*Karl Marx (1818-1883), Euvres, III, Philosophie, p. 383, citado
em “A democracia contra o Estado”, p.54. Editora UFMG, 1998.
Democracia Política e novo Reformismo
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
segunda-feira, 24 de novembro de 2025
Opinião do dia - Karl Marx* - Democracia
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
COP30 deixa sabor de frustração
Por O Globo
Conferências multilaterais não têm se mostrado à altura do desafio de conter a emergência climática
Nada mais simbólico que o incêndio na Zona
Azul, área oficial da COP30, em Belém. O fogo, felizmente controlado, foi a
última evidência da desorganização que prejudicou a conferência do clima desde
o início — sentida nos preços extorsivos de diárias de hotel e alimentação, na
qualidade sofrível do ar-condicionado (movido a diesel) ou na reprimenda
oficial da ONU aos
organizadores. Tudo isso poderia ser encarado como mero transtorno se a COP30
tivesse obtido sucesso em sua missão principal: gerar instrumentos capazes de
conter outro fogo, o aquecimento da atmosfera que desarranja o clima na Terra.
Mas também nisso ela deixou a desejar.
Era, é verdade, possível prever resultados modestos. A Cúpula dos Líderes que antecedeu a COP30 atraiu pouco mais de 30 chefes de governo e Estado, menos da metade do registrado no ano passado e um terço dos presentes na Rio-92. Entre os ausentes, Donald Trump, presidente do país que mais poluiu desde a Revolução Industrial, e Xi Jinping, líder do maior emissor de gases. Sem aval dos dois, qualquer avanço já seria relativo. Também não compareceram líderes de países como Austrália, Indonésia, Turquia, Argentina ou Japão. A COP30 passou a ser encarada como encontro de “implementação” de decisões tomadas. E, mesmo com metas pouco ambiciosas, as conquistas ficaram aquém do necessário.
A vida nas favelas que o Brasil insiste em não ver, por Preto Zezé
O Globo
O país gosta de apontar o criminoso como
inimigo, mas ignora que ele é produto das próprias omissões
Desde “Falcão — meninos do tráfico” e das
imagens da invasão do Alemão, muita coisa mudou e, ao mesmo tempo, nada mudou.
A pesquisa Raio-X da Vida Real, feita pela Data Favela com quase 4 mil pessoas
envolvidas no crime, revela dinâmicas que o país evita encarar. Não é só
tráfico, é um Brasil que produz, abandona e depois pune seus próprios filhos.
Metade dos entrevistados tem até 26 anos. Na
favela, a juventude é curta porque a oportunidade também é. Para muitos, o
tráfico vira primeiro emprego e primeiro reconhecimento num país onde o Estado
chega tarde com a escola e cedo com a viatura. Estamos formando uma geração que
envelhecerá sem Previdência, renda ou proteção — uma bomba-relógio que nem
entrou no Orçamento.
O crime se nacionalizou, mas a base continua
sendo o cria: o jovem que conhece cada viela e morre primeiro. Nada disso é
novidade. Está nas músicas de MV Bill — “Soldado do morro”, “Falcão, soldado
morto”. O país apenas não quis ouvir.
Cai também o mito da família desestruturada. A pesquisa mostra que 52% têm filhos e metade vive em casal. São famílias reais, com afeto e rotina, vivendo sem direito. Falta proteção, não laço.
Caso Master deixa lições, por Carlos Alberto Sardenberg
O Globo
Empresas e instituições financeiras públicas
são geridas conforme múltiplos interesses políticos
Está no documento da Polícia Federal que levou à liquidação do Banco Master: as letras financeiras (LFs) dessa instituição “não eram atrativas a investidores privados”. O Master oferecia aos compradores dessas letras uma rentabilidade de encher os olhos: 130% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). E qualquer pessoa mais ou menos informada sobre o mercado financeiro sabe como é difícil bater o CDI. Por que então esse tipo de papel era rejeitado por investidores privados? Três motivos: o prazo excessivo, dez anos; a falta de credibilidade do emissor; e a falta de cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Master é um banco político, por Demétrio Magnoli
O Globo
O Brasil é um país de portas giratórias. O
banqueiro patrocinava, oficial ou informalmente, eventos dos grupos de lobby
Tudo o que ronda o escândalo do Banco Master
é estranho, do ponto de vista dos analistas econômicos. Nada no caso, porém,
provoca genuína estranheza entre os analistas políticos.
A operação de venda do Master ao Banco de
Brasília (BRB) foi anunciada em março, mas apenas em setembro barrada
unanimemente pelo BC. Há tempos, o radar detectava objetos estranhos no céu. O
banco de Daniel Vorcaro cresceu, ao longo dos últimos anos, oferecendo CDBs com
taxas de juros muito superiores às dos concorrentes.
— O Master vinha apresentando problemas desde
o ano passado, pois tinha ativos incertos e passivos certos. O BC realmente
dormiu no ponto e só acordou agora — registra o ex-diretor do BC Carlos Eduardo
de Freitas.
Por que a demora, diante da pilha de evidências do esquema de alavancagem radical?
Uma semana para provar que assunto nunca falta, por Bruno Carazza
Valor Econômico
Banco Master, COP30, Messias no STF, reação
de Alcolumbre, recuo de Trump no tarifaço e prisão de Bolsonaro: de tédio a
gente não morre
Há sete anos recebi o convite improvável de
Maria Cristina Fernandes para ser colunista do Valor. Depois do impensado
impulso de aceitar (“a hora do ‘sim’ é o descuido do ‘não’”, já cantava
Vinicius de Moraes), dois pensamentos passaram a me aterrorizar.
Acima de tudo estava a responsabilidade de escrever num espaço que, desde o lançamento do jornal, havia sido ocupado por grandes analistas políticos como Fernando Limongi, Marcos Nobre, Renato Janine Ribeiro, Luiz Werneck Vianna, Fábio Wanderley Reis e Fernando Abrucio. Como se isso não bastasse, ainda havia a pressão da periodicidade: será que eu teria repertório para um texto semanal, numa publicação com um público tão qualificado e exigente?
Cenário de divisão da direita sem Bolsonaro é provável
Valor Econômico, por César Felício
Preso e sem perspectivas de socorro, ex-presidente tem pouco estímulo para transferir eleitorado a liderança de fora da família
A antecipação da prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro abre portas para um cenário de consolidação da divisão da direita na eleição presidencial de 2026. Bolsonaro mantém como ativo a força eleitoral, hoje com viés de baixa, não de alta. Encarcerado, sem perspectivas de construção de uma saída política no Congresso para anular sua condenação, mesmo com pressão dos Estados Unidos, não há estímulos para a transferência do legado.
Especialistas em pesquisas eleitorais e em
marketing político já calculam o que é reserva de mercado do bolsonarismo puro
dentro do eleitorado antipetista, avaliado em cerca de 50% do total nacional.
Há unanimidade entre eles de que o ex-presidente representa a faixa majoritária
dos que se dizem de direita, mas não tem mais as exclusividade deste
contingente, o que tende a torná-lo mais radical.
“Pesquisa nossa feita depois da condenação judicial mostra que 35% do eleitorado brasileiro se classifica como sendo de direita e 63% nominam Bolsonaro como principal liderança. Isso no eleitorado total indica 22% de bolsonaristas puros”, comenta o cientista político Antonio Lavareda, diretor do Ipespe, que avalia ser esse o potencial de transferência.
Aliados de Bolsonaro veem crescer favoritismo de Tarcísio, por Andrea Jubé e Joelmir Tavares
Valor Econômico
Governador de São Paulo é visto como nome que
une centro, direita e bolsonaristas
Aliados do núcleo principal de Jair Bolsonaro avaliam que o episódio da prisão preventiva, que revogou a domiciliar e remanejou o ex-presidente para uma cela na sede da Polícia Federal, dificulta as comunicações, mas não interdita as discussões sobre quem será o herdeiro político do líder da oposição. A percepção é de que o fato fortalece o favoritismo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao mesmo tempo em que esvazia a possível candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Um desses aliados disse ao Valor que Tarcísio continua sendo o nome que une o centro, a direita e o bolsonarismo, especialmente se for ungido pelo ex-mandatário como o seu candidato à Presidência. Na visão desta fonte, a retirada de Bolsonaro do regime domiciliar deverá alertá-lo para a importância de ele escolher o nome mais competitivo de seu campo político para ganhar o seu apoio e enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2026.
Só a busca por blindagem une o bolsonarismo e o Centrão, por Maria Cristina Fernandes
Valor Econômico
Grupo político mais renhido do entorno de
Bolsonaro parece ter visto uma senha para a resistência
A perspectiva de que viesse a perder a possibilidade de uma prisão domiciliar, pelo indício de fuga, é suficiente para o ex-presidente ter mudado a versão sobre sua motivação para a violação da tornozeleira de “curiosidade” para “alucinação”. Se a mudança de versão não lhe devolverá, tão cedo, a chance de ficar preso em casa, tampouco será suficiente para arrefecer a resistência do bolsonarismo a uma candidatura única do campo da direita.
Por mais desmoralizante que a história da tornozeleira possa parecer, e o silêncio dos advogados sobre a violação é reveladora, a “paranoia” da qual Jair Bolsonaro se diz possuído reforça a vitimização como narrativa. Um dos poucos a se pronunciar sobre o tema, a partir do depoimento do ex-presidente na audiência de custódia, foi o influenciador Paulo Figueiredo.
Antecipação de prisão pode forjar aliança do Centrão com bolsonarismo, por César Felício
Valor Econômico
A possibilidade de um alinhamento pleno entre
os dois blocos levou deputados de esquerda a baixarem a euforia com a tão
esperada prisão
As notas em redes sociais do ex-presidente da
Câmara, deputado Arthur
Lira (PP-AL), e do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, em defesa do
ex-presidente Jair
Bolsonaro, preso preventivamente nesse sábado (22), são as mais
sugestivas das primeiras consequências políticas de um evento esperado desde o
início do ano. O Congresso Nacional deve retomar os trabalhos esta semana com
uma aliança tácita entre
o Centrão e
o bolsonarismo para
beneficiar o líder condenado.
Lira ainda mantém em mãos muitas das rédeas que operam as emendas parlamentares na Câmara e é a eminência parda na gestão do sucessor, o presidente da Câmara Hugo Motta (PP-PB). Com a centena de parlamentares da "União Progressista" (PP mais União Brasil) alinhada à oposição, Kassab é o fiel da balança que forja uma maioria parlamentar.
Prisão rara indica robustez institucional, por Carlos Pereira
O Estado de S. Paulo
Democracias têm enorme dificuldade em julgar e impor penas de prisão a chefes do Executivo
A prisão de Jair Bolsonaro e a perspectiva de início de cumprimento de uma pena severa têm produzido interpretações polares — para uns, justiça; para outros, perseguição. Reações semelhantes ocorreram quando Lula foi preso e, depois, solto. Como demonstrei no artigo escrito com André Klevenhusen, In Court we Trust? Political Affinity and Citizen’s Attitudes Toward Court’s Decision, a forma como indivíduos avaliam decisões judiciais é amplamente afetada por vieses políticos e afetivos.
Mas o ponto central é outro: democracias encontram enorme dificuldade em julgar e impor penas privativas de liberdade a chefes do Executivo. Quando conseguem fazê-lo, demonstram força institucional – não fragilidade.
Bolsonaro preso, mas a página não foi virada, por Joel Pinheiro da Fonseca
Folha de S. Paulo
Um espectro sempre acompanhou o bolsonarismo,
o de que a força pode se impor sobre as instituições
Realisticamente, contudo, ele ainda detém uma
carta poderosa: a escolha de seu sucessor em 2026
Foi um anticlímax. Veio num momento em que
ninguém esperava, cedo da manhã
do sábado, dias antes do aguardado "transitado em
julgado". Flávio
Bolsonaro conclamara os militantes
para uma vigília, uma "luta" espiritual pedindo ao
"Senhor dos Exércitos" que corrija os erros da Justiça humana.
Mas não deu tempo
de colocar as tropas em posição. As câmeras da mídia também não
estavam prontas. A prisão de Jair
Bolsonaro em nada lembrou o espetáculo da prisão de Lula em
abril 2018 na sede dos metalúrgicos, quando uma multidão veio defender o
ex-presidente e dificultar o trabalho da polícia.
A ordem de Alexandre de Moraes foi correta. A aglomeração de defensores fora do condomínio poderia gerar tumulto e violência. Além disso, Bolsonaro tentou violar a tornozeleira com um ferro de solda. Não está claro se houve algum plano mirabolante ou se —o que é mais provável— foi puro fruto de um surto psiquiátrico. Seja como for, o mais seguro para todos os envolvidos —especialmente Bolsonaro— é o que aconteceu: sua transferência para a superintendência da PF com o devido acompanhamento médico constante.
Direita não precisa mais de Bolsonaro, Camila Rocha
Folha de S. Paulo
Pá de cal foi jogada pelo próprio Jair, que derreteu sua
tornozeleira e seu capital político
Candidaturas alternativas de direita ainda têm longo caminho e
grande pedra chamada PF
Jair
Bolsonaro derreteu sua tornozeleira e seu capital político. Se
antes era a direita que precisava do bolsonarismo, agora o cenário mudou.
Há meses o bolsonarismo estava em crise. O número de apoiadores em
protestos de rua declinou, assim como seu impacto nas redes sociais. Para
piorar, o fim do tarifaço para produtos agrícolas enterrou de vez a estratégia
de Eduardo
Bolsonaro para salvar o pai.
O fracasso retumbante de Eduardo fez com que passasse o bastão para o irmão mais velho, Flávio Bolsonaro. Porém, após o fiasco de uma caminhada promovida em outubro, na qual compareceram 2.000 pessoas, Flávio tentou reacender o ânimo dos apoiadores, mas apenas acelerou o enterro político de sua família.
Prisão de Bolsonaro é ponto fora da curva entre democracias em crise, por Ana Luiza Albuquerque
Folha de S. Paulo
Independência do Judiciário garantiu prisão de líder autoritário
populista condenado
Medida não é suficiente para mudar condições que permitiram sua
chegada ao poder
Jair
Bolsonaro é o primeiro dos grandes líderes da leva de
autoritários populistas do século 21 a ser
preso por atentar contra a democracia. Seus aliados
internacionais seguem não apenas livres, mas firmes.
Nos Estados
Unidos, Donald Trump voltou
à Presidência antes que o julgamento de seus processos atrapalhasse seus planos
eleitorais. Na Hungria, Viktor Orbán se
prepara para uma difícil eleição, mas os 15 anos que acumula no poder podem ser
um trunfo para garantir sua permanência como primeiro-ministro.
Enquanto isso, Bolsonaro passará seus dias, ao que parece, em
uma sala da
Superintendência da Polícia
Federal em Brasília.
Cabe perguntar: por que o ex-presidente teve um destino diferente dos seus
pares?
Em primeiro lugar, a manutenção de uma Suprema Corte independente foi fundamental para fazer valer a lei e punir a ameaça democrática. Cientistas políticos que estudam a qualidade das democracias costumam identificar o Judiciário como o último bastião frente aos avanços de um autocrata.
Dulce/Márcia, por Ivan Alves Filho
Um nome inspirado por alguma canção popular
mexicana, dir-se-ia. Um nome bonito demais da conta, como falariam os mineiros.
Um nome que ela, devido à luta clandestina, tinha que omitir de quase todo
mundo.
Tendo convivido com ninguém menos do que Luiz Carlos Prestes em Moscou, atuou politicamente com Salomão Malina e Givaldo Siqueira, Dulce/Márcia foi ainda amiga pessoal de Gregório Bezerra, cujas memórias datilografava na antiga União Soviética. Dela, pode-se dizer que pautou sua vida pela defesa intransigente da Democracia, tanto no plano político quanto no social. E pagou por isso um preço muito alto, traduzido por clandestinidades e exílios.
domingo, 23 de novembro de 2025
Opinião do dia – Montesquieu* (liberalismo forte)
O
amor pela democracia é também o amor pela frugalidade.
Nesse
regime, devendo todos gozar da mesma felicidade e das mesmas regalias, devem
fruir dos mesmos prazeres e acalentar as mesmas esperanças, coisa que só se
pode esperar da frugalidade geral.
O
amor pela igualdade, numa democracia, limita a ambição unicamente ao desejo, à
felicidade prestar à sua pátria serviços maiores que os outros cidadãos. Todos
não podem prestar-lhe serviços iguais; mas todos devem igualmente prestar-lhos.
Ao nascer contraímos para com ela uma imensa dívida da qual nunca podemos
desobrigar-nos.
Assim,
nas democracias, as distinções nascem do princípio da igualdade, mesmo quando
essa parece destruída por serviços excepcionais ou por talentos superiores.”
*Montesquieu (1689-1755), foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua teoria da separação dos poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais; ‘Do Espírito das Leis’ p. 84. Editora Nova Cultura, 2005 (tradução de Fernando Henrique Cardoso e Leôncio Martins Rodrigues.
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Encarcerado e politicamente esvaziado
Por Folha de S. Paulo
Bolsonaro começa na prática a cumprir pena em
regime fechado; direita busca opções para 2026
Prisão domiciliar será tema incontornável para
o STF, dadas idade e saúde de Bolsonaro; debate sobre dosimetria seguirá aberto
Jair
Bolsonaro (PL) começa a cumprir em
regime fechado sua pena de 27 anos e três meses por tentativa de golpe de Estado.
Esse, tudo indica, é o efeito prático da decretação de
sua prisão preventiva neste sábado (22) pelo ministro Alexandre de
Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Já se previa que o STF determinasse
o cumprimento da pena a partir de segunda (24), com o encerramento do prazo
para os últimos recursos da defesa do ex-presidente —que havia pedido a
permanência da prisão domiciliar em que ele estava desde 4 de agosto, alegando
riscos de vida decorrentes de idade e condições de saúde. Essa possibilidade
por ora parece fora da mesa.
Em sua decisão, Moraes apontou tentativa de violação da tornozeleira eletrônica, reportada pelo monitoramento do Distrito Federal, e risco de fuga para a embaixada dos Estados Unidos, agravado por uma vigília a ser realizada na noite deste sábado perto de sua residência. Em vídeo, Bolsonaro admitiu candidamente a uma agente distrital que aplicou ferro quente na tornozeleira.
Allende, Berlinguer e a esquerda hoje, por Luiz Sérgio Henriques
O Estado de S. Paulo
Na tradição da esquerda – como mostram Allende e Berlinguer – há um repertório alternativo a ser ‘aggiornato’ e requalificado
Um reel do escritor chileno Roberto Bolaño Ávalos, que circula nas redes, evoca comovidamente Salvador Allende e a tragédia do golpe de 1973. De modo contundente, Bolaño descreve a desilusão inicial dos jovens de então, que em vão esperavam as armas negadas pelo presidente em vias de ser deposto e morto. Allende aparecia como um conservador, capaz de cometer quase uma traição, fugindo à luta no momento decisivo. Sua imagem, no entanto, ao longo do tempo, iria se agigantar, ao evitar os horrores da guerra civil e poupar do aniquilamento toda uma geração ou a maior parte dela. É que a derrota de Allende e da Unidade Popular, naquele Chile tão distante, já estava definida pela política, não pelas armas, como se deduz das palavras de Bolaño.
Curiosidade proposital, por Merval Pereira
O Globo
A reação dos Bolsonaro indica que não
pretendem se conformar com a prisão do pai e líder e mais uma vez estão se
insubordinando contra a lei.
A prisão
preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro foi provocada por uma
“curiosidade” infantil de saber como funcionava a tornozeleira eletrônica que
carrega na perna, alegou ele. Tal “curiosidade” irresistível ocorreu na
madrugada, pouco depois da meia-noite, e foi detectada pelo equipamento de
recepção dos sinais da tornozeleira na Polícia Federal. Usar um ferro de solda
para tal ação demonstra não sinais de que preparava uma fuga, mas talvez que
tenha feito de propósito essa violação para provocar uma reação política de
seus seguidores.
Não há outra explicação para tamanha irresponsabilidade, que significa uma confrontação com a decisão judicial que o colocou em prisão domiciliar. É típico de Bolsonaro essa afronta, que sempre foi seguida de um pedido de desculpas, uma alegação de que estava transtornado pela “injustiça” que estão cometendo contra ele.
Formação de família, por Bernardo Mello Franco
O Globo
Ações desastradas de Eduardo e Flávio levaram
ex-presidente mais cedo para a cadeia
Jair Bolsonaro mal havia vestido a faixa
quando aliados começaram a reclamar das ações de seus filhos. O primeiro a se
queixar em público foi o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência,
Gustavo Bebianno. Acabou demitido antes de completar dois meses no cargo.
“Os filhos do presidente atrapalham muito,
são o maior problema do governo”, disse Bebianno, poucos meses depois da queda.
“São mimados, nunca trabalharam na iniciativa privada, nunca enfrentaram um
ambiente de trabalho normal. Sempre mamaram nas tetas do Estado”, acrescentou.
Eleito por um partido de aluguel, Bolsonaro não tinha quadros para montar o governo. Loteou a Esplanada entre militares e permitiu que os filhos Flávio, Carlos e Eduardo interferissem à vontade na gestão federal.
Alcolumbre no estilo de Eduardo Cunha, por Elio Gaspari
O Globo
Duas horas depois da indicação do advogado-geral da União Jorge Messias para a cadeira vaga no Supremo Tribunal Federal, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, anunciou que vai pautar um projeto que regulamenta as aposentadorias de agentes de saúde.
Aprovado, será um tiro de bilhões nas contas
do governo. Segundo o deputado Antonio Brito, relator do projeto, serão gastos
R$ 5 bilhões federais até 2030. Já a Confederação Nacional de Municípios estima
que sejam R$ 21,2 bilhões municipais.
Sem tirar nem pôr, é uma pauta-bomba, ao
estilo de Eduardo Cunha detonando Dilma
Rousseff.
Alcolumbre e muitos senadores foram
contrariados com a escolha de Jorge Messias para o STF. Jogando pelas
regras, o Senado pode rejeitá-lo. Se não der, pode escolher uma outra vítima,
expondo sua insatisfação.
Pauta-bomba, gerando despesas, é teatro ou,
na pior das hipóteses, jogo sujo. Eduardo Cunha jogou-o em 2015 e quebrou as
pernas de Dilma. Por outros motivos, acabou na cadeia, até que em 2013 o STF
aliviou-o.
Alcolumbre e alguns senadores queriam a indicação de Rodrigo Pacheco, ex-presidente da Casa. Não deu, paciência.
O gesto de Alcolumbre tisna a pauta do Senado dando-lhe um cheiro de arma de conveniência.
‘Coisas acontecem’, por Dorrit Harazim
O Globo
A sacola de plástico contendo as roupas do
morto foi jogada numa lixeira. Os restos mortais de Jamal Khashoggi jamais
foram encontrados
Na semana passada o presidente Donald Trump
recebeu o príncipe saudita Mohammed bin Salman (conhecido pelas iniciais MBS)
em grande estilo, com caças F-35 e F-16 sobrevoando a Casa Branca. Nos céus,
tudo azul. Em solo, nem tanto. Como de praxe, a mídia credenciada fora
convocada ao Salão Oval para registrar o momentoso encontro. Mas nada parece
dar muito certo naquele local histórico transformado em assombração kitsch —
folheada a ouro, claro — por Trump.
Mais de sete anos haviam transcorrido desde
que a CIA informara ao mundo considerar MBS responsável por ordenar o
assassinato do jornalista saudita exilado Jamal Khashoggi. Era inevitável,
portanto, que o tema fosse abordado na ocasião.
A repórter Mary Bruce, da emissora ABC News,
dirigiu sua pergunta ao visitante com transmissão ao vivo:
— Vossa Alteza Real, os Estados Unidos concluíram que o senhor orquestrou o assassinato brutal de um jornalista. As famílias das vítimas do atentado do 11 de Setembro estão inconformadas por vê-lo no Salão Oval. Por que os americanos deveriam confiar em Vossa Alteza Real?
Bastidores da COP de Belém, por Míriam Leitão
O Globo
A grande divisão da COP foi a escolha entre
sair de forma ordenada do petróleo e do carvão ou torrar na Terra e sermos
varridos por tufões, enchentes e secas
foi em claro. Houve acordo em várias questões. Segundo o presidente André Corrêa do Lago, vai demorar para explicar todos os pontos positivos. O negativo é fácil de entender. Venceu o veto dos defensores dos fósseis ao mapa do caminho para a menor dependência das fontes de energia que estão ameaçando a vida na Terra. Belém rachou. Havia 80 países a favor, e o resto contra ou se abstendo. O embaixador disse que o mapa do caminho será uma decisão da presidência brasileira que tem ainda 11 meses pela frente. O problema é que, se não está no acordo, não vira mandato. Mas ele tem o respaldo de mais de 80 países para tentar construir uma fórmula que permita a sobrevivência da ideia.
Prisão não anula Bolsonaro na escolha do candidato de oposição a Lula, por Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
O presidente do PL Valdemar
Costa Neto não esconde o desejo de que Michelle seja a candidata. Os filhos
preferem o irmão mais velho, o senador Flávio Bolsonaro
A prisão preventiva do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL), decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Alexandre de Moraes, após a convocação de uma vigília por Flávio Bolsonaro
(PL-RJ), não sela o destino do bolsonarismo nem esvazia seu impacto no pleito
de 2026. O movimento político criado por Bolsonaro é maior que sua condição
jurídica e, embora enfraquecido, permanece vivo entre milhões de seguidores.
Bolsonaro está sob custódia do Estado, inelegível e condenado a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, mas continua sendo a principal referência política da direita brasileira, à qual hegemonizou. A prisão reduz seu raio de ação e aumenta sua vulnerabilidade, mas não dispersa de imediato a base eleitoral que construiu nos últimos 10 anos. A “sombra de futuro” do “Mito” contingenciará os candidatos de oposição.
Emprego vai bem, mas falta cuidar da inflação, por Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo
As projeções do mercado ainda apontam inflação longe da meta no próximo ano e em parte de 2027
Desemprego baixo e comida na mesa têm garantido pontos para o governo, mas a economia perde impulso e nada prenuncia algum dinamismo nos próximos anos. A atividade tem sido puxada pelos serviços e pela agropecuária, enquanto o desempenho da indústria continua medíocre. O investimento produtivo – em máquinas, equipamentos, construções e tecnologia – oscila segundo os padrões do último quarto de século. O valor investido tem superado muito raramente os 20% do Produto Interno Bruto (PIB) e com frequência tem ficado abaixo de 18%.
Preso e isolado politicamente, Bolsonaro deixa bastão com Flávio, que também pode ser alvo da PF, por Roseann Kennedy
O Estado de S. Paulo
Candidatura presidencial do filho zero um,
entretanto, não une a centro-direita e ainda há temor de eventual investigação
sobre o senador também inviabilize seu nome
Amigos e correligionários de Jair Bolsonaro (PL) já tinham
acionado a contagem regressiva para a prisão do ex-presidente, antes mesmo de o
ministro Alexandre de Moraes decretar a
preventiva neste sábado, 22. Todos sabiam que o momento estava chegando, mas
acreditavam que ocorreria entre as próximas terça-feira e quarta-feira.
Apesar do fim inevitável se aproximando,
falar da prisão com Bolsonaro e da transferência de seu espólio político para
2026 virou um tabu. “Parece abutre à espreita”, resumiu à Coluna do Estadão uma
liderança política da direita bolsonarista para expor o desconforto com o tema.
Discutir os palanques estaduais e a corrida ao Planalto com o capitão virou um problema. Seu quadro emocional e clínico cada vez mais prejudicado inibia as abordagens, segundo relato de pessoas próximas ao ex-presidente. Além disso, há as limitações judiciais. Para visitá-lo é preciso autorização prévia de Moraes, e o diálogo entre Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, está proibido.
Em nome de ‘Deus’, por Eliane Cantanhêde
O Estado de S. Paulo
“Meter ferro quente” foi teste de Bolsonaro para tirar a tornozeleira na hora H, da fuga
A prisão preventiva de Jair Bolsonaro,
determinada pelo ministro Alexandre de Moraes um dia depois da inclusão do
deputado Alexandre Ramagem na lista da Interpol, pode ser definida como uma
“ação antidebandada”. O bolsonarismo agonizando e o trânsito em julgado da
trama golpista chegando detonaram um “salve-se quem puder”. A PF e Moraes estão
de olho.
A prisão, que não é (ainda) pela condenação
por tentativa de golpe de Estado, foi depois de PF e Moraes juntarem as peças
do quebra-cabeça numa imagem nítida: Bolsonaro pretendia fugir do País, tal
como os deputados Eduardo, agora réu, Ramagem e Carla Zambelli, já condenados.
Apesar da troca na linha de frente, do desastrado Eduardo Bolsonaro pelo até então moderado Flávio Bolsonaro, e do vídeo desesperado do 01 articulando uma “vigília” para salvar o bolsonarismo, parece tarde demais: escaldados pelas prisões do 8/1 e desencantados com o antipatriotismo dos seus ídolos, os militantes abandonam as ruas, enquanto os cúmplices políticos abandonam o País.
Descontando o futuro, por Hélio Schwartsman
Folha de S. Paulo
Livro conta a história de conceito econômico
por trás de juros e prêmios de risco
Fenômeno também explica dificuldade para
ações firmes no enfrentamento da mudança climática
Ao menos para economistas, o futuro vale menos do que o presente. Prêmio de risco e preço da paciência estão entre as razões evocadas para justificar o chamado desconto do futuro e fenômenos a eles associados, como a taxa de juros. O desconto do futuro é também um dos motivos por que é tão difícil coordenar as ações de países para enfrentar a mudança climática.
"Discounting the Future", de Liliana Doganova, é um interessante passeio pela lógica, contradições, cálculos interessados e falta de visão que nos levam a descontar o futuro.
O bolsonarismo sem Bolsonaro, por Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
Núcleo familiar deve tentar ganhar força na
disputa contra bolsonaristas ditos pragmáticos
Cadeia precoce não deve mudar história real
da direita ou força do bolsonarismo transformado
A prisão
preventiva de Jair
Bolsonaro transforma em drama mais intenso o que seria a cena do
encarceramento, o episódio em que o capitão das trevas seria levado a uma cela
a fim de cumprir pena por tentativa de golpe. Vamos chamar de drama o que seria
farsa, não fora tão tétrica.
A encenação não deve mudar a história real. Os integrantes mais aguerridos da seita farão mais propaganda fanática, como o fazia Flávio Bolsonaro. Inadvertidamente (ou não?), o senador do PL do Rio de Janeiro antecipou a prisão ao convocar para este sábado uma vigília para perto da casa do pai dele, com hipérboles bíblicas e denúncia da ditadura em que, diz, vive o Brasil. O bolsonarismo restante ou transformado continuará a cuidar da vida, pois a prisão era certa. Sim, o bolsonarismo é maior do que Bolsonaro. Transformou-se em ideia.
Ali está o maior criminoso da história, por Celso Rocha de Barros
Folha de S. Paulo
Com a redução das tarifas de Trump,
ex-presidente foi preso assistindo ao fracasso de seu último grande crime
Imaginem o tamanho do desastre que seria uma
fuga de Bolsonaro
Jair Bolsonaro foi
preso mais cedo do que se esperava. Preso sem estardalhaço, sem
sensacionalismo, sem algemas, nos termos da lei. Preso preventivamente, por
tentar fugir poucos dias antes do início do cumprimento da pena a que foi
condenado por tentar roubar o voto da maioria dos brasileiros em 2022.
Jair tentou quebrar sua tornozeleira
eletrônica para fugir em meio à confusão que seria criada pela vigília
que Flávio
Bolsonaro convocou. Estava a 15 minutos das embaixadas de
Brasília.
Se tivesse que apostar para qual embaixada Jair fugiria, cravaria alguma das monarquias absolutistas árabes.
Bolsonaro conduziu seu infortúnio, por Dora Kramer
Folha de S. Paulo
As escolhas beligerantes do ex-presidente e
sua turma os levaram a pagar o preço da própria estupidez
Se ficassem inertes a reiterados atos de
desafio à legalidade, autoridades incorreriam em grave omissão
Preso Jair
Bolsonaro (PL) estava em casa, preso
continuará na Polícia
Federal até que o ministro Alexandre de
Moraes decida lhe dar, ou não, o benefício da domiciliar ao fim
do processo. Mais uma vez o ex-presidente e sua turma dada a reiteradas
afrontas à Justiça lhe causam dissabores.
A ordem preventiva aconteceu devido à convocação de manifestantes para vigília feita pelo filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e à violação da tornozeleira eletrônica, o que por si justificaria a medida cautelar.
Os direitos de Bolsonaro na prisão, por Conrado Hübner Mendes
Folha de S. Paulo
A Jair se garante o direito de respirar, de
não ser torturado e tratamento digno
Decisão faz detalhada cronologia das
múltiplas formas de o ex-presidente desafiar a Justiça e obstruir a aplicação
da lei
A obra anti-intelectual de Jair
Bolsonaro foi gritada, não escrita. Seus reptos contra a
educação, a saúde pública, o meio ambiente, a ciência, os direitos e liberdades
são ouvidos há décadas. Suas ações concretas, coerentes com o grito, lutaram
por esgarçar a legalidade, incitar desmatamento da Amazônia, intimidar e
sectarizar estruturas regulatórias do Estado, ameaçar professores e cientistas,
estimular todas as formas de exposição ao vírus na pandemia.
Jair Bolsonaro se fez líder eleito graças à sua filosofia da prisão e da pessoa presa. Entende pessoa presa como não humana e define responsabilidade penal com base em presunção, não em provas. Se está preso, presume-se criminoso. Sua síntese primal: "Bandido tem que apodrecer na cadeia. Se cadeia é lugar ruim, é só não fazer a besteira que não vai pra lá. Vamos acabar com essa história de ficar com pena de encarcerado. Quem está lá fez por merecer." "É problema de quem cometeu crime."



























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