Folha de S. Paulo
Partidos da direita radical da Europa
Ocidental são menos tóxicos do que os de outras partes do mundo
O Chega, partido de extrema direita de Portugal,
foi o grande
vitorioso no pleito do último domingo (10). A sigla saltou de
12 para 48 deputados, quadruplicando
sua representação. Deve, porém, ficar fora do governo. É que a
coalizão de centro-direita que deverá ser convidada a formar o próximo governo
promete excluir os extremistas das negociações. Vamos torcer para que consiga.
Extremismo e democracia são duas coisas que não combinam
muito bem.
De todo modo, é importante notar que, na ecologia das extremas direitas, a variante que prevalece na Europa Ocidental é menos tóxica que suas congêneres das Américas e do Leste Europeu. O "menos tóxica" aqui está, ao menos para mim, longe de significar aceitável. A pauta dessas legendas é anti-Europa, anti-imigração e anti-Islã. Elas fazem apelos vagos aos "valores tradicionais" e dão pouca ênfase à agenda ambiental, quando não a combatem abertamente.
Mas, como observou Adam
Przeworski, em artigo
recente publicado pela Folha, esses partidos não violam as
regras básicas da democracia. Giorgia
Meloni, a premiê da Itália,
que pertence a uma legenda com origens no fascismo, não cruzou nenhuma linha
vermelha. Até moderou seus apetites anti-Europa. Na mesma linha vão outras
agremiações extremistas que obtiveram importantes ganhos eleitorais nos últimos
tempos, como o PVV do holandês Geert Wilders,
os Democratas Suecos, o FPO austríaco, o SVP suíço e a RN francesa, de Marine Le Pen.
É um contraste gritante com Trump e
Bolsonaro, que se envolveram em tentativas violentas de insurreição. É uma
discrepância também com Viktor Orbán,
o premiê húngaro que aprimorou a tecnologia da erosão democrática.
O porquê da diferença é uma questão em aberto. Acho que tem a ver com o grau de maturidade das instituições, mas não é só. Já que não conseguiremos acabar com a extrema direita, seria bom saber o que a faz não conspirar contra a democracia.
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