendo as finanças populares. Tributá-las, entende ele, seria um caminho para aliviar outros encargos sobre a economia formal.

Como, aparentemente, o governo Lula ainda não tem soluções nem para compensar o IOF nem para conter o estrago financeiro e social que as bets estão causando, especialmente entre as famílias em vulnerabilidade financeira, o discurso descamba sempre para o aumento da arrecadação – o que denota falta de compromisso com o controle das despesas públicas pela atual administração.

Trump e Musk a treta típica da extrema direita - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Principais nomes da finança americana também dizem que déficit chega a nível crítico

A treta entre Elon Musk e Donald Trump começou com o que parecia ser uma discussão sobre déficits e dívida do governo. Musk disse que a lei orçamentária é uma "abominação nojenta", "revoltante, cheia de fisiologia", chamada de "grande e bela" pelo presidente americano. De fato, os déficits aumentarão e a dívida dos EUA cresce sem limite.

Em outros termos, era o que disse Jamie Dimon, presidente do JP Morgan, maior banco americano: vai haver "rachadura" no mercado de títulos da dívida americana e "pânicos", talvez em seis meses, talvez em seis anos. Larry Fink disse que os EUA vão "bater no muro" por causa do déficit. Fink é fundador e CEO do BlackRock, maior administrador de dinheiro do mundo.

Blasfêmias! - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Condenação de comediante por piadas preconceituosas e prisão de músico por apologia do crime mostram nossa involução na liberdade de expressão

A Justiça condenou o comediante Leo Lins a oito anos de reclusão por causa de suas piadas preconceituosas.

Da mesma forma que a sociedade não deve meter o bedelho no que adultos fazem consensualmente entre quatro paredes em matéria de sexo, ela deveria se abster de interferir no conteúdo das piadas que um humorista conta ao público que deseja ouvi-lo.

Lula reformista carece de crédito - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Ausência de convicção em mudança de rumo põe em dúvida êxito do pacote de compensação ao IOF

Reformas de fundo —ou "estruturantes", para usar o termo da vez— são feitas no início de governos quando há força suficiente para enfrentar as resistências ao fim de favorecimentos.

Assim ocorre também com apertos de cinto ou quaisquer medidas desagradáveis cuja execução, aconselha-se, fiquem longe da próxima eleição.

Luiz Inácio da Silva (PT), em sua terceira vez na Presidência, preferiu inverter a lógica e agora, em plena véspera do ano eleitoral, se vê na contingência de anunciar reformas que não quis fazer ao tempo recomendado; seja porque discorda delas ou por não querer encarar o inevitável desgaste desse tipo de combate.

Por isso é difícil conferir crédito ao empenho que o governo empregará na promessa que fez ao Congresso Nacional para não ver o decreto do IOF derrubado e ainda tentar obter autorização para um tapa-buraco de emergência fiscal.

Zema nega ditadura em dias de pânico bolsonarista - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Entrevista do governador de Minas à Folha é sinal da movimentação errática do bolsonarismo, que se vê às portas da condenação por golpismo

Um dos mais medíocres políticos bolsonaristas —se é que essa escala faz algum sentido–, o governador de Minas, Romeu Zema, declarou em entrevista à Folha que a existência da ditadura militar no Brasil é "uma questão de interpretação". A declaração vem em momento de grande alvoroço no bolsonarismo, causado pelo julgamento da trama golpista.

O naufrágio do projeto de anistia, as evidências do envolvimento militar, a proximidade da convocação de Jair Bolsonaro para depor e a firmeza do STF provocam pânico e nervosismo.

Crônica | Furto de Flor, de Carlos Drummond de Andrade

Música | Carminho e Marisa Monte - Estrada do Sol