EDITORIAIS
Bolsonaro é visto como exemplo do recuo da
democracia no planeta
O Globo
Ao longo desta semana, o presidente Jair
Bolsonaro deverá aparecer ao lado de dois líderes estrangeiros: o russo
Vladimir Putin e o húngaro Viktor Orbán. Independentemente do interesse
estratégico, ambos encontros carregam enorme simbolismo na arena política.
Talvez não haja no planeta exemplos mais bem-sucedidos de políticos que chegam
ao poder pelo voto popular e, por meio da mudança contínua de regras, captura
de instituições, censura à imprensa e cerco a opositores, corroem como cupins o
Estado democrático de direito.
Com níveis distintos de sucesso, Bolsonaro,
Orbán e Putin são protagonistas da erosão da democracia em curso no mundo. O
último balanço dessa onda foi divulgado na semana passada pela Economist
Intelligence Unit, cujo índice global, baseado em várias categorias — como
processo eleitoral e pluralismo, liberdades civis e participação política —
chegou ao ponto mais baixo desde a criação em 2006.
A América Latina foi destaque negativo ao protagonizar o maior declínio de um ano para o outro no histórico de todas as regiões em 17 anos. É certo que regimes autoritários, como Venezuela ou Nicarágua, puxam a média para baixo. Mas não são os responsáveis pela queda recente. “A crescente falta de comprometimento voltado para uma cultura democrática abriu espaço ao fortalecimento de populistas, como Jair Bolsonaro no Brasil, Andrés Manuel López Obrador no México e Nayib Bukele em El Salvador”, escrevem os autores do relatório.
É verdade que o último resultado global foi
afetado pela pandemia, que acentuou políticas autoritárias em vários países. A
piora, porém, faz parte de uma longa tendência de deterioração. Entre 1974 e
2005, a maioria dos países se tornou democrática pela primeira vez. A partir de
2006, como descreveu o cientista político Larry Diamond, o mundo entrou numa
“recessão democrática”. Desde então, ela não apenas persistiu, como se agravou.
O principal método de regressão é o estrangulamento gradual, arte em que Putin
e Orbán são faixas-pretas — e Bolsonaro, um aprendiz atento.
Como toda tendência global, o populismo tem
causas multifacetadas, com diferentes graus de influência em cada lugar. Duas
das mais citadas são insegurança econômica e aumento da desigualdade. Em comum,
todas revelam desilusão com a classe política tradicional.
A chegada de Donald Trump à Casa Branca
ameaçou uma das culturas democráticas mais longevas e teve também um poder
propagador. Em vez de promover a democracia, os Estados Unidos passaram a
incentivar, pelo exemplo, o surgimento de êmulos pelo mundo. Felizmente, há
sinais de que essa maré poderá retroceder. No poder, populistas comprovaram ser
um desastre. Bolsonaro tem fotos garantidas com Putin e Orbán. Dificilmente
teria a mesma oportunidade com expoentes da democracia.
Como elevar a qualidade das políticas sociais
O Globo
Um estudo do Instituto Millenium divulgado
na semana passada expõe em detalhes e de forma categórica o que avaliações
pontuais anteriores já haviam deixado claro. O Auxílio Brasil, programa social
criado pelo governo Bolsonaro no ano passado, é caro e limitado. Não melhorou
significativamente o Bolsa Família, programa de eficácia comprovada que
pretendia substituir, e não dá a devida atenção aos mais pobres. Mesmo nos
pontos em que houve tentativas de avanços, eles foram modestos. Como tem
ocorrido em várias áreas da atual administração, o Auxílio Brasil faz muita
espuma, mas lhe falta substância.
De autoria dos economistas Vinícius
Botelho, Fernando Veloso e Marcos Mendes, o estudo “Como Avançar a Agenda da
Proteção Social no Brasil?” contribui para uma discussão urgente e estratégica:
como combater a pobreza e, ao mesmo tempo, reduzir a desigualdade social. É
preciso entender que os dois objetivos não são equivalentes. A pobreza pode
baixar e a desigualdade aumentar se a situação dos ricos melhorar mais que a
dos pobres.
No estudo, os três autores fazem um balanço
do Bolsa Família e do Auxílio Brasil e apontam os caminhos a seguir. A meta é
aumentar a qualidade das políticas públicas na área social. Três eixos merecem
destaque: a simplificação da estrutura de benefícios, o foco nos mais
vulneráveis e a superação da pobreza entre uma geração e outra. Mesmo com as
recentes mudanças, as regras para a transferência de renda continuam complexas.
Para poder identificar melhor quem mais precisa de ajuda, o governo deveria
usar informações sobre rendimentos em diferentes bancos de dados públicos. Por
fim, o estudo defende um novo leque de ações para quebrar a corrente que
transmite a pobreza dos pais para os filhos.
Uma conta de poupança batizada de Seguro-Família
é uma das propostas. Ela receberia recursos do governo e seria revertida em
benefícios nos momentos de menor renda. Em épocas de maior prosperidade, as
retiradas ficariam menores, e as famílias passariam a ser incentivadas a
poupar. Atualmente, os trabalhadores informais não têm proteção. Apenas os
formais de baixos salários contam com Abono Salarial e Salário-Família,
instrumentos pouco eficazes na redução da pobreza por não levar em consideração
a renda familiar per capita.
Outra inovação proposta na área financeira
é criar uma poupança para estudantes. A partir do ensino fundamental, cada
aluno passaria a ter direito a um depósito mensal. O valor só poderia ser
sacado após a conclusão do ensino médio. O objetivo é diminuir a evasão escolar.
Com mais anos de estudos, crescem as chances de filhos terem renda superior à
dos pais.
O estudo ainda defende a expansão do
programa voltado à primeira infância. O aumento de renda dos mais pobres não é
necessariamente suficiente para melhorar a atenção dada a crianças de zero a
seis anos. Em comunidades de baixa renda, é comum que os pequenos fiquem com
cuidadores que pouco fazem para estimulá-los. Sem interações nos primeiros anos
de vida, essas crianças não têm o desenvolvimento adequado para melhorar o
desempenho escolar. Todas essas propostas deveriam ser analisadas por qualquer
governo que queira levar a sério o combate à pobreza e à desigualdade.
Normalidade à vista
Folha de S. Paulo
No recuo da gigantesca onda da ômicron,
vislumbra-se solidificação da confiança
Como uma pandemia acaba? Eis uma pergunta
difícil de responder, até porque este coronavírus provavelmente não será
erradicado.
A crise sanitária será dada por encerrada,
na prática, quando a sociedade se convencer de que dispõe de meios de
equilibrar o jogo contra o inimigo microscópico. Essa cristalização da
confiança pode estar se aproximando com o recuo da onda gigantesca de infecções
causada pela variante ômicron.
Para a maior autoridade dos Estados Unidos
no combate à epidemia, Anthony Fauci, isso
está prestes a ocorrer em seu país. O controle da doença tende a deixar de
ser preocupação central do governo nacional e ser absorvido como mais uma
tarefa da saúde pública local e também dos indivíduos.
Não por outra razão, mesmo estados
norte-americanos que adotaram as políticas mais restritivas na crise agora
relaxam restrições, a ponto de abolirem a obrigação de uso de máscaras em
ambientes internos. Seguem-lhes os passos nações europeias insuspeitas de
negacionismo, como
a Dinamarca.
A variante detectada pela primeira vez na
África do Sul no fim de novembro engolfou rapidamente todo o planeta. Rompeu em
larga medida a primeira linha de proteção ao atingir também pessoas vacinadas,
mas não a segunda e mais forte defesa dos imunizantes, que é mitigar o
agravamento da doença.
O padrão se repete no Brasil, embora,
graças à desídia da administração Bolsonaro, sem a nitidez dos dados. As
internações em UTIs paulistas, que em meados de dezembro passaram a acelerar a
taxas recordes na pandemia, inverteram a tendência seis semanas depois e hoje
desaceleram fortemente.
Apesar da apressadíssima marcha das
infecções, o pico de internações nessas unidades especializadas nos casos mais
graves desta vez não atingiu nem sequer um terço do registrado no início de
abril de 2021, quando a vacinação ainda não havia ganhado escala.
Vacinas salvam milhares de vidas, poupam de
sequelas outros milhares de brasileiros e evitam estrondosos custos
hospitalares e para o restante da economia. Isso fica patentemente demonstrado
na passagem da ômicron.
A normalização da vida após a fase mais
árdua da pandemia, para onde parecem caminhar o Brasil e outras nações, decorre
do espalhamento e do enraizamento dessa convicção na sociedade. Percebe-se que
a batalha contra o coronavírus está mais equilibrada, embora ainda ocorra um
número lamentável de mortes evitáveis.
Os governantes responsáveis que estão
determinando o fim das últimas restrições à circulação, portanto, apenas
reconhecem algo que a sua própria população já absorveu. Está mais seguro tocar
a vida.
Lições de 22
Folha de S. Paulo
Semana de Arte Moderna, que faz cem anos, lançou
ideia de país a ser revisitada
Inaugurada no Theatro Municipal de São
Paulo, em 13 de fevereiro de 1922, a Semana de
Arte Moderna chega a seu centenário num momento em que a cultura e
valores estimados pelos modernistas, como a diversidade, a liberdade e a
educação, são alvos frequentes de ataques retrógrados de forças políticas
instaladas no poder.
A Semana foi organizada por um grupo de
artistas e escritores que vinha se articulando em torno de ideias e planos de
renovação do ambiente artístico e cultural. A São Paulo na qual viviam era uma cidade
emergente, que experimentava uma notável aceleração de sua economia sob o
impulso da abundante riqueza do café.
Prefigurava-se naqueles tempos a formação
de uma metrópole industrial que estaria destinada, na visão de sua elite, e
também dos jovens modernistas, a exercer um papel modernizante na esfera
nacional, não apenas como polo econômico, mas também cultural.
Comemorava-se em 1922 o centenário da
Independência, e o festival modernista que reuniu nomes como Anita Malfatti,
Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Heitor Villa-Lobos e Di Cavalcanti era uma
oportunidade de lançar da capital paulista uma plataforma para o futuro.
Não por acaso a Semana contou com o apoio
decisivo de um empresário como Paulo Prado, esclarecido e cosmopolita, para
financiar o evento destinado a questionar padrões conservadores.
Há, naturalmente, muitos aspectos a
questionar no movimento modernista de São Paulo, desde episódios das biografias
de seus participantes a temas polêmicos ligados à sua atuação pública.
Não há dúvida, contudo, de que a aventura
modernista plantada no Municipal tinha em suas sementes um projeto —ou um
sonho— de país, no qual a diversidade racial, a potência da natureza e a
extraordinária riqueza cultural se congregavam de maneira estimulante.
O método do movimento de olhar com
admiração para o Brasil sem abrir mão de uma perspectiva atualizada e
internacionalista (a "antropofagia", como pregava um manifesto)
reverberou em momentos luminosos de nosso século 20, como a bossa nova, o
tropicalismo e o cinema novo, e continua vivo ainda hoje.
As rememorações que ocorrem por ocasião do
centenário atestam o interesse do que se passou naqueles tempos e podem ajudar
a iluminar o debate do Brasil de hoje.
O mal que Lula faz ao Estado
O Estado de S. Paulo
O PT não almeja um Estado forte, eficiente e bem administrado, capaz de cumprir suas tarefas. Lula quer uma máquina pública inchada e submissa
Por se colocar à esquerda no espectro
político-ideológico, Luiz Inácio Lula da Silva não raro é visto por seus
simpatizantes como um defensor do Estado. No discurso lulopetista, a direita é
incapaz de aceitar o Estado como motor do desenvolvimento e da transformação
social, razão pela qual tudo faz para reduzi-lo ao mínimo necessário apenas
para garantir a manutenção dos privilégios da elite “neoliberal”; já a
esquerda, ao contrário, por se julgar especialmente dotada de sensibilidade
social, estaria continuamente batalhando para fortalecer o Estado. Segundo essa
lógica, um governo lulopetista seria a oportunidade histórica para o
fortalecimento do Estado e de sua máquina pública, de modo a favorecer os
pobres e oprimidos.
Não é preciso sequer terminar de ler o que
vai acima para se dar conta de que a tal conclusão é uma das tantas farsas
lulopetistas. Lula e o PT falam muito do Estado e do que seria seu papel na
sociedade, mas o fato é que nunca melhoraram o seu funcionamento. Ao contrário:
os governos petistas ampliaram gastos, criaram cargos públicos, fizeram com que
o Estado se envolvesse em novas áreas, multiplicaram as interferências do
aparato estatal na vida econômica e social, mas em nenhum momento fortaleceram,
de fato, o Estado.
O PT não almeja um Estado forte, eficiente
e bem administrado, capaz de cumprir suas tarefas – servir à população, em
último termo – com excelência, impessoalidade e economicidade. Lula sempre
buscou um Estado inchado, que pudesse dar emprego aos companheiros, e submisso,
que estivesse disponível para atender a interesses pessoais e partidários.
Tanto na oposição como no governo, a
legenda de Lula nunca quis um Estado verdadeiramente republicano. Sempre foi
contrária a toda e qualquer modernização, a toda e qualquer melhoria
institucional que pudesse contribuir para a independência dos órgãos técnicos.
A resistência petista à criação das
agências reguladoras durante o governo Fernando Henrique Cardoso é exemplo
cabal desse desleixo com o poder público. Como já dissemos neste espaço, no
editorial A importância das agências independentes (17/1), se tivesse
prevalecido a visão do PT sobre o funcionamento estatal, não haveria uma
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autônoma e técnica para
ajudar o País a enfrentar a pandemia, e a saúde dos brasileiros “estaria hoje à
mercê de Jair Bolsonaro”.
O PT não apenas não contribuiu para o
aperfeiçoamento institucional do Estado, como atuou deliberadamente, durante os
governos Lula e Dilma, para aparelhar ideológica e partidariamente a máquina
estatal. Essa atuação contraria frontalmente o que a Constituição dispõe sobre
o funcionamento da administração pública, que deve seguir os princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
O aparelhamento ideológico-partidário é um
perverso desvirtuamento do Estado, que deixa de estar orientado ao bem público
para se tornar submisso a interesses particulares. A respeito desse ponto, o PT
sempre manifestou uma profunda ignorância. Nunca entendeu que a vitória nas
eleições não dá direito ao governante de apropriar-se da máquina pública. A
posse no cargo não transforma o aparato estatal em instrumento de serviço
particular para si mesmo e para sua legenda. Nesse ponto, Jair Bolsonaro tem a
mesma deficiência, tratando o governo como despachante dos interesses
particulares de sua família.
Há ainda outra nefasta consequência do
lulopetismo sobre o Estado, notada especialmente pela população mais carente e,
assim, mais necessitada dos serviços públicos. Com sua irresponsabilidade nas
finanças públicas – a legenda é praticante fervorosa do negacionismo econômico
–, o PT, em sua desastrosa passagem pelo poder, limitou dramaticamente a
capacidade de investimento do poder público, além de ter tornado o País menos
atrativo para investidores. A bagunça populista gera danos sociais e econômicos
concretos e duradouros.
O resultado é um Estado inchado e anêmico,
incapaz de cumprir suas funções. Assim, com as atuais circunstâncias a exigir,
nos próximos anos, verdadeira tarefa de reconstrução do Estado, revigorando-o
em suas tarefas essenciais, tem-se mais uma evidência de que Lula não é
solução, e sim parte relevante do problema.
O Ministério Público dentro da lei
O Estado de S. Paulo
O Ministério Público defende os interesses da sociedade sempre e tão somente por meio da defesa da lei. Como lembrou o STJ, é preciso respeitar o sigilo fiscal
É cada vez mais comum o entendimento de que
o Ministério Público, por defender os interesses da sociedade, dispõe não
apenas de suas prerrogativas institucionais, mas também de alguns outros
privilégios. Segundo essa visão, os procuradores não estariam inteiramente
sujeitos às regras legais, precisamente para que possam defender, com máxima
agilidade e eficiência, a coletividade.
À primeira vista, esse entendimento pode
parecer razoável e alinhado com o interesse público. Quem tem a missão de
defender a sociedade deve dispor de poderes especiais. No entanto, essa visão
sobre o Ministério Público tem efeito inverso. Ao autorizar que um braço do
Estado atue além das margens da lei, ela é prejudicial à população. Entre
outras consequências, há uma fragilização das garantias e liberdades
fundamentais.
Talvez se possa pensar que haja algum
exagero retórico nessa crítica. O Ministério Público seria cuidadoso no uso
dessas prerrogativas “especiais”, sem colocar em risco direitos individuais.
Não é isso o que ocorre, no entanto. Quando se atua além dos limites da lei,
garantias e liberdades fundamentais sempre ficam em risco.
Recentemente, por exemplo, o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) afirmou que o Ministério Público não pode requisitar
diretamente à Receita Federal informações protegidas por sigilo fiscal. Num
Estado Democrático de Direito, a quebra de sigilo exige prévia autorização da
Justiça. O fato de o STJ ter precisado lembrar essa realidade fundamental mostra
o patamar de confusão atual.
Naturalmente, a pretensão do Ministério
Público de obter informação sigilosa sem autorização judicial vinha revestida
de argumentos supostamente sofisticados. Não haveria quebra de sigilo fiscal,
mas mera transferência de sigilo. Os dados da Receita seriam apenas
“transferidos” para o Ministério Público. Nessa retórica pretensamente
institucional, as garantias constitucionais simplesmente deixam de ter
eficácia, para se tornarem meras palavras, desprovidas de qualquer conteúdo
normativo. Tudo isso para que o poder do Estado possa avançar, sem freios e sem
critério, sobre o indivíduo.
Não é demais lembrar que o Ministério
Público pode ter acesso a informações protegidas por sigilo fiscal. Basta pedir
à Justiça, explicando os motivos concretos que justificam a quebra do sigilo.
Não é difícil obter autorização judicial. A pretensão de ter acesso a dados
sigilosos, com mera requisição à Receita Federal, é rigorosamente
injustificável.
Não é, no entanto, caso isolado. Veem-se
outras atitudes por parte do Ministério Público que também colocam em risco
garantias e liberdades individuais; por exemplo, a tentativa de aproveitar
provas ilícitas, certa tolerância com nulidades processuais, a interpretação
alargada das próprias competências, além da prevalência, em alguns casos, de
idiossincrasias sobre critérios legais. Mais do que má vontade ou rebeldia com
a lei – seria injusta uma avaliação assim –, essas atitudes expressam uma
específica visão a respeito do Ministério Público que, sob o pretexto de
facilitar o cumprimento de sua missão, lhe atribui uma posição de privilégio.
É preciso voltar aos fundamentos. O
Ministério Público não defende os interesses da sociedade, como se coubesse à
instituição definir e interpretar quais são os interesses da sociedade em cada
caso. Seus membros não foram eleitos e não representam a sociedade. Tal como
dispõe a Constituição, o papel institucional do Ministério Público é a defesa
da ordem jurídica e do regime democrático.
Os procuradores defendem a coletividade tão
somente por meio da defesa da lei. Não há que se falar, sob pretexto de defesa
da sociedade, em autonomia além das margens da lei. Caso atuasse assim, além de
colocar em risco garantias e liberdades fundamentais de pessoas concretas, o Ministério
Público prejudicaria toda a coletividade. Ao exigir que procuradores atuem
dentro da lei, a Justiça não recorta o alcance de sua atuação. A rigor, está
garantindo a efetividade de sua missão institucional.
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