domingo, 6 de julho de 2025

Opinião do dia – Karl Marx*

“Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que levam a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e na compreensão dessa práxis.”

*Karl Marx (1818-1883), Teses sobre Feuerbach (1845)

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Cúpula consolida Brics como veículo do poder da China

O Globo

Expansão do bloco tem se dado em direção à Ásia, ampliando esfera de influência chinesa

A cúpula do Brics, que ocorre hoje e amanhã no Rio, tende a consagrar o viés antiocidental que acompanha o bloco desde a criação por Brasil, Rússia, Índia e China, em 2009. A ausência de Xi Jinping em nada muda o uso que os chineses têm feito dele como veículo e plataforma para exercer liderança sobre outros países, em contraponto a americanos e europeus. Sinal disso tem sido a contínua expansão do Brics na Ásia, ampliando a esfera de influência chinesa. Xi — representado pelo primeiro-ministro Li Qiang — não precisa estar no Rio para que o Brics continue a ser útil a Pequim.

Depois do acréscimo do “s”, com a entrada da África do Sul em 2011, o Brics foi ampliado em 2024, com a chegada de Irã, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, afastando-se das pretensões de defender as liberdades e valores democráticos. Em janeiro, a Indonésia também aderiu ao bloco. Malásia, Tailândia e Vietnã acabam de decidir tornar-se associados, primeiro passo para ser membros titulares. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) é fator de atração no Sudeste Asiático, assim como o mecanismo que oferece a bancos centrais do bloco acesso a fundos de emergência.

País a reiventar - Merval Pereira

O Globo

Estamos chegando a um ponto de saturação em que provavelmente o próximo presidente encontrará condições propícias para enfrentar uma reforma administrativa de verdade, que coloque as finanças públicas nos trilhos

Ir para a cadeia é o maior temor de Bolsonaro. Fará tudo para negociar uma prisão domiciliar, e mesmo sabedor de que um indulto presidencial não o tornará elegível, quer ser livre para poder continuar fazendo política. Do ponto de vista jurídico, o futuro presidente da República, a ser eleito ano que vem, não perderá nada indultando-o, pois não poderá se candidatar tão cedo. Como, para ser indultado, o candidato que apoiar precisa vencer a eleição, é provável que Bolsonaro já tenha se convencido de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é o melhor candidato da direita que se pode encontrar.

Quem é radical e onde mora o perigo - Míriam Leitão

O Globo

Na visão da oposição, o governo ir ao STF sobre o IOF é um ato radical. Já a ameaça golpista contra o Supremo não provoca reação alguma

Há quase dois meses, o senador Flávio Bolsonaro avisou ao país que o bolsonarismo ainda pensa em golpe de Estado. Ele foi enfático ao dizer que o grupo só dará apoio ao candidato que se comprometer a impor ao STF a aceitação do indulto ao seu pai. Quando as repórteres que fizeram a entrevista perguntaram como seria essa imposição ao Supremo, o senador não deixou dúvidas: “a gente está falando do uso da força”. Passaram-se as semanas, desde o domingo 15 de junho, e não houve repúdio de qualquer político da direita a essa fala. O mais cotado dos pré-candidatos conservadores, o governador Tarcísio de Freitas, não apenas silenciou como apareceu em palanques com o ex-presidente depois disso. Dos outros também, o mesmo silêncio.

Motta encurralou Lula, porém, sofreu desgaste irreversível de imagem - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O presidente da Câmara foi demonizado, não teve musculatura para enfrentar um adversário carismático e cascudo como Lula, que já disputou sete campanhas presidenciais

Nos meios sindicais, a expressão “chumbo trocado não dói” é um jargão que sinaliza a disposição de diálogo depois de uma acirrada disputa entre as partes. No Congresso, onde não existe o interesse comum classista, não é bem assim que coisa funciona: dói e deixa ressentimentos que vão comprometer os entendimentos entre as partes e gerar desconfianças insuperáveis.

É mais ou menos o que aconteceu entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que derrubou o decreto que aumentava as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e submeteu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma derrota acachapante no Congresso.

Pastor de palanque - Bernardo Mello Franco

O Globo

Silas Malafaia não gostou de “Apocalipse nos trópicos”, o novo documentário de Petra Costa. Convidado para uma sessão especial na quinta-feira, o pastor saiu aos berros da sala de cinema. Deve ter se irritado com a própria performance diante das câmeras.

O filme mostra como o crescimento dos evangélicos e a ascensão de pastores fundamentalistas influenciaram a política brasileira na última década. Personagem desses tempos estranhos, Malafaia não se constrange em usar o nome de Deus para direcionar o voto dos fiéis.

O pastor pulou de galho em galho em sua peregrinação palanqueira. Apoiou Lula, José Serra e Aécio Neves até firmar aliança com Jair Bolsonaro às vésperas da eleição de 2018. Dois dias depois da vitória, o capitão marchou até a igreja de Malafaia, onde foi recebido com o coro de “Mito!”.

Prouni revela mais uma estatística do atraso - Elio Gaspari

 Globo

O Ministério da Educação divulgou a lista de ofertas de 211 mil bolsas de estudo do Prouni em faculdades particulares. Encabeçam a relação os cursos de Administração (13,8 mil vagas), Direito (13,2 mil), Pedagogia (11,3 mil) e Educação Física (9 mil).

Atrás vêm 8,2 mil bolsas para estudantes de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Engenharia Civil (8,6 mil). Disso resulta que algum dia o ProUni terá produzido 22 mil advogados ou professores de Educação Física e 16,8 mil engenheiros civis e desenvolvedores de sistemas. Tudo bem para quem sonha com um país de gente litigante e musculosa.

O Censo de 2022 mostrou que o Brasil tinha 2,5 milhões de advogados para 518 mil engenheiros. A China tem 6,7 milhões de estudantes de Engenharia, número superior aos quatro milhões de brasileiros matriculados em toda a sua rede de ensino superior, pública e privada.

O esporte sem grandeza de Trump – Dorrit Harazim

O Globo

O presidente prefere a pancadaria crua de uma luta de MMA, é incapaz de compreender essência do esporte olímpico

Se há um espécime humano incapaz de compreender a essência do esporte olímpico, ou ver grandeza no esporte em geral, esse espécime se chama Donald Trump. O presidente dos Estados Unidos prefere a pancadaria crua de uma luta de MMA, a que assiste presencialmente na boca do octógono. Fora isso, só mesmo a prática do golfe — e, mesmo assim, apenas num dos 15 clubes e resorts de sua propriedade (11 nos Estados Unidos, dois na Escócia, um na Irlanda, um nos Emirados Árabes — e algum dia, quem sabe, sonhe com um em Gaza?), onde é de bom-tom dos convidados deixá-lo ganhar. A ideia de competir sem vencer lhe é existencialmente indigesta. A ponto de, em 2018, ainda no primeiro mandato, referir-se aos soldados americanos tombados na Primeira Guerra e enterrados no cemitério francês de Aisne-Marne como “otários e perdedores”. Dificilmente teria tido empatia pelo maratonista John Stephen Akhwari, da Tanzânia, que na Olimpíada de 1968, no México, celebrou cruzar a linha de chegada em último lugar, mais de uma hora depois do vencedor. Questionado por que não desistira da prova quando sofreu uma queda e deslocou o joelho, Akhwari respondeu com naturalidade:

O lento avanço da razão sobre as tribos - Claudio de Moura Castro

O Estado de S. Paulo

Qualquer imbecilidade pode virar uma crença grupal, como eram as superstições na Idade Média. E como naquela época, não se sabe lidar com o contraditório

Nos anos mais sombrios da Idade Média, a conformidade era imposta. A Igreja pontificava e todos seguiam. Pensava-se igual, porque apenas isso era admitido. A individualidade era asfixiada. A tribo unida era forçada a pensar unida.

O Renascimento começa a romper essa masmorra intelectual. Os descobrimentos abrem horizontes. O indivíduo floresce. Apesar de acidentes de percurso, podia-se pensar e agir com a própria cabeça.

No Iluminismo, proclama-se o Império da Razão. Chegaríamos mais longe, pensando certo e com rigor. Sob a tutela da razão, as nossas concepções seriam ordenadas e o progresso viria. Que se enxotem os preconceitos e superstições. As emoções e valores tinham que achar os seus lugares, mais modestos.

O fantasma de Trump sobre os Brics - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

O que se espera de Lula nos Brics: pragmatismo, equilíbrio e discurso lido, sem improvisos

Segundo o presidente Lula, ao lado do trumpista Javier Milei, na Cúpula do Mercosul, “a Ásia (não os EUA...) é o centro dinâmico da economia mundial”. Foi uma senha para o que está em jogo numa cúpula muito mais poderosa, a dos Brics, que começa hoje no Rio de Janeiro e reúne oito países asiáticos, a começar da China e da Rússia e, para piorar, o Irã, o que empurra o foco da reunião para o “outro lado”, Estados Unidos e Israel. Com o presidente de Cuba, Miguel Diaz Canel, presente...

Pacote fiscal lança EUA no imprevisível - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Se frustrassem Donald Trump, republicanos poderiam nem sair candidatos em 2026

A aprovação do pacote fiscal de Donald Trump lança os EUA em um experimento econômico de consequências sociais e políticas imprevisíveis. As projeções dos técnicos apontam para o agravamento da situação dos mais pobres e das contas públicas.

A renúncia tributária de US$ 4,5 trilhões introduzida por Trump em 2017, em vigor até o fim deste ano, torna-se permanente. Foram acrescentadas promessas de campanha como isenção de impostos sobre gorjetas e horas extras e dedução de US$ 6 mil para idosos com renda até US$ 75 mil.

É fraude, é roubo, é a falta de segurança - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

As pessoas sentem medo por falta de segurança. É fator que explica a origem do estado, como ensinou Thomas Hobbes. Quando não oferece segurança aos membros da tribo ou aos cidadãos dos seus países, o estado entra em crise.

O mundo mudou, o Brasil mudou. Política de segurança pública não é apenas prender bandido ou impedir a invasão de piratas ou de potências inimigas fronteira adentro, como no passado. São os efeitos dessa transformação que o governo Lula parece não levar em conta.

Nesta primeira semana de julho, o noticiário apontou um ataque hacker que desviou cerca de R$ 800 milhões do sistema que liga bancos ao Pix. Foi o que se soube. E o que acontece e a gente não fica sabendo?

O sequestro da democracia brasileira: o plano Safra - Fernando Horta

Brasil 247

A mudança de posição do governo é sempre bem-vinda. Antes tarde do que mais tarde, entendemos que em sistemas polarizados ganha quem for mais para os extremos

A mudança de posição do governo é sempre bem-vinda. Antes tarde do que mais tarde, entendemos que em sistemas polarizados ganha quem for mais para os extremos. Antagonizar com um parlamento débil é a certeza de retomar o apoio da esquerda e colocar a bola da dúvida na quadra do bolsonarismo: vão execrar este Congresso que eles elegeram (ainda que a contragosto pois são claramente anti-democracia)? Ou os bolsonaristas vão se postar como defensores de Motta e Alcolumbre e destruírem seu discurso “anti sistema”?

A comunicação de guerra é o caminho para a eleição de 2026. A direita faz, o centrão faz e agora a esquerda cansou de ser “boazinha”.

Porém, há que se discutir outras coisas. A sociedade capitalista somente funciona com “incentivos” para ações se queiram repetir. O tal “presidencialismo de coalizão” (que não existe mais) existia quando o executivo premiava o legislativo por ser confiável. Votou com Fernando Henrique Cardoso, leva a “emenda” estabelecida. Isso não existe mais. Desde Cunha, passado por Lyra e com a anuência do fraco Bolsonaro, o Congresso tomou de assalto o orçamento e se desligou completamente das responsabilidades de governar. Como a mídia aceitou e achou que seria um bom momento para colocar todas as culpas no presidente Lula, era o plano perfeito.

Cinismo institucional e a perpetuação da desigualdade no Brasil - Florestan Fernandes Jr,

PensarPiaui

Para Hugo Motta e seus aliados da extrema-direita, o problema não é a desigualdade brutal que marca nosso país, mas sim qualquer tentativa de enfrentá-la?

É um cinismo institucionalizado afirmar que no Brasil "somos todos iguais", ou que não há um conflito entre classes — o famoso “nós contra eles”. Essa ideia é uma falácia perigosa, repetida por aqueles que se beneficiam da estrutura desigual do país. Embora o Brasil figure entre as 10 maiores economias do mundo, ocupa, ao lado do Congo, o vergonhoso 14º lugar no ranking global de desigualdade social. Na ponta da nossa pirâmide, o 1% mais rico ganha 32,5 vezes mais que a metade mais pobre da população. Isso não é acaso, é projeto.

A recente queda de braço entre o governo e o Congresso em torno da alíquota do IOF escancarou esse cenário. O presidente da Câmara, Hugo Motta, acusou o governo de acionar o Supremo Tribunal Federal para “promover a volta da indesejável polarização social”. Ora, então para Motta e seus aliados da extrema-direita, o problema não é a desigualdade brutal que marca nosso país, mas sim qualquer tentativa de enfrentá-la?

A culpa da crise entre o Planalto e o Congresso é de Lula? - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Presidencialismo de coalizão parou de funcionar sem coalizão com emendas e com crise de identidade do centrão

Em sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo de 2 de julho de 2025, o cientista político Carlos Pereira argumentou que a responsabilidade da crise entre o Planalto e o Congresso é de Lula. Em suas palavras, "quem falha hoje é o Executivo, ao não saber jogar o jogo do presidencialismo de coalizão".

É sempre esclarecedor debater com Carlos, um dos grandes cientistas políticos brasileiros. Mas ele está errado: o presidencialismo brasileiro está em crise. Não está muito claro se o jogo ainda tem regras, ou, ao menos, as mesmas regras.

A política cede lugar ao Supremo – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Fracassam os políticos quando não conseguem resolver suas questões na seara da delegação popular

Situações muito mais complicadas que a agora posta no Supremo Tribunal Federal para decidir sobre a constitucionalidade de ações do Executivo e do Legislativo já foram resolvidas no país pela via da política.

Foi assim na transição democrática, na sucessão de Tancredo Neves após cair doente na véspera da posse, nos embates na Assembleia Constituinte e nos processos de impeachment de dois presidentes. Isso para citar exemplos mais recentes e eloquentes em que os donos de delegação popular souberam vencer obstáculos e resolver seus impasses sem ferir protocolos oficiais.

A negação ativa do horror - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

É um mecanismo de defesa, individual ou coletivo, em geral por cinismo ou perturbação mental profunda

Negação ativa é o que ocorre quando diante de um fato claro e simples, uma evidência, o sujeito finge que não vê, para aplacar a consciência. É um mecanismo de defesa, individual ou coletivo, em geral por cinismo ou perturbação mental profunda. Aplica-se bem à indiferença generalizada a uma postagem do famoso produtor de televisão israelense Elad Barashi: "Não consigo entender as pessoas aqui no Estado de Israel que não querem encher Gaza com chuveiros de gás... ou vagões de trem... e acabar com essa história! Que haja um Holocausto em Gaza!" (5/5/2025).

Lugares implacáveis - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro de acadêmico de Chicago esmiúça facetas menos conhecidas da violência por armas de fogo nos EUA

Para a esquerda, o crime é resultado de disparidades econômicas. Para a direita, é uma questão moral. Gente ruim, as famosas maçãs podres, é que se mete em comportamentos antissociais.

Não é que as duas visões estejam totalmente erradas. Determinantes sociais estão na origem de parte da criminalidade e psicopatas são uma realidade. Mas ambas explicam pouco. E explicam particularmente pouco do tipo de crime que mais nos incomoda, que são os assassinatos.

Poesia | Mauro Mota - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Edu Lobo - O Dono do Lugar