Murillo Camarotto - Valor Econômico
RECIFE - Foi cercado por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), lembrou, ontem, dos 50 anos do golpe militar no Brasil. A três dias de deixar o governo para concorrer à Presidência da República, Campos anunciou a desapropriação, para a reforma agrária, de uma área de 223 hectares na zona da mata do Estado.
A desapropriação põe fim a uma disputa de quase 18 anos entre o MST e o grupo João Santos, um dos principais conglomerados empresariais de Pernambuco. Ocupado desde 1996, o Engenho Bonito, localizado no município de Condado, foi alvo de desapropriação pelo governo federal, mas os empresários conseguiram garantir na Justiça os direitos sobre a terra.
A solenidade foi realizada na sede do governo, o Palácio do Campo das Princesas, de onde o então governador Miguel Arraes (1916-2005), avô de Campos, saiu direto para a prisão na tarde de 1º de abril de 1964. Os militantes do MST presentearam o atual governador com uma fita, ouvida durante o evento, com o áudio da mensagem gravada por Arraes no dia do golpe.
"Um dos compromissos que mais afastavam o Dr. Arraes das elites era ser aliado da luta pela reforma agrária. Vocês avaliem o tabu que era, 50 anos atrás, alegar que a estrutura fundiária tinha a ver com a pobreza no campo e na cidade", disse o governador, antes de lembrar de um acordo entre usineiros e trabalhadores rurais promovido em 1963 por Arraes, que ficou conhecido como "o acordo do campo".
Foi aí que o governador começou a alfinetar a presidente Dilma Rousseff, sua adversária nas eleições de outubro. Segundo ele, o entendimento promovido por Arraes só foi possível por conta da capacidade de diálogo do seu avô. "Diálogo é o que mais importa para quem governa", disse Campos, que critica com frequência a pouca disposição para o diálogo da presidente.
Diante da plateia de lavradores, Campos lembrou ainda da chegada ao poder do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e criticou a redução no ritmo da reforma agrária sob Dilma.
Atento à solenidade, o lavrador Severino Ramos de Almeida elogiou com entusiasmo a conclusão do imbróglio envolvendo o Engenho Bonito. Ele ficou surpreso, no entanto, ao ser informado de que Campos, Lula e Dilma já não estão mais do mesmo lado na política. Questionado, então, sobre qual lado escolheria, Severino pediu um tempo pra pensar.
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