quarta-feira, 13 de março de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Lula mina a confiança no Brasil

O Globo

Ao intervir na Petrobras, presidente corrói credibilidade do mercado e prejudica desenvolvimento

Todo investidor sabe que a Petrobras é uma empresa de capital misto controlada pelo governo (que detém 37% do capital). Tampouco é novidade o presidente da petroleira ser escolhido também pelo governo. E os acionistas têm conhecimento das regras de governança que a protegem do risco de interferência do Palácio do Planalto. Afinal, ter o controle não significa poder fazer o que se quer a qualquer hora, nem mudar a direção dos negócios ao sabor das próprias vontades. Quando a governança enfraquece, a empresa perde valor e, com isso, entra em xeque a credibilidade do mercado de capitais brasileiro. É exatamente o que tem acontecido em razão das atitudes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Desde 2021, a Petrobras distribui entre os acionistas uma fatia extra dos lucros quando obtém bons resultados, os dividendos extraordinários. A expectativa de que voltassem a ser distribuídos neste ano alavancou as ações. O presidente da petroleira, Jean Paul Prates, defendia a distribuição de 50% do resultado extraordinário em dividendos, mas tal visão não prevaleceu no Conselho. Na semana passada, a Petrobras comunicou que pagaria apenas dividendos ordinários, mas nada de dividendo extraordinário. A reação foi previsível: a empresa perdeu R$ 55 bilhões em valor de mercado em um dia.

São nítidas as digitais de Lula na decisão. Ele encara a petroleira estatal como instrumento de política pública. Chamou de “choradeira” a desvalorização da empresa. “O mercado é um rinoceronte, dinossauro voraz que quer tudo para ele e nada para o povo. Será que o mercado não tem pena das pessoas que passam fome?”, afirmou. Tal declaração não tem nexo. O governo é o maior acionista da Petrobras. Uma empresa rentável traz mais recursos ao Tesouro, portanto mais verba para combater a fome e outras mazelas.

É certo que os governos do PT não foram os únicos a atacar a governança da Petrobras. Em 2021, Jair Bolsonaro chamou de “crime” o lucro da empresa e demitiu o então presidente, Roberto Castello Branco. A diferença das administrações petistas é o alcance. Basta lembrar que a Petrobras, no governo Dilma Rousseff, tinha a maior dívida corporativa do planeta — em torno de US$ 160 bilhões — e se tornou foco do maior escândalo de corrupção da História do Brasil. A partir do governo Michel Temer, com a aprovação da Lei das Estatais, a empresa adotou regras de governança mais rígidas para se proteger. Essa conquista está sob ataque.

O governo Lula quer voltar a um passado desastroso. A atual gestão suspendeu o exitoso programa de venda de ativos. Retomou investimentos no refino, entre eles a obra da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, outrora um dos maiores focos de corrupção. Quer recuperar o controle de outra refinaria privatizada em Mataripe. Destinou recursos à exploração de campos terrestres e fala até em voltar a operar postos de combustível. Nada disso faz sentido para uma empresa que precisará lidar com a transição para além dos combustíveis fósseis nas próximas décadas.

A investida de Lula não se restringe à Petrobras. Com base na visão de que grandes empresas devem se submeter aos desígnios do governo, ele tentou até indicar o novo CEO da Vale, uma empresa privada (a manobra foi detida). Cada movimento desses não só destrói valor, mas também corrói a credibilidade do capitalismo brasileiro, essencial para promover o desenvolvimento que Lula afirma defender.

Reforma do ensino médio satisfaz à demanda dos próprios estudantes

O Globo

Pesquisa constatou aprovação a maior flexibilidade curricular. Governo deveria acelerar implementação

Gestores, políticos, sindicatos, entidades estudantis e pais debatem há anos as mudanças aprovadas em 2017 no ensino médio, guiados por suposições a respeito do que pensam os jovens. Deveriam ouvi-los. Uma pesquisa encomendada ao Datafolha pelo movimento Todos Pela Educação mostra que a maioria dos jovens de 14 a 16 anos — ingressantes no ensino médio — defende alguma flexibilização no currículo, em sintonia com a reforma.

Os que reivindicam um currículo mais flexível somam 65%. Destes, 35% são favoráveis a uma escola que ofereça em parte do tempo as mesmas disciplinas a todos os alunos e, noutra, a oportunidade de aprofundar conhecimentos em matérias de maior interesse. Outros 30% defendem uma escola que combine disciplinas comuns e um curso técnico. Uma fatia de 35% é favorável ao modelo adotado antes da reforma: as mesmas disciplinas para todos os alunos.

O levantamento revela também que, embora o debate sobre as mudanças no ensino médio mobilize os meios educacionais e as redes sociais, a discussão ainda é tímida entre os estudantes. Apenas 8% dos entrevistados disseram estar “bem informados” sobre a questão, e 53% relataram não ter conhecimento.

O Ministério da Educação deveria dar atenção à pesquisa. Até agora, o governo, pressionado por sindicatos e grupos contrários, tem protelado a implantação da reforma aprovada no Congresso. Em abril do ano passado, o ministro da Educação, Camilo Santana, decidiu suspender o cronograma, sob o argumento de que as mudanças precisavam ser aperfeiçoadas. No fim do ano, foi enviado um Projeto de Lei ao Congresso, e lá permanece, porque o MEC se mostra incapaz de superar o impasse com os parlamentares em torno do tema.

É verdade que a reforma precisava de ajustes. Uma das críticas ao novo modelo é ele dedicar pouco tempo às disciplinas tradicionais e muito à parte flexível do currículo. Mas pequenas correções de rumo não podem servir de pretexto para jogar fora toda a reforma. O projeto que adormece no Congresso busca aperfeiçoá-la, mantendo os pontos positivos, como maior flexibilização, valorização do ensino técnico e currículos mais sintonizados com os interesses dos estudantes e as demandas do mercado de trabalho.

Governo e Congresso precisam entender que os próprios estudantes desejam ter liberdade para escolher o que querem estudar, evidentemente sem esquecer as disciplinas básicas. Estão em consonância com o espírito do novo ensino médio. É fundamental que o projeto avance, para que as mudanças sejam logo implementadas. Ganharão os estudantes, o mercado de trabalho e o Brasil.

IPCA recua em ritmo lento com pressão de serviços

Valor Econômico

Índice de fevereiro não muda orientação do BC, mas pode levá-lo a ser mais conservador e encerrar o ciclo com taxa mais contracionista

A inflação em fevereiro subiu um pouco mais que o esperado, 0,83%, abaixo do 0,84% do ano passado. Em 12 meses, a alta recuou levemente de 4,51% para 4,5%. O fator sazonal foi o mais influente. Educação, na volta às aulas, contribuiu com 0,29 ponto percentual para o resultado, e, junto com o efeito da volta do ICMS cheio aos preços da gasolina e do diesel, com participação de 0,14 ponto percentual, compôs metade da variação do mês. Alimentos e bebidas explicam o resto do IPCA, no qual 7 dos 9 grupos de produtos apresentaram alta. Ao mesmo tempo, a pesquisa Focus, do Banco Central, mostrou que a expectativa do IPCA no ano subiu de 3,76% para 3,77%. Nada disso indica que a inflação está subindo - ela está de fato caindo, mas em um ritmo muito lento para a carga violenta de juros aplicada.

Não há alteração na trajetória descendente do IPCA. O índice de fevereiro traz, em geral, boas notícias. O índice de difusão, que mede a porcentagem dos preços em alta em relação ao total dos produtos, caiu para 55,4% no período de 12 meses, segundo dados da MCM Consultores. Mais importante, a inflação dos serviços subjacentes, com maior sensibilidade ao ciclo econômico, que insinuaram alta em janeiro, voltou a recuar em fevereiro, na comparação de 12 meses. Segundo a MCM, esse índice caiu de 5% para 4,89% nos dois primeiros meses do ano, embora ainda esteja acima dos 4,82% de dezembro de 2023. Isso indica que não parece haver retomada altista, que os analistas chegaram a pressentir com os números de janeiro, o que é bom, mas também que há uma rigidez na queda, o que é ruim.

Na mais recente reunião do Comitê de Política Monetária, o BC mostrou-se atento a uma possível aceleração da inflação impulsionada pelos salários e pelo nível de desemprego, o mais baixo desde 2015. Para o setor de serviços em geral, essa ameaça ainda não se concretizou de todo. Segundo a MCM, a difusão de alta dos preços no setor caiu para 60,5%, enquanto os serviços domésticos recuaram nos últimos quatro meses - alta de 4,79% em fevereiro, ante 5,54% em dezembro. Os serviços de alimentação fora do domicílio seguiram a mesma tendência.

No entanto, um sinal de alerta continua aceso: os serviços intensivos em trabalho, sob foco de preocupação no BC. Em 12 meses, ele avançou 5,45%, o mais alto nível em sete meses, desde julho de 2023, quando registrou 5,55%. Isso teve reflexo na média dos núcleos acompanhados pelo BC, que foi a 0,5%, a maior desde maio passado. A aceleração pode ser pontual. A mesma média, considerados 12 meses, é de 4%, a menor há muito tempo.

Não há ainda conforto no comportamento dos preços. Pelo IPCA cheio em 12 meses, quatro grupos de produtos em nove estão acima dos 6%, puxando o índice para cima. Habitação ficou na fronteira, com variação de 4,4%, enquanto há deflação nos artigos residenciais, alta de 3,14% no vestuário e acomodação em comunicação (1,27%). Um bom sinal é a menor alta dos preços de alimentos e bebidas, de 2,82%, um item que, pelos efeitos do La Niña, com a quebra de safra em alguns pontos do país, teria poder de empurrar bem para cima a inflação, como se previu. Isso não ocorreu e vários analistas reviram suas projeções do IPCA para baixo.

O motivo de a inflação de serviços não recuar mais rapidamente é o mesmo pelo qual o crescimento da economia surpreendeu no ano passado - o avanço da massa salarial e da renda impulsionado pelos benefícios sociais e pelo avanço do emprego. A massa salarial, descontada a inflação, deu um salto de dois dígitos em 2023, de 11,7%, o dobro do último ano do governo Bolsonaro e o maior avanço desde 1995, no início do processo de desinflação provocado pelo Plano Real (Folha de S. Paulo, 10 de março). Os aumentos do Bolsa Família no governo anterior e os acréscimos no governo Lula explicam em grande parte a evolução. A alta real do salário mínimo já sob a gestão Lula, acompanhado da queda inflação causada pela política monetária restritiva do Banco Central, complementa esse quadro.

Os estímulos fiscais, ao ampliar a renda disponível, amorteceram a queda da inflação e se contrapõem ao aperto da política monetária também nos países desenvolvidos. O índice de inflação ao consumidor nos EUA subiu para 3,2% em fevereiro. O núcleo do IPC caiu pouco, para 3,75%. O Fed deve manter a cautela e iniciar mais tarde a redução dos juros, que muitos investidores agora só aguardam para o início do segundo semestre. E, apesar de a economia estar enfraquecendo, a preocupação com a evolução dos salários também retarda a reversão do ciclo monetário na zona do euro.

O IPCA de fevereiro não muda a orientação do BC no curto prazo, de corte de 0,5 ponto percentual em duas reuniões. Sem um sinal mais incisivo de queda no índice e com sinais de aceleração nos gastos pelo governo federal, no entanto, ele tenderá a ser mais conservador e encerrar o ciclo de cortes da Selic antes, e com uma taxa terminal mais contracionista, de 9% - um juro real nocivo de 5,5%. O governo Lula poderia colaborar para melhorar o quadro, mas só está interessado em gastar mais.

Polarização ameaça debate eleitoral em SP

Folha de S. Paulo

Pré-candidatos deveriam deixar ideologia em segundo plano e discutir o que aflige os paulistanos, como violência e saúde

A pertinaz polarização que permeia a política nacional parece já engolfar a corrida eleitoral paulistana. Mesmo a sete meses das eleições municipais, a dicotomia ganhou tração nos resultados da última pesquisa Datafolha.

Os dois líderes da sondagem —o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB)— estão empatados dentro da margem de erro com, respectivamente, 30% e 29% das intenções. Os demais pré-candidatos não chegam a dois dígitos.

Como é sabido e alardeado por ambos, Boulos é o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto Nunes tem o apoio do ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL). Os dois próceres personificam a atual cisão política-eleitoral.

A bipartição do país, eivada por convicções peremptórias e ideologias arraigadas que por vezes nublam o debate e obstruem convergências mínimas, tende a ser ainda mais perniciosa quando transmutada para o âmbito municipal.

Na cadeira de prefeito, as demandas a atender vão além de polêmicas que recentemente inflamam setores da nação, como legalizar o aborto e descriminalizar drogas. Quase sempre são mais palpáveis e imediatas —e afetam diretamente o cotidiano dos cidadãos.

Nesse ponto, é sintomático que a segurança pública, cuja responsabilidade compete em maior escala ao Executivo estadual, seja o principal problema da capital para 23% dos entrevistados no levantamento. Saúde (16%), enchentes e canalizações (9%), transporte (7%) e zeladoria (5%) vêm na sequência.

Há, sim, muito o que se fazer nessas searas. O cuidado com a zeladoria, sobretudo na iluminação pública e conservação de vias; os gastos em educação e lazer; e o papel a ser desempenhado pela Guarda Civil Metropolitana são alguns exemplos diante de incúrias crônicas como a cracolândia e a famigerada gatunagem de celulares.

Conceitos e doutrinas, sejam de esquerda ou direita, também tendem a ser secundários quando se observa a explosão de moradores de rua ou o déficit habitacional de 370 mil domicílios. O mesmo vale para o futuro da cidade diante da mudança climática, que deve agravar a frequência de enchentes.

Mais que posicionamentos morais de seus representantes, interessa aos paulistanos saber como lidarão com o crescente subsídio ao transporte coletivo, a falta de expansão dos corredores de ônibus ou a fila para exames e cirurgias na rede pública de saúde.

Polarizações à parte, o que se espera ao longo da campanha é que candidatos e eleitores —estes inclusive ao escolherem os 55 vereadores— deixem de lado querelas ideológicas e atenham-se ao que de fato pode ser feito por São Paulo.

Terremoto em Lisboa

Folha de S. Paulo

Pleito português mostra força da ultradireita em meio a onda global de populismo

País cuja história tem no terremoto que arrasou sua capital em 1755 um ponto central da confecção do caráter nacional, Portugal vê-se ante novo sismo, guardadas as proporções, desta vez político.

Após quase nove anos no poder, o Partido Socialista (PS) foi apeado do governo nas eleições legislativas. Com quase todas as urnas apuradas, a sigla perdera 43 cadeiras no Parlamento, chegando a 77 num plenário com 230 assentos.

A coalizão de direita Aliança Democrática (AD), trinca centrada no histórico líder do campo conservador, o Partido Social Democrata (PSD), elegeu 79 deputados.

Apesar de estar longe da maioria de 116 cadeiras, pela regra portuguesa a AD tem o direito de formar um governo, e seu líder Luís Montenegro disse que irá fazê-lo. Aqui começam os seus problemas.

A grande novidade da eleição não foi o tradicional dualismo luso, que oscilava entre governos conservadores e de esquerda jogando dentro das regras, com constância, desde que o país abraçou a democracia em 1974, após décadas de ditadura sob inspiração fascista.

Ela veio na forma de um fenômeno hoje conhecido na antiga colônia, o Brasil, e mundo afora: o populismo radical de direita. O Chega, partido surgido em 2019 com franca admiração por tipos como Donald Trump e Jair Bolsonaro (PL), viu sua representação saltar de 12 para 48 deputados. Ato contínuo, seu líder, André Ventura, já demanda participação no novo governo.

O impasse deverá gerar um período de instabilidade não previsto para quem acompanhava os governos do premiê António Costa, que renunciou em novembro devido a um escândalo de corrupção.

Desnecessário desenhar as semelhanças com o caso brasileiro. No entanto é bom olhar além dos lamentos de ditos progressistas: o pleito português teve 66,3% de comparecimento, o mais alto índice em quase três décadas. Goste-se ou não, o povo falou nas urnas.

O desfecho do enredo ainda é desconhecido, mas, com Trump ameaçando voltar à Casa Branca e a renovada força de ultradireitistas até na Alemanha, é possível argumentar que a destrutiva onda populista de 2016 está em reforma.

Lula é isso aí

O Estado de S. Paulo

Sejamos claros, é disso que se trata: o presidente quer obrigar a Petrobras a se dobrar à desbragada demagogia lulopetista, tal como foi feito na Venezuela chavista com a PDVSA

Presidente quer obrigar a Petrobras a se dobrar à desbragada demagogia lulopetista, tal como a Venezuela fez com a PDVSA.

Lula da Silva acha que o problema do Brasil é o mercado – aquele que, em suas palavras, “é um dinossauro voraz, que quer tudo para ele e nada para o povo”. Em entrevista ao SBT, o presidente perguntou se o mercado não tem “pena” de quem dorme na rua ou passa fome. Por isso, disse que a Petrobras não deve apenas “pensar nos acionistas”, mas tem o dever de “pensar em 200 milhões de brasileiros que são donos dessa empresa ou são sócios dessa empresa”.

Ou seja, quando os mais ingênuos imaginavam que o petista fosse aproveitar a oportunidade para apaziguar os ânimos diante da crise deflagrada pela intervenção explícita do governo na distribuição de dividendos extraordinários pela Petrobras, movimento que causou grande apreensão entre os investidores, Lula resolve ser mais Lula que nunca.

Em vez de lamentar a resistência da Petrobras em se autodestruir, Lula poderia resolver a questão facilmente, recomprando as ações da empresa que estão em mãos privadas e fechar seu capital, transformando-a em companhia 100% estatal. Poderia também recomprar a dívida pública e, assim, não depender mais do malvado mercado para financiar o governo.

Como se trata de uma utopia doidivanas que esbarra na realidade das contas públicas, há a alternativa de tomar a dinheirama que a Petrobras investe para melhorar sua produção e usá-la para bancar grandes programas para dar casas a quem mora na rua e comida a quem passa fome. Foi o que a ditadura chavista fez na Venezuela com a PDVSA, que era uma das maiores petroleiras do mundo e que, depauperada pelo populismo dos companheiros Chávez e Maduro, se tornou uma colossal sucata – e hoje quase 80% dos venezuelanos vivem abaixo da linha de pobreza.

Sejamos claros, é disso que se trata: a tentativa de transformar a Petrobras em instrumento a serviço da desbragada demagogia lulopetista, tal como foi feito na Venezuela chavista. Por isso, as ações da Petrobras, que até haviam ensaiado uma recuperação após terem despencado na última sexta-feira, voltaram a cair, pois as novas declarações do presidente confirmam algo que, até então, os investidores apenas intuíam: que Lula nada esqueceu nem aprendeu e que, ao contrário, dobrará a aposta no lulopetismo radical.

A entrevista mostrou que a essência do pensamento lulopetista permanece intocada. Todas as empresas precisam se curvar às vontades do governo, mesmo que essa vontade as coloque à beira da ruína, como no passado recente. E pouco importa se elas já não pertencem integralmente ao Estado, como é o caso da Petrobras.

Mesmo a Vale, que nem sequer conta com participação direta do governo, terá de prestar contas ao chefão se não quiser sofrer retaliações. E, se ainda restavam dúvidas sobre o caráter voluntarista do governo, elas acabaram ontem, quando José Luciano Duarte Penido, membro independente do Conselho de Administração da Vale, renunciou ao cargo denunciando que há “evidente e nefasta influência política” na empresa. “Minha atuação como conselheiro independente se torna totalmente ineficaz, desagradável e frustrante”, afirmou Penido em carta.

O fato de que isso esteja acontecendo a olhos vistos nas duas maiores empresas do País, que não apenas possuem o maior peso na Bolsa de Valores, como sustentam a balança comercial brasileira, revela o mal que faz Lula ao Brasil.

O presidente demonstra estar disposto a degradar o valor das poucas companhias brasileiras capazes de competir no exterior para impor sua visão econômica atrasada, autoritária e, sobretudo, suicida.

Devolvemos a Lula sua pergunta: será que o petista não tem pena das pessoas que passam fome e que dormem na sarjeta das principais cidades do País? Se tem, passou da hora de começar a trabalhar de maneira efetiva para combater a pobreza e assumir sua responsabilidade, e não instrumentalizála como ativo eleitoral. É o que se espera do presidente da República, e não da Petrobras ou qualquer outra empresa brasileira.

O longo caminho até a energia limpa

O Estado de S. Paulo

Escolha mais criteriosa dos países da América Latina sobre o modelo de transição energética a ser seguido evitará dispêndio de recursos públicos e privados em fontes limpas e inadequadas

A América Latina precisa investir US$ 1,3 trilhão ao ano para mitigar os efeitos da mudança climática e transitar para as energias renováveis. A estimativa apresentada em recente evento em São Paulo por Ilan Goldfajn, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), expõe um esforço muito além da capacidade orçamentária do conjunto dos governos da região e a necessidade de atração do interesse do setor privado. Nada prosperará, entretanto, sem uma criteriosa escolha das nações latino-americanas do modelo de transição energética que lhe será mais adequado.

Investir o equivalente a 12% do Produto Interno Bruto (PIB) a cada ano na agenda climática é impensável para uma região desafiada pela desigualdade social, por gargalos ao desenvolvimento econômico, pelos altos níveis de corrupção e de insegurança pública e limitada produção científica e tecnológica. O BID, entretanto, antevê a agenda de transição energética como oportunidade para transformação econômica latino-americana, dado seu potencial de geração de energia limpa e de produção e exportação de bens verdes. A avaliação não difere da linha seguida pelas autoridades da área econômica do Brasil.

Não há dúvida de que o uso de fontes fósseis – petróleo, carvão e gás natural – é a principal causa do aquecimento global, o que lhes confere a condição de alvo central da agenda internacional de redução das emissões de gases do efeito estufa. Também é inegável que a indústria do petróleo continuará indispensável e que, possivelmente, terá papel relevante no financiamento da transição energética. Por fim, o decréscimo do uso de fontes fósseis e o aumento das fontes renováveis é uma realidade da qual nenhum país pode escapar.

Mas o trilho a ser seguido, tanto no Brasil como nos seus vizinhos e em outras partes do mundo, deve levar em conta de que as principais fontes consideradas “limpas” – hidrelétrica, eólica, solar, nuclear – não são exatamente limpas ou baratas em seu processo de produção. As pás de usinas que geram energia eólica, por exemplo, ainda não são recicláveis. Outras fontes, como o hidrogênio verde, demandam volumes consideráveis de água. De forma geral, os países ainda têm de considerar o custo e o impacto da infraestrutura necessária para qualquer uma dessas fontes alcançar os consumidores.

Soluções têm sido adotadas há anos pelos setores público e privado sem que haja avaliação mais precisa sobre o quanto efetivamente contribuirão ao longo do tempo para a redução das emissões de gases do efeito estufa e, em especial, sobre seus efeitos ambientais de longo prazo. Seguir as estrelas limpas do mercado internacional nem sempre é a melhor escolha para países com recursos escassos e vulnerabilidades ambientais e sociais, como os da América Latina. É preciso prudência redobrada.

Alguns embustes já são visíveis nesta etapa inicial da transição energética. A escalada de venda de carros elétricos nos Estados Unidos e na Europa pode ser vista como bem-vinda. No entanto, mais da metade da matriz energética desses países tem origem no petróleo e no carvão. Em outras palavras: a eletricidade que move os veículos por lá é consideravelmente suja. A busca por painéis fotovoltaicos residenciais tem sido acompanhada pelo acúmulo de unidades que chegaram ao fim de sua vida útil. Na melhor hipótese, são despejados em galpões privados. Na pior, em lixões.

Não é diferente com as usinas eólicas. Certamente, empresas trabalham em soluções tecnológicas para os aparatos eólicos e solares receberem o selo verde e para o lixo ter destino ambientalmente aceitável. Há, entretanto, gargalos até o momento intransponíveis, como a limitação de recursos disponíveis nas instituições multilaterais para financiar a transição energética. Tal fato aumenta a pressão sobre governos e empresas por maior cuidado na escolha dos modelos alternativos à energia fóssil. A agenda inescapável da mudança climática exige decisões pragmáticas na América Latina.

Azar dos paulistanos

O Estado de S. Paulo

Eleição parece caminhar para o confronto ideológico, longe dos interesses da cidade

Eles conseguiram. A julgar pelas pesquisas de intenção de voto, Lula da Silva e Jair Bolsonaro transformaram a eleição para a Prefeitura de São Paulo numa disputa não de ideias para melhorar a vida na cidade, mas sim de ideologias deletérias, que dividem e atrasam o País. Que azar dos paulistanos.

Há muito já estava claro que Lula e Bolsonaro tentariam fazer da disputa pela capital paulista uma espécie de “terceiro turno” da eleição presidencial de 2022. Como um não vive sem o outro, do ponto de vista eleitoral, interessa a ambos explorar todas as possibilidades de manter viva a polarização que tanto mal tem feito à sociedade. E que cenário poderia ser mais atrativo para essa rinha particular do que a capital do maior Estado do País?

Para as pretensões políticas de Lula e Bolsonaro, a conquista da Prefeitura de São Paulo é fundamental. A cidade mais rica do País, quarta maior metrópole do mundo, é, sem dúvida, uma luminosa vitrine política com vistas à eleição geral de 2026. Bolsonaro está inelegível, é claro. Mas eleger o prefeito de São Paulo, assim como elegeu o governador do Estado, decerto aumentaria o custo político de seu abandono por aliados, além de aumentar sua influência sobre a escolha do eventual adversário de Lula, caso o petista decida concorrer à reeleição.

Lamentavelmente, os dois líderes nas pesquisas de intenção de voto na cidade de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB), compraram a briga de seus padrinhos políticos e dela buscam tirar o melhor proveito. Os problemas da cidade que esperem por soluções – se é que virão.

Divulgada no dia 11 passado, uma pesquisa do Datafolha mostrou Boulos à frente, com 30% das intenções de voto. Nunes vem logo em seguida, com 29% – o que configura empate técnico. Na terceira posição, bem mais distante, aparece a deputada Tabata Amaral (PSB), com 8% das intenções de voto. Evidentemente, há muito tempo até as eleições e esse cenário pode mudar, mas será difícil. Afinal, Boulos e Nunes estão onde estão a essa altura justamente pelos apoios que recebem de Lula e Bolsonaro, respectivamente. E por isso também ambos têm altos índices de rejeição.

Assim, se nada mudar até outubro, os eleitores paulistanos estarão submetidos à pior situação possível numa eleição: ter de votar não no candidato que julgam ser o mais capacitado, mas naquele que parece ter mais chances de derrotar o adversário indesejado.

Sem esconder que se sentem muito confortáveis na posição de meros coadjuvantes, Boulos e Nunes indicam que as questões relativas à vida da cidade serão meramente acessórias no decorrer da campanha eleitoral. O busílis é que ideologia não tapa buraco, não faz semáforo funcionar nem tampouco abre vaga em creche municipal.

Nem Lula nem Bolsonaro estão preocupados com esses problemas. Boulos e Nunes, ao que parece, também não. Resta aos munícipes torcer para que as pesquisas sejam apenas um retrato de momento, como costumam ser, e os paulistanos consigam escapar dessa armadilha.

É preciso defender as empresas brasileiras

Correio Braziliense

Depois de o setor siderúrgico alertar para os efeitos da invasão de importados no setor produtivo nacional, agora é a vez de a indústria química pressionar o governo para adotar tarifas adicionais sobre itens importados

O governo vai ter que lidar com cada vez mais queixas de empresários em relação aos produtos chineses. Para atender à pressão do setor siderúrgico, abriu um processo de investigação de dumping contra as siderúrgicas chinesas. Postergou a adoção de tarifas adicionais como pleiteiam empresários do setor siderúrgico. Mas não escapa da pressão e terá de se posicionar de forma mais firme se efetivamente quer defender os interesses da indústria nacional.

Depois de o setor siderúrgico alertar para os efeitos da invasão de importados no setor produtivo nacional, agora é a vez de a indústria química pressionar o governo para adotar tarifas adicionais sobre itens importados. Representantes do setor estiveram na sexta-feira no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para discutir pautas do setor com o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin.

Mas o encontro, agendado para discutir a política global e local de resíduos plásticos, acabou se transformando em discussão sobre a necessidade de se adotar medidas em relação às importações que no ano passado tiveram um crescimento de 30,9%, afetando as empresas brasileiras que, juntas, respondem por 12% do PIB. A reivindicação da indústria química é a mesma do setor siderúrgico, e ocorre em função de a China, com menos crescimento econômico, despejar produtos no mundo ocidental, com maior penetração em países que ainda não adotaram tarifas adicionais.

O governo age com cuidado por temor de que tarifas adicionais tenham impacto sobre os índices de preços e também para não se indispor com o maior cliente de nossas exportações. Mas essa não é uma situação que possa se manter por um período longo, sob pena de as indústrias nacionais demitirem e revisarem planos de investimentos. Até porque o governo atendeu ao pleito da indústria automotiva em relação aos veículos elétricos e híbridos, cuja importação disparou no ano passado.

Não se pode agir em favor de um setor em detrimento de outros. No caso dos carros elétricos, o governo determinou a elevação gradual da tarifa de importação até alcançar 35% em julho de 2026. Essa decisão, associada ao Programa de Mobilidade Verde (Mover), levou o setor automotivo a anunciar investimentos que superam R$ 100 bilhões nos próximos anos. E a pergunta que se faz é se todo esse investimento vai ser feito com insumos (aço e produtos químicos/plásticos) importados, com a geração de empregos se dando fora do país.

É preciso estar atento sim ao impacto que a elevação da tarifa sobre produtos importados pode ter sobre os preços, mas também deve-se proteger a indústria nacional, considerando que o desenvolvimento e a produção de automóveis demanda toda uma cadeia de fornecedores que devem atuar de forma conjunta para desenvolver o mercado interno e se ajustar às mudanças climáticas. Todos os setores reconhecem no ministro Alckmin o interesse em equacionar os problemas, mas estamos perto de um quadro que exige mais do que apenas interesse. É preciso defender a indústria brasileira.

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