quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso deve aprovar pacote fiscal com urgência

O Globo

Parlamentares precisam deixar de lado interesses paroquiais e agir em nome das necessidades do país

Ao priorizar os próprios interesses e postergar a votação das medidas de ajuste fiscal, os parlamentares viram as costas às necessidades urgentes do Brasil. É verdade que as medidas apresentadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, são insuficientes para alcançar o equilíbrio desejável das contas públicas e resgatar a credibilidade do governo. Mas isso não significa que não sejam necessárias. É preciso que o Congresso aprove logo o pacote, a tempo de que ele surta efeito já no Orçamento de 2025. É desejável até que aprimore as medidas anunciadas, de modo a impor mais rigor ao controle de gastos. Do contrário, o Legislativo se tornará tão responsável quanto o Executivo pela incúria fiscal que alimenta a inflação, os juros e mina o crescimento da economia.

Vera Magalhães - Governo para nos boxes

O Globo

Além da votação do pacote de gastos, emergência de saúde do presidente compromete reforma ministerial e recomposição para 2026

A emergência médica por que passou Lula contribuiu para trazer ainda mais complexidade a um cenário de fim de ano já bastante desafiador para o governo. Por um lado, a preocupação com a saúde do presidente produz uma espécie de espírito de colaboração, mesmo por parte dos parlamentares até então dispostos a colocar a faca no pescoço do Planalto para votar alguma coisa. Por outro, a ausência do presidente do comando da articulação política faz com que esses mesmos atores desconfiem ainda mais da capacidade dos que assumiram a linha de frente de entregar o que é preciso para que as votações deslanchem: a execução das famosas emendas parlamentares.

No varejo, é essa a ambivalência que reina numa Brasília ainda preocupada em entender a extensão da gravidade do quadro clínico do presidente. A arriscada operação para removê-lo às pressas para se submeter a uma cirurgia na cabeça em plena madrugada não foi nada trivial e suscitou uma série de dúvidas a respeito da maneira como foi conduzido o pós-operatório da queda que Lula sofreu em outubro.

Quem se trumbica não se comunica – Elio Gaspari

O Globo

Sempre que o governo reconhece que tem um problema de comunicação, ele tem um problema, mas não é de comunicação. O velho Chacrinha dizia que “quem não se comunica se trumbica”. Certo, mas quem se trumbica não se comunica, e é esse o problema.

A ekipekonômica e o Planalto fizeram um pacote mal-ajambrado, tentando embrulhar uma vassoura, bananas e uma gaiola, o dólar passou os R$ 6, e o problema estaria na comunicação.

Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secom, não é nenhum Washington Olivetto, mas não é dele a responsabilidade pela encrenca. Indo aos fatos.

A ekipekonômika começou a divulgar o pacote plantando notícias de uma tunga sobre o salário-desemprego dos trabalhadores demitidos sem justa causa. Começaram a soprar essa tunga sem ao menos conversar com o ministro do Trabalho, coisa de onipotentes mal-educados. 

Bernardo Mello Franco – Viúvas do talvez

O Globo

País ainda precisa retificar certidões de óbito de 404 vítimas da ditadura

Numa das cenas mais fortes de “Ainda estou aqui”, Eunice Paiva ergue uma certidão de óbito como se fosse um troféu. A ditadura havia matado seu marido em 1971. Ela só conseguiu o documento em 1996, depois de 25 anos de espera.

“O não reconhecimento da morte de Rubens Paiva foi a forma de tortura mais violenta a que eles poderiam submeter nossa família”, disse Eunice, interpretada no filme por Fernanda Torres. Até hoje, centenas de famílias vivem uma angústia parecida.

Ontem o Conselho Nacional de Justiça aprovou resolução que obriga os cartórios a retificarem certidões de óbito de vítimas do regime militar. “Embora nunca tenha havido um pedido formal de desculpas, como deveria ter havido, pelo menos estamos tomando as providências possíveis de reparação moral”, disse o ministro Luís Roberto Barroso.

Como lidar com a era do baixo crescimento - Martin Wolf

Financial Times / Valor Econômico

Desaceleração do crescimento precisa estar no foco das políticas públicas

Terá chegado ao fim o rápido crescimento econômico dos países de alta renda do mundo? Caso tenha, será que o estouro da bolha em 2007 marcou o ponto de virada? Ou, de outra forma, será que estamos no início de uma nova era de rápido crescimento alimentada pela inteligência artificial (IA)? As respostas a essas perguntas deverão contribuir muito para moldar o futuro de nossas sociedades, uma vez que a estagnação das economias explica, em parte, nossa cizânia política.

Então, o que mostra o histórico e até que ponto ele dependeu de oportunidades irrepetíveis? Aqui, meu foco será o Reino Unido, em sua condição de ser um dos vários países que lutam para recuperar o dinamismo. O Reino Unido, na verdade, tem sido relativamente pouco dinâmico desde a Segunda Guerra. No entanto, segundo o Conference Board, o PIB real per capita no Reino Unido cresceu 277% entre 1950 e 2023. No mesmo período, o PIB real per capita dos Estados Unidos cresceu 299%, o da França, 375%, o da Alemanha, 501% e o do, Japão 1.220%. Os padrões de vida, de forma cumulativa, foram se transformando.

Cirurgia de Lula não foi capaz de conter a pressão política - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Problema de saúde do presidente foi precedido e sucedido por desarranjos políticos que ameaçam segundo biênio do governo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a se queixar de dor de cabeça no início da tarde da segunda-feira. Os sintomas, posteriormente descritos por seu médico, Roberto Kalil Filho, como de “estado gripal”, não o impediram de receber os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no Palácio do Planalto, às 17h.

A reunião, que não estava na agenda, foi convocada em função da trava nas votações do Congresso evidenciada pelo adiamento da leitura do relatório da regulamentação da reforma tributária às 16h na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Além de Lula e dos dois parlamentares, participaram o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Teto da tributária, candidato a ser furado - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Para quem esperava que a reforma reduzisse de forma importante a carga tributária, os sinais que vêm do Congresso não são muito animadores

O Brasil, dizem especialistas, já lidera hoje o ranking do “maior IVA do mundo”. IVA, ou Imposto sobre o Valor Agregado, é o que se pretende adotar no país a partir da reforma tributária. Hoje, os tributos que serão substituídos pelo IVA somam algo como 34%, nas estimativas do governo.

Para quem esperava que a reforma tributária reduzisse de forma importante essa carga, os sinais que vêm do Congresso não são muito animadores. O relatório que o senador Eduardo Braga (MDB-AM) apresentou esta semana para o Projeto de Lei Complementar (PLP) 68/24 aponta para uma alíquota de 28,1% como a necessária para Estados e municípios não terem perda de arrecadação após a reforma.

O milagre de Milei: menos salários, mais aplausos - Guilherme Frizzera*

Correio Braziliense

Perpetua-se um ciclo em que austeridade não resgata economias, mas aprisiona sociedades em um labirinto de desigualdades 

A política econômica de Javier Milei, fundamentada no ultraliberalismo e apresentada sob o rótulo de austeridade, tornou-se o novo experimento de um modelo que há décadas flerta com a eficiência econômica em detrimento do custo social. Embora tenha abandonado a retórica da dolarização, Milei mantém a ênfase em cortes drásticos de gastos públicos e reformas econômicas amplamente elogiadas por mercados e instituições financeiras internacionais. No entanto, as contradições de sua estratégia começam a se impor, com manchetes ressaltando que, "surpreendentemente", a economia argentina continua encolhendo mesmo após a implementação dessas medidas.

Enquanto a pobreza atinge 53% da população e o poder de compra dos salários caiu 10%, o ajuste fiscal é celebrado como sinal de responsabilidade. Clara Mattei, autora de A ordem do capital, argumenta que a austeridade é ideológica, não técnica, pois reforça hierarquias e justifica sacrifícios sociais em nome de um progresso ilusório. Em vez de corrigir desequilíbrios, a austeridade os aprofunda, precarizando serviços e agravando a pobreza, enquanto investidores ganham a curto prazo.

Câmbio a 6. Choque de juros? – Zeina Latif

O Globo

Diz-se que política monetária tem uma dose de ciência e uma dose de arte. Sem dúvida

O risco de um ambiente macroeconômico mais instável e menos saudável, com alta do dólar, da inflação e dos juros, tem sido há tempos apontado por muitos analistas por conta da gestão das contas públicas.

Para piorar, assiste-se o recrudescimento no humor do mercado e nas expectativas de inflação. Não se trata de mera volatilidade, mas de mudança de patamar dos indicadores.

Esse quadro exigirá maior esforço da política econômica para recuperar a confiança dos agentes econômicos, de modo a fortalecer as “âncoras nominais” da economia, contendo preços, inclusive o câmbio e salários. Explico: se a inflação subiu e pode subir mais, na dúvida, o formador de preços faz mais reajustes. Nesse caso, é necessário um freio de arrumação.

As opções do Copom - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Diante da piora na percepção do risco fiscal, um erro na política monetária vai abrir uma crise

Em meio à piora nas expectativas de inflação, disparada do dólar e PIB rodando forte com um mercado de trabalho apertado, restam ao Copom duas opções para a sua decisão de hoje: acelerar o ritmo de alta dos juros para 0,75 ponto porcentual, deixando em aberto o que vai fazer na sua próxima reunião, ou antecipar boa parte do orçamento do aperto monetário, ajustando a taxa Selic em 1 ponto e já sinalizando outra alta dessa magnitude na reunião seguinte.

Há argumentos plausíveis para as duas opções. Talvez os diretores do Banco Central acabem votando por uma delas com base na cotação do dólar e no que indicar a curva de juros ao fim do pregão de hoje. Com o dólar acima de R$ 6 e a curva de juros apontando para uma Selic acima de 15,50% no fim do ciclo de aperto, uma decisão do Copom que desagrade ao mercado poderá ter impacto negativo no câmbio, além de desancorar ainda mais as expectativas inflacionárias.

Jogo de 2026 depende da decisão de Lula - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Dirigentes do PT dizem que presidente é como a Bíblia, que cada um interpreta como quer

A cirurgia sofrida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na madrugada de ontem jogou luz sobre a sucessão de 2026 para o Palácio do Planalto. Muito antes de Lula ser submetido à drenagem de um hematoma provocado por hemorragia intracraniana, porém, o assunto já movimentava os bastidores da política e até da economia.

Nem mesmo nas fileiras do PT há certeza de que o presidente concorrerá ao quarto mandato, daqui a dois anos. Além disso, para cada interlocutor ele afirma uma coisa. Tanto é assim que dirigentes do partido produziram há tempos uma frase para definir o seu estilo. Diz o PT que “Lula é como a Bíblia: cada um interpreta como quer”.

Lula convalesce com governo à matroca – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, minimiza as dificuldades do governo com o Congresso e desmentiu rumores sobre reforma ministerial

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, operado na madrugada desta terça-feira, por causa de uma hemorragia intracraniana, convalesce em meio a uma crise com a bancada no Congresso e outra na comunicação do seu governo. Lula sentiu-se mal na segunda-feira à noite e foi submetido a exames médicos que constaram o sangramento, em razão das sequelas do tombo que levou em outubro, ao cair de um banco no banheiro quando cortava as unhas. A cirurgia foi bem-sucedida, e Lula passa bem.

Queixava-se de dores de cabeça desde a semana passada, sem saber que o problema era decorrente do sangramento, que pressionava o cérebro. Transferido para São Paulo e operado às pressas no Hospital Sírio-Libanês, segundo os médicos, o presidente da República está lúcido, se alimenta e fala normalmente, mas continua na unidade de tratamento intensivo (UTI) e não tem previsão de alta antes da próxima semana, quando está prevista sua volta para o Palácio do Alvorada.

Acordão podre das emendas – Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Congresso faz chantagem, governo se vira para driblar decisão do STF, também uma gambiarra

Congresso, Supremo e governo organizam um acordão de Natal que deve nos dar de presente outro pacote de apodrecimento da República. Isto é, outro passo na institucionalização progressiva de espécie de feudalismo orçamentário, parte daquilo que por vezes se chama de "semiparlamentarismo", um exagero para uma degradação para a qual ainda não temos nome melhor. É também mais um aspecto da deterioração fiscal que vai nos levar a alguma crise econômica, social e política.

O Supremo definiu umas regras razoáveis para a elaboração de emendas parlamentares ao Orçamento federal. Muito melhores do que as regras definidas pelo Congresso faz pouco, que apenas passam um óleo de peroba na cara de pau da farra antirrepublicana e antieconômica com dinheiros públicos. É aquela lei para inglês ver, que fingia atender a exigências do STF, do ministro Flávio Dino.

Lula precisa de Lula - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Ausência parcial traz o lembrete de uma dependência acentuada e da chantagem direta feita pelo Congresso

A cirurgia que deve tirar Lula de campo até a próxima semana exibe sintomas agudos de deformações conhecidas do governo e das relações de poder no país. A internação do presidente não oferece um grande risco político imediato, mas expõe anomalias institucionais e fragilidades domésticas da gestão petista.

A concentração da autoridade política nas mãos de Lula é a marca mais cantada deste mandato. Não é uma grande deformação para os padrões do presidencialismo brasileiro, mas essa característica condicionou toda a estrutura do poder a uma dependência acentuada da porta para dentro e da porta para fora.

A coincidência da internação com a corrida acelerada para a aprovação do ajuste fiscal mostra o quanto Lula precisa de Lula. Ainda que o presidente esteja disposto a despachar do hospital, o momento politicamente delicado é um lembrete de que parte da influência do petista está ancorada em seus gestos públicos e conversas reservadas em Brasília.

Fúria, narcisismo e ofensas: o estranho mundo dos comentários - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Informação e análise, em vez de servirem de esclarecimento, viram combustível para raiva

Há uma máxima destes novos tempos cuja inobservância inevitavelmente aumenta a taxa de infelicidade de quem ganha a vida publicando em jornais, revistas ou qualquer veículo de informação online: não leia os comentários. É um princípio que há quase 25 anos tenta ajudar aqueles que se dedicam a análises, críticas ou, simplesmente, como se diz hoje, à produção de conteúdos para consumo digital, a preservar algum contentamento e autoestima.

Essa máxima vale para qualquer assunto, mas especialmente para os que frequentemente dividem opiniões: futebol, política, religião, moral, celebridades ou até se um desconhecido deveria ceder seu lugar na janela do avião. Em resumo, a quase tudo, pois no verão de 2024 não há coisa que se ame mais do que odiar.

Encontrando a esperança na era do ressentimento - Paul Krugman

The New York Times / Folha de S. Paulo

Como o otimismo de 2000 deu lugar à raiva nos tempos atuais

Esta é minha última coluna para o The New York Times, onde comecei a publicar minhas opiniões em janeiro de 2000. Estou me aposentando do Times, não do mundo, então ainda expressarei minhas opiniões em outros lugares. Mas esta parece uma boa ocasião para refletir sobre o que mudou nesses últimos 25 anos.

O que me impressiona, olhando para trás, é como muitas pessoas, tanto nos EUA quanto em grande parte do mundo ocidental, eram otimistas naquela época e até que ponto esse otimismo foi substituído por raiva e ressentimento.

E não estou falando apenas de integrantes da classe trabalhadora que se sentem traídos pelas elites; algumas das pessoas mais irritadas e ressentidas nos Estados Unidos agora —pessoas que parecem muito almejar ter muita influência com o governo Trump que está por vir— são bilionários que não se sentem suficientemente admirados.

É difícil transmitir o quão bem a maioria dos norte-americanos se sentia em 1999 e no início de 2000. As pesquisas mostravam um nível de satisfação com a direção do país que parece surreal nos padrões atuais. Minha percepção sobre o que aconteceu na eleição de 2000 foi que muitos americanos consideraram a paz e a prosperidade como garantidas, então votaram no cara que parecia ser mais divertido de se conviver.

Na Europa, também, as coisas pareciam estar indo bem. Em particular, a introdução do euro em 1999 foi amplamente saudada como um passo em direção a uma maior integração política e econômica —em direção a um Estados Unidos da Europa, se preferir. Alguns de nós, norte-americanos, tínhamos precauções, mas inicialmente elas não eram amplamente compartilhadas.

Poesia | Não há vagas, de Ferreira Gullar(interpretação do ator Ivan Lima)

 

Música | Mônica Salmaso - A volta do malandro

 

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Queda da tirania de Assad é razão para celebração

O Globo

Mas futuro da Síria, nas mãos de grupos jihadistas, desperta preocupação e traz incerteza à região

A realidade convulsiva do Oriente Médio ganhou novo capítulo com a queda da ditadura da família Assad, que governou a Síria por mais de 50 anos. O exílio de Bashar al-Assad na Rússia marca o fim do regime tirânico iniciado por seu pai, Hafez. Os dois governaram o país na base da repressão e da tortura, financiados por aliados externos. Somente na década passada, mais de 300 mil morreram numa guerra civil sangrenta que opôs milícias e facções religiosas, em que as forças de Assad chegaram a usar armas químicas contra o próprio povo. Com a vitória dos rebeldes, celebrações pelo fim da era Assad despontaram na capital, Damasco, pelo país e pelo mundo. Mas os casos de tiranias recentes também derrubadas no Oriente Médio — como Saddam Hussein no Iraque ou Muammar Gaddafi na Líbia — são suficientes para despertar preocupação com o futuro.

Antonio Lavareda: Quem evitou golpe em 2022 em última instância foram os EUA

Anna Satie / UOL

Para o cientista político Antonio Lavareda, não foi a consciência das Forças Armadas, mas a posição do governo dos Estados Unidos que frustrou os planos golpistas para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder em 2022.

Em entrevista ao UOL, o analista disse que os comandantes brasileiros não podem levar o crédito pela manutenção da democracia quando as investigações mostram que eles tinham conhecimento prévio da trama e não fizeram denúncia alguma.

Ele destaca que, durante o processo eleitoral daquele ano, enviados pelo presidente Joe Biden se reuniram com os chefes das Forças Armadas e deixaram claro que o país não apoiaria uma ruptura institucional.

Forças Armadas do Brasil e dos EUA têm ligação histórica

Em pé de guerra - Merval Pereira

O Globo

O ambiente hoje no Congresso é mais favorável a um recrudescimento do sentimento de polarização política que de pacificação, levando a reforma ministerial a ser a única solução para apaziguar os ânimos

A recusa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino em rever detalhes de sua decisão sobre o pagamento das emendas parlamentares, mudança solicitada pela Advocacia-Geral da União (AGU), fez aumentar o clima de revolta entre os parlamentares, que se recusaram a dar quórum para o início do debate da reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

As prioridades do Congresso não são as mesmas do país — reforma tributária, pacote fiscal, corte de gastos, entre outros. Como está em jogo a disputa para as presidências da Câmara e do Senado, a maior preocupação dos deputados e senadores é agradar aos eleitores — dentro do Congresso, não os nacionais, que os elegem. Há muito pouco tempo para aprovar tudo o que precisa — faltam dez dias para o recesso.

Juros, novo BC e crise política - Míriam Leitão

O Globo 

Conflito entre o Supremo e Congresso sobre as emendas trava votações importantes em uma semana já tensa com a alta maior dos juros

Esta última reunião do Copom do ano e da gestão de Roberto Campos Neto é a mais importante em muito tempo. O Banco Central deve acelerar de novo a alta dos juros. Um grande número de bancos e consultorias projetam uma alta de 0,75 ponto percentual na Selic, para 12%, com algumas apostas chegando a 1 ponto percentual. O clima de país em crise se espalhou entre operadores e dirigentes de instituições financeiras. Desde a última reunião, o dólar subiu de R$ 5,67 para R$ 6,08 e a inflação no acumulado de 12 meses ultrapassou o teto da meta. Com o IPCA a ser divulgado hoje, deve chegar a 4,8%, mesmo número da mediana das previsões do Focus para o ano.

A nova fase da IA – Pedro Doria

O Globo

Os sistemas devem sair trabalhando sem que alguém dê o comando

Na semana passada, Sam Altman se sentou no palco da conferência DealBook, do jornal New York Times. O CEO da OpenAI encarou uma entrevista de pouco mais de meia hora com o jornalista Andrew Ross Sorkin, em que o destaque veio ali pelo meio.

— A AGI está bastante próxima. Vem, talvez, já no ano que vem — afirmou Altman.

A sigla em inglês quer dizer inteligência artificial geral. Mais frequentemente, é descrita de forma mais simples: aquele momento em que inteligências artificiais igualam ou superam a humana.

Uma pausa dramática se faz necessária. Altman sugeriu que IAs podem superar a inteligência humana brevemente. Talvez no ano que vem.

Síria preocupa o Brasil por razões humanitárias - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Temos uma comunidade de 5 milhões de sírios e libaneses, plenamente integrada e concentrada em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro

Depois que rebeldes derrubaram o ditador Bashar al-Assad e tomaram o controle do país, o governo federal decidiu retirar as equipes técnicas e diplomatas que estavam em Damasco, que se deslocaram para o Líbano, onde deverão embarcar para o Brasil num avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Cerca de 3,5 mil brasileiros vivem na Síria e foram aconselhados a deixar o país.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acompanha a situação com cautela, como as demais chancelarias do mundo. Estados Unidos, Turquia, Israel, Rússia e Irã estão envolvidos diretamente na crise síria. A ditadura al-Assad foi implantada logo após a Guerra dos Seis Dias, com apoio da antiga União Soviética, quando a Síria, Egito e Jordânia, entre outros países árabes, foram derrotados por Israel. Durante a guerra civil do Líbano, chegaram a ocupar grande parte do país.

Decisão de Dino enfraquece o Congresso em negociação com governo - César Felício

Valor Econômico

Nos corredores da Câmara, comenta-se que movimento sugere uma aliança tática entre o Judiciário e o Executivo para fragilizar o Legislativo

A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, de manter o cabresto sobre as emendas parlamentares, tomada nesta segunda-feira (9), não surgiu sozinha. Apareceu junto com o crescimento das especulações sobre a abertura de espaço na Esplanada dos Ministérios para acomodar interesses do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Este possível movimento em pinça sugere uma aliança tática entre o Judiciário e o Executivo para fragilizar o Congresso, segundo se comenta nos corredores da Câmara. E essa é uma ofensiva que contou com o efeito surpresa.

Deputados e senadores esperavam um recuo de Dino, depois que o advogado-geral da União, Jorge Messias entrou na semana passada com um pedido de reconsideração de três pontos na deliberação do ministro de condicionar a liberação do pagamento das emendas a critérios de transparência e controle e limites para seu crescimento.

O Congresso entre o currículo e a ficha corrida - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Parlamentares esticam a corda com o Supremo ignorando o risco de um desfecho policial

Eram 16h desta segunda-feira quando o senador Marcos Rogério (PL-RO), vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça, abriu a sessão em que seria feita a leitura do relatório do senador Eduardo Braga (MDB-AM) da regulamentação da reforma tributária. Fechou 10 minutos depois, quando o painel registrava presença de seis senadores, sendo dois governistas. Alegou que as deliberações precisam de 14 dos 27 senadores do colegiado, mas a leitura do relatório poderia ter sido feita enquanto o quórum se adensava, mas não havia lideranças governistas para o alerta. Quando o relator chegou, o plenário estava vazio.

Conselhos de um linguista ultraliberal - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Não há pilhas de projetos para obrigar o uso da linguagem neutra, mas há para a proibi-la, comenta Caetano Galindo

O professor Caetano W. Galindo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), esteve em São Paulo no fim de outubro para uma conferência na Fapesp. Ao entrar no hotel onde ficou hospedado, pediu ao recepcionista um ferro para passar a camisa.

“Não temos o ferro no quarto, mas podemos emprestá-lo ao senhor”, disse o atendente, em linguagem protocolar e culta. Mas em seguida perguntou: “O senhor também precisa da ‘tauba’?” E logo corrigiu-se: “Desculpe, precisa da tábua?”.

Galindo, linguista ultraliberal e autor do livro “Latim em pó”, um sucesso de vendas lançado no ano passado, conta que teve vontade de pegar a mão do recepcionista e dizer:

“Não, meu amigo, ‘tauba’ é mais legal. É uma adequação fonética previsível aos padrões da estrutura da língua portuguesa. ‘Tauba’ é palavra nossa, legítima. Tábua é o que é a variedade escolar europeizada, imposta pelas elites brasileiras que se mantiveram em estreito contato com Portugal no século XIX. Elas a trouxeram para o Brasil, a impuseram e depois criaram um sistema de educação para dizer que você não sabe falar a sua própria língua”.

Passo histórico - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A comemoração do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) só durou uns poucos dias e a expectativa para que se torne realidade pode consumir muitos meses, ou anos, depois de um quarto de século de pressões, negociações, idas e vindas, muxoxos e caras feias. Na verdade, porém, esse acordo é importantíssimo para os dois blocos, particularmente para o Brasil, e não “apenas” pelo impacto nas importações e exportações em condições camaradas, mas muito além disso.

Mais do que um acordo comercial, trata-se de uma parceria estratégica entre os 27 países europeus e os quatro sulamericanos que envolve redução de tarifas de produtos de diferentes setores, num mercado que passa de 700 milhões de pessoas, mas também um diálogo político e a cooperação em várias áreas que podem impulsionar o crescimento econômico e a competitividade da indústria e da própria agricultura brasileiras.

A comunicação é o mordomo da política - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O governo Lula já identificou o problema. A culpa é da comunicação. Sempre é. Se a cousa não vai bem, ou não tão bem quanto forçaria a propaganda, a responsabilidade tomba sobre o mensageiro. Padrão. Será o máximo concedido à autocrítica. Indisposto – o que comunica mal – a avaliar o que haveria para comunicar. Indisposto – o que comunica mal – a avaliar se haveria tanta coisa (boa) assim para comunicar.

Não é a primeira vez que este governo atribui seus reveses – suas dificuldades – à comunicação. Terá talvez algo a ver com promessas-adiamentos de final de ano. Vai melhorar no que vem. Junto com a nova dieta. Junto com um pacote de corte de gastos que corte gastos. Junto com o BC socialmente sensível de Galípolo.

Mercosul revigorado - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Com a futura assinatura do acordo com a UE, o bloco sul-americano pode iniciar um círculo virtuoso de inserção internacional

A reunião presidencial do Mercosul, em Montevidéu, na semana passada, foi uma das mais importantes desde sua criação em 1991, em função da decisão dos países do Mercosul e da União Europeia (UE) de dar por concluída definitivamente a negociação do acordo de parceria em discussão há 30 anos.

Com a futura assinatura do acordo com a UE, o Mercosul sai do isolamento e pode iniciar um círculo virtuoso de inserção internacional. Foi assinado acordo comercial com o Panamá e iniciadas conversações com os Emirados Árabes Unidos.

Ninguém desce do palanque - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

A discussão pública nunca para, e é preciso estar sempre contando sua narrativa

Uma das críticas mais inócuas de nossos tempos é dizer que um político "não desceu do palanque" depois que foi eleito. Ela é inócua porque, hoje, o tempo de campanha nunca termina mesmo. É preciso estar sempre contando sua narrativa para impedir que as narrativas dos adversários dominem a discussão pública, que nunca para. O único político que pode se dar ao luxo de descer do palanque é aquele que se aposentou.

Todos nós vivemos na mesma sociedade, mas cada um tem uma percepção parcial e limitada dela, sempre mediada por preferências e projeções. Sua vida hoje está melhor ou pior do que há cinco anos? É até difícil começar a medir uma coisa dessas. Expandir isso para o Brasil inteiro, então, é mais imaginação do que qualquer outra coisa. Dados nos ajudam a montar uma percepção um pouco mais calcada numa realidade objetiva, mas mesmo eles deixam muitas lacunas, podem retratar aspectos contraditórios dessa realidade e simplesmente não alcançam muitas das áreas mais importantes da vida.

Dino rejeita pedidos do governo e mantém regras para emendas parlamentares

Cézar Feitoza / Folha de S. Paulo

STF criou restrições para emendas, e Congresso ameaça retaliar governo em corte de gastos

O ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), rejeitou nesta segunda-feira (9) um recurso da AGU (Advocacia-Geral da União) do governo do presidente Lula (PT) que pedia mudanças na decisão do tribunal sobre as emendas parlamentares.

Na decisão, Dino diz que "não há o que reconsiderar" da decisão do plenário do Supremo porque as novas regras estipuladas "derivam diretamente" da Constituição e da Lei de Responsabilidade Fiscal.

As emendas são uma forma pela qual deputados e senadores conseguem enviar dinheiro para obras e projetos em suas bases eleitorais e, com isso, ampliar seu capital político. A prioridade do Congresso tem sido atender seus redutos eleitorais, e não as localidades de maior demanda no país.

Lula no país das maravilhas – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Comunicação só é eficaz quando o público reconhece a boa qualidade do produto

Desde que os índices de popularidade engataram uma linha descendente, o presidente Luiz Inácio da Silva vem insistindo na ideia de que o problema do governo é a comunicação ruim.

Na semana passada, indicou que o talento para "vender" suas realizações será um dos critérios, talvez o primordial, para a reforma ministerial prevista para 2025. Chegou a fazer mea-culpa e chamou a si a tarefa de dialogar mais e melhor com a população.

A esfinge argentina - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

O capitão deveria ter arranjado uma irmã Igual à do presidente argentino

Você já reparou que agora Bolsonaro vive dando entrevistas? Ao contrário do tempo na Presidência, nenhuma pergunta fica sem resposta —mesmo que esta não faça sentido, seja uma deslavada mentira ou não corresponda ao que foi perguntado. O mais notável é o tratamento destinado aos jornalistas, quase civilizado. Não se pode dizer que o capitão virou uma flor de candura, mas as patadas ficaram no estábulo.

Em recente vídeo gravado para a reunião da internacional direitista em Buenos Aires, mais uma vez se revelou a sua metamorfose espiritual. Humilde, ele culpou a pandemia e a Guerra da Ucrânia (!) pelo fracasso de sua administração e elogiou Javier Milei, que hoje antagoniza com Lula.

Uma loa do Natal - Ricardo José de Azevedo Marinho*

Uma loa do Réveillon

Embora seu título tenha sido traduzido como Um Conto de Natal e não como uma canção ou vilancico natalino, o livro de Charles Dickens (1812-1870) foi escrito em menos de um mês originalmente para pagar dívidas, mas tornou-se um dos maiores clássicos natalinos e é uma obra curta, uma “nouvelle”, como diriam os franceses, que aborda temas universais em torno de histórias que acontecem no Natal. Publicado em 1843 na Inglaterra vitoriana e no preludio da segunda revolução industrial, tem todas as características dos escritos de Dickens, humanidade, dor, pobreza, injustiça e redenção. Embora possa parecer, não é uma ficção apenas para crianças e/ou adolescentes, mas para o público em geral. Li-o quando menino e causou-me uma grande impressão e tornou-me um leitor de Dickens para sempre. Agora que sou mais velho, não desprezo reler suas obras.

Poesia | Poesia | Graziela Melo – Pardos dias

Pardos dias
que se vão
ao longo
do meu viver

O entra
e sai
da agonia,

olhando
a casa
vazia

desde
a noite
ao sol nascer!

Os sons
longínquos
da alma,

exíguos
e já
rarefeitos,

se assemelham
aos tristes
sinos

que badalam
na solidão,

quando o sol
já vai fugindo,

e o céu
se avermelha
antes da
escuridão.

Música | Beth Carvalho - Vou festejar (com Bateria da Mangueira)

 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Incêndios florestais devem ser tratados como prioridade

O Globo

Neste ano, as chamas destruíram uma área da Amazônia mais de dez vezes maior que o desmatamento

As chamas têm sido mais devastadoras para a Amazônia que as motosserras. Dados do Monitor do Fogo do MapBiomas, baseados em informações de satélites, revelam que, de janeiro a outubro, incêndios destruíram uma área da floresta mais de dez vezes superior ao desmatamento registrado entre agosto de 2023 e julho de 2024 — 6,7 milhões de hectares ante 650 mil hectares. Com uma agravante: o Brasil sabe como combater o desmatamento — e a redução recente na área desmatada na Amazônia e no Cerrado é prova disso —, mas tem se revelado incapaz de deter o fogo.

O que fizeram com as nossas cabeças – Fernando Gabeira

O Globo

Existe uma incapacidade de atenção prolongada. O estímulo é mudar constantemente no ritmo da ponta dos dedos

Brain rot foi escolhida a palavra do ano pelo Dicionário Oxford. Significa cérebro podre. O termo define a exaustão mental provocada por uma imersão nas telas, pulando de um para outro tema que não contém estímulo intelectual. Na verdade, o termo já foi usado pelo escritor Henry Thoreau ainda no século XIX, em 1854:

— Enquanto a Inglaterra se empenha em curar a podridão da batata, ninguém se empenhará em curar a podridão do cérebro, que predomina de maneira muito mais vasta e fatal?

Na verdade, o esforço de atenuar as imperfeições da mente humana, pelo menos a partir do Pós-Guerra, é bastante comovedor. Lembro-me da popularidade de Erich Fromm, que escreveu inúmeros livros, estimulando a liberdade individual, as possibilidades de uma existência amorosa. Como todo intelectual alemão que sobreviveu ao nazismo, Fromm enfatizava julgamentos independentes, mas já trazia também certa crítica ao capitalismo, refletindo constantemente sobre os verbos ter e ser.

Um estoico à beira do abismo – Demétrio Magnoli

O Globo

‘Mostre-me um que é doente, porém feliz; em perigo, porém feliz; morrendo, porém feliz; no exílio, feliz; em desgraça, feliz. Mostre-o a mim. Pelos deuses, eu desejaria ver um estoico. Não, você não pode mostrar-me um estoico completo; então mostre-me um em formação, um que colocou os pés no caminho.’ O Brasil pode mostrar ao filósofo grego Epiteto (c. 55-135 d.C) um estoico completo. É Haddad, Fernando, o ministro que não permite a Lula ser Dilma. Ou, ao menos, tenta.

“Gasto é vida” — Lula acredita na síntese da teoria econômica petista enunciada por Dilma. Mas, ao contrário da presidente desastrada que inventou, tempera suas crenças por um senso aguçado de prudência política. No segundo mandato, quando trocou Palocci por Guido Mantega, manteve o Banco Central (BC) sob Henrique Meirelles, evitando os delírios heterodoxos que, no mandato da sucessora, precipitaram a queda livre.