sexta-feira, 4 de julho de 2025

Guerra de extermínio antes da hora - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Governo e Congresso não têm nada a ganhar com uma ruptura em tempo ainda de indefinição eleitoral

A fotografia do momento é de confronto sem solução boa à vista. Ocorre, porém, que há muito filme a ser rodado e por isso os personagens desse enredo eleitoral não devem ir agora ao tudo ou nada. Ainda não é hora.

Não interessa à direita nem à esquerda partir para um embate cujo desfecho depende de muitas variáveis. Luiz Inácio lula da Silva (PT) não tem certeza se vale a pena tentar a reeleição e Jair Bolsonaro (PL) precisa decidir o que fará quando e se vier a provável condenação por tentativa de golpe de Estado.

A base parlamentar desalinhada também não tem essa urgência toda em se definir pelo abandono de ministérios e demais cargos que bem ou mal lhe dão acesso a uma parte considerável da máquina pública.

Ao presidente tampouco convém fazer demissão em massa dos amigos da onça. Ainda precisa deles para aprovar as bondades eleitoreiras que aguardam votação no Congresso, das quais os adversários querem ser parceiros. Da mesma forma como a então oposição ao governo anterior aprovou a gastança de Bolsonaro em 2022, por impossibilidade de dizer não a medidas populares.

O mais provável é que daqui até o início da fase de definições, no início de 2026, sigam governo e oposição, direita e esquerda, em ritmo de morde e assopra. Atualmente a batalha se dá no Congresso, mais adiante a luta ocorrerá fora dele.

Quando se desenharem com mais nitidez as candidaturas, aí sim a luta começa de verdade. As posições, no entanto, estão marcadas. Na boca de cena, atacam-se, mas no bastidor considera-se mais razoável que prevaleça a prudência política em prol de um entendimento provisório.

Nenhum dos lados está pronto para uma guerra de extermínio em que passos em falso podem dar vantagem ao campo adversário. Embora difícil, a recuperação da popularidade de Lula não é uma hipótese a ser descartada.

De outro lado, haverá a instalação da CPMI do INSS, cujo potencial de estrago em clima de conflagração será tanto maior para o governo quanto menor for o apoio que tiver no Congresso.

 

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