domingo, 13 de fevereiro de 2022

Bernardo Mello Franco: O milagre das emendas

O Globo

O pastor e empresário José Wellington Bezerra da Costa é autor de um best-seller de empreendedorismo evangélico: “Como ter um ministério bem sucedido”. Na segunda-feira, ele atualizou seu manual para a Era Bolsonaro. Ensinou como usar dinheiro público para eleger políticos ligados à igreja.

Em reunião com deputados e pré-candidatos, o chefe da Convenção Geral das Assembleias de Deus explicou o que dizer a prefeitos que buscam verbas federais. “Você quer dinheiro? Quero. Mas chame então um pastor da Assembleia de Deus”, lecionou.

O pastor deu sua receita para a partilha de emendas parlamentares. “É o seguinte: a verba só vai para o prefeito por intermédio do pedido do pastor da Assembleia de Deus”, disse. “O eleitorado não é do prefeito. São irmãos em Cristo que estão nos apoiando para que nossos candidatos continuem trabalhando”, acrescentou.

A preleção foi registrada em vídeo revelado pelo jornal O Estado de S.Paulo. Procurado, José Wellington confirmou as declarações e disse mais: “O candidato da minha igreja, eu ponho ele no púlpito, eu ponho ele na minha casa, eu ponho ele no meu carro, eu ponho ele onde eu quiser”.

Aos 87 anos, o pastor comanda o maior ramo das Assembleias de Deus, que somavam 12 milhões de fiéis no Censo de 2010. Hoje ele ocupa o cargo de presidente de honra da denominação. Seu filho José Wellington Jr. é o presidente executivo. O patriarca também trata a política como negócio familiar. É pai de um deputado federal, uma deputada estadual e uma vereadora em São Paulo. No ano passado, o trio manejou R$ 25 milhões em emendas.

“Quem trouxe a política para o ministério da Assembleia de Deus fui eu, porque entendi que existem interesses da igreja, especialmente legais”, informou José Wellington. A frase escancara o pragmatismo das denominações religiosas, que camuflam seu projeto de poder com a retórica em defesa da família e da “agenda conservadora”.

Na quarta-feira, o deputado Sóstenes Cavalcante assumiu a chefia da bancada evangélica. Ligado ao bolsonarista Silas Malafaia, ele anunciou uma meta ambiciosa: eleger 30% do próximo Congresso. A dinheirama das emendas pode ajudar os pastores a operar esse milagre.

As gafes de Moro

O deputado Kim Kataguiri será investigado por dizer que a Alemanha errou ao criminalizar o Partido Nazista, que comandou um regime genocida e promoveu o extermínio de seis milhões de pessoas. Questionado sobre a fala, Sergio Moro disse que o aliado tem “histórico como parlamentar” e cometeu uma “gafe verbal”.

O histórico do MBL inclui práticas de inspiração fascista, como o ataque a exposições de arte e a invasão de escolas públicas a pretexto de combater a “doutrinação ideológica”. Dizendo-se liberal, o grupo apoiou a eleição de um presidente de extrema direita. Agora bandeou-se para a campanha do ex-juiz.

Moro deve saber o que foi o nazismo, mas contemporizou para aliviar a barra de Kataguiri. “Gafe verbal” é outra coisa. O presidenciável cometeu uma ao dissertar sobre os problemas do “agreste cearense”, que não existe nos livros de geografia.

A autoestima de Guedes

As sucessivas derrotas no governo não abalaram a autoestima de Paulo Guedes. “Na pandemia, eu era o cara certo, na hora certa, no lugar certo”, elogiou-se, no Estadão. Num surto de lucidez, o ministro admitiu que sua biografia foi “aniquilada”, mas informou que não está preocupado em “sair bem no filme”. Se estivesse...

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Bons tempos que os crentes não viravam políticos.