O Estado de S. Paulo
Lula parece ter desenvolvido certa intimidade
com os homens fortes que mais corteja no momento, Vladimir Putin e Xi Jinping.
Aos quais passou a dar conselhos e pedir ajuda pessoal.
O conselho foi dado por telefone para
Vladimir Putin, sobre como deveria se comportar em negociações de paz nas quais
o homem forte de Moscou demonstra pouco interesse.
A ajuda foi solicitada a Xi Jinping: mandar alguém da confiança do imperador chinês ao Brasil para tratar da regulação de uma plataforma, o TikTok, à qual a mulher de Lula atribui importante atuação em favor de direitistas. Não há dúvidas de que, em matéria de controle de redes sociais, os chineses têm enorme expertise.
Em outras palavras, o chefe de Estado de um
país democrático vai pedir ao autocrata chefe de Estado de um país que vive sob
o regime de partido único o empréstimo de especialista em controle de
plataforma digital. Nesse contexto, é óbvio que “regular” virou sinônimo de
“censurar”.
Lula parece ter perdido de fato a noção do
seu peso relativo no cenário das relações internacionais e do que significa
pedir ajuda a um especialista chinês em controle de redes sociais. Do ponto de
vista internacional, Lula supõe ter voz em acontecimentos de grande alcance
quando nem sequer é capaz de influenciar o cenário mais próximo, o da América
do Sul.
Gestos, palavras e posturas de chefes de
Estado de países como o Brasil criam fatos políticos, e os que Lula criou em
Moscou e Pequim cabem na famosa categoria de tiro no próprio pé. Em Moscou e
Pequim Lula assumiu um lado no grande confronto geopolítico atual, apesar de
dizer o contrário.
Não percebeu que, para o Brasil, a
neutralidade pragmática tem mais inteligência estratégica embutida do que
assumir, como fez na prática nas duas capitais, que o Brasil tem um “lado”
nesse perigoso confronto que acompanha a dissolução da ordem internacional.
Do ponto de vista doméstico, embaralhou uma
discussão já complicada envolvendo Legislativo e STF sobre a regulação de redes
sociais. Há exemplos de países democráticos (como a Alemanha, o mais conhecido
deles) que contêm dispositivos constitucionais cerceando a liberdade de
divulgação de determinados símbolos e conteúdos políticos (no caso, nazistas).
Há um considerável esforço internacional,
envolvendo algumas das melhores cabeças no campo do Direito, para estabelecer
que mecanismos permitiriam garantir o direito fundamental de opinião e bloquear
nas redes conteúdos criminosos e repulsivos. A China é um exemplo de censura,
não de regulação.
O problema com a perda de noção é o de ser
acompanhada pela perda do senso de ridículo.
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