sábado, 8 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

A COP 30 num Momento Crítico da Humanidade

Por Revista Será?

A Cúpula de Chefes de Estado da COP 30 – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – ocorre num momento crucial da civilização, tendo que enfrentar um desafio decisivo para o futuro da humanidade: efetivar uma redução significativa da emissão de gases de efeito estufa capaz de impedir a elevação da temperatura mundial a mais de 1,5º acima da era pré-industrial. Esta é a segunda vez que o Brasil sedia a reunião de líderes mundiais para discussão do meio ambiente, a primeira conferência foi a Rio 92 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada em 1992, que abriu caminho para o Protocolo de Kyoto (1997) e, principalmente, o Acordo de Paris (2015), quando foram definidas metas de redução das emissões de gases de efeito estufa: declínio de 37% até 2025. Ao contrário desta expectativa criada pelo Acordo de Paris, nos últimos nove anos, de 2015 a 2024, as emissões cresceram cerca de 2,5%, registrando, em todo caso, uma leve desaceleração.

Um populista em Nova York, por Thaís Oyama

O Globo

Ele optou por campanha que ofereceu soluções simples para o problema complexo que é o custo de vida na cidade

Não é todo dia que um socialista ganha uma eleição no coração do capitalismo prometendo deixar os ricos mais pobres. Reconhecido o fato extraordinário, é preciso ir devagar com o andor. Diferentemente do que têm afirmado políticos e comentaristas no Brasil, Zohran Mamdani não foi eleito prefeito de Nova York pela “classe trabalhadora”, nem sua vitória é uma prova de que a esquerda vence quando “é mais esquerda”.

O muçulmano nascido em Uganda numa família de artistas e intelectuais não foi erguido em triunfo pelos desvalidos — percentualmente, mais ricos (48%) votaram nele do que pobres (44%). Alavancaram a vitória de Mamdani sobretudo os jovens, em especial millennials com curso superior, moradores dos bairros hipsters do Brooklyn e do Queens.

Péssimo calendário eleitoreiro, por Flávia Oliveira

O Globo

Política militarizada de mortes não vencerá crime organizado

Depois de breve recolhimento, em que preferiu não aparecer na mesma foto dos governadores açodados por surfar a popularidade súbita do colega fluminense, Cláudio Castro, Tarcísio de Freitas, de São Paulo, foi às redes sociais pela política de confronto. Presidenciável do campo bolsonarista, de extrema direita, escreveu que “não se combate essa ameaça [a perda da soberania do Estado para o crime organizado] apenas asfixiando financeiramente ou com discursos”. Justo ele, à frente do estado alvo da mais bem-sucedida ação integrada de desarticulação financeira da facção criminosa que domina São Paulo, a Operação Carbono Oculto. Justo ele, que viu as operações policiais de sua gestão, na Baixada Santista, citadas como suspeitas de “execuções extrajudiciais” em relatório do governo de Donald Trump sobre violações de direitos humanos no Brasil. Justo ele, cobrado pelo aumento de casos de latrocínios e furtos — sem falar na execução, no intervalo de dez meses, de Vinícius Gritzbach, delator do PCC, e de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral da Polícia Civil paulista.

Notícias que não vamos ler, por Eduardo Affonso

O Globo

‘Greta e sua flotilha chegam à Faixa de Gaza, com ajuda humanitária para os palestinos vítimas do grupo terrorista Hamas’

— Greta leva sua flotilha para salvar vidas no SudãoSomáliaHaiti e Mianmar.

— Esquerda pede aos editores do Aurélio, do Houaiss, do Michaelis e do Caldas Aulete que criem novas palavras para designar a ação da polícia carioca, porque já usou banho de sangue, matança, massacre, chacina, carnificina, morticínio, extermínio e genocídio, e a única que falta é holocausto, mas esta ela se recusa a pronunciar.

— Direita diz que desiste de rotular ações do Comando Vermelho como terrorismo se a esquerda concordar em chamar Farc e Hamas de terroristas, e vice-versa.

— Secom adverte presidente de que a única forma de ter chance de reeleição em 2026 é não falar de improviso, principalmente se for para dizer o que pensa sobre tráfico e segurança pública.

— Bancada religiosa tem consenso de que dificultar aborto legal em crianças vítimas de estupro é mais importante que combater o abuso infantil.

Verdades amazônicas, por André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Na COP30, os técnicos, os teóricos e os curiosos poderão, afinal, conhecer um pouco da Amazônia, de seus problemas e das ambições do povo que vive no norte do Brasil

A realização da COP30 em Belém significa a redescoberta da Amazônia para brasileiros e alguns estrangeiros. Os europeus conhecem a região desde há muito. Ingleses roubaram o látex para fazer borracha na Malásia, e diversos produtos da região foram patenteados por marcas internacionais. Mas o resultado da reunião na capital do Pará será positivo, porque os técnicos, os teóricos e os curiosos poderão, afinal, conhecer um pouco da Amazônia, de seus problemas e das ambições do povo que vive no Norte do Brasil.

Os governos brasileiros sempre mantiveram posição dúbia na relação com a Amazônia. A primeira reação é nacionalista, no sentido de que a Amazônia é brasileira e ninguém toca.  Mas os governos nada fizeram em 500 anos para integrar a região que é a metade do território nacional. Getúlio Vargas iniciou tímida marcha para oeste com a criação das cidades de Ceres e Rialma, em Goiás. E visitou Belém rapidamente. Juscelino Kubitschek fez mais: criou a rodovia Belém-Brasília sob violentas críticas dos chamados especialistas no Sul do país. Jânio Quadros, sucessor de JK, chegou a designar a obra de estrada das onças. Hoje, ao longo de seu trajeto, florescem boas cidades médias com economia própria e dinamismo impressionante. O Brasil cresce apesar dos críticos.

A primeira classe também cai, por Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Os economistas talvez nos possam dizer quanto nos falta para vislumbrar, num cinzento horizonte, o espectro da guerra civil

Os acontecimentos do dia 28 de outubro no Rio de Janeiro só nos deixam uma certeza: hoje, o País é outro; seu nível de conflito não voltará a ser o que era antes.

Repare, prezado leitor, que não estou aqui reeditando minhas elucubrações, que sei serem ardidas. Estou propondo uma simples constatação: a primeira classe também cai. Não estou afirmando que o avião vai cair.

Seria, entretanto, ingenuidade ignorar que aquela fileira de corpos estendida no chão é um marco macabro em nossa história. Designem-na como matança, como violência excessiva, como repressão policial indispensável à bandidagem organizada – como quiserem –, mas ao mesmo tempo e acima de tudo isso ela é o que escrevo acima: um marco macabro em nossa história. Os “arrastões” de Copacabana, casos de turistas assassinados à faca, tudo isso foi também fotografado e as fotos correram o mundo, muitas vezes implicando o cancelamento de centenas de reservas nos hotéis cariocas. Mas as reservas sempre voltaram. Penso que voltarão desta vez também, mas com uma aura, um halo, uma atmosfera psicológica diferente, que só se modificará se todos os protagonistas agirem com sensatez, construindo bases mais seguras para a paz social.

Contenção e tentação, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Questão conceitual-marqueteira à parte, sobre se seria ocupação (modelo UPP, associado ao fracasso) ou retomada de território (como quer vender o governador do Rio), certo é que haverá novas operações policiais – com incursão em favelas – até a eleição. Claudio Castro, ante a aprovação do 28 de outubro, está desafiado pela tentação eleitoreira da operação policial; a ideia de que mais duas ou três como aquela produziriam um candidato a presidente.

Sozinha, aquela ação – marco do pós-Bolsonaro, primeiro fato político relevante da direita que tem Jair nem como coadjuvante – já deu ao governador a emancipação da família. Se nunca pôde haver dúvida de que segurança pública seria o tema de 2026, seguro doravante será afirmar que o debate se desenvolverá em função da atividade policial para que as cidadelas do crime sejam reintegradas à República.

Lula entre os bancos e as fintechs, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Veto para os bancos fazerem a portabilidade de salários e aposentadorias é entrave à concorrência

Em jogo, um embate sobre segurança versus competição que vai nortear decisões com potencial impacto na vida dos brasileiros

O veto de Lula ao prazo de dois dias para as instituições financeiras fazerem automaticamente a portabilidade de salários e aposentadorias se transformou em mais um foco de tensão na disputa entre bancos e fintechs.

Em jogo, um embate sobre segurança versus competição, que vai nortear decisões regulatórias do Ministério da Fazenda e do Banco Central nos próximos meses e anos —e com potencial impacto no dia a dia da vida dos brasileiros com conta em alguma instituição financeira.

'Primeiro, conquistamos Manhattan', por Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Promessas de novo prefeito configuram programa tão ousado quanto arriscado

Mamdani não pode candidatar-se a presidente, mas lançou desafio a Trump

"Condenaram-me a vinte anos de tédio/ por tentar mudar o sistema por dentro/ Estou chegando agora, estou chegando para recompensá-los/ Primeiro, conquistamos Manhattan, depois conquistamos Berlim". O compositor Leonard Cohen escreveu o verso em 1987, para uma canção que definiu como tributo a "nossos terroristas, Jesus, Freud, Marx, Einstein". Zohran Mamdani nasceria apenas quatro anos depois, mas seu triunfo em Nova York parece a muitos uma confirmação: só o radicalismo salva.

Trump colheu derrotas em série na terça passada, um reflexo da queda livre de sua aprovação desde a posse (de +18% a -1% entre brancos, de -8% a – 37% entre hispânicos e de -37% a -76% entre negros). As vitórias democratas na Virginia e em Nova Jersey inscrevem-se na equação das pesquisas. Nova York, porém, descortinou a opção estratégica que divide os democratas: Cuomo, o pragmatismo centrista, ou Mamdani, o giro à esquerda. Interpreta-se, febrilmente, o resultado como lição.

Cláudio Castro se aproveita da crise de segurança, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Incapaz, governo desconsidera retomada de territórios

Com espetacularização, é mais fácil e barato conseguir votos

Ele não é apenas "El Matador". Sob a gestão Cláudio Castro, o Rio de Janeiro afundou na pindaíba. Mas a responsabilidade, segundo o próprio governador, não é dele —deve ser de Deus ou do Diabo. A exemplo dos territórios ocupados por milicianos e traficantes, o culpado é sempre o governo federal, a quem Castro continua a estender o pires, pedindo mais e mais dinheiro.

Na Alerj, discute-se um projeto que autoriza o governador a alienar 62 imóveis, entre os quais o estádio do Maracanã, para quitar parte da dívida com a União —R$ 12,3 bilhões a pagar em 2026.

O tempo desafia a lógica, por Luiz Gonzaga Belluzzo

CartaCapital

A reprodução das sociedades está sob os impulsos da categoria social que controla os meios de produção

No livro Epistemics and ­Economics, George ­Shackle cuida de encarar a questão da racionalidade, tão cara aos economistas. “O tempo e a lógica”, comenta Shackle, “são estranhos um ao outro. O primeiro implica a incerteza, o segundo demanda um sistema de axiomas, um sistema envolvendo tudo que é relevante. Mas, infelizmente, o vazio do futuro compromete a possibilidade da lógica”.

George Shackle afirma que a economia é uma área do conhecimento submetida às incertezas da vida humana em sociedade. Ela procura estudar o comportamento dos agentes privados em busca da riqueza, nos marcos de um quadro social e político determinado temporalmente, isto é, cada nova decisão de acumular riqueza tem um caráter crucial, porquanto tem o poder de reconfigurar as circunstâncias em que foi concebida.

Cancelados na Operação Contenção, por Pedro Serrano

CartaCapital

A ação policial no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho fere princípios humanitários e judiciais

A cultura do cancelamento, como fenômeno contemporâneo, em geral busca silenciar indivíduos ou organizações que expressam ideias consideradas inaceitáveis para determinado grupo ou sociedade. A prática costuma dar-se em ambientes digitais, caso das redes sociais, e suscita discussões sobre liberdade de expressão e censura. Não raro, alguém cancelado na internet é submetido a um linchamento virtual que envolve ameaças e agressões verbais, além, é claro, do aniquilamento de sua reputação.

A gravidade dessa questão tem motivado a criação de mecanismos de criminalização desses ataques. Um exemplo é o Projeto de Lei 1.873, de 2023, que tramita na Câmara dos Deputados e propõe a tipificação do crime do cancelamento virtual, determinando sanções para quem praticá-lo. É uma preocupação bastante pertinente, calcada em novos fenômenos sociais decorrentes de formas de convívio advindas da digitalização e de interações a distância.

Operação 2026, por André Barrocal

CartaCapital

Oposição e governo recorrem a armas diferentes na batalha pelo discurso eleitoral da segurança pública

O novo herói nacional, aquele da matança no QG do Comando Vermelho, era conhecido como “pastinha” antes da carreira política que o levou a governador do Rio de Janeiro. Cláudio Castro merecia a alcunha por carregar papéis para um deputado na Assembleia Legislativa. O cargo atual caiu-lhe no colo quando, em 2021, o Parlamento estadual degolou Wilson Witzel, de quem era vice-governador. No ano seguinte, Castro reelegeu-se com o apoio de dinheiro usado para comprar voto. Quem identificou o abuso de poder político e econômico na campanha foram o Ministério Público e a juíza Isabel Galotti, do Tribunal Superior Eleitoral, relatora da ação movida para cassar o governador filiado ao PL. Após o voto da magistrada em 4 de novembro, o julgamento foi interrompido e só será retomado a partir de fevereiro.

Correios, privatização e papel do Estado, por Marcus Pestana

Os Correios tiveram um prejuízo, em 2024, de R$ 5,6 bilhões. O desempenho ruim da empresa se confirmou, no primeiro semestre de 2025, com os Correios registrando um resultado negativo de R$ 4,3 bilhões, antecipando um prejuízo anual ainda maior neste ano. Fala-se na necessidade de uma injeção de R$ 20 bilhões para reequilibrar as finanças da empresa dentro de um plano de recuperação. Aventa-se a hipótese de um empréstimo neste valor com o aval do Tesouro Nacional. Ou seja, em caso de não pagamento do empréstimo, o ônus recairá sobre o contribuinte brasileiro. Cabe perguntar, há perspectivas de reverter a situação estrutural dos Correios, transformando-a numa empresa lucrativa? Em pleno século XXI faz sentido mover céus e terra para manter uma estatal voltada para serviços postais?

Brasil e China: o abismo entre dois modelos de desenvolvimento, por Roberto Amaral*

O atraso, seja político, seja econômico, sempre foi a ideologia da classe dominante aqui instalada pelas naus portuguesas, dependente da irmandade siamesa entre latifúndio e escravismo. O primarismo fez-se valer como necessidade da política de posse da terra, alternativa à colonização para a qual Portugal carecia de meios. Assim, com as nuances impostas pelo processo histórico, o atraso estrutural chega ao capitalismo e à República nos meados do século XX, impondo ao novo regime, no contrapelo da modernidade prometida, o modelo colonial da plantation, voltado para a exportação.

A República herda os males do Império.

Os primeiros ideólogos do primarismo, implícita nele a dependência e a alienação de um projeto de nação e de país, destacaram-se ainda antes da Independência, e um de seus ícones certamente é o Visconde de Cairu, defensor da abertura comercial e de nossa integração atlântica — necessariamente dependente — como fornecedores de produtos primários (Princípios de economia política, 1804). Teófilo Otoni, meio século adiante, insistiria na prioridade brasileira da agricultura de exportação (Discursos parlamentares, 1850). Um pouco mais tarde (1870–1888), às vésperas da despedida da monarquia, o Partido Conservador, chefiando o último gabinete de Pedro II, proclama nosso destino como “um país agrícola por natureza” e “a lavoura como o esteio da nacionalidade”.

O Agente Secreto e a Formação do Patronato Político Brasileiro, por Vagner Gomes

Para Irineu José Ferreira e Gregório Bezerra (In memoriam)

Após 40 anos de reconquista de nossa Democracia, o filme “O Agente Secreto” nos permite a releitura de alguns autores do pensamento social brasileiro. Ao mesmo tempo, reencontramos alguns filmes daquele esquecido (para alguns) e desconhecido (para muitos) ano de 1977. Segundo Luiz Werneck Vianna seria a inauguração de uma “Revolução dos Interesses” que o autoritarismo moldou na sociedade brasileira como se fosse uma possessão da “alma nacional”, ou seja, que mais adiante foi ceifando a capacidade de pensar e refletir.

Esse é o convite do diretor Kleber Mendonça Filho para que as novas gerações, ao ficarem mais de duas horas e 40 minutos atentos ao filme, busquem referências no mundo atual. A sutil exposição da figura de como se produziu a narração dos eventos do filme se enquadram numa demonstração de como o historiador exerce seu ofício. Um “quebra cabeça” de fatos e evidências com a sua intervenção sempre contemporânea.

Um corpo está estendido no chão em um posto de gasolina a margem de uma grande plantação de cana de açúcar. Acredita quem quer que foi uma tentativa de assalto. A linha misteriosa está na abertura do filme e na sequência vemos um corpo estendido no chão. Um “segurança” precisava evadir de seu local de trabalho se fosse legítima defesa de sua vida? Ficamos no exercício da dúvida… Uma leitura de Homens livres na ordem escravocrata (1969), de Maria Sylvia de Carvalho Franco, reforçaria nosso incômodo. A autora escreve um livro, que foi dedicado a Florestan Fernandes, no qual nos daria ensejo a pensar numa violência que emerge nas relações sociais dos “refugiados da sociedade”.

Poesia | Eu nunca guardei rebanhos, de Fernando Pessoa

 

Música | Casuarina, Wilson Moreira - Senhora liberdade

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Brasil tem de fazer mais para cumprir metas de emissões

Por O Globo

Queda recorde no desmatamento é um alento. Infelizmente, insuficiente para país honrar compromissos

Pela primeira vez, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconheceu oficialmente aquilo que já se sabia: será impossível para a humanidade cumprir a meta de conter o aquecimento global até fim do século a apenas 1,5oC acima da temperatura da Era Pré-Industrial levando em conta as metas traçadas no âmbito do Acordo de Paris. O Relatório da Lacuna de Emissões divulgado nesta semana como subsídio para as discussões na COP30 em Belém estima, a partir da simulação de vários modelos científicos baseada nos compromissos assumidos até agora, um aumento entre 2,3oC e 2,5oC — isso se tais compromissos forem cumpridos. Como não têm sido, a estimativa realista fala em 2,8oC, o equivalente a um quadro climático no limiar do catastrófico. Não há, portanto, tempo a perder.

Segurança tem de superar o dia da marmota, por Fernando Abrucio

Valor Econômico

Sem um plano realmente consistente para lidar com o alastramento das facções do crime organizado, a política para a área volta sempre às mesmas infrutíferas iniciativas

A política de segurança pública no Brasil tem seguido predominantemente a lógica do dia da marmota. Para quem não conhece a metáfora, ela diz respeito à festa americana do dia 2 de fevereiro, quando se tenta prever a duração efetiva do inverno pelo comportamento desse peculiar bicho. Todo ano uma marmota é observada, como um eterno retorno. O filme traduzido para o português como “Feitiço do Tempo” usa esse evento para retratar a vida de um homem que diariamente acorda revivendo que o fez no dia anterior. Parece ser essa a sina da proposta hegemônica para resolver os males da criminalidade brasileira.

O que foi feito no Complexo do Alemão pelo governador Cláudio Castro é a reprodução da mesma estratégia tentada por muitos governadores do Rio de Janeiro e de outros estados desde a redemocratização. Há um dia mágico em que uma comunidade é invadida para acabar com traficantes e afins, pessoas morrem e são presas, sem que sejam pegos os verdadeiros chefes das facções, e se decreta que, a partir de então, um combate duro contra o crime será instalado.

A população local é oprimida pelo crime organizado há décadas - e por vezes pela própria polícia - e anseia pela recuperação de seus direitos básicos. A primeira operação, como o dia da marmota, é comemorada efusivamente como algo redentor, capaz de mudar a vida de toda a comunidade. Parte dos moradores desconfia do eterno retorno nesse jogo, mas aposta inicialmente no sucesso porque, para lembrar da peça de Paulo Pontes, o brasileiro tem a esperança como profissão.

No dia seguinte, comunicadores populares e políticos, especialmente os mais à direita, exploram essa esperança e dizem que é preciso endurecer a estratégia contra o crime, na linha do “tiro, porrada e bomba”, e parar de ouvir o “o pessoal dos direitos humanos”. Surgem várias propostas de alteração legislativa e medidas que terão um efeito salvador e mágico contra a bandidagem. Uma onda da opinião pública se instala abarcando quase todas as classes sociais.

Não é só o crime organizado que aterroriza a população, por José de Souza Martins

Valor Econômico

Tudo indica que a massa das vítimas da criminalidade desorganizada e artesanal não tem defesas para se proteger ou para reagir

As ocorrências trágicas do Rio de Janeiro, em dias passados, com seus numerosos mortos, expõem indícios da gravíssima situação da ordem social, mas também da ordem política, no Brasil.

O país está mergulhado em profundo estado de anomia, regulado por normas sociais que não funcionam e por normas antissociais que funcionam ao contrário do que se necessita para ter ordem.

É equívoco e ilusão pensar que se trata de um embate entre polícia e criminosos do crime organizado. Há outras personagens nesse cenário. Ao dar uma visibilidade meramente repressiva ao seu trabalho, as polícias estão deixando de lado o crime desorganizado. O que se manifesta nas ações criminosas que aterrorizam a população na vida cotidiana, sem letalidade. Para essa vítima, é essa modalidade de crime que mais preocupa.

A dupla de craques em tempos de miséria política, por Andrea Jubé

Valor Econômico

Renan Calheiros e Eduardo Braga vêm tocando de ouvido, em uma parceria rara à política contemporânea

Vale redobrar a atenção para os recentes acontecimentos no Senado, que dialogam com tempos remotos, na era pré-Davi Alcolumbre (União-AP), em que o MDB era hegemônico, e dava as cartas na Casa Alta do Parlamento. Salta aos olhos a atuação de uma dupla de veteranos emedebistas, afinada como há tempos não se via na política nacional, cujas entregas têm feito o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda sorrirem.

A afinidade da dupla de senadores evoca exemplos de pares citados na música de Adriana Calcanhoto, como “avião sem asa, fogueira sem brasa, Buchecha sem Claudinho, Piu-piu sem Frajola, futebol sem bola...” Evoca o entrosamento de craques da bola como Pelé e Coutinho no Santos nos anos 60. Uma sintonia improvável se o jogo fosse futebol e não política, já que um deles é Botafogo, e outro é Fluminense, dois rivais encarniçados.

COP30 põe Amazônia no epicentro da geopolítica climática, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A conferência é estratégica para a integração dos países da Bacia Amazônica: Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana e Suriname. Essas nações abrigam 60% das florestas tropicais do planeta

A ausência dos presidentes Donald Trump e Xi Jinping na COP30, em Belém, destacou ainda mais o protagonismo do Brasil e da Amazônia no debate climático global. A conferência reposiciona a floresta não apenas como patrimônio natural, mas como ativo estratégico, essencial para a estabilidade climática e a sobrevivência dos ecossistemas do planeta. Pela primeira vez, a Amazônia ocupa o centro político de uma cúpula mundial não como símbolo de vulnerabilidade, mas como valor ambiental e civilizatório.

A floresta amazônica concentra cerca de 20% da água doce superficial do planeta. É responsável por grande parte da reciclagem de chuvas na América do Sul e abriga uma das maiores reservas de biodiversidade da Terra. Ao transformar a Amazônia em tema central da COP30, o Brasil assume o papel de guardião de um bem comum global, redefinindo o equilíbrio entre soberania e responsabilidade planetária.

Muitas guerras e pouca tática, por Vera Magalhães

O Globo

Presidente mistura temas com potencial de ganho de imagem e votos, como IR e COP, com outros propícios a desgaste, como segurança e geopolítica continental

Montar uma aliança pela paz, puxando a crise da segurança para a antessala da Presidência da República; convencer, na base do gogó, países ricos a tirar o escorpião do bolso e financiar um fundo para a preservação de florestas; chamar o Banco Central para uma DR e convencê-lo a começar a baixar os juros e, em meio a tudo isso, pegar um voo até Santa Marta para prestar solidariedade à Colômbia e à Venezuela diante da escalada de intervencionismo militar dos Estados Unidos na América do Sul.

A lista de tarefas assumidas por Lula ou que aliados (sic) querem empurrar para ele é maior que a dos trabalhos de Hércules na mitologia grega. Tirando a necessária e auspiciosa liderança na agenda climática, o resto do roteiro inclui uma série de ciladas evidentes e é impossível de cumprir com êxito sem efeitos colaterais para o Brasil e políticos para o petista.

A profecia de Richard Rorty, por Pablo Ortellado

O Globo

'Eleitorado decidirá que o sistema falhou e começará a procurar um homem forte para votar', afirmou filósofo em 1997

Um grande analista é aquele que observa um fenômeno em sua gênese e consegue extrair dele todas as consequências e também as consequências das consequências, antecipando desdobramentos causais que podem levar anos para se materializar. Farejar algo que emergirá plenamente em algumas décadas é um dom valioso e raro. Aqui mesmo nesta coluna, noutra ocasião, lembrei o historiador cultural Christopher Lasch. No livro “A cultura do narcisismo”, dos anos 1970, ele antecipou traços da cultura contemporânea que atribuímos hoje à influência das redes sociais.

O boicote do Tio Sam, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Lula criticou "forças extremistas" que negam aquecimento global; Boric e Petro atacaram republicano, cuja ausência virou assunto incômodo em Belém

O Tio Sam não quis conhecer o nosso carimbó. Depois de abandonarem o Acordo de Paris, que estabeleceu metas para frear o aquecimento global, os Estados Unidos ignoraram a primeira COP realizada na Amazônia. O boicote transformou Donald Trump num assunto tão incômodo quanto incontornável em Belém.

Além de não vir, o inquilino da Casa Branca se recusou a enviar representantes à capital paraense. A decisão foi recebida como um ato de hostilidade ao multilateralismo e ao esforço coletivo para reduzir as emissões.

União nacional contra o crime organizado, por Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

Se houver uma concordância de que a questão da segurança pública é uma questão de Estado e implica um trabalho conjunto, as chances de solução são maiores

A questão da segurança pública não é insolúvel, sobretudo quanto à libertação de territórios ocupados pelo crime organizado. Mas ela exige um nível de unidade nacional que não conseguimos obter na pandemia e quase alcançamos nas enchentes no Sul. Existem problemas que são maiores que as divergências políticas. Infelizmente, este é o caso da segurança pública, que, paradoxalmente, acabou acentuando a divisão após a operação policial no Rio de Janeiro. Verdade é que toda esta comoção ocorre próxima de um período eleitoral. Torna-se uma tarefa difícil convencer de que é possível um jogo de ganha-ganha. Mas a verdade é que, isoladamente, nem governo nem oposição conseguem um resultado satisfatório.

Lula e sua montanha-russa, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Governadores fortes e palanques fracos nos Estados são desafios para Lula, agora e depois

O presidente Lula, que adora um palanque, vive em campanha e sobe no salto alto com muita facilidade, é o franco favorito, quase candidato único para 2026, mas enfrenta um obstáculo e tanto: a falta de candidatos competitivos, não apenas do PT, mas da própria esquerda, sobretudo em Estados decisivos como São Paulo, Rio e Minas. Não se trata só de um problema eleitoral, mas também de uma ameaça à governabilidade a partir de 2027.

A ida de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência é exemplo de cobertor curto. Reforça o Planalto e o diálogo do governo com os movimentos sociais, mas deixa o chamado campo progressista descoberto em SP. Sem Boulos, que nem é do PT, mas do PSOL, e já perdeu a eleição para a Prefeitura da capital, quem sobra? Fernando Haddad vai de novo para o sacrifício?

O jabuti judicial, por Raphael Di Cunto

Folha de S. Paulo

Ministros do STF aproveitam processos sobre outros temas para julgarem em causa própria

TCU rejeitou investigar Banco Central por omissão no Banco Master, mas reabre processo para apurar se houve irregularidade na rejeição da compra pelo BRB

criação de jabutis se tornou um negócio tão rentável em Brasília que se disseminou até para decisões judiciais, talvez inspiradas nas experiências pregressas de ministros ou nos convescotes com parlamentares.

O simpático réptil é sinônimo na capital do país para assuntos estranhos, incluídos por congressistas em medidas provisórias para acelerar matérias de interesse próprio ou de empresários, mesmo que não tivessem relação com aquela proposta.

Governo 'esquece' que pode ajudar nos juros, por Carolina Mandl

Folha de S. Paulo

Enquanto o BC tenta conter a inflação, o governo despeja bilhões de reais em políticas de estímulo à economia

É a política fiscal em choque com a política monetária às vésperas do ano eleitoral

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parece ter se esquecido que o governo, do qual faz parte, também contribui para o trabalho do Banco Central. Na terça (4), ele disse que, se fosse diretor, votaria pelo corte da taxa básica de juros. Era uma tentativa de influenciar a decisão do Comitê de Política Monetária, que se reuniria no dia seguinte.

O recado, como todo o mercado já previa, foi ignorado. Na quarta (5), o Copom votou pela manutenção da Selic em 15% ao ano, patamar mais alto em quase 20 anos. Desde fevereiro de 2022, a taxa está em dois dígitos.

No comunicado em que detalha sua decisão de não cortar os juros, o comitê explicou que os riscos para a inflação continuam a rondar, assim como as incertezas trazidas pelas tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil.

Poesia | William Shakespeare por Fernanda Montenegro | Solilóquio de MacBeth

 

Música | Casuarina - Disritmia

 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Vitória nos EUA expõe dilemas dos democratas

Por O Globo

Seria uma lástima se, para derrotar o populismo de direita, os americanos abraçassem o populismo de esquerda

A vitória democrata nas eleições de terça-feira nos Estados Unidos foi inquestionável. Duas governadoras foram eleitas — a ex-piloto de helicóptero da Marinha Mikie Sherrill, em Nova Jersey, e a ex-agente da CIA Abigail Spanberger, que será a primeira mulher a governar a Virgínia. A maior cidade do país, Nova York, elegeu o primeiro prefeito muçulmano e o mais jovem em sua História, Zohran Mamdani, representante da ala radical dos autointitulados “socialistas democráticos”. E, na Califórnia, o governador Gavin Newsom conseguiu aprovar seu plano de redivisão distrital cujo objetivo é render mais cinco cadeiras ao Partido Democrata na Câmara.

A motivação é outra, por Merval Pereira

O Globo

Direita quer conseguir a adesão dos Estados Unidos para o combate ao que chamam de “narcoterrorismo”.

A insistência da direita em classificar de “terrorismo” as ações do crime organizado no país tem seu lado eleitoreiro, mas inclui também uma visão estratégica que parece inteligente até que seja revelada estúpida. Trata-se de conseguir a adesão dos Estados Unidos para o combate ao que chamam de “narcoterrorismo”. É o mesmo que pretendiam com os militares, em nível interno, com a decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) depois da baderna golpista de janeiro de 2023 na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Ou com a atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, que culminou com o tarifaço contra a economia brasileira, em busca da proteção a Bolsonaro por Trump, como queriam.

Caô contra o crime organizado, por Malu Gaspar

O Globo

Na gíria das ruas cariocas já incorporada Brasil afora, caô significa mentira, papo furado, enrolação. Foi o que mais se viu durante a crise que sobreveio à operação da polícia do Rio de Janeiro nos complexos do Alemão e da Penha.

Talvez pouca gente lembre que há dois anos, em outubro de 2023, o Rio foi aterrorizado por criminosos que queimaram 35 ônibus e um vagão de trem durante a operação que visava a prender o miliciano Zinho.

Na ocasião, Cláudio Castro (PL) se vangloriou de ter feito um “duro ataque” às milícias e disse que seu governo não descansaria enquanto não prendesse Zinho e dois outros bandidos perigosos, o também miliciano Tandera e o traficante Abelha. Zinho se entregou dois meses depois — à Polícia Federal (PF). Nunca mais se soube dos outros.

Coragem x revisionismo no STM, por Julia Duailibi

O Globo

Áudios das sessões do tribunal funcionam como excelente vacina contra o negacionismo histórico

No final de outubro, numa sessão do Superior Tribunal Militar (STM), o ministro Carlos Augusto Amaral Oliveira, tenente-brigadeiro do ar, achou por bem passar uma descompostura pública na presidente da Corte, Maria Elizabeth Rocha, sem a presença dela e na frente dos seus pares, a maioria homens. Amaral estava incomodado com um discurso feito pela ministra dias antes, em que ela se desculpou por “equívocos judiciários cometidos pela Justiça Militar Federal em detrimento da democracia e favoráveis ao regime autoritário”. Amaral sugeriu à ministra, doutora em Direito Constitucional e a primeira mulher a integrar e presidir a Corte mais antiga do país, de 1808, “estudar um pouco mais a história do tribunal”.

No dia 25 de outubro, a presidente do STM havia feito um discurso, em São Paulo, num evento inter-religioso em memória aos 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog. “Na qualidade de presidente da Justiça Militar da União”, pediu perdão “a todos os que tombaram e sofreram lutando pela liberdade”. Foi uma manifestação curta e corajosa, feita por uma representante do Estado brasileiro e em consonância com o Estado brasileiro, que, em diferentes momentos desde 1978, reconheceu o assassinato de Herzog por agentes públicos.

Juros mantidos e dúvida das contas, por Míriam Leitão

O Globo

O BC manteve a Selic, apesar da queda da inflação. No governo, os números mostram a queda do déficit primário em relação às antigas administrações

Banco Central manteve os juros na estratosférica taxa de 15% e alertou que o cenário atual exige “cautela na condução da política monetária”. O Copom tem razão porque a estimativa de inflação está acima do teto da meta e a projeção é de que o índice ficará acima do centro da meta até 2028. O ministro Fernando Haddad disse que votaria para o corte dos juros e também tem razão porque a inflação e as projeções de mercado estão caindo. Há bancos grandes prevendo que o índice ficará dentro do intervalo de flutuação este ano, contudo, o mandato do BC é levar o IPCA para o centro, ou seja, 3%. Essa diferença de opinião entre Haddad e o Banco Central tem a vantagem de mostrar a independência da instituição e elevar a confiança do mercado na política monetária.

As lições da derrota, em casa, do inimigo da COP30, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Presidente americano intensifica pressão contra a cúpula do clima; para enfrentá-lo, a política ambiental terá que aprender, com Mamdani, a ouvir as pessoas antes de tentar convencê-las

Donald Trump não será o único ausente da COP30, que terá sua largada nesta quinta com a cúpula dos líderes em Belém, mas caminha para ser aquele do qual mais se falará pelas costas. Não exatamente pelo anfitrião, que acabou de conseguir seu celular, mas pelos demais. Além de não enviar representantes, o governo americano estaria a pressionar delegados de outros países a também abandonar o acordo de Paris, que fixou as metas de mitigação do aquecimento global.

Nesta quarta, a economista francesa Laurence Tubiana, enviada especial da União Europeia para a COP30 e mentora do acordo de Paris, confirmou a Victoria Netto, do Valor, a postura agressiva do governo americano sobre negociadores para que abandonem a ideia do financiamento climático.

Desafio maior para o agro brasileiro na Ásia, por Assis Moreira

Valor Econômico

Brasília não tem como influenciar a agenda de Washington, mas o Brasil pode se tornar mais difícil de ser substituído mantendo-se como um fornecedor mais barato e mais ecológico

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornou de recente viagem à Indonésia, Malásia e participação na cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) apontando potencial de mais negócios do agro brasileiro nessa que é a região mais dinâmica da economia mundial. Isso pode acontecer, mas em menor escala do que esperado. O presidente americano, Donald Trump, esteve ao mesmo tempo na região e, usando o arsenal das tarifas, arrancou concessões imediatas de países asiáticos para comparem mais produtos americanos.

O comércio hoje não se decide apenas por fatores como custo e frete, e mais e mais por motivações políticas. Isso é ilustrado também na trégua acertada entre Trump e o presidente chinês, Xi Jinping.

Após meses de compras paralisadas, a China aceitou compromissos de importação de 12 milhões de toneladas de soja dos Estados Unidos até o fim deste ano, e de pelo menos 25 milhões de toneladas anuais até 2028. Historicamente, a China comprou entre 25 milhões e 30 milhões de toneladas de soja americana por ano nos últimos anos. Os americanos veem agora uma “base sólida” para o retorno a esses volumes.