O Globo
O governo não quer cortar gastos, mas o
Congresso e o Judiciário também não querem
Parece que está chegando o fim do mundo, e
não estou falando sobre a entrada dos Estados Unidos na guerra de Israel contra
o Irã. Trato de coisas nossas, como as recentes decisões do Congresso que
aumentam gastos em benefício dos parlamentares. Em plena discussão sobre a
necessidade de cortar gastos, o Congresso recusa-se a aumentar imposto, no que
está certo, mas aumenta suas vantagens como se não houvesse amanhã. O pior,
para o Brasil, é que provavelmente a oposição que domina o Congresso será
governo a partir de 2026 e receberá um país quebrado.
Que tipo de lideranças são essas, que não pensam no futuro do país, preferem tratar do futuro pessoal de cada um, mesmo que agindo assim matem a galinha dos ovos de ouro?
O governo petista, é certo, é perdulário com
o dinheiro público, inconsequente com o Orçamento nacional. O ex-ministro José
Dirceu destacou recentemente que o PT ganhou cinco eleições presidenciais, como
se isso fosse reconhecimento da força da esquerda. Mas se esqueceu de dizer que
todos os governos terminaram em crises políticas devido à corrupção e aos
gastos públicos descontrolados. Esse histórico apoia a decisão de não permitir
mais aumento de impostos, mas não autoriza os congressistas a piorar a situação
com mais gastos.
O Congresso deveria abrir mão de parte das
suas emendas — pelo menos dar 10% de sacrifício. Tem também de apresentar
projetos de contenção de despesas — tocar nas feridas, nas questões delicadas
que precisam ser revistas para que o equilíbrio fiscal aconteça. O governo não
quer cortar, só quer aumentar imposto; o Congresso quer cortar, mas não na
própria pele; e o Judiciário diz que não tem nada a ver com isso — é outro que
precisava conter os supersalários e os penduricalhos. Então, não se vai a lugar
algum.
É possível que haja uma dobradinha do STF com
o governo para pressionar o Congresso a reduzir as emendas, porque o presidente
está fraco para se contrapor às investidas dos parlamentares, e é sempre bom
ter o Supremo a seu lado. O ministro Flávio Dino tem toda a razão — seja a
favor do governo ou não — em dar um prazo para o Congresso explicar o novo
orçamento secreto. Na verdade, ele pega no pé do governo e dos partidos, já que
o novo orçamento secreto só existe porque o governo concordou. A cada momento, se
aumenta despesa. Ontem foi votada a permissão para que deputados já aposentados
que voltem à Câmara possam acumular os salários da ativa e da aposentadoria.
Também aumentará o número de deputados e, é claro, o fundo será incrementado
para pagar aos que chegarem.
O governo não quer cortar, mas o Congresso e
o Judiciário também não querem. Todas as pesquisas recentes mostram a
polarização que controla a política brasileira. A decadência do PT e da
popularidade de Lula é evidente. O que cresce é o antipetismo, assim como foi o
bolsonarismo derrotado em 2022. Agora, o antipetismo parece que aumenta próximo
da eleição de 2026.
O país não se livrou da disputa de dois
grupos opostos, e aparentemente não há espaço para uma candidatura da famosa
terceira via, que vem sendo aventada desde a disputa de 2014. É impressionante
como vivemos uma década de embates de duas forças opostas que não dão espaço
para que apareça alternativa ao eleitor. Os 30% que querem essa alternativa
acabam indo para um lado ou outro, porque não existe candidato de centro
competitivo. Se aparecesse um grande líder, que pudesse ocupar esse espaço,
talvez houvesse uma disputa.
O mais próximo disso é o governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas. Ele é de direita, mas já trabalhou no governo
Dilma. Não é bolsonarista radical, embora ultimamente tenha dado ênfase à
radicalização porque quer o apoio do ex- presidente. Precisa, no entanto,
convencer os eleitores.
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