Folha de S. Paulo
Se tudo correr bem, os EUA colocarão nesta terça (8) um segundo membro da família Clinton no comando do país. O repeteco não é inédito. Tivemos há pouco dois Bushes e, mais antigamente, dois Adams. E os EUA não são uma exceção.
Ao norte, um segundo Trudeau assumiu o posto de premiê e, na distante Índia, temos o clã Nehru-Gandhi, que já fez quatro primeiros-ministros. Na Grécia, que inventou a democracia, os Papandreu, Mitsotakis e Karamanlis deram seis premiês que somam 35 anos de poder. Na Argentina, dois maridos fizeram as mulheres como sucessoras. No Chile, três Monnt, dois Pintos e dois Freis chegaram à Presidência. Na Costa Rica, três famílias fizeram dois presidentes cada, e, na Colômbia, quatro sobrenomes geraram nove presidentes.
Se incluirmos democracias capengas e ditaduras, a repetição de nomes fica cansativa. Há os Duvalier no Haiti, os Castros em Cuba, os Somozas e Ortegas na Nicarágua, e duas gerações de Balliviáns e três de Siles na Bolívia. No Brasil, os clãs por algum motivo ficam restritos ao poder local. Fora da América Latina, olhando só para o presente, temos os Assad na Síria e os três Kim da Coreia do Norte.
O fenômeno das dinastias políticas reforça a tese defendida por Gregory Clark em "The Son Also Rises", um dos livros mais deprimentes que li nos últimos anos. Clark fez uma ampla busca por sobrenomes em bases de dados que indicam alto grau de poder socioeconômico, como listas de graduados em universidades, de médicos e de parlamentares, o que lhe permitiu recuar vários séculos em vários países, e concluiu que a mobilidade social é bem menor do que gostaríamos de crer. São quase sempre os mesmos nomes que se destacam. Pior, políticas públicas de inspiração igualitária, como educação compulsória e IR progressivo, não mudaram muito o quadro.
Resta apenas torcer para que não precisemos incluir o sobrenome Trump na lista de dinastias políticas.
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