O Estado de S. Paulo
O Comitê de Política Monetária já havia
anunciado no comunicado da última reunião que não aumentaria os juros básicos
(Selic) na mesma proporção em que aumentou nas duas últimas reuniões, de um
ponto porcentual ao ano, por vez. Esta alta seria de magnitude menor. Acabou
por optar nesta quarta-feira, por decisão unânime de seus diretores, por um
aumento de 0,5 ponto porcentual, para 14,75% ao ano.
Desta vez, não indicou nem mesmo a direção da Selic a ser adotada nas reuniões de 18 de junho e de 30 de julho. Preferiu deixar tudo em aberto porque, no momento, atua na escuridão produzida pelo tarifaço e pelos desdobramentos da guerra comercial decretada pelo presidente Donald Trump.
O Fed (banco central dos Estados Unidos)
também reviu sua política de juros nesta quarta-feira. Mas não cedeu às
pressões do presidente Trump pela derrubada dos juros. Preferiu esperar para
ver e pediu paciência, porque imerso em riscos, também atua na escuridão. Mas
sugeriu que não aumentaria mais os juros.
A primeira reação da economia global à guerra
comercial deve ser uma esticada da inflação em consequência do aumento dos
custos, que agora inclui nos preços as tarifas mais altas e do desmanche do
sistema de produção e distribuição. Mas, em seguida, espera-se uma importante
desaceleração da produção global – que derrubará os preços das commodities,
como já aconteceu com o petróleo. Se esse esfriamento da demanda acontecer,
poderá derrubar a inflação nos Estados Unidos e no mundo, ainda que não se
saiba nem a partir de quando nem em qual proporção.
Algum impacto positivo dessa possível
desinflação deverá acontecer também no Brasil, especialmente a partir da queda
dos preços dos alimentos e dos combustíveis. Se isso acontecer, não será
suficiente para levar o Banco Central a derrubar os juros aqui dentro, porque o
grosso da inflação já não acontece em cima dos preços de produtos físicos (
tradables), mas sobre os serviços, que pouco têm a ver com o tarifaço. Estão
relacionados com o despejo de dinheiro pelo governo, na contramão da ação do
Banco Central que se põe a enxugar moeda.
As incertezas de origem externa sobrepõem-se,
assim, à principal causa de inflação interna: a falta de compromisso fiscal do
governo Lula, que o Copom não se cansa de denunciar.
Quando o governo Lula, os sindicatos e os
empresários protestam contra os juros altos, esquecem-se de atacar a principal
causa do alto custo do crédito, que é a desorganização das contas públicas e a
disparada da dívida, que passam a exigir dinheiro curto – e, portanto, juros
altos – para combater a inflação.
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