- O Globo
A eleição presidencial fica mais clara a cada dia aos olhos dos eleitores. Neste momento, graças ao ataque que sofreu, Bolsonaro está mais próximo do segundo turno. Seu adversário só será conhecido na última hora. Os candidatos à segunda vaga — Ciro Gomes, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e Marina Silva — lutarão cada dia como se fosse o último. Olhando hoje, três semanas antes do domingo, 7 de outubro, parece que vai dar Haddad.
Haddad foi o que mais cresceu dentre os quatro e aquele que reúne mais elementos que somados podem levar um candidato ao segundo turno. Ele tem bom tempo na TV, um eleitorado militante, o apoio do mártir Luiz Inácio Lula da Silva e está posicionado no lado oposto do campo onde se encontra Bolsonaro. Deste lado também estão Ciro e Marina. Ciro talvez seja a maior ameaça a Haddad, mas ele tem pouca TV e não tem Lula. Marina aparentemente não ameaça mais ninguém, mas mudaria o cenário se renunciasse em favor de Ciro.
Alckmin patina em meio a fogo amigo. Estaria melhor se conseguisse convencer Henrique Meirelles e João Amoêdo a desistirem de suas candidaturas. Sua coligação está bem distribuída no território nacional. Com a capilaridade extra do MDB certamente seria mais competitivo. Lembre-se que a eleição é casada, o eleitor vai votar também em governador, senador e deputado federal e estadual, e nessas condições a força partidária ajuda muito.
Haddad também tem um partido enraizado em todo o Brasil. E ainda mais organicamente plantado que o PSDB de Alckmin. Nesse quesito, apesar de a coligação de Alckmin ser maior, refletida no seu tempo de TV, a base de Haddad não é nada desprezível. Mas aí tem um problema, embora seja o mais forte candidato para ir ao segundo turno, Haddad é o mais fraco dos quatro concorrentes, o único que perde para Bolsonaro na pesquisa do Datafolha.
A explicação para esse paradoxo é tão simples quanto lógica. Mas é bom desenhar os cenários para melhor entendê-los. Num hipotético segundo turno entre Alckmin e Bolsonaro, alguns petistas votarão em Bolsonaro, mas a maioria preferirá não votar, se abster ou até mesmo votar em Alckmin contra o perigo que a dupla capitão e general representa.
No caso de uma disputa final entre Haddad e Bolsonaro, alguns tucanos votarão no PT, mas muitos irão para Bolsonaro com a justificativa de que há identidade entre eles na pauta econômica. Essa é a diferença fundamental entre os eleitores das duas siglas. Os petistas não conseguem sequer falar sobre Bolsonaro, imagine votar nele. Os tucanos tampam o nariz e vão em frente com Bolsonaro e Mourão.
Ciro e Marina teriam os votos da maioria dos petistas e seriam a solução mais palatável para os tucanos num segundo turno. Os dois assustam Bolsonaro, que tampouco gostaria de enfrentar Alckmin no turno final. Ele prefere Haddad. Dada a enorme rejeição do PT, que é bem maior do que a do seu candidato, Haddad também prefere confrontar Bolsonaro. O curioso é que os dois mais fortes candidatos para o segundo turno perderiam para qualquer um dos outros três numa disputa direta.
Mas isso aqui é Brasil. Mesmo da cadeia Lula já está articulando com o centrão apoio no segundo turno. Acordão, ministério em troca de votos, toma lá, dá cá são armas que Lula sabe muito bem usar. Não se esquecendo que José Dirceu está solto, pronto para fazer qualquer negócio. E ainda tem o Nordeste, que embora não ganhe eleição, pode significar a diferença de votos necessários para vencer. O Nordeste, já se sabe, vai mesmo com o candidato que o mártir
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