Lula mina a confiança no Brasil
O Globo
Ao intervir na Petrobras, presidente corrói
credibilidade do mercado e prejudica desenvolvimento
Todo investidor sabe que a Petrobras é uma empresa de capital misto controlada pelo governo (que detém 37% do capital). Tampouco é novidade o presidente da petroleira ser escolhido também pelo governo. E os acionistas têm conhecimento das regras de governança que a protegem do risco de interferência do Palácio do Planalto. Afinal, ter o controle não significa poder fazer o que se quer a qualquer hora, nem mudar a direção dos negócios ao sabor das próprias vontades. Quando a governança enfraquece, a empresa perde valor e, com isso, entra em xeque a credibilidade do mercado de capitais brasileiro. É exatamente o que tem acontecido em razão das atitudes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde 2021, a Petrobras distribui entre os
acionistas uma fatia extra dos lucros quando obtém bons resultados, os
dividendos extraordinários. A expectativa de que voltassem a ser distribuídos
neste ano alavancou as ações. O presidente da petroleira, Jean Paul
Prates, defendia a distribuição de 50% do resultado extraordinário
em dividendos, mas tal visão não prevaleceu no Conselho. Na semana passada, a
Petrobras comunicou que pagaria apenas dividendos ordinários, mas nada de
dividendo extraordinário. A reação foi previsível: a empresa perdeu R$ 55
bilhões em valor de mercado em um dia.
São nítidas as digitais de Lula na decisão.
Ele encara a petroleira estatal como instrumento de política pública. Chamou de
“choradeira” a desvalorização da empresa. “O mercado é um
rinoceronte, dinossauro voraz que quer tudo para ele e nada para o povo. Será
que o mercado não tem pena das pessoas que passam fome?”, afirmou. Tal
declaração não tem nexo. O governo é o maior acionista da Petrobras. Uma
empresa rentável traz mais recursos ao Tesouro, portanto mais verba para
combater a fome e outras mazelas.
É certo que os governos do PT não foram os
únicos a atacar a governança da Petrobras. Em 2021, Jair Bolsonaro chamou de
“crime” o lucro da empresa e demitiu o então presidente, Roberto Castello
Branco. A diferença das administrações petistas é o alcance. Basta lembrar que
a Petrobras, no governo Dilma Rousseff, tinha a maior dívida corporativa do
planeta — em torno de US$ 160 bilhões — e se tornou foco do maior escândalo de
corrupção da História do Brasil. A partir do governo Michel Temer, com a
aprovação da Lei das Estatais, a empresa adotou regras de governança mais
rígidas para se proteger. Essa conquista está sob ataque.
O governo Lula quer voltar a um passado
desastroso. A atual gestão suspendeu o exitoso programa de venda de ativos.
Retomou investimentos no refino, entre eles a obra da Refinaria Abreu e Lima,
em Pernambuco, outrora um dos maiores focos de corrupção. Quer recuperar o
controle de outra refinaria privatizada em Mataripe. Destinou recursos à
exploração de campos terrestres e fala até em voltar a operar postos de
combustível. Nada disso faz sentido para uma empresa que precisará lidar com a
transição para além dos combustíveis fósseis nas próximas décadas.
A investida de Lula não se restringe à
Petrobras. Com base na visão de que grandes empresas devem se submeter aos
desígnios do governo, ele tentou até indicar o novo CEO da Vale, uma empresa
privada (a manobra foi detida). Cada movimento desses não só destrói valor, mas
também corrói a credibilidade do capitalismo brasileiro, essencial para
promover o desenvolvimento que Lula afirma defender.
Reforma do ensino médio satisfaz à demanda
dos próprios estudantes
O Globo
Pesquisa constatou aprovação a maior
flexibilidade curricular. Governo deveria acelerar implementação
Gestores, políticos, sindicatos, entidades
estudantis e pais debatem há anos as mudanças aprovadas em 2017 no ensino médio,
guiados por suposições a respeito do que pensam os jovens. Deveriam ouvi-los.
Uma pesquisa encomendada ao Datafolha pelo movimento Todos Pela Educação mostra
que a maioria dos jovens de 14 a 16 anos — ingressantes no ensino médio —
defende alguma flexibilização no currículo, em sintonia com a reforma.
Os que
reivindicam um currículo mais flexível somam 65%. Destes, 35% são
favoráveis a uma escola que ofereça em parte do tempo as mesmas disciplinas a
todos os alunos e, noutra, a oportunidade de aprofundar conhecimentos em
matérias de maior interesse. Outros 30% defendem uma escola que combine
disciplinas comuns e um curso técnico. Uma fatia de 35% é favorável ao modelo
adotado antes da reforma: as mesmas disciplinas para todos os alunos.
O levantamento revela também que, embora o
debate sobre as mudanças no ensino médio mobilize os meios educacionais e as
redes sociais, a discussão ainda é tímida entre os estudantes. Apenas 8% dos
entrevistados disseram estar “bem informados” sobre a questão, e 53% relataram
não ter conhecimento.
O Ministério da Educação deveria dar atenção
à pesquisa. Até agora, o governo, pressionado por sindicatos e grupos
contrários, tem protelado a implantação da reforma aprovada no Congresso. Em
abril do ano passado, o ministro da Educação, Camilo
Santana, decidiu suspender o cronograma, sob o argumento de que as
mudanças precisavam ser aperfeiçoadas. No fim do ano, foi enviado um Projeto de
Lei ao Congresso, e lá permanece, porque o MEC se mostra incapaz de superar o
impasse com os parlamentares em torno do tema.
É verdade que a reforma precisava de ajustes.
Uma das críticas ao novo modelo é ele dedicar pouco tempo às disciplinas
tradicionais e muito à parte flexível do currículo. Mas pequenas correções de
rumo não podem servir de pretexto para jogar fora toda a reforma. O projeto que
adormece no Congresso busca aperfeiçoá-la, mantendo os pontos positivos, como
maior flexibilização, valorização do ensino técnico e currículos mais
sintonizados com os interesses dos estudantes e as demandas do mercado de
trabalho.
Governo e Congresso precisam entender que os
próprios estudantes desejam ter liberdade para escolher o que querem estudar,
evidentemente sem esquecer as disciplinas básicas. Estão em consonância com o
espírito do novo ensino médio. É fundamental que o projeto avance, para que as
mudanças sejam logo implementadas. Ganharão os estudantes, o mercado de
trabalho e o Brasil.
IPCA recua em ritmo lento com pressão de
serviços
Valor Econômico
Índice de fevereiro não muda orientação do
BC, mas pode levá-lo a ser mais conservador e encerrar o ciclo com taxa mais
contracionista
A inflação em fevereiro subiu um pouco mais
que o esperado, 0,83%, abaixo do 0,84% do ano passado. Em 12 meses, a alta
recuou levemente de 4,51% para 4,5%. O fator sazonal foi o mais influente.
Educação, na volta às aulas, contribuiu com 0,29 ponto percentual para o
resultado, e, junto com o efeito da volta do ICMS cheio aos preços da gasolina
e do diesel, com participação de 0,14 ponto percentual, compôs metade da
variação do mês. Alimentos e bebidas explicam o resto do IPCA, no qual 7 dos 9
grupos de produtos apresentaram alta. Ao mesmo tempo, a pesquisa Focus, do
Banco Central, mostrou que a expectativa do IPCA no ano subiu de 3,76% para
3,77%. Nada disso indica que a inflação está subindo - ela está de fato caindo,
mas em um ritmo muito lento para a carga violenta de juros aplicada.
Não há alteração na trajetória descendente do
IPCA. O índice de fevereiro traz, em geral, boas notícias. O índice de difusão,
que mede a porcentagem dos preços em alta em relação ao total dos produtos,
caiu para 55,4% no período de 12 meses, segundo dados da MCM Consultores. Mais
importante, a inflação dos serviços subjacentes, com maior sensibilidade ao
ciclo econômico, que insinuaram alta em janeiro, voltou a recuar em fevereiro,
na comparação de 12 meses. Segundo a MCM, esse índice caiu de 5% para 4,89% nos
dois primeiros meses do ano, embora ainda esteja acima dos 4,82% de dezembro de
2023. Isso indica que não parece haver retomada altista, que os analistas
chegaram a pressentir com os números de janeiro, o que é bom, mas também que há
uma rigidez na queda, o que é ruim.
Na mais recente reunião do Comitê de Política
Monetária, o BC mostrou-se atento a uma possível aceleração da inflação
impulsionada pelos salários e pelo nível de desemprego, o mais baixo desde
2015. Para o setor de serviços em geral, essa ameaça ainda não se concretizou
de todo. Segundo a MCM, a difusão de alta dos preços no setor caiu para 60,5%,
enquanto os serviços domésticos recuaram nos últimos quatro meses - alta de
4,79% em fevereiro, ante 5,54% em dezembro. Os serviços de alimentação fora do
domicílio seguiram a mesma tendência.
No entanto, um sinal de alerta continua
aceso: os serviços intensivos em trabalho, sob foco de preocupação no BC. Em 12
meses, ele avançou 5,45%, o mais alto nível em sete meses, desde julho de 2023,
quando registrou 5,55%. Isso teve reflexo na média dos núcleos acompanhados
pelo BC, que foi a 0,5%, a maior desde maio passado. A aceleração pode ser
pontual. A mesma média, considerados 12 meses, é de 4%, a menor há muito tempo.
Não há ainda conforto no comportamento dos
preços. Pelo IPCA cheio em 12 meses, quatro grupos de produtos em nove estão
acima dos 6%, puxando o índice para cima. Habitação ficou na fronteira, com
variação de 4,4%, enquanto há deflação nos artigos residenciais, alta de 3,14%
no vestuário e acomodação em comunicação (1,27%). Um bom sinal é a menor alta
dos preços de alimentos e bebidas, de 2,82%, um item que, pelos efeitos do La
Niña, com a quebra de safra em alguns pontos do país, teria poder de empurrar
bem para cima a inflação, como se previu. Isso não ocorreu e vários analistas
reviram suas projeções do IPCA para baixo.
O motivo de a inflação de serviços não recuar
mais rapidamente é o mesmo pelo qual o crescimento da economia surpreendeu no
ano passado - o avanço da massa salarial e da renda impulsionado pelos
benefícios sociais e pelo avanço do emprego. A massa salarial, descontada a
inflação, deu um salto de dois dígitos em 2023, de 11,7%, o dobro do último ano
do governo Bolsonaro e o maior avanço desde 1995, no início do processo de
desinflação provocado pelo Plano Real (Folha de S. Paulo, 10 de março). Os
aumentos do Bolsa Família no governo anterior e os acréscimos no governo Lula
explicam em grande parte a evolução. A alta real do salário mínimo já sob a
gestão Lula, acompanhado da queda inflação causada pela política monetária
restritiva do Banco Central, complementa esse quadro.
Os estímulos fiscais, ao ampliar a renda
disponível, amorteceram a queda da inflação e se contrapõem ao aperto da
política monetária também nos países desenvolvidos. O índice de inflação ao
consumidor nos EUA subiu para 3,2% em fevereiro. O núcleo do IPC caiu pouco,
para 3,75%. O Fed deve manter a cautela e iniciar mais tarde a redução dos
juros, que muitos investidores agora só aguardam para o início do segundo
semestre. E, apesar de a economia estar enfraquecendo, a preocupação com a
evolução dos salários também retarda a reversão do ciclo monetário na zona do
euro.
O IPCA de fevereiro não muda a orientação do BC no curto prazo, de corte de 0,5 ponto percentual em duas reuniões. Sem um sinal mais incisivo de queda no índice e com sinais de aceleração nos gastos pelo governo federal, no entanto, ele tenderá a ser mais conservador e encerrar o ciclo de cortes da Selic antes, e com uma taxa terminal mais contracionista, de 9% - um juro real nocivo de 5,5%. O governo Lula poderia colaborar para melhorar o quadro, mas só está interessado em gastar mais.
Polarização ameaça debate eleitoral em SP
Folha de S. Paulo
Pré-candidatos deveriam deixar ideologia em
segundo plano e discutir o que aflige os paulistanos, como violência e saúde
A pertinaz polarização que permeia a política
nacional parece já engolfar a corrida eleitoral paulistana. Mesmo a sete meses
das eleições municipais, a dicotomia ganhou tração nos resultados da última
pesquisa Datafolha.
Os dois líderes da sondagem —o deputado
federal Guilherme Boulos (PSOL) e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB)— estão
empatados dentro da margem de erro com, respectivamente, 30% e
29% das intenções. Os demais pré-candidatos não chegam a dois dígitos.
Como é sabido e alardeado por ambos, Boulos é
o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto Nunes tem o
apoio do ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL). Os dois próceres personificam a
atual cisão política-eleitoral.
A bipartição do país, eivada por convicções
peremptórias e ideologias arraigadas que por vezes nublam o debate e obstruem
convergências mínimas, tende a ser ainda mais perniciosa quando transmutada
para o âmbito municipal.
Na cadeira de prefeito, as demandas a atender
vão além de polêmicas que recentemente inflamam setores da nação, como
legalizar o aborto e descriminalizar drogas. Quase sempre são mais palpáveis e
imediatas —e afetam diretamente o cotidiano dos cidadãos.
Nesse ponto, é sintomático que a segurança
pública, cuja responsabilidade compete em maior escala ao Executivo estadual,
seja o principal
problema da capital para 23% dos entrevistados no levantamento.
Saúde (16%), enchentes e canalizações (9%), transporte (7%) e zeladoria (5%)
vêm na sequência.
Há, sim, muito o que se fazer nessas searas.
O cuidado com a zeladoria, sobretudo na iluminação pública e conservação de
vias; os gastos em educação e lazer; e o papel a ser desempenhado pela Guarda
Civil Metropolitana são alguns exemplos diante de incúrias crônicas como a
cracolândia e a famigerada gatunagem de celulares.
Conceitos e doutrinas, sejam de esquerda ou
direita, também tendem a ser secundários quando se observa a explosão de
moradores de rua ou o déficit habitacional de 370 mil domicílios. O mesmo vale
para o futuro da cidade diante da mudança climática, que deve agravar a
frequência de enchentes.
Mais que posicionamentos morais de seus
representantes, interessa aos paulistanos saber como lidarão com o crescente
subsídio ao transporte coletivo, a falta de expansão dos corredores de ônibus
ou a fila para exames e cirurgias na rede pública de saúde.
Polarizações à parte, o que se espera ao
longo da campanha é que candidatos e eleitores —estes inclusive ao escolherem
os 55 vereadores— deixem de lado querelas ideológicas e atenham-se ao que de
fato pode ser feito por São Paulo.
Terremoto em Lisboa
Folha de S. Paulo
Pleito português mostra força da ultradireita
em meio a onda global de populismo
País cuja história tem no terremoto que
arrasou sua capital em 1755 um ponto central da confecção do caráter nacional,
Portugal vê-se ante novo sismo, guardadas as proporções, desta vez político.
Após quase nove anos no poder, o Partido
Socialista (PS) foi apeado do governo nas eleições legislativas. Com
quase todas as urnas apuradas, a sigla perdera 43 cadeiras no Parlamento,
chegando a 77 num plenário com 230 assentos.
A coalizão de direita Aliança Democrática
(AD), trinca centrada no histórico líder do campo conservador, o Partido Social
Democrata (PSD), elegeu 79 deputados.
Apesar de estar longe da maioria de 116
cadeiras, pela regra portuguesa a AD tem o direito de formar um governo, e seu
líder Luís Montenegro disse que irá fazê-lo. Aqui começam os seus problemas.
A grande novidade da eleição não foi o
tradicional dualismo luso, que oscilava entre governos conservadores e de
esquerda jogando dentro das regras, com constância, desde que o país abraçou a
democracia em 1974, após décadas de ditadura sob inspiração fascista.
Ela veio na forma de um fenômeno hoje
conhecido na antiga colônia, o Brasil, e mundo afora: o populismo radical de
direita. O Chega, partido surgido em 2019 com franca admiração por tipos como
Donald Trump e Jair Bolsonaro (PL), viu sua representação saltar de 12 para 48
deputados. Ato contínuo, seu líder, André Ventura, já
demanda participação no novo governo.
O impasse deverá gerar um período de
instabilidade não previsto para quem acompanhava os governos do premiê António
Costa, que renunciou em novembro devido a um escândalo de corrupção.
Desnecessário desenhar as semelhanças com o
caso brasileiro. No entanto é bom olhar além dos lamentos de ditos
progressistas: o pleito português teve 66,3% de comparecimento, o mais alto
índice em quase três décadas. Goste-se ou não, o povo falou nas urnas.
O desfecho do enredo ainda é desconhecido, mas, com Trump ameaçando voltar à Casa Branca e a renovada força de ultradireitistas até na Alemanha, é possível argumentar que a destrutiva onda populista de 2016 está em reforma.
Lula é isso aí
O Estado de S. Paulo
Sejamos claros, é disso que se trata: o
presidente quer obrigar a Petrobras a se dobrar à desbragada demagogia
lulopetista, tal como foi feito na Venezuela chavista com a PDVSA
Presidente quer obrigar a Petrobras a se
dobrar à desbragada demagogia lulopetista, tal como a Venezuela fez com a
PDVSA.
Lula da Silva acha que o problema do Brasil é
o mercado – aquele que, em suas palavras, “é um dinossauro voraz, que quer tudo
para ele e nada para o povo”. Em entrevista ao SBT, o presidente perguntou se o
mercado não tem “pena” de quem dorme na rua ou passa fome. Por isso, disse que
a Petrobras não deve apenas “pensar nos acionistas”, mas tem o dever de “pensar
em 200 milhões de brasileiros que são donos dessa empresa ou são sócios dessa
empresa”.
Ou seja, quando os mais ingênuos imaginavam
que o petista fosse aproveitar a oportunidade para apaziguar os ânimos diante
da crise deflagrada pela intervenção explícita do governo na distribuição de
dividendos extraordinários pela Petrobras, movimento que causou grande
apreensão entre os investidores, Lula resolve ser mais Lula que nunca.
Em vez de lamentar a resistência da Petrobras
em se autodestruir, Lula poderia resolver a questão facilmente, recomprando as
ações da empresa que estão em mãos privadas e fechar seu capital,
transformando-a em companhia 100% estatal. Poderia também recomprar a dívida
pública e, assim, não depender mais do malvado mercado para financiar o
governo.
Como se trata de uma utopia doidivanas que
esbarra na realidade das contas públicas, há a alternativa de tomar a
dinheirama que a Petrobras investe para melhorar sua produção e usá-la para
bancar grandes programas para dar casas a quem mora na rua e comida a quem
passa fome. Foi o que a ditadura chavista fez na Venezuela com a PDVSA, que era
uma das maiores petroleiras do mundo e que, depauperada pelo populismo dos
companheiros Chávez e Maduro, se tornou uma colossal sucata – e hoje quase 80%
dos venezuelanos vivem abaixo da linha de pobreza.
Sejamos claros, é disso que se trata: a
tentativa de transformar a Petrobras em instrumento a serviço da desbragada
demagogia lulopetista, tal como foi feito na Venezuela chavista. Por isso, as
ações da Petrobras, que até haviam ensaiado uma recuperação após terem
despencado na última sexta-feira, voltaram a cair, pois as novas declarações do
presidente confirmam algo que, até então, os investidores apenas intuíam: que
Lula nada esqueceu nem aprendeu e que, ao contrário, dobrará a aposta no
lulopetismo radical.
A entrevista mostrou que a essência do
pensamento lulopetista permanece intocada. Todas as empresas precisam se curvar
às vontades do governo, mesmo que essa vontade as coloque à beira da ruína,
como no passado recente. E pouco importa se elas já não pertencem integralmente
ao Estado, como é o caso da Petrobras.
Mesmo a Vale, que nem sequer conta com
participação direta do governo, terá de prestar contas ao chefão se não quiser
sofrer retaliações. E, se ainda restavam dúvidas sobre o caráter voluntarista
do governo, elas acabaram ontem, quando José Luciano Duarte Penido, membro
independente do Conselho de Administração da Vale, renunciou ao cargo
denunciando que há “evidente e nefasta influência política” na empresa. “Minha
atuação como conselheiro independente se torna totalmente ineficaz,
desagradável e frustrante”, afirmou Penido em carta.
O fato de que isso esteja acontecendo a olhos
vistos nas duas maiores empresas do País, que não apenas possuem o maior peso
na Bolsa de Valores, como sustentam a balança comercial brasileira, revela o
mal que faz Lula ao Brasil.
O presidente demonstra estar disposto a
degradar o valor das poucas companhias brasileiras capazes de competir no
exterior para impor sua visão econômica atrasada, autoritária e, sobretudo,
suicida.
Devolvemos a Lula sua pergunta: será que o
petista não tem pena das pessoas que passam fome e que dormem na sarjeta das
principais cidades do País? Se tem, passou da hora de começar a trabalhar de
maneira efetiva para combater a pobreza e assumir sua responsabilidade, e não
instrumentalizála como ativo eleitoral. É o que se espera do presidente da
República, e não da Petrobras ou qualquer outra empresa brasileira.
O longo caminho até a energia limpa
O Estado de S. Paulo
Escolha mais criteriosa dos países da América
Latina sobre o modelo de transição energética a ser seguido evitará dispêndio
de recursos públicos e privados em fontes limpas e inadequadas
A América Latina precisa investir US$ 1,3
trilhão ao ano para mitigar os efeitos da mudança climática e transitar para as
energias renováveis. A estimativa apresentada em recente evento em São Paulo
por Ilan Goldfajn, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
expõe um esforço muito além da capacidade orçamentária do conjunto dos governos
da região e a necessidade de atração do interesse do setor privado. Nada
prosperará, entretanto, sem uma criteriosa escolha das nações latino-americanas
do modelo de transição energética que lhe será mais adequado.
Investir o equivalente a 12% do Produto
Interno Bruto (PIB) a cada ano na agenda climática é impensável para uma região
desafiada pela desigualdade social, por gargalos ao desenvolvimento econômico,
pelos altos níveis de corrupção e de insegurança pública e limitada produção
científica e tecnológica. O BID, entretanto, antevê a agenda de transição
energética como oportunidade para transformação econômica latino-americana,
dado seu potencial de geração de energia limpa e de produção e exportação de
bens verdes. A avaliação não difere da linha seguida pelas autoridades da área
econômica do Brasil.
Não há dúvida de que o uso de fontes fósseis
– petróleo, carvão e gás natural – é a principal causa do aquecimento global, o
que lhes confere a condição de alvo central da agenda internacional de redução
das emissões de gases do efeito estufa. Também é inegável que a indústria do
petróleo continuará indispensável e que, possivelmente, terá papel relevante no
financiamento da transição energética. Por fim, o decréscimo do uso de fontes
fósseis e o aumento das fontes renováveis é uma realidade da qual nenhum país
pode escapar.
Mas o trilho a ser seguido, tanto no Brasil
como nos seus vizinhos e em outras partes do mundo, deve levar em conta de que
as principais fontes consideradas “limpas” – hidrelétrica, eólica, solar,
nuclear – não são exatamente limpas ou baratas em seu processo de produção. As
pás de usinas que geram energia eólica, por exemplo, ainda não são recicláveis.
Outras fontes, como o hidrogênio verde, demandam volumes consideráveis de água.
De forma geral, os países ainda têm de considerar o custo e o impacto da infraestrutura
necessária para qualquer uma dessas fontes alcançar os consumidores.
Soluções têm sido adotadas há anos pelos
setores público e privado sem que haja avaliação mais precisa sobre o quanto
efetivamente contribuirão ao longo do tempo para a redução das emissões de
gases do efeito estufa e, em especial, sobre seus efeitos ambientais de longo
prazo. Seguir as estrelas limpas do mercado internacional nem sempre é a melhor
escolha para países com recursos escassos e vulnerabilidades ambientais e
sociais, como os da América Latina. É preciso prudência redobrada.
Alguns embustes já são visíveis nesta etapa
inicial da transição energética. A escalada de venda de carros elétricos nos
Estados Unidos e na Europa pode ser vista como bem-vinda. No entanto, mais da
metade da matriz energética desses países tem origem no petróleo e no carvão.
Em outras palavras: a eletricidade que move os veículos por lá é
consideravelmente suja. A busca por painéis fotovoltaicos residenciais tem sido
acompanhada pelo acúmulo de unidades que chegaram ao fim de sua vida útil. Na
melhor hipótese, são despejados em galpões privados. Na pior, em lixões.
Não é diferente com as usinas eólicas.
Certamente, empresas trabalham em soluções tecnológicas para os aparatos
eólicos e solares receberem o selo verde e para o lixo ter destino
ambientalmente aceitável. Há, entretanto, gargalos até o momento intransponíveis,
como a limitação de recursos disponíveis nas instituições multilaterais para
financiar a transição energética. Tal fato aumenta a pressão sobre governos e
empresas por maior cuidado na escolha dos modelos alternativos à energia
fóssil. A agenda inescapável da mudança climática exige decisões pragmáticas na
América Latina.
Azar dos paulistanos
O Estado de S. Paulo
Eleição parece caminhar para o confronto
ideológico, longe dos interesses da cidade
Eles conseguiram. A julgar pelas pesquisas de
intenção de voto, Lula da Silva e Jair Bolsonaro transformaram a eleição para a
Prefeitura de São Paulo numa disputa não de ideias para melhorar a vida na
cidade, mas sim de ideologias deletérias, que dividem e atrasam o País. Que
azar dos paulistanos.
Há muito já estava claro que Lula e Bolsonaro
tentariam fazer da disputa pela capital paulista uma espécie de “terceiro
turno” da eleição presidencial de 2022. Como um não vive sem o outro, do ponto
de vista eleitoral, interessa a ambos explorar todas as possibilidades de
manter viva a polarização que tanto mal tem feito à sociedade. E que cenário
poderia ser mais atrativo para essa rinha particular do que a capital do maior
Estado do País?
Para as pretensões políticas de Lula e
Bolsonaro, a conquista da Prefeitura de São Paulo é fundamental. A cidade mais
rica do País, quarta maior metrópole do mundo, é, sem dúvida, uma luminosa
vitrine política com vistas à eleição geral de 2026. Bolsonaro está inelegível,
é claro. Mas eleger o prefeito de São Paulo, assim como elegeu o governador do
Estado, decerto aumentaria o custo político de seu abandono por aliados, além
de aumentar sua influência sobre a escolha do eventual adversário de Lula, caso
o petista decida concorrer à reeleição.
Lamentavelmente, os dois líderes nas
pesquisas de intenção de voto na cidade de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) e
Ricardo Nunes (MDB), compraram a briga de seus padrinhos políticos e dela
buscam tirar o melhor proveito. Os problemas da cidade que esperem por soluções
– se é que virão.
Divulgada no dia 11 passado, uma pesquisa do
Datafolha mostrou Boulos à frente, com 30% das intenções de voto. Nunes vem
logo em seguida, com 29% – o que configura empate técnico. Na terceira posição,
bem mais distante, aparece a deputada Tabata Amaral (PSB), com 8% das intenções
de voto. Evidentemente, há muito tempo até as eleições e esse cenário pode
mudar, mas será difícil. Afinal, Boulos e Nunes estão onde estão a essa altura
justamente pelos apoios que recebem de Lula e Bolsonaro, respectivamente. E por
isso também ambos têm altos índices de rejeição.
Assim, se nada mudar até outubro, os
eleitores paulistanos estarão submetidos à pior situação possível numa eleição:
ter de votar não no candidato que julgam ser o mais capacitado, mas naquele que
parece ter mais chances de derrotar o adversário indesejado.
Sem esconder que se sentem muito confortáveis
na posição de meros coadjuvantes, Boulos e Nunes indicam que as questões
relativas à vida da cidade serão meramente acessórias no decorrer da campanha
eleitoral. O busílis é que ideologia não tapa buraco, não faz semáforo
funcionar nem tampouco abre vaga em creche municipal.
Nem Lula nem Bolsonaro estão preocupados com esses problemas. Boulos e Nunes, ao que parece, também não. Resta aos munícipes torcer para que as pesquisas sejam apenas um retrato de momento, como costumam ser, e os paulistanos consigam escapar dessa armadilha.
É preciso defender as empresas brasileiras
Correio Braziliense
Depois de o setor siderúrgico alertar para os
efeitos da invasão de importados no setor produtivo nacional, agora é a vez de
a indústria química pressionar o governo para adotar tarifas adicionais sobre
itens importados
O governo vai ter que lidar com cada vez mais
queixas de empresários em relação aos produtos chineses. Para atender à pressão
do setor siderúrgico, abriu um processo de investigação de dumping contra as
siderúrgicas chinesas. Postergou a adoção de tarifas adicionais como pleiteiam
empresários do setor siderúrgico. Mas não escapa da pressão e terá de se
posicionar de forma mais firme se efetivamente quer defender os interesses da
indústria nacional.
Depois de o setor siderúrgico alertar para os
efeitos da invasão de importados no setor produtivo nacional, agora é a vez de
a indústria química pressionar o governo para adotar tarifas adicionais sobre
itens importados. Representantes do setor estiveram na sexta-feira no
Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para
discutir pautas do setor com o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin.
Mas o encontro, agendado para discutir a
política global e local de resíduos plásticos, acabou se transformando em
discussão sobre a necessidade de se adotar medidas em relação às importações
que no ano passado tiveram um crescimento de 30,9%, afetando as empresas
brasileiras que, juntas, respondem por 12% do PIB. A reivindicação da indústria
química é a mesma do setor siderúrgico, e ocorre em função de a China, com
menos crescimento econômico, despejar produtos no mundo ocidental, com maior
penetração em países que ainda não adotaram tarifas adicionais.
O governo age com cuidado por temor de que
tarifas adicionais tenham impacto sobre os índices de preços e também para não
se indispor com o maior cliente de nossas exportações. Mas essa não é uma
situação que possa se manter por um período longo, sob pena de as indústrias
nacionais demitirem e revisarem planos de investimentos. Até porque o governo
atendeu ao pleito da indústria automotiva em relação aos veículos elétricos e
híbridos, cuja importação disparou no ano passado.
Não se pode agir em favor de um setor em
detrimento de outros. No caso dos carros elétricos, o governo determinou a
elevação gradual da tarifa de importação até alcançar 35% em julho de 2026.
Essa decisão, associada ao Programa de Mobilidade Verde (Mover), levou o setor
automotivo a anunciar investimentos que superam R$ 100 bilhões nos próximos
anos. E a pergunta que se faz é se todo esse investimento vai ser feito com
insumos (aço e produtos químicos/plásticos) importados, com a geração de
empregos se dando fora do país.
É preciso estar atento sim ao impacto que a elevação da tarifa sobre produtos importados pode ter sobre os preços, mas também deve-se proteger a indústria nacional, considerando que o desenvolvimento e a produção de automóveis demanda toda uma cadeia de fornecedores que devem atuar de forma conjunta para desenvolver o mercado interno e se ajustar às mudanças climáticas. Todos os setores reconhecem no ministro Alckmin o interesse em equacionar os problemas, mas estamos perto de um quadro que exige mais do que apenas interesse. É preciso defender a indústria brasileira.
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