O Globo
Precisamos encontrar um lugar na política
onde todos possam ser ouvidos, fazer um pacto com informações baseadas em
evidências e fatos
O cenário social e político brasileiro está
radicalizado, com disputas nas ruas e nas redes sociais entre narrativas que
refletem conveniências políticas e ideológicas. No meio disso, existe uma crise
social sem precedentes, herança de uma sociedade baseada em escravidão,
destruição de ecossistemas e submissão de povos originários.
A fatura chega a áreas urbanas superlotadas, onde mais de 20 milhões de brasileiros vivem em favelas, enfrentando adversidades sociais, insegurança e falta de direitos básicos. Estive no Rio Grande do Sul, observando de perto a realidade e o trabalho da sociedade civil na tragédia. Agentes públicos como policiais e bombeiros, que perderam suas casas, estão alojados em casas de parentes e trabalhando desde o primeiro dia, quando as águas invadiram o estado. A situação é preocupante.
A água bate à nossa porta e agora precisamos
pensar no mundo que deixaremos às próximas gerações. Em meio ao caos, agentes
públicos se esforçam para responder ao desespero de milhares de pessoas.
Organizações e lideranças públicas se mobilizam para ter acesso a doações e
distribuí-las rapidamente. Diferentemente da pandemia de Covid-19, em que a
logística era controlável, a crise ambiental torna isso impossível.
Estamos constantemente mudando de lugar,
contando com voluntários, estabelecendo novas rotas e criando espaços de
acolhimento, principalmente para crianças, idosos, mulheres e animais de
estimação. A radicalização e a insatisfação popular com os gestores públicos se
unem à produção maciça de informações falsas, agravando o caos. Isso impacta a
vida real.
Vi bombeiros hostilizados e policiais
acusados de impedir ações públicas diante de uma população desesperada, que
cria soluções imediatas em meio às enchentes. Agora que o impacto inicial da
tragédia diminuiu, as doações também diminuem, surgem doenças, e contabilizamos
prejuízos.
Nesta fase “pés na lama”, aumentam os pedidos
para que o país se una em torno de ajudar a quem mais precisa. Concluo dizendo
que precisamos encontrar um lugar na política onde todos possam ser ouvidos,
fazer um pacto com informações baseadas em evidências e fatos e construir
agendas públicas de interesse comum, respeitando as diferenças, mas mantendo o
foco na coletividade.
A natureza não pactua; a água invade todos os
lugares, levando o recado: ou mudamos radicalmente nossa relação com o planeta,
produzindo relações justas entre seres humanos e natureza, ou seremos banidos
como espécie.
Um comentário:
Amar o semelhante é a única salvação,o resto é conversa pra boi dormir.
Até parece que eu não gostei do artigo,gostei sim,muito bom.
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