Antonio
Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, 4ª Edição, v,1, p.118. Editora
Civilização Brasileira, 2006.
Democracia Política e novo Reformismo
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
sábado, 6 de dezembro de 2025
Opinião do dia – Antonio Gramsci
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Descaso com crise fiscal contamina Orçamento de 2026
Por O Globo
Acordo entre Congresso e governo amplia
gastos em ano eleitoral, desprezando custo para o país
O descaso do governo e do Congresso com a crise fiscal ficou flagrante na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 aprovada nesta semana. É como se, em Brasília, as leis gravitacionais que regem a economia tivessem sido revogadas, e a classe política vivesse num universo paralelo, onde as despesas pudessem subir até a estratosfera, o dinheiro crescesse feito mato em meio à grama da Praça dos Três Poderes, e o contribuinte estivesse sempre disponível para arcar com tudo, sem custo para o crescimento e o desenvolvimento do país.
O Judiciário mais forte do mundo, por Thaís Oyama
O Globo
Faz tempo que ‘forte’ deixou de ser adjetivo
inocente. Passou a servir de aposto a políticos como Trump, Putin, Orbán,
Erdogan
Alexandre de Moraes disse que “não há no
mundo Poder Judiciário tão forte quanto o do Brasil”. O devaneio napoleônico do
ministro do STF foi proclamado em evento nesta semana para explicar à plateia
por que motivo o Judiciário sofre ataques contínuos de seus “inimigos”. É,
segundo Moraes, uma reação proporcional à grandeza da instituição — que ele
poderia ter enaltecido como “atuante", “independente”, “inquebrantável” ou
outra dezena de adjetivos de que seu vasto vocabulário de juiz certamente
dispõe. Preferiu dizer que é porque o Judiciário brasileiro é “forte” — segundo
ele, o mais forte das galáxias.
Faz tempo que “forte” deixou de ser um adjetivo inocente. Na tradição da ciência política que fala em “Estados fortes” e “Estados fracos”, os Estados Unidos da Guerra Fria eram o modelo de Estado fraco, por ser descentralizado e baseado no sistema de freios e contrapesos. O Estado forte por excelência era a União Soviética: centralizado, opaco, autoritário.
A crise mais urgente, por Flávia Oliveira
O Globo
O país sempre foi território hostil às
pessoas do sexo feminino, mas a brutalidade alcançou patamar inaceitável neste
2025
A despeito do esforço dos homens dos Poderes em buscar holofotes para o permanente estado de crise entre Executivo, Legislativo e Judiciário, não há nada mais urgente no Brasil do que a epidemia de violência contra mulheres. O país sempre foi território hostil às pessoas do sexo feminino, mas a brutalidade alcançou patamar inaceitável neste 2025, em que agressões e assassinatos, em vias públicas, são filmados e exibidos em looping sem que Lulas, Alcolumbres, Mottas e Gilmares interrompam as picuinhas de Brasília em socorro ao grupo populacional que é maioria na população, no eleitorado e no comando das famílias. O Ministério da Justiça registra quatro feminicídios, sete homicídios, 196 meninas e mulheres vítimas de estupro a cada dia. E o país segue funcionando como se violentadas elas não fossem.
Quatro mortes e uma prisão, por Eduardo Affonso
O Globo
Instituições psiquiátricas, não para prender,
dopar ou isolar, mas para socorrer, teriam salvado João e Gerson de si mesmos
Os personagens desta crônica se chamam Leona,
Layse, Allane, Gerson e João. Deveria haver também um anjo, mas este só costuma
aparecer nas narrativas sobrenaturais, e estamos no Brasil, no âmbito do
surreal. Desses cinco, quatro estão mortos — e a sobrevivente continua
condenada à prisão perpétua, sem ter jamais cometido crime algum.
Layse e Allane morreram por ser mulheres — o que, pela legislação, não é conduta passível de pena capital. Mas calhou de seu caminho profissional cruzar o de João, que padecia de uma doença severa e não tratada — cujo nome foi tão banalizado que perdeu a gravidade: misoginia.
Flávio Bolsonaro se lança à Presidência com aval do pai
O Globo
Por Luísa Marzullo, Lauriberto Pompeu, Gabriel Sabóia e Jeniffer Gularte
Centrão frustrado, apoio da família e
silêncio de Tarcísio: tudo sobre o anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro
Senador diz ter sido escolhido por Bolsonaro para disputar o Planalto em 2026
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciou nesta sexta-feira (5) ter sido escolhido pelo pai, Jair Bolsonaro, para concorrer à Presidência da República em 2026. Com o movimento, o ex-presidente passa a centralizar, da cadeia, o projeto político de parte da oposição, além de frustrar partidos do Centrão, que buscam uma união em torno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na sexta, dirigentes de partidos como PP,
União Brasil, Republicanos e PSD avaliavam que a indicação de Flávio, caso seja
concretizada, irá isolar o bolsonarismo, levando essas legendas a adotar a
neutralidade no ano que vem.
O entendimento, contudo, é que esse cenário pode ser revertido. Integrantes desses partidos acreditam que Flávio não possui musculatura para decolar em uma campanha presidencial e a iniciativa servirá para testar o sobrenome Bolsonaro na pré-campanha. Essa é a mesma leitura do Palácio do Planalto, que por enquanto comemora a desarticulação da direita.
Ungido pelo pai, Flávio Bolsonaro anuncia pré-candidatura, por Vinicius Doria
Correio Braziliense
O filho de Jair Bolsonaro, preso na Polícia
Federal, anuncia candidatura à Presidência da República e diz que conta com a
bênção do ex-presidente. Mercado, que torce por Tarcísio, reage, com Bolsa caindo
4,31% e dólar subindo a R$ 5,43
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ)
anunciou, nesta sexta-feira (5), que será o nome da família na disputa à
Presidência da República, no ano que vem. Ele assegurou a aliados que
a decisão foi tomada pelo pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que o
orientou a viajar pelo país para consolidar a pré-candidatura. A escolha
foi definida na última terça-feira, após Flávio visitar o pai
na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde cumpre
pena de 27 anos de prisão por liderar uma conspiração golpista.
"É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação. Eu não posso, e não vou, me conformar ao ver o nosso país caminhar por um tempo de instabilidade, insegurança e desânimo. Eu não vou ficar de braços cruzados enquanto vejo a esperança das famílias sendo apagada e nossa democracia sucumbindo", anunciou Flávio, em uma rede social.
Convocação à classe média, por Bolívar Lamounier
O Estado de S. Paulo
É essencial que as faixas mais altas da
classe média ponham mãos à obra, dando a partida para uma grande reforma de
fora para dentro
Caros leitores e leitoras, penso que o Brasil tem condições de resistir a Lula e ao senador Davi Alcolumbre (União-AP), um de cada vez, mas aos dois juntos, francamente, me parece difícil.
O sr. Alcolumbre, atual presidente do Senado Federal, encarna à perfeição uma das facetas tragicômicas do nosso presidencialismo. Um único membro do Congresso ameaça derrubar ladeira abaixo todo o ajuste fiscal que a duras penas vem sendo feito. Por quê? Ao que me consta, porque ficou melindrado por Lula não lhe ter dado ciência prévia do nome que pretendia indicar, como de fato indicou, para o Supremo Tribunal Federal (STF). No sistema parlamentarista, como todos sabem, o comportamento do senador Alcolumbre seria razão suficiente para o chefe de governo (o primeiro-ministro) solicitar ao chefe de Estado (o presidente da República) a dissolução da vigente legislatura e convocar novas eleições. Tal decisão nem precisaria ser consumada. A simples ameaça levaria no mínimo 400 congressistas a enquadrar o nobre senador pelo Amapá. Digo mesmo que essa hipotética situação nem faria sentido, porque o presidente do Senado, ciente da possibilidade da convocação de eleições antecipadas, não adotaria tal comportamento.
Populismo penal, Miguel Reale Junior
O Estado de S. Paulo
A exasperação das penas não leva a qualquer efetiva intimidação. Mais importante do que a dureza da pena prometida é a certeza de sua aplicação
O publicitário Roberto Medina, criador do
Rock in Rio, foi sequestrado em 6 de junho de 1990, mantido em cativeiro até o
pagamento de resgate.
A relevância social da vítima levou à reação
do Congresso Nacional, editando a Lei dos Crimes Hediondos, Lei 8.072/90, que
qualificava como hediondo o crime de extorsão mediante sequestro, cuja pena
seria cumprida em regime fechado. As extorsões mediante sequestro, todavia,
aumentaram após a edição da lei.
Mas o populismo penal prevalecia. A cada crime impactante, nova lei repressora. O assassinato de Daniela Perez levou a se criar movimento nacional reclamando-se maior rigor na apenação do homicídio, atendido pela Lei 8.930/1994, ao introduzir o homicídio qualificado no rol dos crimes hediondos.
O autoritarismo virtuoso de Gilmar, por Carlos Andreazza
O Estado de S. Paulo
Não há dúvida sobre o que fez Gilmar Mendes. Tomou prerrogativa do Congresso e desarranjou o sistema de freios e contrapesos para interditar qualquer possibilidade de processo de impeachment contra ministro do Supremo. Não deixará de ser forma de proteção a minoria. Tudo pela democracia. Blitz corporativista que apregoaria como se promovida em defesa do equilíbrio entre Poderes.
Sob o espírito do 8 de janeiro permanente, que já autorizou censura em nome de nos proteger de golpe eternamente à espreita, Mendes – de modo a salvaguardar o estado democrático de direito – criou um estado de direito específico para ministro do STF. Forjada modalidade de proteção à autonomia que garante a independência do Poder tornando-o inalcançável.
Senador dá troco em Michelle e prejudica economia de Lula, por Raquel Landim
O Estado de S. Paulo
Os dirigentes do PL repetem que, se Jair
Bolsonaro indicou, está resolvido: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é o
candidato do partido à Presidência da República. Mas será mesmo?
Tem muita gente colocando em dúvida por
alguns motivos.
Primeiro, o timing. O anúncio veio após uma
briga pública na família Bolsonaro em que os irmãos saíram humilhados pela
madrasta Michelle Bolsonaro. Ser o escolhido pelo pai como candidato à
Presidência parece o troco perfeito. Segundo, a maneira. O senador diz ter
consultado o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e ter comunicado o
governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Mas foi um anúncio sem pompa
e circunstância. Por uma nota na imprensa e depois uma publicação nas redes.
Terceiro, o aval. Flávio visitou Jair Bolsonaro na terça-feira na sede da Polícia Federal, onde o ex-presidente cumpre pena. Na quinta-feira, quem esteve por lá foram Michelle e Laura. Em que momento Jair passou o bastão?
O drama familiar do bolsonarismo, por Juliana Diniz
O Povo (CE)
Ela tem se mostrado mais carismática,
ativamente engajada com os eventos do partido por todo o país, falando em nome
de um Jair Bolsonaro agora inteiramente ausente, recolhido à prisão
A aliança entre o bolsonarismo e o grupo
político de Ciro Gomes está em estado de espera desde que Michelle
Bolsonaro deixou claro seu descontentamento em visita ao Ceará. Como escreveu
Gualter George, é surpreendente que um político dado a respostas prontas tenha
engolido a rejeição pública em silêncio.
Eduardo e Flávio Bolsonaro tentaram reagir e André Fernandes até ensaiou uma resposta, invocando a liderança de Jair. A verdade é que, com o líder preso e filhos tão incapazes, coube a Michelle Bolsonaro ocupar uma posição estratégica dentro do campo.
Ex-presidente tenta manter controle da direita diante de racha públicos na família, por Ana Luiza Albuquerque
Folha de S. Paulo
Anúncio vem na esteira de movimento de
independência de Michelle Bolsonaro
Candidatura do senador não agrada ao centrão
e dificultaria vitória sobre Lula, mas poderia engajar militância bolsonarista
Três hipóteses podem explicar o anúncio do senador Flávio Bolsonaro (PL) como o indicado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a corrida presidencial de 2026.
A primeira delas, mais certeira, diz respeito
à tentativa de Bolsonaro de manter sua influência e controle sobre a direita
mesmo da prisão.
O anúncio desta sexta-feira (5) vem em um
momento em que se escancaram os rachas no
grupo —desde os ataques do deputado federal Eduardo Bolsonaro
(PL) ao governador Tarcísio de
Freitas (Republicanos) até a união dos filhos do ex-presidente
contra a madrasta, Michelle
Bolsonaro (PL).
Nesse sentido, a indicação de Flávio é um recado para mostrar quem manda e um direcionamento para unir a direita sob a tutela de Bolsonaro.
Dois presidentes na prisão, por Demétrio Magnoli
Folha de S. Paulo
Lula preso de 2018 definiu estratégia clara
para o PT
Bolsonaro preso de hoje administra o caos que
engolfa seu movimento político
O conflito crônico
entre Michelle
Bolsonaro e seus enteados eclodiu à luz do dia, destroçando a aliança
do PL com Ciro Gomes no
Ceará. O episódio ilumina um contraste: o Lula
preso de 2018 definiu uma estratégia clara para o PT; o Bolsonaro
preso de hoje administra o caos que engolfa seu movimento político.
Da sua sala na PF de Curitiba, Lula orientou as narrativas da resistência. À sua sombra, o PT insistiu na lenda do golpe parlamentar para esquivar-se das responsabilidades pelo fracasso do governo de Dilma Rousseff. Seguindo a linha traçada pelo líder, vestiu-se de vermelho, firmou alianças restritas ao campo da esquerda e enfrentou a batalha desigual.
O voo de Michelle, por Ana Luiza Albuquerque
Folha de S. Paulo
Presidente do PL Mulher reprovou publicamente
aliança no Ceará a despeito de orientação do partido e aval de Bolsonaro
Se antes Jair conseguia tolher independência da companheira, hoje está isolado, fragilizado e depende de Michelle
Quando tinha 17 anos, Carlos Bolsonaro recebeu uma
ingrata missão do pai: derrotar a mãe, a então vereadora
Rogéria Bolsonaro, nas eleições para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Primeira mulher de Jair Bolsonaro, Rogéria se elegeu vereadora em 1992. Sua candidatura havia sido encampada pelo marido, com a premissa de que ela deveria consultá-lo e seguir suas orientações.
Eduardo Paes sai da sombra, por Alvaro Costa e Silva
Folha de S. Paulo
Prefeito entra de vez na campanha ao Palácio
Guanabara em 2026
Principal adversário está preso, acusado de vazar informações de operação contra o CV
A impressão é que de vez em quando Eduardo Paes se
lembra de que será candidato a governador do Rio de
Janeiro em 2026. Na verdade, ele trabalha na sombra, como gosta.
Gato escaldado pela derrota em 2018, procura fazer alianças no interior do estado, onde sua rejeição é maior do que na capital, e, sobretudo, negociar o voto evangélico, tarefa nada fácil para quem tem um perfil abertamente carnavalesco. Em 2022, o bolsonarismo levou, à exceção do Rio, a maioria entre as mais importantes prefeituras fluminenses.
Messias no Supremo, por Pedro Serrano
CartaCapital
A indicação favorece o propósito de chancelar
novas etapas do processo de amadurecimento do Judiciário como instrumento
democrático
A indicação de Jorge Messias, advogado-geral da União, ao Supremo Tribunal Federal ocorre em um momento singular da história do Poder Judiciário no Brasil. Sufocada pelo autoritarismo do Executivo durante o período ditatorial, nossa Corte, mesmo durante a retomada da democracia, seguiu atada a ditames de uma elite conservadora que, invariavelmente, se agarra à manutenção de seus privilégios nas tratativas de poder no País. Por longo tempo, muitos, equivocadamente, enxergaram o Judiciário como um apêndice do Executivo, algo característico de regimes totalitários. Com o fim da ditadura, nossa Corte aos poucos precisou retomar a ciência de seu verdadeiro papel de guardiã dos princípios constitucionais de um Estado Democrático de Direito.
A democracia ameaçada, por Marcus Pestana
Gilvan aos noventa, por Luiz Sérgio Henriques
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna*
*Luiz Werneck Vianna (1938/2024) foi um sociólogo, pesquisador, professor universitário e escritor brasileiro. A guisa de um prefácio, do livro Modernidades alternativa – O século XX de Antonio Gramsci.
O que a mídia penas | Editoriais / Opiniões
Poderes precisam voltar a zelar pelo equilíbrio institucional
Por O Globo
Cabe ao plenário rever decisão do decano que
estabeleceu impeachment especial para os ministros do STF
A democracia brasileira tem demonstrado
resistência tenaz aos desafios que lhe têm sido impostos nas últimas quatro
décadas. O arcabouço institucional criado pela Constituição de 1988 se mostrou
eficaz para promover o impeachment de presidentes e governadores, punir
políticos e empresários corruptos e, recentemente, condenar um ex-presidente e militares
graduados por tentativa de golpe. Nos últimos tempos, contudo, o equilíbrio
institucional tem sofrido abalos, com Poderes esboçando avanços incompatíveis
com seus atributos e prerrogativas constitucionais.
A tensão do Legislativo com o Executivo fica patente na multiplicação desarrazoada de emendas parlamentares, na derrubada constante de vetos presidenciais por mera vendeta ou nos embates em torno da sabatina do indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Com frequência, decisões do Judiciário têm sido acusadas de invadir competências do Parlamento. O Executivo também virou alvo frequente de críticas por decretos e Medidas Provisórias considerados abusivos ou pela tentativa de aparelhar e interferir em decisões de agências reguladoras.
Como atacar a raiz básica da violência, por Fernando Luiz Abrucio*
Valor Econômico
É preciso priorizar o desenvolvimento
integral de crianças e jovens, processo começa na chamada primeira infância
A violência é um fenômeno complexo e
multifacetado, ainda mais numa sociedade tão desigual e marcada pelo
patriarcalismo escravocrata como o Brasil. Não há uma bala de prata e várias
políticas públicas devem ser acionadas para enfrentá-la. Mas, se tivesse um
único pedido ao gênio da lâmpada, dando-me o poder de atacar a raiz mais
profunda do problema, escolheria a maior proteção e a produção de melhores
oportunidades às crianças e jovens do país. Seria sair de um presente cercado
pela barbárie e a desesperança, indo para um lugar onde as sementes do futuro
se tornariam a prioridade da agenda pública brasileira.
O público infantojuvenil brasileiro, especialmente nos lugares mais vulneráveis, conhece a violência desde cedo. Segundo pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Ipea, 13 crianças e jovens sofreram alguma forma de violência por hora em 2023, num avanço de 36,2% em relação ao ano anterior. Muitas famílias, infelizmente, ainda são um lugar que desde cedo produz agressões contra meninos e meninas, inclusive as de cunho sexual, verdadeira barbárie que marca a nossa sociedade.
O lado oculto da prisão dos generais, por José de Souza Martins
Valor Econômico
A condenação tanto do ex-presidente da
República quanto de oficiais superiores das Forças Armadas é uma espécie de
último e tardio episódio da proclamação de 15 de novembro de 1889
O dia 25 de novembro de 2025 poderá ficar na
história dos marcos de transformações e mesmo supressão de valores supostamente
pétreos da organização política do país. Aqueles que preservaram, em nossa
república anômala, exceções à regra da igualdade jurídica de todos. Concepções
antimodernas e antirrepublicanas, disfuncionais. Não as de uma república de
cidadãos.
Esta é uma sociedade com fortes resquícios,
em sua estrutura política, da sociedade estamental do antigo regime. Nos livros
do século XVIII, de uma ordem religiosa de São Paulo, encontrei registros de
que a esmola para um nobre pobre era de 12 vezes a esmola de um simples pobre.
Rigor da quantificação na definição do que era aqui a sociedade estamental, não
a das diferenças sociais de classe. As diferenças eram de nascimento.
Mesmo não sendo propósito do STF, na condenação dos réus militares do processo do golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, igualou ele, social e politicamente, todos os participantes do golpe já em andamento desde antes da eleição de 2022. Enfim, de fato, todos juridicamente iguais.
Janja cobra e Lula entra no combate ao feminicídio, por Andrea Jubé
Valor Econômico
Demorou, mas o governo resolveu se posicionar sobre a escalada dos feminicídio no país, diante dos episódios de barbárie dos últimos dias. Em meio a muito discurso e pouca ação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, na terça-feira (2), que a primeira-dama Rosângela da Silva (Janja) fez um apelo para que ele assumisse a responsabilidade de uma “luta mais dura contra a violência do homem contra a mulher”.
Durante evento da Petrobras em Suape (PE), no dia 2, Lula afirmou que estava lançando, naquele momento, um movimento para conscientizar esse país de que “homem não nasceu para bater em mulher”. Prometeu uma campanha diferente para mostrar que o enfrentamento ao feminicídio não é uma luta das mulheres, porque deve ser uma bandeira dos homens. Pediu que quem estivesse com ele, levantasse as mãos. A multidão obedeceu.
Congresso tem vocação para piorar, por José Joffily*
O Globo
Parlamento federal está fraco para causas de
interesse público e forte para legislar em causa própria
Escândalos de verdade são votos de
congressistas visando a apenas contrariar os interesses de “adversários”. Sem o
espírito público alardeado no decorrer da candidatura, deputados e senadores,
pagos pelos cidadãos, se manifestam sem outra preocupação que não seja
demonstrar força e poder, defendendo interesses obscuros ou escusos.
Há mais de 20 anos fizemos “Vocação do poder”
(codirigido por Eduardo Escorel), filme que registrava as intenções dos que
desejavam seguir carreira política. Eram candidatos que ambicionavam, pela
primeira vez, um cargo eletivo. Todos representariam a população da cidade do
Rio de Janeiro na Câmara dos Vereadores. Queríamos identificar o que os
conduzia a esse propósito e o que os orientava nesse desejo profundo de ser
políticos profissionais.
Em comunidades pobres, as demandas de votos eram sempre repetidas com pleitos que iam de muros de arrimo contra inundações até dentaduras, laqueaduras, cadeiras de rodas e outras carências. Na Zona Sul, em contraste, candidatos pouco prometiam ou distribuíam, com exceção de santinhos e sorrisos. Os que ali moravam não precisavam nem mesmo de vereadores para intermediar providências. Esgotos entupidos, falta de iluminação pública adequada ou outras mazelas demandam providências de que os prefeitos, por morarem ou circularem por lá, se inteiram todos os dias. Para aqueles que moravam em bairros afastados, seria sempre necessária a intervenção de políticos — vereadores, de preferência — para que providências fossem tomadas.
Não há ‘Super Trunfo’ numa democracia, por Vera Magalhães
O Globo
Liminar de Gilmar Mendes abre mais um
precedente perigoso de investida de um Poder nas atribuições de outro
Quem foi criança em qualquer época a partir
dos anos 1970 certamente já jogou ao menos uma partida do jogo Super Trunfo.
Trata-se de uma disputa de cartas com atributos, e uma única, que leva o nome
do jogo, é capaz de vencer quase todas as demais. Pois é: nem o Super Trunfo
liquida todas as demais, pois as cartas marcadas com um “A” se sobrepõem a ele.
O que o Supremo Tribunal Federal faz ao tentar limitar quem pode pedir impeachment de seus integrantes e aumentar na mesma tacada a votação necessária para abertura desses processos é buscar um Super Trunfo que lhe permita sobrepujar os dois outros Poderes, e isso não é aceitável numa democracia constitucional.
O inimigo agora é outro, por Bernardo Mello Franco
O Globo
Dos seis deputados que comandaram a
Assembleia Legislativa do Rio desde 1995, só um nunca foi preso. A
gangsterização está longe de ser um fenômeno recente na política fluminense. A
novidade é a conexão explícita entre o crime do colarinho branco e o narcotráfico.
Conhecido como TH Joias, o deputado Thiego
Silva foi em cana há três meses, acusado de fazer negócios com o Comando
Vermelho. Segundo as investigações, ele intermediava compra e venda de drogas,
fuzis e até equipamentos antidrones para a facção criminosa.
Nesta quarta, foi a vez do atual chefão da Alerj, Rodrigo Bacellar. Mensagens apreendidas pela Polícia Federal indicam que ele vazou informações sigilosas e orientou o aliado TH Joias a esconder provas que poderiam incriminá-lo.
Gilmar Mendes implode sistema de contrapesos, por Pablo Ortellado
O Globo
Se há um problema com o Judiciário
brasileiro, é seu poder excessivo, não sua fragilidade institucional
“O Poder Judiciário no Brasil é o mais forte
do mundo. Não há no mundo um Poder Judiciário tão forte quanto o do Brasil.” A
afirmação, feita pelo ministro Alexandre de Moraes na última terça-feira,
deveria servir de ponto de partida para qualquer debate sério sobre as relações
entre os Poderes no país. Se há um problema com o Judiciário brasileiro, é seu
poder excessivo, não sua fragilidade institucional.
Na quarta-feira, o ministro Gilmar Mendes concedeu medida cautelar que suspende e reinterpreta dispositivos da Lei do Impeachment, estabelecendo procedimentos restritivos para o impedimento de magistrados. A medida implode o sistema de freios e contrapesos, minando o controle externo do Judiciário.
Congresso avança sobre Orçamento e escancara uso eleitoral de emendas, por Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
Até julho de 2026, o governo
será obrigado a quitar 65% das emendas individuais e de bancada destinadas à
saúde e à assistência social e às chamadas emendas Pix
A aprovação do texto-base da LDO de 2026,
nesta quinta-feira, em sessão conjunta do Congresso, escancarou um movimento já
consolidado, mas agora assumido sem disfarces: em pleno ano eleitoral, a
maioria dos parlamentares decidiu impor ao Executivo um calendário de liberação
de emendas que prioriza interesses eleitorais imediatos, reforça o poder dos
parlamentares que disputarão a reeleição e aprofunda as distorções do sistema
político brasileiro. O Legislativo avança sobre o Orçamento da União com
apetite ampliado, transformando em política de Estado um mecanismo tipicamente
de aliciamento eleitoral.
Pelo acordo costurado entre o relator Gervásio Maia (PSB-PB) e o Planalto, o governo será obrigado a quitar até julho de 2026 nada menos que 65% das emendas individuais e de bancada destinadas à saúde e à assistência social, além de cumprir o mesmo percentual para as chamadas emendas PIX, modalidade sob investigação no STF pela opacidade e pelo risco de uso eleitoreiro. São aproximadamente R$ 52 bilhões em emendas, distribuídas entre 513 deputados e 81 senadores.
Renovar o Congresso, a grande tarefa de 2026, Fernando Gabeira
O Estado de S. Paulo
O Congresso tornou-se um desafio democrático. A começar pelo avanço que fez sobre o Orçamento nacional
Primeiro, é necessário convencer que o problema existe. Depois, a tarefa é reconhecer sua dimensão gigantesca, a ladeira que teremos de subir para resolvê-lo. No meu entender, esta é uma grande questão em 2026: como renovar o Congresso. Tudo na sua dinâmica atual conspira para que nada mude. O Congresso dispõe de mais de R$ 50 bilhões em emendas parlamentares. Além disso, os partidos recebem cerca de R$ 5 bilhões para financiar a campanha eleitoral. Como pessoas da sociedade, sem recursos especiais, apoiadas apenas por grupos de amigos, conseguirão romper essa montanha de dinheiro? De um ponto de vista numérico nunca se conseguirá maioria. Mas é possível constituir um pequeno grupo suprapartidário que se articule com a opinião pública, consiga algumas pequenas vitórias e evite, por seu turno, decisões calamitosas.
Uma irresponsabilidade, por Eliane Cantanhêde
O Estado de S. Paulo
Só no ambiente degradado de hoje é possível levar Michelle Bolsonaro a sério para a Presidência
Assim como só uma sensação tão forte de perplexidade, desesperança e falta de alternativa poderia alavancar e garantir a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, só num ambiente institucional tão degradado como o de hoje seria possível levar a sério o nome da sra. Michelle Bolsonaro para a Presidência.
Michelle é uma mulher bonita, que produziu a melhor imagem da posse do seu marido, discursando em libras, mas que experiência e qualificação pessoal, política, administrativa e intelectual ela tem para presidir o Brasil? Articular uma candidatura assim é uma irresponsabilidade com o País.
*Os 90 anos do querido Gilvan*
Posso afirmar que raramente conheci, ao longo dos meus 73 anos, uma figura humana tão extraordinária quanto ele.
Sindicalista, engajado no Partido Comunista já em meados da década de 50, conhecendo como ninguém o pensamento revolucionário de Antonio Gramsci, Gilvan transformou sua existência em obra de arte.
O PIB morno por fora, frio por dentro, por Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
Resultado era esperado e PIB ainda deve
crescer mais do que 2% neste 2025
Ritmo fraco aumenta ligeiramente as
possibilidades de corte de juros em janeiro
A economia está ainda morninha por causa do desempenho daqueles setores que reagem menos ou pouco às andanças da atividade dita "doméstica" (mais nacional) ou às taxas de juros daqui. Isto é, indústria extrativa (petróleo e minérios), grande agropecuária e exportações. Por tabela, um setor que presta serviços a essas atividades, como transportes, logística, anda melhorzinho também, assim como a construção civil, empurrada por obras de infraestrutura e, menos, pelo Minha Casa Minha Vida. Mas, no geral, quanto à dita "absorção doméstica", o ritmo de crescimento baixou a níveis pré-Lula 3 ou pré-epidemia. É o que se depreende dos dados do PIB divulgados nesta quinta-feira (4) pelo IBGE.
Supertrunfo constitucional, por Hélio Schwartsman
Folha de S. Paulo
Liminar de Gilmar Mendes blinda ministros do
STF e escala catimba constitucional
Mesmo que Judiciário e Legislativo evitem
confronto final, instituições sairão desgastadas
Brasileiros descobriremos em breve qual Poder
detém o supertrunfo, se é o Judiciário, ao qual cabe sempre a última palavra em
disputas legais, ou se é o Legislativo, que tem a prerrogativa de alterar as
próprias regras do jogo.
O ministro Gilmar Mendes, do STF, deu mais uma esticada na corda da catimba constitucional ao decidir monocraticamente que só o procurador-geral da República pode propor o impeachment de ministros do STF, entre outras mexidas na lei 1.079/50.
De guardião à suprema exceção, por Dora Kramer
Folha de S. Paulo
Gilmar Mendes altera legislação e põe os
magistrados na categoria de autoridades acima da lei
Supremo corre o risco de se igualar a
parlamentares que atuam para ficar longe do alcance da Justiça
Não existe lei velha, lembra Gustavo Sampaio,
professor de direito constitucional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Existe a lei e, como tal, deve ser respeitada até que os legisladores decidam
mudá-la em deliberação do Congresso
Nacional. É a competência conferida ao colegiado pela regra da
República.
Na visão do ministro Gilmar Mendes, contudo, a norma pode ser adaptada à conveniência dos ministros do STF, que temem retaliações políticas.
Ibiaí, por Ivan Alves Filho*
"Uma coisa na cidade se perde: são as estrelas", escreveu certa vez Rachel de Queiroz, uma admiradora do céu do sertão. De um céu tão bonito e iluminado que continuaria assim mesmo sem a lua, mesmo sem a Estrela d'Alva. Até sem o Cruzeiro do Sul.
Fiel e produtiva longevidade, por Antônio Fausto do Nascimento
Militante do centenário Partidão desde jovem, líder estudantil, preso, perseguido, exilado, afastado do serviço público federal pela ditadura militar de 1964.
Retorna ao Brasil com anistia de 1979, incorpora-se às jornadas pelo fim do regime militar, reintegra-se à direção partidária e participa da luta interna, contra o dogmatismo burocrático, que culmina na fundação do Partido Popular Socialista-PPS, hoje Cidadania.
Desde então, edita o blog nacional "Democracia Política e Novo Reformismo", que recebe colaboração atual e diversificada de boa parte da melhor intelectualidade brasileira.
Leitura diária de milhões de leitores ao longo de muitos anos. Simultânea publicação do melhor da teoria marxista universal e renovada, que faz de Gilvan Melo um intelectual orgânico de nossa formação social.
Parabéns, vida longa, saúde e paz para toda família. Um abraço fraterno.
*Foi sindicalista e Secretário do Governo de Pernambuco (1963/1964)















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