terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Raymundo Costa - Sucessão de 2018 já está em curso no PT

• Se não destruiu, Marta deixou Mercadante ferido

- Valor Econômico

O plano A do PT para a sucessão de 2018 é Lula. Não está dado que o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, é o plano B. No momento é apenas o nome mais forte. Há outras possibilidades. Pelo menos três, a olho nu: Jaques Wagner, Fernando Pimentel e Fernando Haddad, caso este seja reeleito prefeito de São Paulo. Mercadante hoje é uma espécie de símbolo do dilmismo. No PT e no governo. Atacado por Marta Suplicy, que o acusou de ser inimigo de Lula e candidatíssimo ao Palácio do Planalto, sua posição ficou vulnerável e só a reação da presidente e do ex dará a medida exata da extensão da fratura que a eleição de 2014 provocou no PT.

A entrevista que a senadora Marta Suplicy concedeu no domingo à jornalista Eliane Cantanhêde, de "O Estado de S. Paulo", foi tão reveladora no campo da política como nada mais no governo de Dilma, uma presidente obcecada com vazamentos. Era o bastidor do bastidor que foi exposto por uma das vozes mais autorizadas do PT. A maioria das passagens sobre o "Volta, Lula" era conhecida, como as reclamações que o ex-presidente fazia de sua sucessora, mas agora essas histórias vieram a público narradas por um dos principais integrantes do movimento.

A novidade contada por Marta é que ela foi autorizada por Lula a procurar o presidente do PT, Rui Falcão, para tratar da retirada de Dilma da disputa. A conversa entre Marta e Rui de fato ocorreu. A própria Marta contou, na entrevista, que considerava a nova candidatura de Dilma um risco para o projeto do PT e que pediu para Rui Falcão convencê-la a desistir da candidatura em favor de Lula. Rui se recusa a falar sobre o assunto, por entender que é exatamente o que Marta quer. Sabe-se, entretanto, que antes de procurar Dilma e soltar a bomba no colo da presidente, Rui fez questão de conferir a história com o próprio Lula.

Falcão tinha suas razões para ficar desconfiado. O próprio Lula precipitara a campanha, ao lançar a candidatura de Dilma, em fevereiro de 2013. Das conversas que teve com Lula concluiu que ele não estava contaminado pelo "Volta, Lula", na medida que o movimento tomara em diversos setores do PT. Fontes ligadas a Lula contam que o ex-presidente, na conversa com Rui, desautorizou a iniciativa de Marta. Disse, inclusive, algo como "Essa mulher está louca, eu já falei para ela parar com isso". Lula também teria argumentado que tinha confiança na reeleição de Dilma. Mais até que Rui Falcão. De acordo com as mesmas fontes, o presidente do PT não contou o episódio a Dilma. A presidente ficou sabendo da movimentação da senadora por causa de um brinde que ela ergueu ao retorno de Lula em uma festa de casamento.

A avaliação feita no PT e no Palácio do Planalto é que Marta, com sua entrevista, tentou fazer um "hedge" à sua eventual saída do partido, temerosa de que o PT peça o mandato de volta, quando ela se desligar da sigla para concorrer à prefeitura de São Paulo. A indicação do deputado Gabriel Chalita para uma secretaria municipal, avalizada pelo vice-presidente Michel Temer, deixa claro que PT e PMDB, provavelmente com Fernando Haddad e Chalita de vice, estarão juntos na disputa de 2016. É Marta outra vez de fora dos planos do PT.

A dúvida que persiste é se quebrou o cristal da relação entre Lula e Dilma. O fato é que o ex-presidente sempre foi ambíguo e ambivalente em relação ao "Volta, Lula" e a presidente, que de início duvidava da existência do movimento, se decepcionou com o patrono e "ídolo" ao conferir que se conspirava contra sua candidatura. O que não os impediu de levar a campanha até o fim, mesmo aos trancos e barrancos. Mas o PT avalia que está em curso uma tentativa da oposição de indispor Lula com Dilma e Dilma com o partido, para aprofundar as dificuldades que o governo enfrenta neste reinício de mandato.

Em princípio, Lula não deve falar. As reações do ex-presidente em relação a Mercadante são as de um pai com o comportamento de um filho rebelde. O que não impediu que ele o aceitasse como candidato a vice na eleição de 1994 e de tê-lo apoiado na prévia feita pelo PT de São Paulo, em 2006, para a escolha do candidato ao governo estadual. A outra concorrente era Marta. Na formação do novo gabinete de Dilma, o ex-presidente defendeu não só a permanência de Mercadante na Casa Civil da Presidência, como também que ele tivesse um papel político mais incisivo.

Existe o outro lado da moeda. Marta falou o que muita gente no PT gostaria de falar de Mercadante: arrogante, autoritário, pródigo em trapalhadas. Se não destruiu, a senadora deixou o ministro ferido. Falou o que todo o governo gostaria de falar. Atualmente, as insatisfações na Esplanada dos Ministérios e no Congresso são muito mais em relação a Mercadante que à própria Dilma. E tem gente do núcleo duro do governo que acha o mesmo que Marta. Fica até difícil para a presidente discutir esse tema no grupo. Quem a conhece diz que Dilma vai xingar, esbravejar, falar mal da Marta, mas refletir.

Nessa face da moeda há uma convicção: se Dilma quiser se recompor "de coração" com o ex-presidente da República, não bastará dizer a Lula "não tenho outro candidato em 2018 a não ser você ou quem você apoiar". Mais que isso, a presidente terá que demitir o ministro Aloizio Mercadante ou tirá-lo da toda poderosa Casa Civil da Presidência da República. Ou Lula vem a público e desmente Marta.

Único político que ainda dorme no presídio da Papuda, entre os condenados pelo esquema do mensalão, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha deve lançar até março um livro em que "retrata os momentos que vivi", segundo contou a amigos. Desde que foi preso, João Paulo Cunha leu 60 livros e resenhou 20 deles. Ele tem desconto no tempo de cadeia por cada livro que lê, mas a imersão na literatura reforçou o gosto de João Paulo pelas letras. O ex-deputado começou a escrever logo depois de ser preso. O livro a ser lançado até março, sobre o qual tem feito mistério, será apenas o primeiro de uma série.

Nenhum comentário: