domingo, 16 de setembro de 2018

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

"O senador Tasso está certo: o ciclo partidário-eleitoral se exauriu. Não há outro ainda. Alckmin poderá levar o país a um novo consenso. Fiéis à democracia e aos nossos compromissos votemos nele para a reconstrução social e econômica do Brasil."


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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República, em sua conta do Twitter, 15/(/2018

Luiz Sérgio Henriques*: A degradação do discurso público

- O Estado de S.Paulo

A democracia está sob cerco dos autoritários que não nos permitem menosprezar os riscos

Não é simples nem alentador examinar termos e condições do discurso público neste momento, e não só no Brasil. Numa época de intensa transformação, como poucas o foram, o medo do futuro se instala, a capacidade de governo e autogoverno diminui até parecer negligenciável, atitudes irracionais se espalham como chamas, quando não são irresponsavelmente atiçadas. As formas da democracia, que demandam certa dose de confiança para florescer, veem-se sob ataque frontal. Há quem diga que a ameaça, agora, vem da extrema direita, como antes vinha do que podemos chamar, num só bloco, de comunismo – ou melhor, a forma assumida pelo comunismo histórico, ao relegar a segundo plano uma relação positiva com as liberdades próprias do liberalismo.

Não é hora de meios-tons, nuances e sutilezas. Pulsões extremistas parecem soltas ao redor. A esfera pública se enche de narrativas e discursos de ódio. Pode ser que uma esquerda algo desorientada se tenha extraviado, nestes tempos pós-modernos, em reivindicações identitárias parciais, abandonando a dimensão universalista que sempre caracteriza as fases de avanço civilizatório e fornece o porto seguro para a ampliação dos direitos das minorias. Registrada esta crítica, deve-se logo após apontar que muito mais perigosos são a ação e o discurso de quem, detendo substanciais recursos materiais e simbólicos, leva adiante sua própria e feroz política de identidade. Donald Trump é o patrono mais em evidência da causa, mas também aqui, no Brasil, já se ouvem opiniões bizarras que clamam contra a opressão de que seriam vítimas, sabe-se lá onde, homens brancos e heterossexuais.

Uma característica recorrente do discurso público tem sido, nele, a falta de um componente de catarse. A palavra tem ressonância clássica e diz respeito ao efeito de purificação sofrido pelo espectador da tragédia. Um nobre efeito, portanto, extraído da experiência de terror e medo posta em cena pelos grandes trágicos. Na psicanálise, muitos séculos depois, a catarse viria a indicar um trajeto de cura, quando o sujeito vê aflorar à consciência, em meio ao sofrimento, conteúdos reprimidos e fora de seu controle. Um processo de crescimento individual, de domínio racional sobre forças e motivos antes desconhecidos.

Na política, a catarse também seria mais tarde ressignificada para designar um percurso aberto para grupos sociais e políticos mais amplos: uma classe social, um partido e até um Estado. O conceito aqui é relativamente menos difundido, mas vale a pena nos determos um pouco sobre ele, dado o caráter essencial que adquire como garantia de convivência civil e possibilidade de encaminhar o conflito de indivíduos e grupos sociais.

Merval Pereira: Manual da pequena política

- O Globo

Candidatos devem dizer o que um determinado grupo quer ouvir, ensina o manual ‘Como ganhar uma eleição’

Comparar as campanhas eleitorais na Antiga Roma com a atuação política atual serve de escusa para os que fazem a “pequena política”, que alegam que esse toma lá dá cá existe desde sempre, mas também de ensinamento histórico para que prevaleça a “grande política” que predominava, principalmente, em Roma no século I d.C. No início deste ano eleitoral, escrevi sobre o livro “A campanha eleitoral na Roma Antiga”, do historiador alemão Karl-Wilhelm Weeber. Nele havia referência a um pequeno manual da campanha eleitoral, atribuído a Quinto Túlio Cícero, para orientar seu irmão mais velho, o grande orador Marco Túlio, que foi eleito cônsul em 63 a.C.

Em boa hora a editora Bazar do Tempo está lançando a tradução em português do manual, com o título “Como ganhar uma eleição: Um manual da Antiguidade Clássica para os dias de hoje”. Nesse texto, Quinto Cícero enumera uma série de estratégias para uma campanha bem-sucedida. Algumas dessas, destacadas na apresentação por Philip Freeman, PhD por Harvard em Antiguidade Clássica, subsistem até hoje:

Prometa tudo a todos. Exceto nos casos mais extremos, os candidatos devem dizer o que um determinado grupo quer ouvir. Diga aos conservadores que você tem repetidamente apoiado valores tradicionais. Diga aos progressistas que você sempre esteve do lado deles. Depois da eleição, você pode explicar a todo mundo que adoraria ajudá-los, mas, infelizmente, circunstâncias fora do seu controle o impediram.

Cobre todos os favores. É hora de delicadamente (ou não tão delicadamente) lembrar a quem ajudou que eles são seus devedores. Se alguém não dever nenhuma obrigação a você, deixe que saibam que o apoio deles agora porá você em débito para com eles no futuro. E depois de eleito você estará em condições de ajudá-los quando eles precisarem.

Elio Gaspari: Militares na política produzem anarquia

- O Globo

Houve um tempo em que se sabia o nome dos ministros da Educação e da Saúde. Depois, as pessoas tiveram que aprender a composição do Supremo Tribunal Federal e conheceram também a péssima opinião que alguns deles têm de seus colegas. Agora começa-se a aprender nome de generais. Há o Villas Bôas, o Mourão e o Augusto Heleno, e o presidente do Supremo Tribunal levou um quatro estrelas da reserva para sua assessoria.

Mau sinal. Faz tempo, quando o presidente Ernesto Geisel decidiu promover Jorge de Sá Pinho a general de Exército, um curioso perguntou-lhe quem era ele.

— É um grande oficial, e a prova disso é que você não sabe quem é.

(Em 1984 Sá Pinho foi um dos generais do Alto Comando que impediram aventuras contra Tancredo Neves, mas pouca gente se deu conta.)

Quando se sabe o nome de generais, algo estranho está acontecendo. Felizmente dois dos notáveis de hoje estão na reserva. Nada a ver com o tempo em que comandantes de guarnições metiam-se em política. Em 2014 o general Hamilton Mourão comandava a poderosa tropa do Sul, meteu a colher onde não devia e perdeu o comando. Pouco se falou do episódio que em outros tempos abriria uma crise. Ele mesmo reconhece que “andei extrapolando o tamanho da minha cadeira, e a autoridade do comandante não pode deixar de ser exercida”. Quando a confusão é enorme, tende-se acreditar que a entrada dos militares na cena política é um remédio de última instância. Não é. Quando os militares ocupam a cena, acaba uma confusão e começa outra, a da anarquia militar.

Um golpe derrubou D. Pedro II em 1889 e, dois anos depois, o vice-presidente marechal Floriano Peixoto soprou o presidente marechal Deodoro da Fonseca para fora do palácio. Floriano governou até 1894, esmagou duas rebeliões militares e fuzilou um marechal.

Durante o tumultuado regime constitucional que foi de 1946 a 1964 ocorreram quatro revoltas de generais. O consulado militar outorgou-se o primado da ordem e, mesmo com censura e AI-5, as revoltas também foram quatro: 1965, 1968, 1969 e 1977. Noves fora o Riocentro, de 1981.

Por maior que seja a confusão existente, quando se chama os militares para botar ordem no circo, cria-se outra confusão, que nem eles são capazes de prever. O projeto de ordem de 1964, com o general Humberto Castelo Branco à frente do processo, durou exatamente 12 horas.

Míriam Leitão: Os erros de Lula na crise de 2008

- O Globo

Erros de Lula e Dilma, antes e depois da crise financeira, fazem com que o ano de 2008 ainda não tenha acabado para o Brasil na economia

Na economia, 2008 é o ano que não terminou. E talvez tenha começado antes do seu princípio. Entender a sucessão de eventos que nos infelicita é fundamental neste período eleitoral em que estão sendo feitas as escolhas. A crise internacional iniciada com a quebra do Lehman Brothers no dia 15 de setembro assustou o mundo e bateu na nossa praia. “Uma marolinha”, gabou-se Lula. Mas os erros cometidos antes e depois daquele dia explicam o buraco fiscal no qual estamos. A onda ainda nos derrota.

A crise não havia começado, o mundo crescia mais do que o Brasil, em 2007, quando foram tomadas decisões que abririam um rombo nas contas públicas. Lula editou o PAC I, com a meta de crescer 5% ao ano, e para isso ampliou muito os gastos públicos. Daí nascem as milhares de obras hoje paradas.

O governo tomou várias decisões na mesma direção. Iniciou a construção de quatro refinarias, começou as transferências do Tesouro para o BNDES, ampliou o conceito de micro e pequena empresa para o faturamento de R$ 2,4 milhões. Isso elevou a despesa tributária com o Simples. Existe em outros países, mas o teto é muito menor do que no Brasil. É dessa época também a criação do FI-FGTS, que pegou dinheiro do trabalhador para entregar a empresários a juros baixos e, em algumas ocasiões, em negociatas como a que se viu no caso JBS. O PAC deu também dinheiro à Caixa, R$ 5,2 bilhões.

Ascânio Seleme: O paradoxo Haddad

- O Globo

A eleição presidencial fica mais clara a cada dia aos olhos dos eleitores. Neste momento, graças ao ataque que sofreu, Bolsonaro está mais próximo do segundo turno. Seu adversário só será conhecido na última hora. Os candidatos à segunda vaga — Ciro Gomes, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e Marina Silva — lutarão cada dia como se fosse o último. Olhando hoje, três semanas antes do domingo, 7 de outubro, parece que vai dar Haddad.

Haddad foi o que mais cresceu dentre os quatro e aquele que reúne mais elementos que somados podem levar um candidato ao segundo turno. Ele tem bom tempo na TV, um eleitorado militante, o apoio do mártir Luiz Inácio Lula da Silva e está posicionado no lado oposto do campo onde se encontra Bolsonaro. Deste lado também estão Ciro e Marina. Ciro talvez seja a maior ameaça a Haddad, mas ele tem pouca TV e não tem Lula. Marina aparentemente não ameaça mais ninguém, mas mudaria o cenário se renunciasse em favor de Ciro.

Alckmin patina em meio a fogo amigo. Estaria melhor se conseguisse convencer Henrique Meirelles e João Amoêdo a desistirem de suas candidaturas. Sua coligação está bem distribuída no território nacional. Com a capilaridade extra do MDB certamente seria mais competitivo. Lembre-se que a eleição é casada, o eleitor vai votar também em governador, senador e deputado federal e estadual, e nessas condições a força partidária ajuda muito. 

Haddad também tem um partido enraizado em todo o Brasil. E ainda mais organicamente plantado que o PSDB de Alckmin. Nesse quesito, apesar de a coligação de Alckmin ser maior, refletida no seu tempo de TV, a base de Haddad não é nada desprezível. Mas aí tem um problema, embora seja o mais forte candidato para ir ao segundo turno, Haddad é o mais fraco dos quatro concorrentes, o único que perde para Bolsonaro na pesquisa do Datafolha.

Eliane Cantanhêde: Ventos pró-PT

- O Estado de S.Paulo

Depois de passar Alckmin e Marina, Haddad tende a ultrapassar Ciro

A cada dia sua agonia e a cada uma das campanhas seu desafio, faltando apenas três semanas para as eleições mais tensas, agressivas e incertas desde a redemocratização de 1985. A consolidação de Jair Bolsonaro e o avanço de Fernando Haddad projetam a chegada da extrema direita ou a volta do PT ao poder e isso mexe com a alma e os escrúpulos dos demais candidatos, principalmente dos que estão embolados na disputa por uma vaga no segundo turno.

Bolsonaro (PSL) está confortável nas pesquisas, mas tem o desafio de fazer campanha depois de esfaqueado e de duas grandes cirurgias. Não pode se atirar nos “braços do povo” como faz há tempos em aeroportos e centros de cidades, não pode nem ao menos gravar vídeos para a propaganda eleitoral e não tem prazo para voltar à atividade política. Pior: sem o comandante, a tropa bate cabeça e seu vice, general Hamilton Mourão, já quer assumir o controle.

No lado oposto, Haddad (PT) vira o novo fenômeno de 2018 e enfrenta dois problemas. Um é ter de falar no ex-presidente Lula de manhã, de tarde, de noite e de madrugada, aumentando a percepção de que seria uma marionete de Lula, uma escada para a volta do próprio Lula à Presidência. O outro problema é que todos os candidatos batiam em Geraldo Alckmin (PSDB), mas agora desviam suas baterias para Haddad. E a artilharia mais pesada é justamente a forte rejeição ao PT em boa parte da sociedade.

Atropelado por Haddad, Ciro Gomes (PDT) deve recuar para o terceiro lugar já na próxima rodada. Seu desafio é bater em Haddad – para manter sua posição, sobretudo no Nordeste –, sem atingir Lula, de quem pretende herdar votos de esquerda em todas as regiões. Ou seja, tem de bater em Haddad, mas endeusando Lula. O segundo problema de Ciro é... ele mesmo. Como pretende negociar reformas, programas e o bem do País com Congresso, opinião pública, empresários, trabalhadores e mídia, com seu temperamento explosivo? Numa hora, simpatia; na outra, destempero.

Alckmin precisa reverter a postura autodestrutiva dos tucanos, que persegue sua candidatura dia a dia, mês a mês, há mais de um ano, e acaba de gerar a entrevista do ex-presidente do PSDB Tasso Jereissati, criticando o passado, o presente e o futuro do PSDB. Numa hora dessas? Com aliados assim, e com um MP que manda prender e devassar governadores tucanos no auge da eleição, Alckmin não precisa de adversários. Mas ele conta com um efeito que ocorre em todas as eleições: a definição de voto de na reta final, nos últimos dias, até nas últimas horas. Esse movimento tende a ser pragmático, movido pela rejeição aos extremos e a favor do centro.

Vera Magalhães: Haverá um dia seguinte

- O Estado de S.Paulo

Eleitores de Bolsonaro ou do PT estão contratando um encontro no segundo turno

Uma parcela do eleitorado brasileiro resolveu encarar as eleições como aquela última festa do ano, à qual você vai para beber todas, extravasar as tensões, dizer verdades na cara do colega que não suporta, sem pesar as consequências da ressaca. Mas assim como na firma ou na repartição, no País também haverá um dia seguinte à rave da democracia, e a depender do que o eleitorado fanfarrão fizer ele poderá ser mais ou menos penoso. Suave e divertido não será, isso já está mais do que claro.

Submetido a uma sequência de provações nas searas econômica – desemprego, desalento, falta de perspectiva –, política e ética, esse eleitor radical se retirou para os extremos. Uma parcela dele abraçou um candidato que vocifera contra a política mesmo vivendo dela há quase três décadas e nela colocando toda a família, que diz não entender nada de economia e promete vagamente cumprir um programa que é o oposto da sua vida parlamentar sem ter maioria mínima para mudar nem nome de praça.

Como Jair Bolsonaro fará isso? Não parece importar. Qual sua proposta para temas cruciais, como reforma da Previdência? Dane-se, o tal do Paulo Guedes (que a maioria de seus seguidores religiosos não saberia apontar num conjunto de três fotografias) resolve. Qual o compromisso deste candidato com as instituições e a democracia? Isso, então, é o que é mais relativizado pelos radicais que enxergam em Bolsonaro uma “saída” para “tudo que está aí”.

Bruno Boghossian: Entre os extremos

- Folha de S. Paulo

Centro fica espremido e eleitor se alinha em batalha de extremos

Aos poucos, o eleitor se acostuma com a barulheira que chega dos extremos. O crescimento contínuo de Jair Bolsonaro (PSL) e a decolagem acelerada de Fernando Haddad (PT) empurram a corrida presidencial cada vez mais para os polos da disputa. Os apelos do tal “centro” político não se propagam no vácuo.

A população que vai às urnas em três semanas começa a tratar com normalidade a batalha entre uma direita notadamente radical e uma esquerda ferida pelo impeachment e pela prisão de Lula. Haddad está longe de ser um extremista, mas até agora sua moderação foi abafada pela animosidade do partido.

A evolução dos números do Datafolha indica que os eleitores toparam se armar para essa guerra. Em junho, diante de um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, 34% dos entrevistados diziam votar em branco ou nulo. Agora, o índice é de 17% —ou seja, metade daquele grupo resolveu escolher um lado, alimentando um empate técnico (41% a 40%).

O principal motivo da variação é o fato de que Haddad era pouco conhecido antes de seu lançamento oficial, mas o resultado reforça a impressão de um rápido alinhamento do eleitorado nas bordas da disputa.

Os chefes do establishment político sabiam que os centristas teriam dificuldade em emplacar um discurso de conciliação. Tentaram, de todo jeito, dar uma cara nova a um velho consórcio de partidos, sondando nomes como João Doria e Luciano Huck, e até flertando com o tom mais raivoso de Ciro Gomes (PDT).

Ainda há 21 dias de campanha pela frente, mas o espaço entre os extremos vai ficando apertado. Bolsonaro tem uma taxa altíssima de apoiadores convictos (75% dizem que não mudam de voto), e Haddad tem um lago enorme para pescar (40% dos eleitores de baixa renda ainda não sabem que ele é o candidato de Lula).

Ciro e Geraldo Alckmin (PSDB) só conseguirão avançar na terceira via se pegarem carona no voto útil. Para isso, precisarão convencer o eleitor a voltar no tempo, quando PT e PSL pareciam opções menos aceitáveis.

Samuel Pessôa: O candidato do PT

- Folha de S. Paulo

Há problema quando não aprendemos com os erros das decisões passadas

Acabou o suspense. O Partido dos Trabalhadores tem seu candidato.

Em entrevista à Globonews no dia 6 de setembro, Fernando Haddad reconheceu alguns erros de Dilma que resultariam em uma pequena crise. A severidade da recessão em 2015-2016, porém, foi consequência de o PSDB não ter aceitado o resultado eleitoral.

A tese é quase divertida. Fica o desafio de um trabalho estatisticamente sério que mostre que a conjectura vai além de conversa de botequim.

O candidato parece ignorar o desastre fiscal do governo, que levou a dívida pública a passar de 50% para 70% do PIB em apenas três anos.

O que preocupa mais é a dificuldade de aprendizado. Lula não errou. Os empréstimos do BNDES, a reconstrução da indústria naval, a mudança do marco regulatório do petróleo, a construção das refinarias, e inúmeras outras medidas não foram erradas.

Recente estudo de Ricardo Barboza e Gabriel Vasconcelos documenta que cada R$ 1 emprestado pelo BNDES gerou R$ 0,50 de investimento.

Vinicius Torres Freire: Ciro, entre morrer na praia e vencer

- Folha de S. Paulo

Candidato é o anti, o filho do meio, o escolhido para bater qualquer um no segundo turno

Ciro Gomes é o único candidato que vence as disputas de segundo turno. Todas.

Nos demais confrontos, há na prática empate, com exceção de um confronto ora improvável.

Ciro bate Jair Bolsonaro com folga e Fernando Haddad de lavada, se lê no Datafolha.

No momento, Ciro é o recurso de segunda e última instância dos que rejeitam petistas e bolsonaristas.

É o candidato no centro geométrico da eleição, embora não ocupe o centro do espectro tradicional da política --e boa parte do eleitorado nem liga para isso.

Ainda assim, seu sucesso depende de dar as mãos para os dois lados, azuis e vermelhos.

Ciro é o "anti". O segundo melhor para muita gente, 30% dos eleitores. O mal menor. O filho do meio. O nome que se dê. Mas corre o risco de ficar de fora do segundo turno, empatado que está com um Haddad em ascensão rápida.

Pensar no segundo turno tem importância considerável nesta campanha de votação muito fragmentada, de repulsas intensas e em que parte relevante do eleitorado fará lances estratégicos a fim de evitar o pior.

Dado que Bolsonaro parece perto do segundo turno e, portanto, haverá luta renhida pela segunda vaga, conviria prestar atenção a alguns dados.

Luiz Carlos Azedo: O grande déjà vu

-- Correio Braziliense

“As mudanças no mundo colocaram em xeque a democracia representativa e os programas socialdemocrata e liberal, o que alimenta projetos autoritário e/ou populista de volta ao passado”

A três semanas das eleições, começam a se definir as alternativas reais de poder à esquerda e à direita na disputa pela Presidência da República, num processo de polarização e radicalização política que parece irreversível. A única possibilidade de barrá-lo seria o reagrupamento dos eleitores de centro em torno de uma candidatura mais robusta, o que parece cada vez mais difícil, em razão do esgarçamento político provocado pela disputa acirrada entre os candidatos que disputam essa fatia do eleitorado.

Na pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira, estava delineado este cenário: mesmo fora da campanha, hospitalizado, Jair Bolsonaro (PSL) atingiu 26% das intenções de voto, uma variação positiva de dois pontos, fruto da inércia de sua atuação nas redes sociais e, obviamente, do atentado à faca do qual foi vítima; o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), no vácuo do prestígio eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso, cresceu mais três pontos, confirmando o êxito da audaciosa estratégia petista, chegando ao mesmo patamar de Ciro Gomes (PDT), ambos com 13% dos votos.

Além de Ciro Gomes, tentam chegar ao segundo turno Geraldo Alckmin (PSDB), que oscilou de 10% para 9%; e Marina, que caiu de 11% para 8%, ou seja, a metade das intenções de voto que tinha em agosto (16%). João Amoêdo (Novo), Henrique Meirelles (MDB) e Álvaro Dias (Podemos), todos com 3%, completam a fragmentação do eleitorado de centro. Esses candidatos somam 23% dos votos, ou seja, o suficiente para levar um nome de centro ao segundo turno. Se adicionarmos os 13% de Ciro, teríamos uma fatia de 36% dos eleitores que rejeitam Bolsonaro e Haddad, ou seja, um candidato a um passo da vitória, como aliás mostram as simulações, até com folga. O esgarçamento das relações políticas entre esses candidatos, porém, dificulta a convergência de seus eleitores em direção ao centro no primeiro turno; é mais fácil os eleitores se dividirem em dois blocos e embarcarem na nefasta radicalização esquerda versus direita, no segundo turno.

Bolsonaro e Haddad protagonizam um grande déjà vu (eu já vi), expressão francesa que descreve a reação psicológica da transmissão de ideias de que já se esteve em algum lugar ou viu alguma pessoa. Isso não significa necessariamente que se tenha vivido a experiência. Segundo a neurociência, o cérebro possui a memória imediata, responsável, por exemplo, pela capacidade de repetir imediatamente um número de telefone e logo esquecê-lo; a memória de curto prazo, que dura algumas horas ou dias, mas pode ser consolidada; e a memória de longo prazo, que dura meses ou até anos, como a aprendizagem de uma língua. O déjà vu ocorre quando há uma falha cerebral: os fatos que estão acontecendo são armazenados diretamente na memória de longo ou médio prazo, sem passar pela memória imediata, o que nos dá a sensação de já haverem ocorrido.

Bernardo Mello Franco: Toffoli e a boia aos náufragos

- O Globo

Horas antes de assumir o STF, Dias Toffoli livrou Guido Mantega da Lava-Jato. A decisão dá mais pistas sobre os novos tempos que o seu discurso de posse

O novo presidente do Supremo Tribunal Federal não disse a que veio em seu discurso de posse. Em 27 páginas, o ministro Dias Toffoli se esquivou de polêmicas e fez uma promessa vaga de “pacificação”. Citou os pensadores Renato Russo e Leandro Karnal, mas não encontrou tempo para falar de mordomias e privilégios.

A palavra “corrupção”, que tem dominado a agenda da Corte, foi lembrada apenas duas vezes. Numa delas, o orador discorria sobre um programa de TV. Horas antes do falatório, Toffoli deu uma pista mais quente do que esperar de sua gestão. Numa canetada, ele suspendeu a ação penal contra o ex-ministro Guido Mantega por corrupção e lavagem de dinheiro. O petista foi acusado de cobrar R$ 50 milhões da Odebrecht em troca da edição de duas medidas provisórias.

Segundo o dono da empreiteira, o dinheiro serviu para “fins diversos” e abasteceu a chapa Dilma-Temer na eleição de 2014. De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal, o petista beneficiou a construtora em troca do pagamento de propina. Marcelo Odebrecht disse que o negócio foi fechado em reunião no escritório do Ministério da Fazenda em São Paulo.

O delator contou que Mantega exibiu o valor desejado numa folha de papel. Para não deixar rastros, ele teria ficado com a anotação. A conversa entre o ministro e o empreiteiro ocorreu em 2009, mas o processo só foi aberto em agosto passado. No dia em que completaria um mês, voltou à estaca zero. Toffoli tirou o réu das mãos do juiz Sergio Moro, titular da 13ª Vara Criminal de Curitiba. O ministro acusou o juiz de “burlar” um entendimento do Supremo. Ele alegou que o processo de Mantega se limitaria à prática de caixa dois. Por isso, deveria correr na Justiça Eleitoral, paraíso dos políticos investigados pela Lava-Jato.

*Celso Lafer: Trump e o mundo, uma diplomacia de erosão

- O Estado de S.Paulo

Ela contribui para a incidência do arbítrio numa ordem mundial já muito precária

Num interessante livro de 2007 dedicado à análise do antiamericanismo na política mundial, Peter Katzenstein e Robert Keohane propõem uma distinção entre a vertente dos que se opõem aos EUA pelo que são e a dos que a eles se opõem pelo que fazem. Essa dicotomia não é de natureza excludente, porque muito do que os EUA fazem ou fizeram tem sua raiz naquilo que são. Ainda assim, a dicotomia é útil. Ajuda a esclarecer, na era Trump, as razões das muitas críticas ao que os EUA fazem, cabendo nesse contexto registrar que o atual presidente, por sua maneira de atuar, é um ponto fora da curva da tradição política de seu país. É, aliás, o que explica o vigor das contestações internas que enfrenta. A dicotomia também elucida os motivos pelos quais esse fazer vem comprometendo o soft power dos EUA, que é a vertente da irradiação positiva daquilo que são.

Uma área em que é significativa a crítica ao que os EUA vêm fazendo na presidência Trump diz respeito à sua postura desqualificadora do multilateralismo e depreciativa das possibilidades da cooperação internacional. O America First que norteia essa postura não se circunscreve a uma contundente asserção político-diplomática dos interesses nacionais dos EUA, tal como interpretados pela administração Trump. Tem um alcance mais amplo. Vai além do simples impacto do poder de atuação de uma das grandes potências da atualidade, com seus interesses gerais na dinâmica de funcionamento da ordem mundial. Magnifica a instabilidade do sistema internacional, hoje caracterizado pela imprevisibilidade da geografia das paixões e pelas tensões da multipolaridade, provenientes de uma nova distribuição dos elementos constitutivos do poderio dos Estados.

Entrevista: Retrocesso à vista - José Álvaro Moisés

O cientista político José Álvaro Moisés diz que Bolsonaro ajuda a acirrar clima de intolerância no Brasil e afirma que o regime democrático está sob ameaça

Por Roberta Paduan | Revista Veja, edição nº 2600

José Álvaro Moisés, 73 anos, especializou-se em democracia brasileira, assunto sobre o qual já escreveu três livros. Atualmente, o cientista político coordena o grupo de estudos sobre o tema no Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), onde se formou e também fez doutorado. Um dos fundadores do PT, em 1980, ele se afastou definitivamente do partido durante o governo Itamar Franco. “Desde 1989, vinha percebendo que o PT não sabia lidar com a complexidade democrática. Mostrou isso em 1989, depois da queda do Muro de Berlim, quando deveria ter se afirmado como um partido de esquerda democrática, e não o fez.” Em entrevista a VEJA, Moisés falou sobre as singularidades da atual eleição, o significado do ataque ao presidenciável Jair Bolsonaro e por que acredita que a democracia, como ele a estudou, está sob ameaça — no Brasil e no mundo.

A seguir, sua entrevista.

• O atentado contra o candidato Jair Bolsonaro é um sinal de radicalização da política no Brasil?
Sim. Demonstra que estamos chegando a um grau de intolerância em que o uso da violência começa a ser encarado como “natural” na solução de conflitos políticos. As pessoas vêm reagindo de maneira raivosa diante das disputas, mesmo aquelas que não estão envolvidas diretamente na política. O autor do atentado diz ter decidido atacar Bolsonaro simplesmente por não aceitar a maneira como ele pensa. Espero estar errado, mas acredito que esse é mais um sinal da reintrodução da violência na política brasileira, o que é um retrocesso gravíssimo.

• Quais foram os outros sinais disso?
Assistimos há pouco tempo ao atentado contra a caravana do ex-presidente Lula no Paraná. Há seis meses, o Brasil presenciou, chocado, o assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL, no Rio de Janeiro. Antes disso, nas eleições municipais de 2016, houve o assassinato de candidatos a vereador e a prefeito, particularmente na Baixada Fluminense. É um nível de tensão política que não existia desde o período militar — quando vivíamos a violência do Estado contra os opositores do regime, que resultou em luta armada. Agora, estamos em um clima quase generalizado de intolerância. O próprio Bolsonaro vai nessa direção quando diz que “é necessário metralhar a petralhada”. Quando Bolsonaro diz isso, não é mais uma crítica ideológica, política, ou contra a corrupção. É uma manifestação que induz o indivíduo a pensar que é aceitável usar a violência na disputa eleitoral.

• Dizer que Bolsonaro incita a violência não é uma forma de culpar a vítima?
De maneira alguma. Uma coisa não está relacionada à outra. Bolsonaro foi vítima de um atentado inaceitável. O autor quis eliminar o candidato simplesmente por não aceitar as suas ideias. Mas, independentemente de ter sido vítima, há o fato inconteste de que Bolsonaro incita a violência e não tem grande amor pelos princípios que constroem uma democracia, como o respeito pelas minorias, conforme deixou claro em mais de uma ocasião.

• Mas, apesar de suas falas, Bolsonaro nunca pegou em armas para agredir um adversário.
É verdade, mas ele persiste num discurso perigoso quando afirma que para resolver a situação do Brasil seria preciso terminar o serviço que a ditadura não fez, “fuzilando uns 30 000, a começar pelo ex-¬presidente Fernando Henrique Cardoso”, como já disse. Esse tipo de discurso pode não influenciar pessoas racionais, equilibradas, mas ajuda a dividir a sociedade entre “nós” e “eles”, a exemplo do que fez o PT. Bolsonaro também ajuda a polarizar a sociedade entre “esquerda” e “direita”, reproduzindo exatamente a cartilha petista. É um discurso que tem o potencial de estimular pessoas como o rapaz que atentou contra a vida dele. E esse tipo de conduta não deveria, em nenhuma hipótese, ser replicado por um homem público que quer liderar uma nação. Na democracia, o homem público tem responsabilidades, e uma delas é defender a solução pacífica dos conflitos políticos e sociais. Líderes democráticos são responsáveis, ou deveriam ser, pelo clima de entendimento entre os diferentes.

“Bolsonaro ajuda a polarizar a sociedade entre ‘esquerda e direita’, como fez o PT. Essa conduta não deveria ser replicada por um homem público que quer liderar uma nação”

• Bolsonaro põe em risco a democracia?
Ele é um exemplo de político com características de autocrata, quando analisamos suas posições à luz do diagnóstico de Steven Levitsky (refere-se ao cientista político americano autor do livro Como as Democracias Morrem), cuja tese principal é que, nos dias de hoje, as democracias são minadas não mais pela força de golpes militares, mas por meio de políticos eleitos pelo voto e que enfraquecem as instituições democráticas aos poucos. A pesquisa de Levitsky mostra que esse tipo de político costuma dar sinais de seus pendores autoritários antes mesmo de ser eleito. Algumas de suas características são incentivar a violência, contestar a legitimidade dos adversários e atacar as liberdades civis, por exemplo. Bolsonaro faz precisamente isso ao desmerecer minorias e pôr em dúvida o processo eleitoral quando questiona o funcionamento da urna eletrônica, como quem diz que só perderá a eleição se houver fraude eleitoral.

• Por que esse tipo de discurso, antes intolerável na sociedade brasileira, vem ganhando mais força?
Porque vem crescendo no brasileiro a sensação de que ele próprio é irrelevante para o funcionamento da democracia. Essa sensação produz um sentimento de desprezo pelo sistema, e pode levar à percepção de que pouco importa se ele for substituído por alternativas autoritárias. A campanha das Diretas Já foi um ponto alto no engajamento pela democracia. Ela acabou associada ao direito não só de votar, mas também de participar, de ser ouvido. Hoje, essa sensação de participação se perdeu em razão de muitos fatores. Atualmente, quase 90% dos entrevistados de pesquisas de opinião declaram não se sentir representados por nenhum partido político. Dos 147 milhões de eleitores, apenas 17 milhões são filiados. Além disso, metade dos eleitores afirmou que a democracia pode funcionar sem os partidos e sem o Congresso Nacional. Essa aversão aos políticos já havia sido sugerida em 2013, nas Jornadas de Junho. Mas Brasília permaneceu insensível, o que só faz ¬aumentar a distância entre governados e governantes.

Entrevista: ‘O próximo governo não terá coalizão programática’ – Sérgio Abranches

Autor, que lança “Presidencialismo de Coalizão”, no dia 24, fala sobre as raízes do sistema político e o atual momento da governabilidade no Brasil

Roberto Maltchik | O Globo

Com 45 anos de análises políticas, Sérgio Abranches detalha os desafios do sistema político e aponta os riscos de o próximo presidente, seja ele quem for, reproduzir o atual padrão de relacionamento entre o governo e o Congresso .“Do ponto de vista da lógica, não há nada que tenha mudado essencialmente na política brasileira que faça com que seja diferente".

• Quais são, hoje, os problemas do presidencialismo de coalizão no Brasil?

O problema não é ser presidencialista, nem de coalizão. O problema do presidencialismo de coalizão é que ele tem, progressiva e rapidamente, caminhado para um padrão absolutamente clientelista, baseado no toma lá da cá.

• Por que se agrava a cada dia?

Por várias razões, mas uma delas é o excesso de fragmentação de partidos nas coalizações. Coalizões muito grandes são muito mais difíceis de lidar. E também o fato de que não há afinidade programática nenhuma entre o presidente e os partidos de sua coalizão. E isso vai acontecer, de novo, no ano que vem. Não haverá coalizão programática.

• Não tem como ser diferente?

Do ponto de vista da lógica, não há nada que tenha mudado essencialmente na política brasileira que faça com que seja diferente. A centralização de recursos na União continua enorme; a discricionariedade do presidente na gestão do gasto público continua a mesma; e você tem um problema adicional: essa eleição de 2018 pode chegar ao fim do segundo turno sem a coalizão montada. Isso vai ocorrer entre novembro e fevereiro. Nesses quatro meses, o que sobra para negociar com os partidos? Ministérios e posição. Na verdade, o novo presidente não discutiu, em momento algum, com nenhum parceiro, o seu programa de governo.

Entrevista: Bolsonaro faz o mesmo que Hugo Chaves - Persio Arida

Entrevista com Persio Arida, economista

‘Paulo Guedes é um mitômano e criou falsa narrativa’, diz Persio Arida

O economista, coordenador do programa econômico de Geraldo Alckmin (PSDB), afirma ainda que Bolsonaro é um ‘risco à democracia’ assim como Haddad se ele ‘de fato for o Lula’

Renata Agostini, O Estado de S.Paulo

Coordenador do programa econômico de Geraldo Alckmin (PSDB), Persio Arida diz que o mercado está em autoengano ao acreditar que Paulo Guedes garantirá a linha liberal de um governo Jair Bolsonaro (PSL). “O presidente faz o que quer e não o que combinou com o economista. Quem tem a caneta manda”, disse ao Estado.

Ele critica a inexperiência de Guedes, a quem classifica de mitômano. “Ele nunca produziu um artigo de relevo. Nunca dedicou um minuto à vida pública, não faz ideia das dificuldades.”

Para Arida, a postura liberal de Bolsonaro é uma farsa e ele segue o mesmo roteiro de tradicionais líderes de esquerda latino-americanos ao acenar aos liberais nas eleições. “Hugo Chávez também mostrou-se amigável com o mercado em sua primeira eleição. Durou pouco.”

Sobre a estagnação de Alckmin nas pesquisas, avalia que a campanha precisa buscar a parcela que não quer os extremos de PT e Bolsonaro. Segundo ele, ambos são riscos à democracia.

Como fica a campanha diante do atentado a Bolsonaro e a confirmação do nome de Haddad?
Bolsonaro foi vítima de uma selvageria. O atentado tem de ser recriminado por todos. Agora, do ponto de vista político, ele está onde sempre esteve. Ele sempre comungou com a esquerda o viés estatizante e corporativo. Por isso, votou com a esquerda no passado, inclusive contra o Plano Real. Seguiu assim: votou contra o cadastro positivo, se declarou a favor da criação de municípios. Acabou de dizer que não privatizará Petrobrás, Banco do Brasil ou Caixa, pois são estratégicas, linguagem da esquerda. A virada em busca do discurso liberal está de acordo com o perfil dos candidatos tradicionais de esquerda.

Por quê?
Lula fez isso com a “Carta ao Povo Brasileiro” (que precedeu sua primeira eleição, em 2002). O tenente-coronel Hugo Chávez fez isso. Tal como Bolsonaro, mostrou-se amigável com o mercado financeiro em sua primeira eleição, disse que não tinha nada contra o FMI. Depois, convocou Constituinte e o resto da história é a tragédia que conhecemos. Esse movimento de Bolsonaro é o padrão normal latino-americano. Ele é um engodo liberal.

Paulo Guedes não é o fiador dessa proposta liberal?
Paulo Guedes é mitômano, criou falsa narrativa pela qual PSDB e PT são iguais e que tudo no Brasil foi errado porque ele e os liberais nunca estiveram no poder. Ele nunca escreveu um artigo acadêmico de relevo, tornou-se um pregador liberal. Falar é fácil, fazer é muito mais difícil. Nunca faltaram bons economistas liberais no Brasil. O problema sempre foi a falta de políticos com essas convicções. Se economista liberal resolvesse, o governo Dilma tinha sido um sucesso: Joaquim Levy, também da Universidade de Chicago e, ao contrário de Guedes, com enorme experiência prévia, foi nomeado para a Fazenda. O presidente faz o que quer e não o que combinou com o economista. Quem tem a caneta manda.

O voto democrático em Geraldo Alckmin: Editorial | PPS

O voto democrático em Geraldo Alckmin

O motivo para votar em Geraldo Alckmin no primeiro turno da presente corrida eleitoral para além das razões de ordem política e doutrinária é sobretudo uma questão de bom senso. Alckmin é uma liderança do centro democrático reformista. Ou seja, um social-liberal ao mesmo tempo comprometido com o aperfeiçoamento do regime democrático e valores republicanos, como também com políticas sociais que promovam a igualdade e a melhoria das condições de vida do povo.

Desde sua eleição para prefeito de Pindamonhongaba (SP), Alckmin foi um homem da resistência democrática e atuou quando deputado constituinte pela atual Constituição democrática e progressista do Brasil. Seu compromisso é de preservar a democracia e também de aperfeiçoá-la com propostas que diminuam o número de partidos, e que aumentem a sua transparência e o seu controle pelos eleitores, como o voto distrital misto.

Foi a atual Constituição, aliás, que deu poderes de investigação ao Ministério Público e propiciou a Operação Lava Jato. Também foi o texto constitucional, por articulação decisiva do então senador Mário Covas, que criou o instituto do Projeto de Lei de Iniciativa Popular e permitiu a aprovação da Lei da Ficha Limpa.

Como governador de São Paulo, Alckmin demonstrou um correto equilíbrio entre a responsabilidade de zelar pelas contas públicas e ao mesmo tempo manter o gasto social, fundamental para a qualidade dos serviços públicos e o resgate da dívida social do País. Apesar da grave crise das contas públicas que abalou os governos federal, dos estados e municípios, Alckmin conseguiu avançar em diversos indicadores durante seu governo, como no combate à criminalidade e na melhoria da educação básica.

A responsabilidade fiscal de Alckmin se combina com sua sensibilidade social. Durante os debates da reforma da Previdência, ele orientou os deputados do seu partido a preservar tanto a Aposentadoria Rural como também o BPC (Benefício de Prestação Continuada), protegendo os idosos pobres.

Esses dois benefícios, diga-se, foram instituídos pela Constituição de 1988, regulamentados no governo de Itamar Franco e continuados por Fernando Henrique Cardoso, sob a gestão da antropóloga Ruth Cardoso, que inaugurou um inovador e democrático modelo de Assistência Social em parceria com instituições da sociedade civil, sem partidarização.

Alckmin é um homem de diálogo capaz de unir mulheres e homens de diferentes orientações partidárias com o objetivo de promover o bem comum, o desenvolvimento e a prosperidade para todos. Do seu governo participaram além de partidos liberal-democráticos como também partidos de tendência social-democrática, como o PSB do seu vice e atual governador Márcio França e o PPS do deputado Roberto Freire.

Como mostram as pesquisas, Alckmin é o melhor nome para superar o radicalismo patrocinado pelos extremos da política brasileira e inaugurar uma nova fase de crescimento econômico em um ambiente democrático e de paz social no País.

Estas são as razões poderosas que levam o PPS a pedir a todos os seus amigos e simpatizantes o mais decisivo empenho em torno do voto democrático em Geraldo Alckmin para presidente da República no próximo 7 de outubro.
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Assessoria do Partido Popular Socialista”

O desafio do liberalismo: Editorial | O Estado de S. Paulo

O triunfo do pensamento liberal, que concilia o livre mercado, as liberdades políticas e o Estado de Direito, possibilitou, a partir do século 19, um extraordinário salto de bem-estar e progresso para a humanidade. Como lembrou a revista britânica The Economist em edição comemorativa de seu 175.º aniversário, o predomínio do liberalismo no Ocidente desde então ajudou a elevar a expectativa de vida mundial de cerca de 30 anos para mais de 70 anos, a reduzir o contingente populacional abaixo da linha de pobreza de 80% para 8% e a multiplicar por cinco a taxa de alfabetização, enquanto mais e mais pessoas se tornaram conscientes da importância do império da lei para o desenvolvimento social e a prosperidade econômica.

A despeito de tudo isso, no entanto, parece que está em curso neste momento uma “rebelião popular contra as elites liberais”, como diagnosticou a Economist – um fenômeno, diz a revista, diretamente relacionado à impressão, cada vez mais disseminada, de que essas elites são “egoístas” e não podem ou não querem “resolver os problemas das pessoas comuns”. No momento em que o processo eleitoral brasileiro está polarizado entre candidaturas francamente demagógicas, que exploram esse sentimento difuso de frustração popular com a chamada ordem liberal, tal exame não poderia ser mais oportuno.

A rigor, o Brasil raras vezes viveu, de fato, uma ordem liberal. Aqui predomina há tempos o princípio de que o Estado deve tudo poder e prover, de onde deriva a presunção de que nada funciona fora dessa ordem estatal — e, se assim é, cria-se uma cultura da acomodação, seja de cidadãos que esperam direitos e benefícios do Estado, seja de empreendedores que se comportam como se tivessem direito natural a incentivos e privilégios oficiais.

Educação avança, mas de forma insatisfatória: Editorial | O Globo

Há uma evolução em curso, porém sua velocidade ainda não atende às exigências do desenvolvimento

Há uma agenda pesada na economia para o próximo presidente da República, mas não só. Como haver crescimento sustentado, sem distorções, é essencial para tudo funcionar de maneira equilibrada, com demandas da população sendo atendidas sem maiores disparidades, dificuldades na economia se refletem em todos os setores. Não que a abundância de recursos resolva tudo. Se não houver competência administrativa, não se irá longe. Mas, por óbvio, capacidade de investir é essencial.

A necessidade de equilíbrio entre recursos e gestão está presente na Educação, um flanco vulnerável do Brasil. É reconhecido que o país avançou e, em alguma medida, está indo em frente. Mas ainda não é suficiente para se ter uma mão de obra com qualificação à altura das exigências de uma economia desenvolvida. Nos governos tucanos e petistas, de FH e Lula, foi alcançada a universalização nas matriculas das crianças, criaram-se exames e testes para o monitoramento constante da evolução da qualidade e eficácia do ensino.

Assim como foram feitas reformas importantes no campo fiscal, para o reordenamento de recursos públicos, por meio do Fundef (ensino fundamental), ampliado para o Fundeb (básico), com o objetivo de redistribuir o dinheiro dentro da Federação, dos entes federativos mais ricos para os mais pobres. As ferramentas de acompanhamento de alunos/escolas permitiram o estabelecimento de metas, e não há mais voo cego na definição e aplicação de políticas educacionais.

Opções paulistas: Editorial | Folha de S. Paulo

Sinais de acomodação no estado mais rico do país indicam a necessidade de inovações e parcerias

São Paulo parece ter escapado do pior ao atravessar a grave crise em que o país afundou nos últimos anos. Funcionários públicos e fornecedores continuam recebendo em dia do governo; não houve interrupção de serviços essenciais como em outros lugares.

Apesar dos reflexos da recessão sobre suas receitas, o estado conseguiu recuperar a arrecadação e foi capaz de manter suas contas equilibradas, segurando despesas e garantindo uma margem modesta para realização de investimentos.

Os gastos com pessoal, principal fonte de desarranjo financeiro em outros estados, continuam dentro dos limites estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal. As despesas com aposentadorias são crescentes, mas não parecem representar ameaça imediata.

Decerto, boa parte dos méritos deve ser atribuída à continuidade proporcionada por sucessivas gestões do PSDB desde 1995.

Mais de duas décadas de hegemonia tucana, no entanto, podem ter representado também um incentivo à acomodação, desencorajando a adoção de soluções inovadoras que poderiam aumentar a eficiência da gestão do estado mais rico do país.

O desempenho da rede pública de ensino de São Paulo, em particular, decepciona. Divulgados há poucos dias, os resultados mais recentes do principal indicador de qualidade da educação básica mostram que unidades da Federação mais pobres têm progredido mais.

'Haddad usou reflexão honesta para fazer proselitismo político', diz Tasso

Tasso Jereissati rejeita uso de suas críticas ao PSDB por presidenciável petista; em entrevista ao 'JN', da Rede Globo, Fernando Haddad usou declarações de tucano ao 'Estado' para defender Dilma

Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

O senador Tasso Jereissati, ex-presidente nacional do PSDB e presidente do Instituto Teotônio Vilela, rebateu neste sábado, 15, o uso de suas declarações críticas ao seu próprio partido pelo candidato à Presidência da República Fernando Haddad (PT) durante o Jornal Nacional da última sexta-feira. “Haddad usou uma reflexão honesta para fazer proselitismo político”, disse Tasso.

Em entrevista concedida ao Estado, publicada na última quinta-feira, Tasso avaliou a trajetória do PSDB nos últimos anos. "O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral (...) O segundo erro foi votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer", disse.

Durante o Jornal Nacional da última sexta-feira, Haddad citou a entrevista de Tasso para defender o governo da presidente cassada Dilma Rousseff (PT) e dizer que ela foi impedida pelo PMDB e pelo PSDB de fazer os ajustes necessários no início de seu segundo mandato. "As pautas-bomba e a sabotagem que ela sofreu, reconhecidas pelo presidente do PSDB, tiveram mais influência na crise do que os eventuais erros cometidos antes de 2014", justificou Haddad.

Tasso acusou Haddad de "usar uma reflexão honesta para fazer proselitismo político". "É lamentável que um candidato à Presidência da República não tenha capacidade de olhar os erros da política no Brasil para projetar o futuro", disse. Tasso também afirmou que o uso político de suas críticas pelo petista "apequena a corrida presidencial".

Neste sábado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também fez referência, em sua conta do Twitter, à entrevista de Tasso ao Estado. "O senador Tasso está certo: o ciclo partidário-eleitoral se exauriu. Não há outro ainda. Alckmin poderá levar o país a um novo consenso. Fiéis à democracia e aos nossos compromissos votemos nele para a reconstrução social e econômica do Brasil."

Gal Costa: Sublime

Murilo Mendes: Novíssimo Orfeu

Vou onde a poesia me chama.

O amor é minha biografia,
Texto de argila e fogo.

Aves contemporâneas
Largam do meu peito
Levando recado aos homens.

O mundo alegórico se esvai,
Fica esta substância de luta
De onde se descortina a eternidade.

A estrela azul familiar
Vira as costas, foi-se embora!
A poesia sopra onde quer.