Fabio Murakawa e Murillo Camarotto / Valor Econômico
Presidente busca angariar apoio para sua
tentativa de reeleição ou evitar a adesão de legendas a candidatura do campo
bolsonarista
Após a indicação de Pedro Lucas Fernandes
(União-MA) para o Ministério das Comunicações, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva terá o desafio de ampliar o movimento de aproximação com os partidos do
Centrão visando a governabilidade e também a eleição presidencial de 2026.
A expectativa, no entanto, varia de acordo
com as legendas. No caso do União Brasil, integrantes do Planalto acreditam que
seja possível atrair o partido para uma aliança com Lula no ano que vem. Na
visão dessas fontes, além de ter conseguido trazer o líder da bancada na Câmara
para a Esplanada, Lula conta com a simpatia do presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (AP), que articulou pelo nome de Pedro Lucas e tem boa relação com o
presidente da legenda, Antônio Rueda.
Entretanto, ratificar uma aliança com o União para a chapa presidencial ainda é tarefa difícil, uma vez que vários dos parlamentares e prefeitos do partido seguem alinhados à oposição, a depender da base eleitoral.
O próprio Pedro Lucas apoiou o ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno contra Lula em 2022. E, um dia após ter
sido confirmado no posto pela ministra Gleisi Hoffmann (Relações
Institucionais), o deputado emitiu nota dizendo que não tomaria nenhuma decisão
de entrar do governo sem antes consultar a bancada da qual é líder.
O titubeio do futuro ministro foi lido no
Planalto como reflexo dos problemas que Pedro Lucas vem enfrentando para
administrar a sucessão na bancada. Em parte, por conta da resistência de Rueda,
que o indicou e teme perder o controle sobre a liderança. E, por outro lado,
por conta da grande presença de bolsonaristas entre os
deputados do União.
Aconselhado por ministros e pessoas próximas,
Lula ainda cogita abrir mais espaços para PP e PSD em seu ministério. Nesse
quadro, ressurge o nome do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que
esteve com Lula na sexta-feira (11). Cogita-se, nos bastidores, a possibilidade
de que o deputado assuma a Agricultura ou o Ministério do Desenvolvimento
Social (MDS) - apesar da resistência da base petista em entregar essa pasta.
Porém, um dificultador para a entrada de Lira
no governo é o fato de ele ser o relator do projeto de lei que isenta quem
recebe até R$ 5 mil de pagar Imposto de Renda. Esse PL é visto como crucial
para Lula alavancar sua popularidade e entrar no último ano de mandato com uma
marca forte de seu governo. Ao mesmo tempo, a oposição não encontra argumentos
para inviabilizá-lo.
Outro entrave é que, caso indicado, o
deputado teria que deixar o cargo em abril do ano que vem para disputar a
eleição - ele pretende concorrer ao Senado. Há ainda uma avaliação, no grupo de
Lira, de que o governo tem “má-vontade” com o agro. E, para aceitar o convite
para chefiar a pasta da Agricultura, teria que ter algo concreto a oferecer
para o setor. A interlocutores, o parlamentar tem dito que vê mais dificuldade
do governo com o União do que com o próprio PP.
Na visão de fontes no Planalto, embora
escassa, haveria alguma chance de o PP integrar uma chapa presidencial do
petista caso Lira integre o ministério. Do que ninguém tem dúvida é que a
presença do alagoano melhoraria a governabilidade e aumentaria o peso do PP na
Esplanada, uma vez que a legenda está representada hoje apenas por André Fufuca
(MA) no governo Lula.
Lira fez parte da comitiva levada por Lula ao
Japão, entre 24 e 27 de março, juntamente com Alcolumbre, o presidente da
Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o ex-presidente do Senado Rodrigo
Pacheco (PSD-MG). O convite de Lula para essas e outras lideranças irem à Ásia
faz parte do movimento de aproximação com o Centrão.
Na viagem, Lula comprometeu-se com Motta a
chamar os presidentes dos partidos para conversar quando chegasse ao Brasil.
Como o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), é ex-ministro da Casa Civil de
Bolsonaro, o intermediário da legenda será o próprio Lira.
Fontes no Planalto e aliados de Lira afirmam,
porém, que Lula ainda não discutiu com o deputado a possibilidade de ele entrar
no ministério. Lira, assim como outros integrantes do Centrão, acredita que o
governo não deve recuperar os índices de aprovação até a eleição presidencial.
Mesmo assim, Lula seguirá competitivo.
Em outra frente, o presidente pode também
contemplar o PSD da Câmara em seu ministério, uma queixa antiga da bancada.
Assim, está sendo cogitado oferecer ao partido o Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCTI), comandado por Luciana Santos (PCdoB). Ou o Ministério do
Turismo, com o atual titular da pasta, Celso Sabino (União Brasil), indicado
por Alcolumbre, deslocado para o MCTI.
Pensando em 2026, o Planalto acredita que
dificilmente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos),
receberá o aval de Bolsonaro para se candidatar ao Planalto no ano que vem, por
uma questão de “timing”.
Tarcísio também precisa se
desincompatibilizar do cargo até abril para concorrer à Presidência, mas
Bolsonaro tem dado sinais de que pretende recorrer até as últimas instâncias
para reverter sua inelegibilidade.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Nunes Marques, indicado por ele, deverá ser o presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) durante o período da eleição. É isso, na visão de fontes no
Planalto, que pode alimentar as esperanças de Bolsonaro de uma virada de jogo.
Sem Tarcísio na disputa, o governo acredita
que o PSD pode ser puxado por uma aliança com Lula ou, ao menos, não aderir a
uma chapa opositora. Mas, para tal, seria necessário dar mais espaço ao partido
no governo.
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