O Estado de S. Paulo
2026 aponta para a direita radical contra uma direita não radical travestida de centro
Na crise de inércia que assola Brasília e se
acentua nesta semana, todos disputam força, poder e espaço, sem compreender que
não há vencedores, só vencidos, e o maior exemplo veio do domingo na Avenida
Paulista, onde Bolsonaro pôde sentir ao vivo o declínio de sua liderança e
relevância. Nem 13 mil pessoas, para quem sacudia o País com multidões
acachapantes?
A força mobilizadora de Bolsonaro está se desmilinguindo a olhos vistos, como a do PT e do próprio presidente Lula há muito mais tempo, desde mensalão e petrolão. Não há mais líderes capazes de atrair povo nas ruas, não há mais paixão, crença, confiança. Tudo somado, a esperança evaporou?
No seu discurso praticamente sem plateia na
Paulista, Bolsonaro disse que, se tiver 50% da Câmara e do Senado, ele “muda o
País”. Muda como? E com quem? Com gente como a que ele arrastou para o
Congresso como o “salvador da pátria” em 2018 e em 2022? Assim como Carla
Zambelli, Daniel Silveira?
Já inelegível, Bolsonaro enfrenta a reta
final, no STF, do julgamento do “núcleo crucial” da tentativa de golpe. Onde
estará a partir de outubro? E Lula? Patinando em várias áreas, com índices
preocupantes de popularidade e levando um banho do Congresso, como chegará a
2026?
Enquanto Bolsonaro articula uma bancada
robusta de deputados federais e senadores para 2027, Lula está às voltas com o
presente, achando que reavivar a guerra de “ricos contra pobres” basta para
recuperar fôlego nas pesquisas. Repete, assim, a falsa crença de que nomear
Sidônio Palmeira resolveria tudo.
Se a estratégia de Lula não é animadora, a de
Bolsonaro é, como sempre, ameaçadora: jogar o Senado contra o Supremo,
inclusive votando a cassação de ministros, e eleger para a presidência da
Câmara alguém com a caneta à disposição de um processo de impeachment contra o,
ou a, presidente da República, seja quem for.
Ambos estão sem “povo na rua” e com a
militância do avesso. A bolsonarista é cada vez mais anti-Lula do que
pró-Bolsonaro; a lulista é mais anti-Bolsonaro do que pró-Lula. Um jogo de
perde-perde, que seria ideal para o surgimento de um centro vigoroso, mas não
parece.
Lula não deixa brecha nem opção para a
esquerda, ou é ele ou é ele em 2026, enquanto do lado oposto Tarcísio de
Freitas ganha musculatura e vai se assumindo “de centro”, ou “herdeiro dos
votos tucanos”. O que significa? Que 2026 pode descambar para uma disputa entre
a direita radical e a direita não radical travestida de “centro”.
Depende do quê? Da recuperação de Lula, da
sua liderança política, do rumo do governo e da capacidade de união das
esquerdas.
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