“Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que levam a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e na compreensão dessa práxis.”
*Karl Marx (1818-1883), Teses sobre Feuerbach (1845)
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
“Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que levam a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e na compreensão dessa práxis.”
*Karl Marx (1818-1883), Teses sobre Feuerbach (1845)
Cúpula consolida Brics como veículo do poder da China
O Globo
Expansão do bloco tem se dado em direção à
Ásia, ampliando esfera de influência chinesa
A cúpula do Brics,
que ocorre hoje e amanhã no Rio, tende a consagrar o viés antiocidental que
acompanha o bloco desde a criação por Brasil, Rússia, Índia e China, em 2009. A
ausência de Xi Jinping em nada muda o uso que os chineses têm feito dele como
veículo e plataforma para exercer liderança sobre outros países, em contraponto
a americanos e europeus. Sinal disso tem sido a contínua expansão do Brics na
Ásia, ampliando a esfera de influência chinesa. Xi — representado pelo
primeiro-ministro Li Qiang — não precisa estar no Rio para que o Brics continue
a ser útil a Pequim.
Depois do acréscimo do “s”, com a entrada da África do Sul em 2011, o Brics foi ampliado em 2024, com a chegada de Irã, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, afastando-se das pretensões de defender as liberdades e valores democráticos. Em janeiro, a Indonésia também aderiu ao bloco. Malásia, Tailândia e Vietnã acabam de decidir tornar-se associados, primeiro passo para ser membros titulares. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) é fator de atração no Sudeste Asiático, assim como o mecanismo que oferece a bancos centrais do bloco acesso a fundos de emergência.
O Globo
Estamos chegando a um ponto de saturação em
que provavelmente o próximo presidente encontrará condições propícias para
enfrentar uma reforma administrativa de verdade, que coloque as finanças
públicas nos trilhos
Ir para a cadeia é o maior temor de Bolsonaro. Fará tudo para negociar uma prisão domiciliar, e mesmo sabedor de que um indulto presidencial não o tornará elegível, quer ser livre para poder continuar fazendo política. Do ponto de vista jurídico, o futuro presidente da República, a ser eleito ano que vem, não perderá nada indultando-o, pois não poderá se candidatar tão cedo. Como, para ser indultado, o candidato que apoiar precisa vencer a eleição, é provável que Bolsonaro já tenha se convencido de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é o melhor candidato da direita que se pode encontrar.
O Globo
Na visão da oposição, o governo ir ao STF
sobre o IOF é um ato radical. Já a ameaça golpista contra o Supremo não provoca
reação alguma
Há quase dois meses, o senador Flávio Bolsonaro avisou ao país que o bolsonarismo ainda pensa em golpe de Estado. Ele foi enfático ao dizer que o grupo só dará apoio ao candidato que se comprometer a impor ao STF a aceitação do indulto ao seu pai. Quando as repórteres que fizeram a entrevista perguntaram como seria essa imposição ao Supremo, o senador não deixou dúvidas: “a gente está falando do uso da força”. Passaram-se as semanas, desde o domingo 15 de junho, e não houve repúdio de qualquer político da direita a essa fala. O mais cotado dos pré-candidatos conservadores, o governador Tarcísio de Freitas, não apenas silenciou como apareceu em palanques com o ex-presidente depois disso. Dos outros também, o mesmo silêncio.
Correio Braziliense
O presidente da Câmara foi demonizado, não
teve musculatura para enfrentar um adversário carismático e cascudo como Lula,
que já disputou sete campanhas presidenciais
Nos meios sindicais, a expressão “chumbo
trocado não dói” é um jargão que sinaliza a disposição de diálogo depois de uma
acirrada disputa entre as partes. No Congresso, onde não existe o interesse
comum classista, não é bem assim que coisa funciona: dói e deixa ressentimentos
que vão comprometer os entendimentos entre as partes e gerar desconfianças
insuperáveis.
É mais ou menos o que aconteceu entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que derrubou o decreto que aumentava as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e submeteu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma derrota acachapante no Congresso.
O Globo
Silas Malafaia não gostou de “Apocalipse nos
trópicos”, o novo documentário de Petra Costa. Convidado para uma sessão
especial na quinta-feira, o pastor saiu aos berros da sala de cinema. Deve ter
se irritado com a própria performance diante das câmeras.
O filme mostra como o crescimento dos
evangélicos e a ascensão de pastores fundamentalistas influenciaram a política
brasileira na última década. Personagem desses tempos estranhos, Malafaia não
se constrange em usar o nome de Deus para direcionar o voto dos fiéis.
O pastor pulou de galho em galho em sua peregrinação palanqueira. Apoiou Lula, José Serra e Aécio Neves até firmar aliança com Jair Bolsonaro às vésperas da eleição de 2018. Dois dias depois da vitória, o capitão marchou até a igreja de Malafaia, onde foi recebido com o coro de “Mito!”.
Globo
O Ministério da Educação divulgou a lista de
ofertas de 211 mil bolsas de estudo do Prouni em faculdades particulares.
Encabeçam a relação os cursos de Administração (13,8 mil vagas), Direito (13,2
mil), Pedagogia (11,3 mil) e Educação Física (9 mil).
Atrás vêm 8,2 mil bolsas para estudantes de
Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Engenharia Civil (8,6 mil). Disso
resulta que algum dia o ProUni terá produzido 22 mil advogados ou professores
de Educação Física e 16,8 mil engenheiros civis e desenvolvedores de sistemas.
Tudo bem para quem sonha com um país de gente litigante e musculosa.
O Censo de 2022 mostrou que o Brasil tinha 2,5 milhões de advogados para 518 mil engenheiros. A China tem 6,7 milhões de estudantes de Engenharia, número superior aos quatro milhões de brasileiros matriculados em toda a sua rede de ensino superior, pública e privada.
O Globo
O presidente prefere a pancadaria crua de uma
luta de MMA, é incapaz de compreender essência do esporte olímpico
Se há um espécime humano incapaz de compreender a essência do esporte olímpico, ou ver grandeza no esporte em geral, esse espécime se chama Donald Trump. O presidente dos Estados Unidos prefere a pancadaria crua de uma luta de MMA, a que assiste presencialmente na boca do octógono. Fora isso, só mesmo a prática do golfe — e, mesmo assim, apenas num dos 15 clubes e resorts de sua propriedade (11 nos Estados Unidos, dois na Escócia, um na Irlanda, um nos Emirados Árabes — e algum dia, quem sabe, sonhe com um em Gaza?), onde é de bom-tom dos convidados deixá-lo ganhar. A ideia de competir sem vencer lhe é existencialmente indigesta. A ponto de, em 2018, ainda no primeiro mandato, referir-se aos soldados americanos tombados na Primeira Guerra e enterrados no cemitério francês de Aisne-Marne como “otários e perdedores”. Dificilmente teria tido empatia pelo maratonista John Stephen Akhwari, da Tanzânia, que na Olimpíada de 1968, no México, celebrou cruzar a linha de chegada em último lugar, mais de uma hora depois do vencedor. Questionado por que não desistira da prova quando sofreu uma queda e deslocou o joelho, Akhwari respondeu com naturalidade:
O Estado de S. Paulo
Qualquer imbecilidade pode virar uma crença
grupal, como eram as superstições na Idade Média. E como naquela época, não se
sabe lidar com o contraditório
Nos anos mais sombrios da Idade Média, a
conformidade era imposta. A Igreja pontificava e todos seguiam. Pensava-se
igual, porque apenas isso era admitido. A individualidade era asfixiada. A
tribo unida era forçada a pensar unida.
O Renascimento começa a romper essa masmorra
intelectual. Os descobrimentos abrem horizontes. O indivíduo floresce. Apesar
de acidentes de percurso, podia-se pensar e agir com a própria cabeça.
No Iluminismo, proclama-se o Império da Razão. Chegaríamos mais longe, pensando certo e com rigor. Sob a tutela da razão, as nossas concepções seriam ordenadas e o progresso viria. Que se enxotem os preconceitos e superstições. As emoções e valores tinham que achar os seus lugares, mais modestos.
O Estado de S. Paulo
O que se espera de Lula nos Brics:
pragmatismo, equilíbrio e discurso lido, sem improvisos
Segundo o presidente Lula, ao lado do trumpista Javier Milei, na Cúpula do Mercosul, “a Ásia (não os EUA...) é o centro dinâmico da economia mundial”. Foi uma senha para o que está em jogo numa cúpula muito mais poderosa, a dos Brics, que começa hoje no Rio de Janeiro e reúne oito países asiáticos, a começar da China e da Rússia e, para piorar, o Irã, o que empurra o foco da reunião para o “outro lado”, Estados Unidos e Israel. Com o presidente de Cuba, Miguel Diaz Canel, presente...
O Estado de S. Paulo
Se frustrassem Donald Trump, republicanos poderiam nem sair candidatos em 2026
A aprovação do pacote fiscal de Donald Trump
lança os EUA em um experimento econômico de consequências sociais e políticas
imprevisíveis. As projeções dos técnicos apontam para o agravamento da situação
dos mais pobres e das contas públicas.
A renúncia tributária de US$ 4,5 trilhões introduzida por Trump em 2017, em vigor até o fim deste ano, torna-se permanente. Foram acrescentadas promessas de campanha como isenção de impostos sobre gorjetas e horas extras e dedução de US$ 6 mil para idosos com renda até US$ 75 mil.
O Estado de S. Paulo
As pessoas sentem medo por falta de
segurança. É fator que explica a origem do estado, como ensinou Thomas Hobbes.
Quando não oferece segurança aos membros da tribo ou aos cidadãos dos seus
países, o estado entra em crise.
O mundo mudou, o Brasil mudou. Política de
segurança pública não é apenas prender bandido ou impedir a invasão de piratas
ou de potências inimigas fronteira adentro, como no passado. São os efeitos
dessa transformação que o governo Lula parece não levar em conta.
Nesta primeira semana de julho, o noticiário apontou um ataque hacker que desviou cerca de R$ 800 milhões do sistema que liga bancos ao Pix. Foi o que se soube. E o que acontece e a gente não fica sabendo?
Brasil 247
A mudança de posição do governo é sempre bem-vinda. Antes tarde do que mais tarde, entendemos que em sistemas polarizados ganha quem for mais para os extremos
A mudança de posição do governo é sempre
bem-vinda. Antes tarde do que mais tarde, entendemos que em sistemas
polarizados ganha quem for mais para os extremos. Antagonizar com um parlamento
débil é a certeza de retomar o apoio da esquerda e colocar a bola da dúvida na
quadra do bolsonarismo: vão execrar este Congresso que eles elegeram (ainda que
a contragosto pois são claramente anti-democracia)? Ou os bolsonaristas vão se
postar como defensores de Motta e Alcolumbre e destruírem seu discurso “anti
sistema”?
A comunicação de guerra é o caminho para a
eleição de 2026. A direita faz, o centrão faz e agora a esquerda cansou de ser
“boazinha”.
Porém, há que se discutir outras coisas. A sociedade capitalista somente funciona com “incentivos” para ações se queiram repetir. O tal “presidencialismo de coalizão” (que não existe mais) existia quando o executivo premiava o legislativo por ser confiável. Votou com Fernando Henrique Cardoso, leva a “emenda” estabelecida. Isso não existe mais. Desde Cunha, passado por Lyra e com a anuência do fraco Bolsonaro, o Congresso tomou de assalto o orçamento e se desligou completamente das responsabilidades de governar. Como a mídia aceitou e achou que seria um bom momento para colocar todas as culpas no presidente Lula, era o plano perfeito.
PensarPiaui
Para Hugo Motta e seus aliados da
extrema-direita, o problema não é a desigualdade brutal que marca nosso país,
mas sim qualquer tentativa de enfrentá-la?
É um cinismo institucionalizado afirmar que
no Brasil "somos todos iguais", ou que não há um conflito entre
classes — o famoso “nós contra eles”. Essa ideia é uma falácia perigosa,
repetida por aqueles que se beneficiam da estrutura desigual do país. Embora o
Brasil figure entre as 10 maiores economias do mundo, ocupa, ao lado do Congo,
o vergonhoso 14º lugar no ranking global de desigualdade social. Na ponta da
nossa pirâmide, o 1% mais rico ganha 32,5 vezes mais que a metade mais pobre da
população. Isso não é acaso, é projeto.
A recente queda de braço entre o governo e o Congresso em torno da alíquota do IOF escancarou esse cenário. O presidente da Câmara, Hugo Motta, acusou o governo de acionar o Supremo Tribunal Federal para “promover a volta da indesejável polarização social”. Ora, então para Motta e seus aliados da extrema-direita, o problema não é a desigualdade brutal que marca nosso país, mas sim qualquer tentativa de enfrentá-la?
Folha de S. Paulo
Presidencialismo de coalizão parou de
funcionar sem coalizão com emendas e com crise de identidade do centrão
Em sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo de 2 de julho de
2025, o cientista político Carlos Pereira argumentou que a responsabilidade
da crise
entre o Planalto e o Congresso é de Lula. Em suas
palavras, "quem falha hoje é o Executivo, ao não saber jogar o jogo do
presidencialismo de coalizão".
É sempre esclarecedor debater com Carlos, um dos grandes cientistas políticos brasileiros. Mas ele está errado: o presidencialismo brasileiro está em crise. Não está muito claro se o jogo ainda tem regras, ou, ao menos, as mesmas regras.
Folha de S. Paulo
Fracassam os políticos quando não conseguem
resolver suas questões na seara da delegação popular
Situações muito mais complicadas que a agora
posta no Supremo
Tribunal Federal para decidir sobre a constitucionalidade de ações do Executivo e do Legislativo já foram
resolvidas no país pela via da política.
Foi assim na transição democrática, na sucessão de Tancredo Neves após cair doente na véspera da posse,
nos embates na Assembleia Constituinte e nos processos de impeachment de
dois presidentes. Isso para citar exemplos mais recentes e eloquentes em que os
donos de delegação popular souberam vencer obstáculos e resolver seus impasses
sem ferir protocolos oficiais.
Folha de S. Paulo
É um mecanismo de defesa, individual ou
coletivo, em geral por cinismo ou perturbação mental profunda
Negação ativa é o que ocorre quando diante de um fato claro e simples, uma evidência, o sujeito finge que não vê, para aplacar a consciência. É um mecanismo de defesa, individual ou coletivo, em geral por cinismo ou perturbação mental profunda. Aplica-se bem à indiferença generalizada a uma postagem do famoso produtor de televisão israelense Elad Barashi: "Não consigo entender as pessoas aqui no Estado de Israel que não querem encher Gaza com chuveiros de gás... ou vagões de trem... e acabar com essa história! Que haja um Holocausto em Gaza!" (5/5/2025).
Folha de S. Paulo
Livro de acadêmico de Chicago esmiúça facetas
menos conhecidas da violência por armas de fogo nos EUA
Para a esquerda, o crime é resultado de disparidades econômicas. Para a
direita, é uma questão moral. Gente ruim, as famosas maçãs podres, é que se
mete em comportamentos antissociais.
Não é que as duas visões estejam totalmente erradas. Determinantes sociais estão na origem de parte da criminalidade e psicopatas são uma realidade. Mas ambas explicam pouco. E explicam particularmente pouco do tipo de crime que mais nos incomoda, que são os assassinatos.