terça-feira, 3 de julho de 2018

Opinião do dia: Luiz Werneck Vianna

Fixada a observação no movimento das estruturas da societas rerum o cenário é, pois, o de mudança que se faz indicar no terreno dos fatos, como ilustra o conjunto de importantes reformas já introduzidas na vida econômica, a maioria delas de caráter irreversível. Contudo, se o olhar se desloca para o plano das ideias e das concepções do mundo, o curso da mudança, embora tenha havido nas últimas décadas uma altamente significativa expansão do estrato dos intelectuais nas universidades e nas atividades artísticas, definha e apresenta um cenário desalentador de mesmice e de pouca criatividade.

Na economia, numa das sociedades mais desiguais do planeta, tivemos de esperar a notável obra de Thomas Piketty, de edição recente, para que a produção dos especialistas se voltasse para esse tema estratégico. Nas ciências sociais, desprendemo-nos da excelsa tradição que vinha de um Gilberto Freyre, de Florestan Fernandes, de Fernando Henrique Cardoso, de Raymundo Faoro, Roberto DaMatta, entre tantos nomes que se dedicaram a interpretar o País, para instalar em seu lugar os estudos identitários, que, embora importantes, certamente não têm a relevância do que foi o mainstream da reflexão disciplinar, tão necessário nesta hora em que se faz imperativa a busca de novos rumos.

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Luiz Werneck Vianna, sociólogo da PUC- Rio. ‘Os intelectuais e a aranha’, O Estado de S. Paulo, 1/7/2018.

Míriam Leitão: Vitória do México

- O Globo

Uma vitória indiscutível nas eleições de domingo deu ao México um rumo claro. O novo presidente, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), não apenas ganhou por larga margem, como seu partido, Morena, conquistou a prefeitura da Cidade do México e a maior bancada nas duas casas do Congresso. O país fortaleceu a sua jovem democracia e fez um realinhamento partidário pelo voto.

Durante a campanha o discurso de AMLO foi ambíguo e com toques populistas e nacionalistas. Apesar da oposição de grande parte dos empresários, o mercado financeiro não mostrou especial estresse com a vitória que já era esperada. No seu primeiro pronunciamento, ele foi conciliatório do ponto de vista político e tranquilizador na economia.

O México tem uma história política difícil. Ocorrer uma alternância de poder, sem acusações de fraude, com os derrotados reconhecendo o resultado logo no primeiro momento, com o eleito falando em governar “para todos os mexicanos”, é uma vitória. O México viveu durante 70 anos o regime de partido único. Em 2000, passou a ter três partidos competitivos. Agora terá oito partidos com representação no Senado e nove na Câmara. A vitória de ontem alterou a composição das forças, mas mesmo com sua grande bancada o Morena terá que fazer coalizão para aprovar projetos.

AMLO prometeu atacar a corrupção, a violência e a pobreza. Tarefa superlativa. O México tem alto nível de corrupção, que se entranhou no aparelho de Estado e nas estatais, principalmente na Pemex, durante as décadas em que o PRI governou o país. A corrupção era o pressuposto para essa continuidade. Como López Obrador quer mais e não menos presença do Estado na economia, poderá neste ponto ter o oposto do que busca. A violência é endêmica e derivada do controle territorial dos cartéis do tráfico. A pobreza é outro dos flagelos do México.

Eliane Cantanhêde: A volta de quem não foi

- O Estado de S.Paulo

O que, afinal, Dilma Rousseff tem a defender na campanha ao Senado pelo PT em Minas?

O anúncio da candidatura de Dilma Rousseff ao Senado por Minas Gerais é duplamente, digamos, curioso. Ela, como Lula, é tecnicamente inelegível. E como vai defender o seu legado na Presidência da República durante a campanha?

Quem esqueceu de como Dilma manteve a possibilidade de disputar eleições, apesar do impeachment? No último segundo do segundo tempo, os então presidentes do Senado, Renan Calheiros, e do Supremo, Ricardo Lewandowski, fizeram um acordão e inventaram a novidade.

Pela letra fria das leis e da Constituição, presidente da República que sofre impeachment se torna automaticamente inelegível durante oito anos, como ocorreu com Fernando Collor de Mello, e ninguém jamais questionou. Ele cumpriu pacientemente sua quarentena, antes voltar à política com mandato de senador.

Collor era Collor, o inimigo número um da Nação, que na reta final não tinha mais aliados, só adversários. Já Dilma tinha por trás o padrinho Lula e o PT, um dos maiores partidos do País, então com 13 anos de Presidência. Por causa de Lula e do partido, Renan e Lewandowski deram um jeitinho e Dilma manteve o direito de se candidatar.

Dilma nasceu em Minas, mas fez carreira política no Rio Grande do Sul e praticamente estabeleceu residência no Rio de Janeiro. Como vai fazer campanha em Minas, um dos três Estados mais importantes e mais politizados? Vai defender o seu próprio legado, desastroso? Ou o do governador Fernando Pimentel, seu amigão, que enfrenta problemas na Justiça e encerra o mandato com uma baita crise econômica, até atraso de salários de funcionários?

Raymundo Costa: O PT sobe as apostas para ficar com o PSB

- Valor Econômico

Lula quer colocar Ciro Gomes no colo da direita

Apesar da vantagem relativamente confortável de Ciro Gomes, a disputa pelo apoio do PSB na eleição presidencial não está definida e responde por uma das mais encarniçadas batalhas dos bastidores da sucessão. Teoricamente, Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede Sustentabilidade) também estão no páreo, mas as chances de ambos, a esta altura, é igual a zero. O jogo é entre PT e PDT, e as apostas podem dobrar nos próximos dias.

Passa nas cogitações do PT um lance ousado: apoiar a candidatura à reeleição do governador de São Paulo, Márcio França, do PSB. A proposta ainda não foi feita a França, circula num meio muito restrito do petismo e somente será formalizada se houver uma indicação concreta do PSB de que pode aceitá-la. Difícil para França, diante do desgaste do PT em São Paulo. Difícil até para o PT, que tem um candidato próprio ao governo. Mostra, porém, a disposição com que o PT entrou na queda de braço pelo apoio nacional do PSB ao candidato do partido.

O PT e Lula disputam em diversas frentes ao mesmo tempo. Algumas estão praticamente perdidas, como o registro da candidatura do próprio Lula da Silva a presidente. Sem ele na cabeça de chapa, a hegemonia do PT na esquerda está seriamente ameaçado. Os nomes mencionados para substituí-lo mal passam dos 2% nas pesquisas e não empolgam os petistas e seus candidatos aos governos e Legislativo. No momento (segundo turno é outra história), embora Marina tenha a liderança da centro-esquerda, nas pesquisas, a ameaça à hegemonia do PT atende pelo nome de Ciro.

Nas escaramuças dos bastidores, o PT tem jogado para matar, isolar ou pelo menos jogar Ciro no colo da direita. Ao mesmo tempo que negocia apoios com o PSB e o PCdoB, o candidato do PDT mantém abertos os canais com o bloco de partidos que giram na órbita do presidente da Câmara, Rodrigo Maia - DEM, PP, PRB e SD. A tendência é que esses partidos se juntem ao PSD, PTB e PPS em torno de Geraldo Alckmin (PSDB), mas Ciro Gomes é uma alternativa concreta que não deve ser desconsiderada. E é onde o PT quer o ex-ministro da Integração Nacional de Lula.

O apoio do PT a Ciro já esteve na cogitação do próprio Lula, mas o ex-presidente nunca mais demonstrou o entusiasmo que já teve com o seu ex-ministro antes de ele começar a proferir diatribes contra os hábitos petistas - e de Lula - no mensalão e no petrolão. Para o PT, que sempre quis eliminar a concorrência à esquerda, o desânimo de Lula com Ciro foi um alívio. A disputa agora é interna e também renhida. Embora os candidatos indicados por Lula larguem com algo em torno de 2% nas pesquisas, o apoio do ex-presidente pode catapultar um deles para o segundo turno.

Bruno Boghossian: Bolsonaro e o Supremo

- Folha de S. Paulo

Ao sugerir aumento de 11 para 21 ministros, capitão avança sobre regras vigentes

A ditadura militar se insurgiu contra o STF em 1965. Irritado com decisões que favoreciam presos políticos e frustravam a repressão, o governo aumentou de 11 para 16 o número de ministros da corte.

O ministro Juraci Magalhães (Justiça) disse, sem constrangimento, que o regime escolheria juízes “à altura [...] das necessidades da Revolução”, neutralizando os votos dos ministros indicados por outros presidentes.

Prevendo entraves a seus planos de poder, Jair Bolsonaro (PSL) propõe uma diluição ainda mais intensa da corte. Na semana passada, ele disse que gostaria de ampliar a quantidade de cadeiras de 11 para 21.

“É uma maneira de botar dez isentos lá dentro. Da forma como eles têm decidido as questões nacionais, nós realmente não podemos sequer sonhar em mudar o destino do Brasil”, declarou à TV Cidade, de Fortaleza.

A ideia lembra regimes autoritários que avançam sobre outros poderes e se valem de um discurso inflamado para impor suas vontades. Em 1931, Getúlio Vargas aposentou seis ministros do STF para livrar a corte da influência da antiga elite política.

Bernardo Mello Franco: O exemplo do México

- O Globo

A esquerda venceu no México. Andrés Manuel López Obrador apresentou um programa nacionalista, declarou guerra à desigualdade e anunciou que governará “primeiro para os pobres”. Sua eleição já é histórica. Ao tomar posse, ele despejará os dois partidos que se revezam no poder há 89 anos.

O novo presidente imitou a guinada de Lula em 2002. Suavizou o discurso para conquistar a classe média e cortejou o mercado com a promessa de respeitar os contratos e manter o equilíbrio fiscal. Copiou até a ideia do “Lulinha paz e amor”, ao se reapresentar como “AMLOve”.

Ao festejar a vitória, ele chamou todos os mexicanos à “reconciliação”. Foi um gesto para distensionar o país e exorcizar o fantasma do autoritarismo. Na campanha, os adversários tentaram associá-lo aos regimes de Cuba e da Venezuela.

Nada indica que Obrador seguirá esses exemplos. Ele já atraiu um partido conservador para sua aliança e fechou parcerias com o empresariado ao governar a Cidade do México. Além disso, terá que negociar com os Estados Unidos, que consomem quase 80% das exportações do país.

Isso não significa que a relação com Donald Trump será um mar de rosas. O novo presidente prometeu rever concessões do petróleo e anunciou que retomará investimentos na estatal Pemex. Isso contraria os interesses das gigantes americanas, que aumentaram a presença no México.

A mensagem de Obrador foi capaz de mobilizar um eleitorado descrente com a política. Ele encerrou a campanha com um grande ato que lotou o estádio Azteca. A esquerda brasileira se animou com a vitória, mas há muitas diferenças em relação à política daqui. Obrador se elegeu por um partido novo, o Morena, e usou o combate à corrupção como mote de campanha. 

Nossos partidos de esquerda não se renovaram e ainda têm muitas contas a acertar no departamento da ética. Jair Bolsonaro quer aumentar o número de vagas no Supremo Tribunal Federal. A ideia é inspirada no AI-2, baixado pela ditadura militar em 1965. Na versão original, o texto também extinguiu os partidos, acabou com as eleições diretas e autorizou a ditadura a cassar os direitos políticos de qualquer brasileiro por dez anos.

Joel Pinheiro da Fonseca: Evitar o pior

- Folha de S. Paulo

Nossa cultura e nosso sistema político favorecem o centro, longe dos extremos ideológicos

Enquanto o hexa vai se tornando mais e mais palpável, a grande decisão que nos aguarda em outubro, nas urnas, segue indefinida. Tenho para mim que a prioridade, mais do que defender algum candidato específico, seja impedir que dois populistas avancem para o segundo turno.

Entendo populismo —que pode ser de direita ou de esquerda— como tendo pelo menos um desses dois elementos: apostar na divisão do Brasil como estratégia eleitoral e de sustentação do poder e propor soluções mágicas para os grandes desafios que temos diante de nós. Para o populista, ele próprio é a solução.

Ter alguma noção clara do que fazer e do como fazê-lo —escolher bons assessores e ministros, capacidade de negociar com o Congresso— são detalhes que ele superará apenas por ser quem é, pela força de seu ego e seu carisma. Quem discordar é inimigo.

Merecemos um segundo turno com propostas melhores do que calote da dívida como solução da crise fiscal ou porte de armas como solução da segurança. Além disso, a polarização da sociedade —por ora atenuada pela Copa— já chega a níveis insuportáveis. Se tivermos que escolher entre dois extremos, será uma eleição mais feia do que a de 2014, com as máquinas de geração de mentiras das redes sociais trabalhando a todo vapor.

Luiz Carlos Azedo: O mexicano e Neymar

- Correio Braziliense

Neymar entrou em campo com disposição de apanhar sem reclamar, como o personagem de Jack London. Foi perseguido, derrubado, chutado, mas não perdeu a cabeça nem se acovardou

Jack London, cujo verdadeiro nome era John Griffith Chaney (1876-1916), escreveu mais de 50 livros, alguns viraram roteiros de cinema, como Chamado selvagem, talvez o mais conhecido. Foi o primeiro escritor norte-americano realmente popular e mundialmente conhecido, o que só não o deixou rico porque gastava demais. Seus biógrafos acreditam que era filho do astrólogo William Chaney. Flora Wellman, sua mãe, uma professora de música e espiritualista que alegava receber o espírito de um chefe indígena, vivia com Chaney em São Francisco. Ele exigiu que ela fizesse um aborto e negou qualquer responsabilidade pela criança quando ela se recusou. Em desespero, Flora tentou suicídio, ficando superficialmente ferida ao atirar em si mesma. Quando o bebê nasceu, Flora entregou-o à ex-escrava Virgínia Prentiss, que criou o autor de Caninos brancos e O lobo do mar, e se tornou a principal referência para London.

As aventuras extremas narradas por London mostram quase sempre o homem como lobo do homem e em luta pela sobrevivência frente aos elementos da natureza, muitas das quais foram realmente vividas por ele. Alcoólatra e brigão, London percorreu os Estados Unidos e o Canadá como vagabundo, pegando carona em trens. Foi operário, mineiro e militante socialista. Marinheiro, caçou focas no Pacífico e participou da corrida do ouro no Alasca na virada do século. Influenciou toda uma geração de escritores, alguns dos quais também tiveram uma vida romanesca, como John dos Passos, John Steinbeck, Ernest Hemingway e Jack Kerouac. London morreu após uma overdose de morfina autoaplicada, no dia 22 de novembro de 1916, aos 40 anos. Teve uma vida urgente, coerente com suas palavras: “Não desperdiçarei meus dias tentando prolongá-los. Usarei meu tempo”.

Materialista, seu último romance, dedicado à mãe, é o Andarilho das estrelas, que muitos consideram uma conversão ao kardecismo. Inspirado pelo relato verídico de um ex-detento da penitenciária de San Quentin, o livro versa sobre um prisioneiro do começo do século 20 que aprende um meio para escapar à tortura da camisa de força a que era constantemente submetido. Através de técnicas de auto-hipnose, concentração mental e extremo domínio da vontade, ele consegue produzir o fenômeno que os parapsicólogos chamam de “desdobramento” e que, na linguagem mística, é conhecido por “viagem astral”. Ao entrar nesse estado de consciência, ele não apenas supera a dor física, como também alcança uma outra dimensão: a viagem às suas vidas passadas, às suas encarnações anteriores.

Ricardo Noblat: Candidatos à vaga de Temer nem crescem nem caem há 6 meses

- Blog do Noblat| Veja

O que pode acontecer

Levantamento realizado pela empresa de consultoria política Arko Advice, tendo como base todas as pesquisas de intenção de voto para presidente da República realizadas desde janeiro pelos institutos Datafolha, Ibope, MDA, Paraná Pesquisas, Vox Populi, DataPoder 360 e Ipespe, aponta que houve poucas alterações no cenário eleitoral durante o primeiro semestre do ano.

Sem Lula (PT), Jair Bolsonaro (PSL) lidera com cerca de 20% das intenções de voto. Trata-se de um percentual significativo para a largada, observa o levantamento. Ocorre que Bolsonaro não agrega novos eleitores desde janeiro. Nem atrai apoio de outros partidos.

Chama a atenção a proximidade dos índices de Marina Silva (REDE), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), candidatos que, em função da média da margem de erro das pesquisas (em torno de 2,5 a 3,0 pontos percentuais), estão tecnicamente empatados em segundo lugar.

Um pouco atrás, mas só um pouco, está Álvaro Dias (Podemos), que, no limite da margem de erro, empata com Ciro e Alckmin. Uma incógnita cerca o desempenho de Fernando Haddad (PT). Na média das pesquisas ele aparece, hoje, com cerca de 2% das intenções de voto. Mas nas sondagens do Ipespe que o põem ao lado do nome de Lula, a intenção de voto em Haddad sobe para cerca de 11%.

Quer dizer: o ex-prefeito de São Paulo tem sido subavaliado nas sondagens até aqui. Ele tem espaço para crescer e alcançar Marina, Ciro, Alckmin e Álvaro. A candidatura de Henrique Meirelles (PMDB) não deslancha. Há seis meses se mantém com menos de 2% das intenções de voto. Também ainda há muita gente “sem candidato”, uma vez que cerca de um terço do eleitorado se diz indecisa ou disposta a votar branco ou nulo.

A sucessão de Michel Temer continuará imprevisível pelo menos até que acabe a Copa do Mundo na Rússia e comece no final de agosto o horário de propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Segundo o estudo da Arko Advice, o mais provável é que o segundo turno da eleição reúna um representante da esquerda/centro-esquerda (Marina, Ciro ou Haddad) e outro da centro/centro-direita (Alckmin, Álvaro Dias ou Bolsonaro). A ver.

Quase 65% ainda não têm candidato a presidente, em outubro

Para 64,5% dos eleitores, nenhum dos 28 pré-candidatos os representam

Redação | Diário do Poder

Levantamento do site Diário do Poder junto às pesquisas realizadas no primeiro semestre, em todo o País, mostra que 64,5% dos eleitores não se sentem representados por qualquer um dos 28 pré-candidatos a presidente, até agora lançados. Isto porque 39,5% ainda esperam por um novo nome para definir seu voto e cerca de 25% dos eleitores já definiram que vão mesmo votar nulo para presidente, em outubro. A informação é da Coluna Cláudio Humberto, do Diário do Poder.

A intenção de voto para presidente, apurada em pesquisa, reflete apenas o percentual do candidato sobre os 35% dos votos já definidos.

A soma dos votos em Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), nas pesquisas, está longe do total de votos indefinidos.

A indefinição tem deixado os partidos atordoados. Alguns como PT, MDB e PSDB, têm mais de um nome cogitado para presidente.

Com Lula ficha suja e preso, a pulverização de candidaturas pode propiciar que um candidato dispute o 2º turno com resultado baixo.

Cenário incerto faz siglas adiarem convenções

Dificuldades para formar coligações obrigam partidos a empurrar definição sobre candidaturas para o prazo final estipulado pela lei

Felipe Frazão Isadora Peron / O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - A indefinição das candidaturas à Presidência da República e a dificuldade dos pré-candidatos em atrair partidos para suas coligações vão retardar a realização das convenções partidárias neste ano. A menos de 20 dias do início do prazo legal para definir oficialmente os candidatos, a maior parte dos dirigentes ainda não tem data marcada para os encontros e fala em realizá-los no limite, às vésperas do início da campanha.

O período estipulado pela Justiça Eleitoral vai de 20 de julho a 5 de agosto. A campanha começa 11 dias depois, em 16 de agosto. Na eleição presidencial de 2014, seis partidos realizaram suas convenções logo na primeira semana do período determinado pela legislação (entre 10 e 30 de junho, à época): MDB, PSDB, PV, PSC, PSTU e PRTB – e somente o MDB, que naquele ano ainda era PMDB, não teve candidato próprio.

Dos partidos que pretendem lançar candidatos próprios em 2018, o PT adiou a convenção que pretendia chancelar a précandidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo com ele condenado e preso na Operação Lava Jato. O evento estava previsto para 28 de julho. Agora, o mais provável é que ocorra em 5 de agosto, sem a presença de Lula no palanque.

O PSDB, do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, deve realizar sua convenção também na reta final, a primeira semana de agosto. Uma ala do partido queria que o encontro fosse feito em 21 de julho, mas Alckmin não conseguiu fechar alianças e não quer fazer uma convenção esvaziada, sem ter um candidato a vice para anunciar. “Ou vai ser a primeira ou a última”, disse ele.

Cortejado por Alckmin e Ciro Gomes (PDT), o DEM deve anunciar a desistência de lançar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), como candidato próprio, mas não tem previsão de quando realizará seu encontro nacional. “Primeiro, vamos definir nosso caminho, depois, a data da convenção”, disse o presidente da sigla, o prefeito de Salvador, ACM Neto.

Perillo sugere aliança do PSDB com Meirelles

Coordenador da campanha de Alckmin diz que acordo seria ‘inovação’; ex-ministro da Fazenda rejeita ideia

- O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - Coordenador da pré-campanha do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo sugeriu ontem uma aliança de seu partido com o MDB para que o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles dispute a eleição como candidato a vice na chapa do tucano. Ao Estado, o précandidato emedebista à Presidência rejeitou a proposta e sugeriu que o PSDB possa apoiá-lo no segundo turno.

“O momento agora é de um líder democrático como o Alckmin e seu partido, PSDB, mais as lideranças políticas e um expressivo representante de mercado com vivência e experiência política como é Henrique Meirelles”, disse Perillo durante palestra a investidores do mercado financeiro na sede da XP Investimentos, em São Paulo.

Perillo cita ex-ministro de Lula como possível vice de Alckmin

Além de Aldo Rebelo, coordenador aponta nomes de DEM e PRB

Luís Lima e Cristiane Jungblut | O Globo

-SÃO PAULO E BRASÍLIA- O coordenador político da pré-campanha de Geraldo Alckmin (PSDB), Marconi Perillo, citou ontem três nomes que podem ocupar o posto de vice do tucano na disputa pela Presidência: o deputado federal Mendonça Filho (DEM), o ex-ministro Aldo Rebelo (Solidariedade), que integrou os governos Lula e Dilma, e o empresário Flávio Rocha (PRB). Os três são de partidos de centro-direita e do Nordeste, perfil defendido por Alckmin na semana passada. Rebelo e Rocha também estão se apresentando como presidenciáveis.

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, pré-candidato do MDB, foi outro a ser elogiado por Perillo durante a palestra na XP Investimentos, em São Paulo. O coordenador, no entanto, reforçou que a preferência do PSDB é buscar um nome dentro do bloco de partidos que inclui DEM, PP, Solidariedade e PRB. Mais tarde, disse que a aliança com Meirelles é “bem improvável no momento”.

— No passado, ele (Perillo) falou que chegou a defender o nome de Meirelles como vice de Alckmin, mas afirmou que, hoje, não defende mais. Ele garantiu que esses eram os três nomes que estavam circulando nas conversas — disse um dos participantes do evento.

Segundo relatos de quem esteve na palestra, Perillo avalia que a indicação de um desses três nomes ajudaria a reunir na aliança do PSDB partidos do centrão, dando “musculatura suficiente” para Alckmin chegar ao segundo turno. O pré-candidato considera garantidos até agora os apoios de PSD, PPS, PTB e PV, embora nenhum deles tenha sido anunciado oficialmente.

Alckmin faz ofensiva para ter apoio do DEM

Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo.

A menos de um mês para o início das convenções partidárias, auxiliares do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, pré-candidato à Presidência pelo PSDB, elegeram o DEM como o parceiro prioritário neste momento na costura por apoios para a eleição presidencial.

A expectativa é de que o DEM suba no palanque tucano logo após a Copa do Mundo, o que abriria caminho para adesões de outros partidos do centro, como o Solidariedade e o PRB.

O presidenciável do PSDB vai jantar amanhã, em Brasília, com líderes das três siglas. O encontro, marcado para ocorrer na residência de Marcus Pereira, presidente do PRB, é considerado decisivo por tucanos. Ainda nesta semana, Alckmin deve ter conversas reservadas com os principais caciques do DEM para tratar de alianças estaduais que podem abrir caminho para um acordo nacional.

Superada essa etapa, o DEM vai abrir um debate interno sobre nomes que podem ser indicados como vice na chapa de Alckmin. O PSDB está agindo com cautela para não melindrar os possíveis aliados e, por isso, deixa em aberto o posto de vice.

As declarações do ex-governador Marconi Perillo (PSDB-GO) favoráveis à dobradinha entre Alckmin e Henrique Meirelles (MDB) na eleição não foram combinadas com o ex-governador, mas não lhe desagradaram. A fala de Perillo, que assumiu a coordenação política da pré-campanha, foi vista como gesto necessário ao mercado e, ao mesmo tempo, ao MDB, que voltou ao radar de Alckmin.

Encontro define rumo do centrão na eleição

União dos seis partidos para disputa presidencial está perto do fim

Jeferson Ribeiro | O Globo

Uma reunião na próxima quinta-feira com líderes de PP, DEM, PRB, Solidariedade, PSC e PR deve definir o destino que os partidos vão seguir na eleição presidencial. Apesar de o discurso oficial, mantido há meses, sustentar que o bloco vai caminhar junto, a união está perto de terminar. Há divergências sobre qual pré-candidato receberá apoio — Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) ou Alvaro Dias (Podemos) —, o que deve ser determinante para o rompimento. O PR, mais descolado, está próximo de Jair Bolsonaro (PSL).

As seis legendas têm, juntas, 174 deputados, um financiamento eleitoral superior a R$ 650 milhões e quase um terço do tempo da propaganda eleitoral gratuita na televisão. A possibilidade de usar esta força em conjunto para influenciar um futuro governo, no entanto, esbarra em divergências internas.

— O que nos une à possibilidade de formarmos um bloco de mais de 200 parlamentares no ano que vem, podendo escolher o presidente da Câmara e tirar o controle do poder de PSDB, MDB e PT, que tiveram o comando da política desde a redemocratização. O que nos divide é a escolha de um candidato nestas eleições — disse o presidente de um dos partidos.

Uma tentativa de manter o bloco unido foi a filiação do empresário Josué Gomes, filho do ex-presidente José Alencar, ao PR. Ele era visto como um possível vice, mas pesquisas mostraram que Gomes tinha pouca viabilidade eleitoral.

Luiz Gonzaga Belluzzo: Balzac e a desindustrialização

- Valor Econômico

A escalada industrial da China tornou a situação da indústria do Brasil ainda mais desvantajosa

Nos anos 80, a economia brasileira foi submetida à regressão industrial e econômica deflagrada pela crise da dívida externa e suas consequências: escassez de divisas, enormes déficits fiscais, alta inflação com indexação generalizada e crise monetária.

A chamada "década perdida" foi marcada por forte restrição externa. Isso suscitou a queda pronunciada da relação entre as importações e o PIB, que chegou à incrível cifra de 3%. Trata-se de um fechamento "forçado" da economia. Nesse ambiente de caos econômico, o Brasil deixou de incorporar os novos setores e, portanto, as novas tecnologias da chamada Terceira Revolução Industrial.

A estabilização do nível geral de preços levada a cabo em meados dos anos 1990 livrou a economia brasileira da hiperinflação, mas não teve forças para eliminar a herança dos malfadados anos 1980. As condições em que foi realizada a estabilização custou ao Brasil uma combinação perversa entre câmbio valorizado e juros estratosféricos, com graves prejuízos para o crescimento e a diversificação da indústria.

O "afastamento" das transformações manufatureiras globais nos legou insuficiências em vários setores: infraestrutura de telecomunicações móveis, PCs, computadores portáteis, tevês de plasma e LCD, câmeras digitais, componentes eletrônicos, para não falar da robótica, dos novos materiais e da nanotecnologia.

Ana Carla Abrão: O Espírito Santo

-O Estado de S.Paulo

No setor público não há desemprego, há muitos direitos e poucos deveres

Nas minhas andanças Brasil afora para falar sobre eficiência da máquina pública, várias perguntas surgem ao final. A depender da audiência, o tom vai da indignação a uma concordância envergonhada. Nas piores situações, a descrença toma conta. Como se o Brasil não tivesse mais jeito.

Outro dia, em evento em Vitória do Espírito Santo, passei quase uma hora discursando sobre as distorções do modelo atual de gestão pública e elencando o rol de incentivos errados que regem o atual sistema. As consequências já são bem conhecidas: perda de eficiência, baixa produtividade, péssimos serviços e a desvalorização do servidor público. Mas dessa vez, ao abrir para as manifestações da plateia, me deparei com uma pergunta diferente do padrão. Numa audiência quase que totalmente composta por servidores públicos, me questionaram sobre o que esperar do futuro em um País cujos jovens tinham como ambição prestar um concurso público, qualquer que fosse, ao invés de empreender e gerar empregos.

Eu ainda não tinha pensado no problema por esse ângulo. Afinal, a motivação principal para uma reforma do Estado e a revisão do modelo de funcionamento da máquina pública em particular, é a melhoria dos serviços públicos. Ao alocar os recursos de forma mais eficiente, garantimos melhores resultados para a população como um todo, em particular para a que mais precisa do Estado. Assim atendemos melhor o cidadão – hoje desconsiderado em boa parte das decisões em todas as esferas de poder – e saímos do buraco fiscal cavado nos últimos anos.

Denise Neumann: Sem renda, emprego e crédito fica mais difícil

- Valor Econômico

Ganho salarial perdeu ímpeto, o que afeta a retomada

Muito antes da greve dos caminhoneiros e do aumento da tensão com a guerra comercial que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resolveu travar com a China, Europa e outros parceiros comerciais, o ritmo da retomada ensaiada pela economia brasileira já era fraco.

Em fevereiro, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) era de 2,9%, mas os dados de indústria, varejo e serviços dos primeiros meses levaram a uma primeira rodada de revisões para baixo, movimento acentuado com o cenário externo de maio-junho e do longo bloqueio das estradas, que derrubou de vez o pouco de otimismo que havia se instalado no Brasil.

Renda, emprego e crédito se comportaram abaixo do esperado e ajudam a explicar porque o país cresceu menos.

Nos primeiros meses de 2018 a renda real parou de crescer e os trabalhadores começaram, inclusive, a registrar queda do poder de compra. O rendimento médio real dos ocupados no trimestre encerrado em maio foi 0,6% inferior ao do trimestre encerrado em fevereiro. E o ganho em relação a um ano antes foi inferior a 1%, bem abaixo dos 3% de um ano antes. Ou seja, o ritmo de ganho dos salários - e consequentemente da massa salarial - perdeu ímpeto e hoje pode ajudar menos a retomada do que ajudou em 2017.

Fernando Montero, economista-chefe da Tullett Prebon, lembra que a renda mais fraca também é explicada por um aspecto técnico. O IBGE reportou que um rendimento muito acima do padrão (R$ 1 milhão) entrou na pesquisa em 2016, o que influenciou o ganho do ano passado e, por efeito-base, reduz o rendimento médio este ano. Mas além dessa questão técnica, Montero pondera que a principal ajuda dada pela queda no nível de inflação já "passou"; o salário mínimo foi corrigido em 1,8%; e agora veio a cesta básica, cujo custo subiu de R$ 653 para R$ 705 de maio para junho - R$ 52 a mais para comprar os mesmos produtos.

Mediocridade com otimismo: Editorial | O Estado de S. Paulo

Mediocridade será a marca da economia brasileira nos próximos três anos, segundo as projeções do mercado, e até essa expectativa embute algum otimismo. Para crescer 2,50% em 2019 e repetir esse desempenho até 2021, com a inflação mais ou menos contida e investimento estrangeiro em alta, o País terá de chegar ao terceiro ano do próximo governo sem um desastre nas contas públicas e sem apavorar o mercado com o risco de um calote. Se o novo presidente será capaz de garantir esse mínimo de segurança, ou mesmo se terá uma clara percepção do desafio, ninguém pode dizer neste momento. Quanto a 2018, as previsões continuam sombrias, indicando uma atividade pouco mais intensa que no ano passado, quando os negócios começaram a sair da recessão. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar em 1,55%, segundo a mediana das projeções coletadas na última pesquisa Focus do Banco Central (BC). Quatro semanas antes, sem o choque da crise no transporte rodoviário, as estimativas ainda apontavam uma expansão de 2,18% – uma perspectiva já pouco estimulante, embora melhor que a atual.

Um horizonte mais distante é uma das marcas da pesquisa Focus em novo formato, divulgada ontem pela primeira vez. Agora se publicam projeções até 2021, três anos à frente, cobrindo todo o período das metas de inflação já definidas. Na semana passada foi fixada a meta de 3,75% para vigorar dentro de três anos. As projeções de inflação indicam 4,10% para 2019 e 4% para os dois anos seguintes. O número apontado para 2021, portanto, está um pouco acima do alvo, mas dentro da tolerância de 1,5 ponto porcentual.

Para este ano a pesquisa registra as projeções de 4,03% e 4,16%, mais altas que as da semana anterior e bem maiores que as de quatro semanas antes (3,65% e 3,75%). Aqui aparece outra inovação. O relatório apresenta, em linha separada, a mediana das estimativas de inflação resultante de revisões nos cinco dias úteis até a coleta. Isso permite uma atualização maior de parte das informações e uma indicação mais precisa de tendências.

Futuro incerto: Editorial | Folha de S. Paulo

Estudo aponta o Brasil como um dos países mais imprevidentes do mundo

O Brasil é um dos países que menos poupam no mundo, mostra um novo estudo publicado pelo Banco Mundial. Um de cada três brasileiros diz ter feito alguma economia no ano passado, mas somente 11% reforçaram suas reservas pensando no longo prazo, para permitir uma velhice menos insegura.

No mundo desenvolvido, 71% dos adultos guardaram dinheiro com esse objetivo, diz o relatório. Entretanto até nações menos avançadas poupam mais do que o Brasil, cuja taxa aparece abaixo da média dos emergentes, de 16%.

Parte da explicação está na generosidade do sistema previdenciário nacional. Para muitos trabalhadores pobres, o piso equivalente a um salário mínimo representa a garantia de que manterão o padrão de consumo na aposentadoria, ou até mesmo a possibilidade de alcançar renda mais elevada.

Mesmo quem recebe acima disso na ativa consegue preservar parcela significativa dos seus ganhos ao deixar o mercado, o que desestimula a formação de reservas.

Embora a maioria dos brasileiros se comporte de forma imprevidente, a disposição dos que poupam parece ter resistido à crise econômica. Especialistas suspeitam que a recessão pode até ter levado muitos a guardar, com medo do futuro.

É possível que as transformações em curso no emprego tenham efeito semelhante. A maior parte das pessoas que encontraram ocupação nos últimos anos teve que aceitar trabalho sem registro em carteira profissional ou abrir negócio próprio para ganhar a vida.

Sem contar com a proteção garantida pelo sistema oficial de seguridade, muitos poderão se sentir encorajados a separar fatias maiores da sua renda para reduzir riscos durante a velhice.

Supremo sepulta de vez a contribuição obrigatória: Editorial | Valor Econômico

Por maioria de 6 votos favoráveis e 3 contrários, o Supremo Tribunal Federal reafirmou a constitucionalidade do fim da contribuição sindical obrigatória herdada da era Vargas, um dos pontos mais importantes da reforma trabalhista, e pôs um ponto final em 19 ações que buscavam reinstituí-la, a maior parte delas movida pelos sindicatos.

A principal luta das entidades sindicais após o início da vigência da reforma, em novembro, foi tentar reaver na Justiça o direito de cobrar de todos os membros de uma categoria o correspondente a um dia de salário. Com a derrota, abrem-se mais capítulos de disputa judicial, desta vez para dar o direito aos sindicatos de estabelecerem em assembleia uma contribuição negocial a ser cobrada não apenas dos associados, mas de todos os beneficiários de acordos salariais. Em princípio, essa contribuição ou outra qualquer, seja com que nome for, não poderá ser imposta ao trabalhador, que tem individualmente de concordar com a cobrança para que ela possa ser feita. A questão já está nos tribunais.

Desde que a reforma entrou em vigor, sindicatos patronais e de trabalhadores viram suas receitas encolher drasticamente com a ausência do imposto sindical. Os sindicatos mais representativos terão condições de sobreviver, embora cortando custos. Boa parte deles está ligado à Central Única dos Trabalhadores. A CUT defendeu o fim do imposto em 2003 e 2012, com base na luta pela independência sindical que esteve em sua origem. Quer, porém, substitui-lo pela contribuição assistencial e faz coro com outros sindicatos menos pujantes nessa tentativa de obter receitas alternativas.

A questão central da inelegibilidade de Lula: Editorial | O Globo

Rejeitados os diversos recursos para libertar o ex-presidente, aproxima-se o momento da aplicação da Lei da Ficha Limpa, o que a defesa quer retardar

Preso Lula, por força da jurisprudência restabelecida pelo Supremo do cumprimento de pena a partir da condenação em segunda instância — como vigorou de 1941 a 2009, voltando em 2016 —, aproxima-se o momento da deliberação sobre a inelegibilidade do ex-presidente.

Pelo texto da Lei da Ficha Limpa, não há dúvida: condenado em segunda instância fica inelegível por oito anos. Mas nada é simples com Lula, devido às forças políticas, partidárias e ideológicas que se movem com ele. E, como no Brasil há infinitas possibilidades de recursos, temos o festival de idas e vindas na forma de habeas corpus e todo tipo de questionamento, principalmente depois de decretada a prisão do ex-presidente.

Como é da natureza petista, tudo é usado com fins políticos, visando a tentar furar a Lei da Ficha Limpa abaixo da linha d'água, para que Lula, líder nas pesquisas eleitorais, possa se candidatar novamente à Presidência, a fim de se livrar do cumprimento da pena por corrupção e lavagem de dinheiro e ainda resgatar o PT. Há muita gente e interesses na dependência desta operação. Daí existirem reflexos até no plenário do Supremo.

Deve-se registrar o desentendimento havido na defesa do ex-presidente, em que o advogado Cristiano Zanin, o defensor, digamos, mais orgânico de Lula — é genro de Roberto Teixeira, dono da banca de advocacia que o representa, compadre histórico do ex-presidente — discordou da ideia de Sepúlveda Pertence, ex-ministro do STF, agregado à defesa, de propor à Corte a alternativa da prisão domiciliar, para retirar Lula da cadeia de Curitiba.

Zeca Pagodinho: Quando a gira girou

Fernando Pessoa: As lentas nuvens fazem sono

As lentas nuvens fazem sono,
O céu azul faz bom dormir.
Bóio, num íntimo abandono,
À tona de me não sentir.

E é suave, como um correr de água,
O sentir que não sou alguém,
Não sou capaz de peso ou mágoa.
Minha alma é aquilo que não tem.

Que bom, à margem do ribeiro

Saber que é ele que vai indo...
E só em sono eu vou primeiro.
E só em sonho eu vou seguindo.