Folha de S. Paulo
Após muita fofoca e politiquice, ainda falta
contar o básico da decisão da empresa
O vexame da Petrobras amainou.
O que aconteceu, ainda não se sabe, apesar de quatro dias de fofoca rasteira,
vazamento talvez criminoso de rumores que influenciam preços, plantação de
notícias e guerra de facções no governo a respeito do motivo de a empresa não ter pago
dividendos extraordinários.
Ou melhor, do motivo de a maioria governista
do Conselho de Administração ter votado
contra tal distribuição adicional de lucros.
De novidades relevantes, até agora, tem-se
que Fernando
Haddad, o ministro da Fazenda, foi chamado ou interveio para
racionalizar o sururu, outra vez, e ganhou uma
cadeira no Conselho da companhia; que a empresa vai reapresentar
contas que baseiem a decisão de pagar ou não os tais dividendos extras.
Não pagar pode ser até uma decisão razoável. A perspectiva, até sexta-feira passada, era que algum extra seria pago, hipótese baseada em apresentação que a direção da Petrobras no final de janeiro, em Nova York, para investidores. Mais sobre isso mais adiante.
O vexame foi bananeiro por motivos
fundamentais, afora fofoca e vazamentos. Em pânico no final da semana, por
causa do derretimento das ações, o governo fez reunião de cúpula na
segunda-feira (11) para discutir o assunto.
Quer dizer que a maioria governista do
Conselho não sabia o que havia feito? Não sabia que haveria o tombaço? Não
conversou com o governo, ao menos para fornecer "background
político", explicar as consequências e estar pronta para apresentar os
motivos da decisão?
O preço das ações não caiu por causa de
"temores dos investidores" (ou não apenas por causa disso). Caiu
porque parte grande dos acionistas descontou do preço o dinheiro que saiu da
mesa (dividendos extras previsíveis); em parte, talvez, caiu porque ficou ainda
mais fácil imaginar que talvez o governo meta a mão na empresa (vide o
histórico da Petrobras, as tentativas de "dedazo" na Vale,
o desejo de voltar a mandar na Eletrobras etc.).
No encontro com investidores
em Nova York, no final de janeiro ("Deep Dive", mergulho
profundo), a direção da empresa fez detalhada apresentação da situação da
empresa e da regulação brasileira. Não estava
O que se disse por lá "fez preço".
Não foi uma promessa vulgar de dar um dinheirão extra para acionistas.
Apresentou um argumento, goste-se ou não.
Para simplificar muito, se disse que o
pagamento de dividendos depende de uma perspectiva de médio prazo, uns 24
meses, conservadora, sobre o que será do fluxo de caixa, do nível ótimo do
caixa, do nível de dívida e da necessidade de executar o plano quinquenal de
investimentos. Disse que governo ("controlador") e acionistas
minoritários estavam de acordo com a estratégia de pagar o máximo possível de
dividendos, dadas aquelas condições.
Mais, se disse que a perspectiva para os
próximos 24 meses estava nos conformes. Isto é, estimava-se que os
investimentos de 2024-2028 seriam financiados com fluxo de caixa operacional;
que a empresa não precisaria se endividar relativamente mais para executá-lo,
que a dívida ficaria em torno de US$ 60 bilhões.
Quem coloca dinheiro na Petrobras fez contas
já no início de fevereiro, baseando-se no que ouviu e em estimativas próprias
de resultado do quarto trimestre, que seriam divulgadas dali a um mês.
Muita gente graúda chegou à conclusão de que
a empresa pagaria cerca de R$ 20 bilhões extras, número próximo do sugerido
pela direção da empresa, vetado pelos integrantes governistas do Conselho.
O que o Conselho viu que a direção não viu
para justificar o veto ao dividendo extra? Ou o que ouviu? De quem? Por quê?
Esse é o rolo. Essa é a explicação séria que
a empresa tem de dar.
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