sábado, 10 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Não existe "casa revisora" do STF

Correio Braziliense

Ao aprovar sustação de ação penal no STF relacionada à tentativa de golpe de Estado na qual está incluído o deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), o Legislativo insiste em impor uma agenda de choque com as prerrogativas do Judiciário

A Câmara dos Deputados, na quarta-feira, aprovou em plenário a sustação de ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) relacionada à tentativa de golpe de Estado na qual está incluído o deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), por 315 votos a 143 e quatro abstenções. O presidente Hugo Motta (PR-PB) definiu que não haveria discussão em Plenário sobre a suspensão de ação penal, apenas a votação. Promulgada na forma da Resolução 18/25, a votação ocorreu a toque de caixa: na mesma tarde, foi apreciada de forma relâmpago na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). 

Trata-se de mais uma insistência do Legislativo em impor uma agenda de choque com as prerrogativas do Judiciário. Seu texto foi elaborado com o propósito sub-reptício de contemplar os demais envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, que são réus como Ramagem, e, ainda, proteger dezenas de parlamentares que estão sendo investigados por desvio de recursos de emendas parlamentares. Devido ao espírito de corpo, teve ampla aprovação. 

Para Leão XIV, o amor não tem hierarquia – Pablo Ortollado

O Globo

A resposta do novo papa é, ao mesmo tempo, um repúdio à instrumentalização da fé e uma reafirmação do cristianismo como princípio de compaixão e justiça

Em entrevista à Fox News, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, apresentou a política de imigração de Donald Trump como se estivesse ancorada em valores cristãos. Segundo Vance, há um conceito fundamentalmente cristão de que “você [primeiro] ama sua família, depois ama seu vizinho, depois ama sua comunidade, depois ama os demais cidadãos do seu país. E, apenas depois disso, [você ama] o resto do mundo”. Para ele, a esquerda inverteu essa ordem: “Eles parecem odiar os cidadãos do seu próprio país e se importar mais com as pessoas do lado de fora das fronteiras”. A declaração pretendia legitimar, em termos cristãos, a política migratória de Donald Trump, marcada por deportações em massa, tratamento degradante e equiparação dos imigrantes a ladrões e estupradores. O então cardeal Robert Prevost — agora Papa Leão XIV — respondeu no X: “JD Vance está errado: Jesus não pede para ordenarmos o amor pelo próximo”.

Identitarismo: como isso pode ser bom - Eduardo Affonso

O Globo

Não tente discutir esse tema com um militante: ele não está interessado no fim do preconceito, mas em instituir uma discriminação reversa

No dia da eleição da jornalista Míriam Leitão para a Academia Brasileira de Letras, duas postagens apareceram, em sequência, no meu feed, numa rede social. Uma comemorava a chegada da primeira mulher mineira à ABL; a segunda lamentava que mais uma mulher branca tivesse sido escolhida.

Em ambos os casos, nem uma palavra sobre os méritos da jornalista, sobre sua qualificação para ocupar a cadeira que um dia foi de Euclides da Cunha, Dinah Silveira de Queiroz, Nélson Pereira dos Santos, Cacá Diegues – e cujo patrono é ninguém menos que Castro Alves. A economista e escritora foi reduzida, para o bem e para o mal, a seus cromossomos, a sua procedência e à quantidade de melanina disponível em sua epiderme.

Uma Pobreza Invencível - Rodrigo Maia*

O Globo

O país precisa avançar e reverter seu quadro de desigualdade, entendendo que a transferência de renda é emergencial, não emancipatória

Falar da pobreza brasileira é sempre um risco. Abordar o tema com seriedade é fundamental, mas pode ser interpretado como despreocupação social. É preciso questionar e buscar caminhos que realmente façam os pobres deixar de ser pobres.

O segundo maior gasto do Orçamento federal é destinado a transferências de renda. Anos se passaram, e o que se observa são pessoas em um estado de emergência social continuado. O Brasil tem centenas de programas e projetos, investindo pesadamente em bolsas, mas com resultados tímidos.

Em 2002, o então prefeito Cesar Maia afirmou que a inclusão social deveria ser sustentável. Não existe verdadeira inclusão quando uma família precisa de uma bolsa para comer por décadas. A transferência de renda, embora necessária, combate a barbárie, não a pobreza. Gastamos muito na área social, mas de forma ineficiente. Estudos mostram que os programas sociais já representam 3% do PIB.

A tempestade econômica perfeita se aproxima - Fareed Zakaria

O Estado de S. Paulo

Status do dólar como moeda de reserva global está ameaçado em razão de gastos irresponsáveis

Juros, agora em níveis normais e altos, tornam perigoso o fardo da dívida dos EUA

Enquanto a Casa Branca continua a ocupar toda a atenção dos americanos com sua guerra tarifária contra o restante do mundo, um pouco abaixo da Avenida Pensilvânia, o Congresso prepara um projeto de lei orçamentária que pode ter consequências quase tão significativas.

Se os legisladores renovarem os cortes de impostos de Donald Trump, de 2017, aprovarem todos os seus novos cortes na arrecadação e não cortarem gastos, eles somarão US$ 9 trilhões à dívida nacional americana em 10 anos ( de acordo com a Fundação Peter G. Peterson, uma organização apartidária). Nesse ponto, os EUA provavelmente estariam entre os maiores déficits em relação ao PIB da história – e isso em tempos de paz, sem pandemia.

Planeta armado, estômagos vazios - Fabio Gallo

O Estado de S. Paulo

O custo econômico da violência chegou a US$ 19,1 tri em 2024, equivalente a 13,5% do PIB mundial

Em seu primeiro pronunciamento, o papa Leão XIV disse: “Nos ajudem a construir pontes vocês também, com diálogos, com encontro, para sermos um único povo, sempre em paz”. Palavras sábias e oportunas. O Institute for Economics & Peace (IEP) publicou o Global Peace Index (GPI) 2025 e mostra que houve uma redução generalizada dos níveis de paz global.

O GPI é uma medida que avalia o nível de paz em 163 países e territórios, considerando fatores como conflitos internos e externos, segurança social e militarização. Em 2024, o GPI destacou que a diferença entre os países mais e menos pacíficos atingiu seu maior nível em 16 anos – os 25 países tiveram queda de 7,5% no índice no período.

Lula, o distribuidor de renda - Fernando Canzian

Folha de S. Paulo

Faz sentido dar aumento real aos aposentados?

Luiz Inácio Lula da Silva teve alguns milhões de votos em 2022 de pessoas com repugnância merecida a Jair Bolsonaro. Foi por pouco: 50,9% a 49,1%.

O que o presidente entregou a essas pessoas que não gostam dele e que votaram nele na margem, talvez a contragosto, para evitar o pior?

O mundo e o Brasil não passam por uma pandemia ou crise financeira severa. Mesmo assim, Lula aumentará em mais de dez pontos percentuais a dívida pública brasileira em quatro anos.

Como? Gastando mais do que arrecada em impostos. Era isso o que os eleitores que deram a vitória a Lula queriam?

Há um preço nisso, pois investidores cobram mais de quem deve muito. E o mundo inteiro está mais endividado, o que fará os juros ficarem permanentemente mais caros por aqui.

Câmara prefere salvar golpistas a regular as redes - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Deputados não querem ver que as plataformas permitem 'desafios' que matam adolescentes

Surpreender um amigo jogando-lhe água fervendo na cabeça. Mergulhar em águas geladas. Incendiar o próprio corpo. Engolir uma colher. Inalar objetos pelo nariz tirando-os pela boca. Dois jovens que se estrangulam ao mesmo tempo reduzindo os níveis de oxigênio do cérebro até o desmaio. Andar em cima de um carro ou trem em movimento.

Os desafios online tornaram-se uma praga. Em março, Brenda Sophia, 11 anos, morreu em Bom Jardim (PE), vítima do desafio do desodorante. Em abril, Sarah Raíssa, 8 anos, de Ceilândia (DF), morreu ao inalar desodorante em spray após assistir a um vídeo.

Manobras pela anistia - Pedro Serrano

Carta Capital

O Congresso não pode, a pretexto de salvaguardar a função pública, deslegitimar a atividade do STF em face do mais severo desafio imposto à democracia brasileira

O Supremo Tribunal Federal tem impulsionado as denúncias formuladas pela Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente da República Jair Bolsonaro e outros 33 acusados dos crimes de organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Por essas razões, estão se intensificando as discussões relativas à concessão de anistia e, mais recentemente, a sustação das ações penais nos termos do parágrafo 3º do artigo 53 da Constituição.

O dispositivo constitucional prevê que, recebida a denúncia contra um senador ou deputado por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus integrantes, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.

Portão escancarado - André Barrocal

CartaCapital

A aliança entre o bolsonarismo e o Centrão protege aliados que migraram do setor público para o privado

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central de 2019 a 2024 por obra de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, descolou um novo emprego. Será vice-presidente do Nubank, uma das instituições financeiras digitais bastante incentivadas pelo BC que comandava. Assumirá em julho, ao fim da quarentena de seis meses prevista na Lei de Conflito de Interesses. Antes de entrar no governo, trabalhara no Santander. Caso clássico de “porta giratória” entre o setor privado e o público, e viceversa, com presumíveis consequências nocivas para a coletividade. “Quando os funcionários que têm a responsabilidade de formular as políticas para o setor financeiro provêm do próprio setor financeiro, por que haveríamos de esperar que eles incorporem pontos de vista marcadamente diferentes daqueles que o setor deseja?”, pergunta o economista norte-americano Joseph Stiglitz em um livro de 2010, O Mundo em Queda Livre.

Para que servem os economistas? – Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

CartaCapital

Prossegue o espetáculo da naturalização da economia como esfera autônoma da vida social

Começamos com uma afirmação que, certamente, vai desfiar desagrados aos cultores da Ciência Sombria. A história do pensamento econômico nos oferece o espetáculo da naturalização da economia, que tem de se apresentar como uma esfera autônoma da vida humana e social em que prevalecem leis naturais às quais os indivíduos deveriam submeter-se.

Da infância smithiana à maturidade caquética das expectativas racionais, os conflitos de concepção e de método assolaram a trajetória intelectual da Ciência Sombria. Nos momentos de controvérsia aguçada, os príncipes e sacerdotes da Ciência Econômica convocam os Quatro Cavaleiros da Ortodoxia – Naturalismo, Individualismo, Racionalismo e Equilíbrio – para espaldeirar a turba dissidente.

Direita, a esquerda e o diabo no meio do redemoinho - Marcus Pestana

O mundo anda de cabeça para baixo. Figuras deletérias, exóticas, autoritárias e disruptivas como Trump e Putin ajudam a embaralhar ainda mais as cartas e tornar o futuro nebuloso. Putin, um líder de direita, que tem entre os principais aliados governos de “esquerda”. Trump que tenta impor uma confusa liderança sobre o mundo ocidental. Enquanto isso, nos escombros do socialismo real e longe das pedras do Muro de Berlim, a China, de camarote, munida de paciência estoica e sabedoria confucionista, preparou silenciosamente o salto de qualidade de seu “socialismo de mercado” ou “capitalismo de Estado”, como se queira.

A extrema direita cresce na Europa e nos EUA. Parte da esquerda se perdeu na agenda identitária, distanciou-se do povo e colheu derrotas. A socialdemocracia sobrevive no governo trabalhista inglês de Keir Starmer e do socialista espanhol Pedro Sanchez. O tsunami provocado pela onda Trump, transformou-o em excelente cabo eleitoral, para os adversários. No Canadá e na Austrália, a socialdemocracia reverteu derrotas certas graças, em grande parte, ao fantasma Trump.

Poesia | Nada é Impossível de mudar, de Bertolt Brecht

 

Música | Seu Jorge - Rosa de Hiroshima (Poema de Vinicius de Moraes)

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