Andrea Jubé – Valor Econômico
O PT articulou uma reação conjunta às declarações da senadora e ex-ministra Marta Suplicy, que abriu fogo contra o partido e contra suas principais lideranças, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os principais alvos de Marta não responderam diretamente aos ataques, mas escalaram aliados para mandar recados. Em um gesto calculado, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, prestigiou a posse do novo ministro da Cultura, Juca Ferreira: ambos atingidos pelos disparos de Marta.
A presença de Mercadante foi simbólica: foi a única transmissão de cargo, entre os 24 novos ministros, a que ele compareceu. Estavam ao lado dele os ministros Jaques Wagner, da Defesa, Carlos Gabas, da Previdência Social, Pepe Vargas, da Secretaria de Relações Institucionais, Miguel Rossetto, da Secretaria Geral da Presidência, e Tereza Campello, do Desenvolvimento Social - todos do PT. O Valor apurou que houve uma ação conjunta dos petistas para prestar solidariedade ao novo ministro e mostrar repúdio, embora silencioso, aos ataques ao partido.
Na dura entrevista que Marta concedeu ao jornal "O Estado de S. Paulo", ela disparou contra Dilma, Lula, Mercadante, Juca, o presidente do PT, Rui Falcão, e o marqueteiro João Santana. Ela chamou o chefe da Casa Civil de "inimigo", Falcão de traidor e afirmou que o PT foi covarde ao não defender a candidatura de Lula à sucessão presidencial, no lugar de Dilma. Disse, ainda, que Mercadante mente ao negar que seja pré-candidato à Presidência da República. Sobre Juca, disse que sua gestão anterior na pasta "foi muito ruim", e que encaminhou denúncias contra ele à Controladoria Geral da União (CGU).
O ex-ministro Luiz Dulci, diretor do Instituto Lula e um dos nomes mais próximos ao ex-presidente, minimizou os ataques. Negou que Lula tivesse incentivado o movimento para que fosse candidato no lugar de Dilma. "Eles (Lula e Dilma) continuam tão próximos quanto antes, com tanta amizade pessoal, carinho e compreensão política", afirmou, ao final da posse de Juca.
"Foi muito ruim para o partido", reconheceu o vice-presidente do PT Alberto Cantalice. Mas ele aponta um "excesso" nas críticas, já que Marta nunca teria procurado dirigentes do PT para manifestar sua insatisfação. Cantalice lembra que Marta já ocupou vários cargos (prefeita de São Paulo, deputada, senadora) e disputou várias eleições pelo PT. Por isso, não poderia reclamar de falta de espaço no partido.
Embora lideranças do PT tenham vindo a público defender os alvos de Marta, ela externou um descontentamento que persiste nos subterrâneos petistas. Lulistas atribuem ao chefe da Casa Civil - que conduziu a quatro mãos com Dilma a reforma ministerial - supostas injustiças na montagem do novo governo. Entre elas, o fato de Jaques Wagner ter sido alijado do Palácio do Planalto. Lula o queria, preferencialmente, na cadeira de Mercadante, mas como isso não seria possível, tentou emplacá-lo na Secretaria Geral. Wagner acabou na Defesa. Os insatisfeitos também atribuem à falta de empenho de Mercadante frustrações de Lula e do PT na reforma, como o partido não levar o Ministério do Trabalho nem o Esporte nem a Integração Nacional - esta um pleito dos três governadores petistas na Região Nordeste.
Um dirigente petista disse ao Valor, em condição de anonimato, que Marta demonstra ressentimento e desespero, porque deu as declarações quando Lula acaba de costurar o apoio do PMDB à reeleição do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), ao levar Gabriel Chalita para a Secretaria de Educação. Esse movimento restringiria os caminhos para Marta, que pretende se candidatar à prefeitura, e negocia com PSB, PV e PPS nos bastidores.
Na avaliação deste petista, que transita na cúpula partidária, se realmente Marta pretende deixar o PT, deveria fazê-lo sem queimar pontes. "Se ela pretende ser expulsa, não adianta que não será", avisou. A expulsão livraria a petista de um processo de cassação do mandato. Adverte que Marta pode ter o mesmo destino da deputada reeleita e ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), que não se elegeu mais para um cargo majoritário depois de romper com o PT.
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