quinta-feira, 19 de junho de 2025

Perto do fim - Merval Pereira

O Globo

O governo não quer cortar gastos, mas o Congresso e o Judiciário também não querem

Parece que está chegando o fim do mundo, e não estou falando sobre a entrada dos Estados Unidos na guerra de Israel contra o Irã. Trato de coisas nossas, como as recentes decisões do Congresso que aumentam gastos em benefício dos parlamentares. Em plena discussão sobre a necessidade de cortar gastos, o Congresso recusa-se a aumentar imposto, no que está certo, mas aumenta suas vantagens como se não houvesse amanhã. O pior, para o Brasil, é que provavelmente a oposição que domina o Congresso será governo a partir de 2026 e receberá um país quebrado.

Que tipo de lideranças são essas, que não pensam no futuro do país, preferem tratar do futuro pessoal de cada um, mesmo que agindo assim matem a galinha dos ovos de ouro?

O governo petista, é certo, é perdulário com o dinheiro público, inconsequente com o Orçamento nacional. O ex-ministro José Dirceu destacou recentemente que o PT ganhou cinco eleições presidenciais, como se isso fosse reconhecimento da força da esquerda. Mas se esqueceu de dizer que todos os governos terminaram em crises políticas devido à corrupção e aos gastos públicos descontrolados. Esse histórico apoia a decisão de não permitir mais aumento de impostos, mas não autoriza os congressistas a piorar a situação com mais gastos.

O Congresso deveria abrir mão de parte das suas emendas — pelo menos dar 10% de sacrifício. Tem também de apresentar projetos de contenção de despesas — tocar nas feridas, nas questões delicadas que precisam ser revistas para que o equilíbrio fiscal aconteça. O governo não quer cortar, só quer aumentar imposto; o Congresso quer cortar, mas não na própria pele; e o Judiciário diz que não tem nada a ver com isso — é outro que precisava conter os supersalários e os penduricalhos. Então, não se vai a lugar algum.

É possível que haja uma dobradinha do STF com o governo para pressionar o Congresso a reduzir as emendas, porque o presidente está fraco para se contrapor às investidas dos parlamentares, e é sempre bom ter o Supremo a seu lado. O ministro Flávio Dino tem toda a razão — seja a favor do governo ou não — em dar um prazo para o Congresso explicar o novo orçamento secreto. Na verdade, ele pega no pé do governo e dos partidos, já que o novo orçamento secreto só existe porque o governo concordou. A cada momento, se aumenta despesa. Ontem foi votada a permissão para que deputados já aposentados que voltem à Câmara possam acumular os salários da ativa e da aposentadoria. Também aumentará o número de deputados e, é claro, o fundo será incrementado para pagar aos que chegarem.

O governo não quer cortar, mas o Congresso e o Judiciário também não querem. Todas as pesquisas recentes mostram a polarização que controla a política brasileira. A decadência do PT e da popularidade de Lula é evidente. O que cresce é o antipetismo, assim como foi o bolsonarismo derrotado em 2022. Agora, o antipetismo parece que aumenta próximo da eleição de 2026.

O país não se livrou da disputa de dois grupos opostos, e aparentemente não há espaço para uma candidatura da famosa terceira via, que vem sendo aventada desde a disputa de 2014. É impressionante como vivemos uma década de embates de duas forças opostas que não dão espaço para que apareça alternativa ao eleitor. Os 30% que querem essa alternativa acabam indo para um lado ou outro, porque não existe candidato de centro competitivo. Se aparecesse um grande líder, que pudesse ocupar esse espaço, talvez houvesse uma disputa.

O mais próximo disso é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ele é de direita, mas já trabalhou no governo Dilma. Não é bolsonarista radical, embora ultimamente tenha dado ênfase à radicalização porque quer o apoio do ex- presidente. Precisa, no entanto, convencer os eleitores.


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