segunda-feira, 28 de abril de 2014

Opinião do dia: Luiz Werneck Vianna

O economicismo, ideologia reinante entre nós, fruto nativo do nosso longevo processo de modernização, retruca com acidez aos argumentos que lhe são estranhos com o bordão "é a economia, estúpido!", com o que filosofa sub-repticiamente, identificando o homem real com o consumidor, e não com o cidadão, a seu juízo uma simples abstração.

Nessa visão rústica da dimensão do interesse, somente o que importa é o bolso, o poder de compra, e as ideias e as crenças de nada valem, dando as costas a lições de clássicos como Marx e Weber, que estudaram seu papel na produção da vida material. Basta lembrar a análise do primeiro sobre a ética calvinista e a formação do espírito do capitalismo e a afirmação do segundo sobre como as ideias podem se tornar uma força material.

Alexis de Tocqueville, em sua obra-prima dedicada ao estudo da Revolução Francesa, O Antigo Regime e a Revolução, demonstrou não só a importância para a produção daquele evento, capital na passagem para o mundo moderno, do papel das ideias e dos intelectuais - os iluministas que forjaram o conceito de direito natural com base na Razão -, como expôs, com base em sólida empiria, o processo especificamente político com que a monarquia se teria isolado da sua sociedade, em particular do Terceiro Estado, a sociedade civil da época. E sem deixar de registrar que, às vésperas da revolução, a França estaria conhecendo um bom momento em sua economia, e que o campesinato - personagem decisivo naqueles acontecimentos - estaria experimentando um inédito movimento de acesso à terra.

Entre nós, desde que se fixou a hegemonia do viés economicista no senso comum, para o que a influência do marketing político tem sido considerável, toldando a percepção do que é próprio à política como o lugar da produção de consenso e de legitimação do poder incumbente, nada de surpreendente que ela venha sendo degradada a um mero registro desconexo de questões de bagatelas.

Luiz Werneck Vianna é professor pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Está esquisito, O Estado de S. Paulo, 27 de abril de 2014

Despesas da Petrobras com Pasadena já chegam a US$ 1,93 bilhão

Além de US$ 1,2 bi para comprar a refinaria, estatal precisou investir para manter refino na unidade

Vinicius Sassine, Chico de Gois e Danilo Fariello – O Globo

BRASÍLIA - O gasto da Petrobras com a refinaria de Pasadena, no Texas, chega a US$ 1,934 bilhão, se somados todos os valores mencionados por gestores da estatal em apresentações internas obtidas pelo GLOBO. O montante equivale ao custo da compra do empreendimento, de US$ 1,249 bilhão, mais as despesas para manter o refino de petróleo numa unidade sucateada.

Em setembro de 2008, numa exposição de dados confidenciais à diretoria executiva da empresa, técnicos informaram que os gastos com a refinaria, até novembro daquele ano, somavam US$ 650 milhões, incluído o montante desembolsado para a compra dos primeiros 50% do empreendimento, de US$ 343 milhões. A segunda metade, depois de uma longa disputa judicial, saiu por US$ 820,5 milhões.

Mais US$ 275 milhões deveriam ser gastos em "sustentabilidade", entre 2009 e 2013, "qualquer que seja o cenário de continuidade da refinaria", conforme uma apresentação elaborada pela Petrobras America, subsidiária da estatal. O total de gastos atingiria, portanto, pelo menos US$ 1,74 bilhão. No entanto, dados repassados ao GLOBO pela própria Petrobras revelam que a conta total com a compra de Pasadena - que a estatal já admite ter sido um mau negócio - chega a US$ 1,934 bilhão.

A conclusão da compra da refinaria no Texas ocorreu após o fim da sociedade com a companhia belga Astra Oil. O valor final, de US$ 1,25 bilhão, passou a ser investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Controladoria Geral da União (CGU). O que os novos documentos revelam são a continuidade e a extensão desses gastos, em razão das péssimas condições da refinaria adquirida pela estatal.

Desembolsos em segurança e meio ambiente
Durante todo o processo de aquisição e após a compra definitiva, em 2012, a empresa precisou continuar a fazer vultosos desembolsos em equipamentos de segurança, proteção do meio ambiente, melhoria da confiabilidade, paradas programadas do refino e adequação às normas norte-americanas. Conforme as apresentações elaboradas pela cúpula da estatal, esses gastos chegariam a quase US$ 500 milhões até 2013.

Os registros contábeis da refinaria, conforme dados levantados pela estatal em abril de 2013, mostram um valor de mercado bem inferior ao desembolsado para a compra. Um relatório diz que o "valor contábil de livro" em novembro de 2012 - ano do fim do litígio - era de US$ 573 milhões, enquanto o "valor presente líquido" da refinaria era ainda mais baixo, de US$ 352 milhões.

O GLOBO consultou a vice-presidente técnica do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Verônica Souto Maior, sobre o significado desses registros contábeis. O "valor contábil de livro" é o valor de Pasadena registrado na estatal - quanto a aquisição custou à empresa, conforme os registros contábeis. Trata-se, portanto, de menos da metade dos gastos totais feitos para comprar a refinaria. Um mau negócio, como admitiu a presidente da Petrobras, Graça Foster.

Já o "valor presente líquido" leva em conta as projeções de fluxo de caixa para os próximos 25 anos, segundo Verônica. Para trazer esse valor para o presente, a contabilidade faz um teste, chamado de "impairment". As perdas da refinaria de Pasadena, por conta desse teste, somavam US$ 221 milhões, o que resulta num valor real do empreendimento de US$ 352 milhões, segundo os dados da estatal de abril de 2013.

- Verificou-se que o valor de livro da refinaria é bem superior ao valor de mercado. Daí, a necessidade do reconhecimento da perda no resultado, em face da necessidade de demonstrar o referido ativo pelo seu valor de mercado - afirmou a vice-presidente técnica do CFC, após analisar os dados a pedido do GLOBO.

Os números não batem com os apresentados por Graça Foster em depoimento no Senado no último dia 15. Segundo a presidente da Petrobras, o teste de "impairment" levou a uma perda de US$ 530 milhões no valor de Pasadena.

- A partir daí, temos um ativo de qualidade para o que se propõe hoje - disse ela, no Senado.
Boa parte da queda do valor presente de Pasadena se deve ao recuo do preço do petróleo e, por consequência, das margens de lucro das refinarias a partir de setembro de 2008, quando teve início a crise internacional. O preço do barril do petróleo despencou de um nível de mais de US$ 140 o barril para pouco mais de US$ 30, tendo voltado a valer mais de US$ 100 só três anos depois.

A apresentação da Petrobras America, de 2009, aponta que, "sob a ótica das margens projetadas pela Petrobras, só seria possível garantir a reversão do resultado operacional negativo a partir de 2013, após os investimentos requeridos (de US$ 275 milhões)".

Dados de auditoria contábil obtidos pelo GLOBO revelam que, de fato, a refinaria apresentou retorno líquido positivo nos anos de 2009 e 2010, mas houve prejuízo de quase US$ 100 milhões entre 2011 e 2012.

Segundo a apresentação de Graça Foster no Senado, a refinaria voltou a apresentar lucro nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, num total de US$ 58 milhões, período no qual Pasadena voltou a refinar 100 mil barris por dia.

Operação da PF pôs contratos da Petrobras sob suspeita

De Pasadena ao metrô de SP, a guerra é decisiva em ano eleitoral

O Globo

RIO - A compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, é alvo de investigação do Tribunal de Contas da União (TCU), da Polícia Federal e ainda pode virar alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. A refinaria sediada no Texas foi adquirida em 2006. Na época, o negócio foi chancelado pelo Conselho de Administração da Petrobras, que tinha entre os integrantes a presidente Dilma Rousseff.

A oposição vinha acusando o governo petista de ter feito um negócio irregular. A Petrobras adquirira 50% da refinaria norte-americana. Dois anos depois teve que iniciar as negociações para compra dos 50% restantes, por obrigação contratual. Neste ano, a presidente Dilma admitiu que só aprovou a transação porque não fora informada de cláusulas do contrato que obrigavam a compra de 50% restantes das ações de Pasadena pela Petrobras. A declaração da presidente acabou contribuindo para esquentar o debate.

O diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, foi exonerado. Em depoimento ao Congresso, ele insistiu que a transação foi correta e só não deu lucro porque a estatal mudou seu plano estratégico. Já a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, disse, no Senado, que a compra de Pasadena não foi um bom negócio.

A operação Lava-Jato da Polícia Federal para combater crime de lavagem de dinheiro também colocou sob suspeita contratos assinados pela Petrobras. Isso porque o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa foi preso sob acusação de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef. A PF investiga pagamento de propina de fornecedores da estatal ao esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Youssef.

A oposição apresentou requerimento para criação de uma CPI no Senado. Os governistas reagiram e apresentaram pedido para que a mesma CPI investigasse também desvio de recursos para obras de transporte no governo do PSDB em São Paulo. O novo alvo seriam as denúncias de pagamento de propina a integrantes da gestão tucana. Indignada, a oposição entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal. Na semana passada, uma liminar da ministra Rosa Weber garantiu o direito da oposição de ver instalada a CPI com objeto de investigação restrito à Petrobras. O presidente do Senado, Renan Calheiros, anunciou que vai recorrer da liminar, e o caso terá que ser examinado pelo plenário do STF.

Petrobras ignorou restrições da refinaria de Okinawa

André Borges e Fábio Brandt – Valor Econômico

BRASÍLIA - A aquisição da refinaria americana de Pasadena não foi o único negócio polêmico feito pela Petrobras em sua incursão internacional. A compra da refinaria de Okinawa, no Japão, em 2007, um ano após a negociação de Pasadena, também é dona de um histórico de resultados frustrados e, principalmente, de promessas de produção que hoje, como admite a estatal, não tinham como serem cumpridas, por conta de restrições técnicas e imposições ambientais feitas pelo próprio governo japonês.

A Petrobras comprou uma fatia de 87,5% na refinaria japonesa Nansei Sekiyu Kabushiki Kaisha (NSS), localizada na ilha de Okinawa, ao custo de US$ 52 milhões. A transação foi fechada com a Tonen General Sekiyu, uma subsidiária da ExxonMobil. A refinaria - como informou à época da aquisição e sustentou até hoje - teria capacidade de produção de 100 mil barris por dia, a mesma capacidade de Pasadena, do Texas. Era essa capacidade de refino que, teoricamente, justificava os investimentos da Petrobras na região. Em abril de 2008, a estatal, então presidida por José Sergio Gabrielli, chegou a anunciar que a planta estava produzindo 35 mil barris por dia, mas que iria "aumentar gradativamente a produção até a carga máxima, visando, além do mercado japonês, chegar a Cingapura, Vietnã e Malásia, entre outros".

O fato é que, por restrições ambientais e técnicas da refinaria e regras de segurança impostas pelo Japão, a Petrobras já sabia que Okinawa não tinha como atingir a capacidade de 100 mil barris. Essa condição limitada, nunca declarada pela estatal, acaba de ser reconhecida pela Petrobras. Questionada sobre o assunto, a companhia informou ao Valor que, "apesar da capacidade nominal da refinaria ser de 100 mil barris por dia (bpd), o processamento máximo é de 53 mil bpd, em obediência aos limites definidos por lei local relacionada a impactos ambientais".

O histórico da carga efetivamente processada pela refinaria desde que a Petrobras entrou na operação confirma essas limitações. Em 2009, a produção de Okinawa foi de apenas 45 mil barris por dia. Em 2010, esse volume caiu para 41 mil barris. Nos três anos seguintes, registrou resultados de 47,5 mil, 50 mil e 39 mil bpd, respectivamente.

Apesar de sempre ter divulgado a informação de que havia adquirido uma refinaria com capacidade de refinar 100 mil barris por dia - conforme pode ser constatado em todos os relatórios anuais publicados pela estatal desde a aquisição - a Petrobras afirmou, por meio de nota, que "a valoração para compra desta refinaria" teria se baseado no processamento máximo de 50 mil barris por dia. O Valor procurou o Palácio do Planalto, que não quis comentar o assunto.

A negociação de Okinawa passou pelo crivo dos mesmos executivos e conselheiros que aprovaram a compra de Pasadena: Gabrielli era o presidente da estatal, enquanto Dilma Rousseff, à época na Casa Civil, respondia pela presidência do Conselho de Administração da Petrobras. Nestor Cerveró, acusado pela presidente Dilma e por Graça Foster, atual presidente da empresa, de ter omitido cláusulas importantes no negócio de Pasadena, também respondia pela diretoria internacional. A diretoria executiva contava ainda com Graça Foster na divisão de gás e energia e, à frente da diretoria de abastecimento, o ex-executivo Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal na operação que investiga lavagem de dinheiro na estatal.

Assim como ocorreu em Pasadena, o contrato de Okinawa continha a cláusula "put option", que prevê regras de saída de um sócio de um negócio. A sócia da Petrobras na refinaria, a trading Sumitomo, que tinha 12,5% da operação, exerceu a cláusula put, assim como fez a belga Astra Oil em Pasadena. Em abril de 2010, a Petrobras adquiriu a participação da Sumitomo na refinaria. A transação foi concluída em outubro daquele ano pelo custo de US$ 29 milhões, valor que, até agora, não tinha sido revelado pela estatal.

Depois de gastar US$ 81 milhões em Okinawa, a Petrobras ainda investiu mais US$ 111 milhões na planta. Foram gastos, portanto, pelo menos US$ 192 milhões em operação que nunca realizou aquilo que prometia a compra da refinaria: a ampliação da capacidade até 100 mil barris por dia.

Em 2010, a estatal chegou a contratar plano de readequação de Okinawa que ajudaria a refinaria a se preparar para o processamento do petróleo pesado extraído no Brasil. O projeto seria executado pela Odebrecht. Pelo contrato, seriam desembolsados mais US$ 91,3 milhões na refinaria. O plano acabou abortado em 2012 pela presidente da Petrobras, Graça Foster, que decidiu excluir o Japão do contrato com a construtora.

As ambições da Petrobras previam a popularização do etanol na Ásia. Em 2009, a estatal chegou a iniciar a produção da gasolina com 3% de etanol no Japão, em parceria com a Japan Alcohol Trading. O plano não prosperou.

A Petrobras já teve oportunidade de se desfazer de Okinawa, intenção que chegou a tornar pública, mas acabou decidindo por permanecer com a operação. Além da refinaria, Okinawa possui terminal de tancagem de petróleo e derivados com capacidade de armazenamento de 9,6 milhões de barris, três píeres com potencial para receber navios de produtos de até 97 mil toneladas e monoboia para navios de até 280 mil toneladas.

Em março do ano passado, reportagem do Valor revelou que a Petrobras tinha recebido uma proposta de US$ 650 milhões pela venda da refinaria. O interessado era uma companhia de Cingapura. A oferta incluía US$ 80 milhões pela refinaria e US$ 570 milhões pelo estoque de produtos. A Petrobras não fechou negócio. As intenções de se desfazer do negócio, no entanto, permanecem. A Petrobras informou que a refinaria não é mais considerada "ativo estratégico" e que analisa "alternativas".

Governistas resistem a instalação de CPMI

Daiene Cardoso, Débora Álvares e Débora Bergamasco - Agência Estado

Na semana em que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras deve ser instalada no Senado, a oposição promete brigar para que o presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), acate a interpretação de que a decisão da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), vale também para a instalação da comissão mista, incorporando assim deputados e senadores nos trabalhos.

Na visão dos governistas, a ministra se ateve à criação da CPI e não ao pedido de instalação de uma CPMI. Já os oposicionistas destacam que a CPMI já cumpriu todos os critérios regimentais exigidos e que não há argumento jurídico que impeça os deputados de participarem da investigação. "A CPMI tem um peso político novo. Não podemos desprezar o apoio de 230 deputados", justificou o líder do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP).

A liderança do DEM na Câmara dos Deputado ameaça levar a questão mais uma vez ao Supremo caso Renan opte pela CPI restrita a 13 senadores. A posição do líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), tem o respaldo dos senadores da oposição. "O Renan não vai querer se expor a uma nova derrota no Judiciário. Mas é uma decisão dele", comentou o líder tucano. Se for instalada a CPMI, atuarão em conjunto 13 deputados e 13 senadores.

O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), lembra que o pedido de criação da CPMI já foi lido na última sessão do Congresso, mas admite que a oposição pode não insistir na instalação da CPMI para não perder tempo. "Uma CPI está determinada. Superado os impasses, a prioridade será a CPMI. Se o Renan procrastinar a CPMI, vamos focar na CPI", disse Agripino ao Broadcast Político.

Uma vez determinada a instalação da CPI pelo STF, a base aliada defende que a investigação fique só no Senado. "Então por que não entraram no Supremo para instalar a CPMI?", questiona o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE). "O que foi decidido pelo Supremo foi a CPI do Senado. Não vamos aguardar o Supremo receber uma ação de CPMI. Vamos tocar essa que já está apresentada", concordou o líder do PT, Humberto Costa (PE)

Blindagem
A ordem no Palácio do Planalto agora é blindar a investigação sobre a Petrobras a qualquer custo. O primeiro passo é escalar cuidadosamente os parlamentares que integrarão a comissão. Requisito básico é ser absolutamente fiel ao governo e encarar a CPI no Senado como uma missão até o fim. O nome do senador Romero Jucá (PMDB-RR) tem sido citado como exemplo de destreza nesse assunto.

Dos 13 integrantes, o PMDB terá quatro indicados, o PT outros quatro, o PSDB deve apresentar dois senadores e o DEM indicará um nome. O bloco liderado pelo PTB deve indicar dois. "Se não tiver mais novidades, a CPI vai se esvaziar. A oposição já conseguiu criar um fato político, sangrou o governo e colocou a presidente Dilma na roda. Agora não tem mais o que sangrar", concluiu um aliado do governo no Senado.

Campos usa Marina e gestão no ministério em campanha no AM

Raquel Ulhôa – Valor Econômico

MANAUS - Ao lado de sua vice, Marina Silva, o presidenciável Eduardo Campos começou a se apresentar ao eleitorado do Amazonas, que deu mais de 1 milhão de votos a Dilma Rousseff em 2010 - o que neutralizou a vantagem do tucano José Serra na região Sul. Em dois dias de agenda em Manaus, procurou exibir vínculos com Marina, reforçar as críticas ao governo petista e, de forma indireta, pontuar diferenças com Aécio Neves (PSDB), especialmente com relação à Zona Franca.

Segunda mais votada no primeiro turno da eleição presidencial de 2010 no Amazonas (com 26% dos votos), Marina acredita no voto do seu eleitorado em Campos. "Estamos trabalhando para convencer as pessoas", afirma, rejeitando a expressão "transferência de votos". Da agenda, constou a obrigatória visita à Zona Franca de Manaus, rápido passeio de barco pelo Rio Negro, conversa com pescadores e jantar com lideranças políticas e empresários, com apresentação de dança do Boi Bumbá.

Em debate com jovens, a maioria do movimento Rede Sustentabilidade -embrião do partido que Marina quer criar-, Campos apresentou sua biografia, comparou o início de sua militância política com o avô, Miguel Arraes, ao início da militância de Marina com Chico Mendes e lembrou a atuação do PSB em defesa da criação do partido de Marina. "Eles vão perder a cabeça, agredir mais, jogar Marina contra mim. Não podemos cair nesse jogo dos desesperados. Nosso caminho é o da unidade. "

Marina mostrou as razões pelas quais uniu-se a Campos, citou o convite a Sérgio Xavier, um dos fundadores do PV, para a secretaria do Meio Ambiente de Pernambuco e disse que, na discussão do programa de governo, a aliança tem sido "corretíssima". Na abertura do seminário sobre propostas de governo para o Norte, principal agenda da visita, a ex-ministra afirmou que, "mesmo sem ser vice, estaria fazendo sua campanha".

Além de mostrar a união com Marina, compõe a estratégia de Campos no Amazonas divulgar ações que adotou a favor da Zona Franca de Manaus (ZFM), como ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula e governador de Pernambuco. Esse é seu principal diferencial com relação a Aécio, pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, partido visto como inimigo número 1 da ZFM.

"Como ministro ele desburocratizou os processos produtivos básicos e, como governador de Pernambuco, fez o entreposto de Ipojuca, que muda a logística da ZFM. Contribui com o escoamento da produção por meio do Porto de Suape", diz o ex-prefeito de Manaus Serafim Corrêa, principal liderança do PSB no Estado.

Para ele, Dilma "não tem condições morais de falar da ZFM", porque prometeu prorrogar os benefícios e até hoje não conseguiu. A Proposta de Emenda Constitucional que amplia por 50 anos foi aprovada apenas em primeiro turno e ainda na Câmara. "E o Aécio pode até vir aqui e defender a Zona Franca, mas tem um carimbo difícil de se livrar", completa.

Constrangimentos causados pelo duplo palanque da aliança no Estado também marcaram a visita. Aliados na chapa nacional, PPS e PSB têm pré-candidatos a governador no Amazonas. Gestos de Marina de apoio exclusivo ao nome PSB, o deputado estadual Marcelo Ramos, irritaram o PPS, que tem na disputa o vice-prefeito de Manaus, Hissa Abrahão. Ramos foi lançado por iniciativa de Marina.

Durante o debate de sexta-feira, Marina postou em sua página no twitter foto do evento, na qual aparecem ela, Campos e Ramos. Postou também declaração de apoio ao deputado. Em reação, lideranças do PPS decidiram não comparecer a jantar oferecido, logo depois, pelo vereador Marcelo Serafim (PSB) a Campos e Marina. Lideranças de vários partidos estavam presentes, até o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB). Mas não havia ninguém do PPS.

Uma queixa pública foi feita pelo presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), no sábado, na abertura do seminário programático. "Não estamos unidos no Amazonas. O PPS tem um candidato e tem outra candidatura [da aliança]. Não sei se esse é o ideal. Não podemos desperdiçar nada. Não podemos ser diletantes. Precisamos derrotar esse bloco político que está aí", afirmou.

Em seguida, Marina respondeu. "Numa eleição em dois turnos, é bom que cada projeto apresente candidato. Não podemos sufocar brilho nenhum", disse. Na véspera, em cerimônia de homenagem a Campos na Câmara Municipal, Ramos e Hissa disputaram um lugar mais próximo do presidenciável.

As divergências políticas locais não tiraram o foco da coordenação da campanha. Serafim Corrêa acredita no êxito da estratégia de unir o projeto de Campos à identidade amazônica da Marina, que é do Acre, mas morou em Manaus e tem forte ligação com a região também pela questão ambiental. "Ela se criou em Manaus. Foi lavadeira no Igarapé do 40, morou no Morro da Liberdade. A primeira vez que foi ao cinema foi no Cine Popular em Manaus. A primeira vez que andou de elevador foi aqui. A chapa vai brigar para ficar em primeiro lugar aqui."

Embora a capital, que concentra 60% do eleitorado do Estado, seja comandada por um aliado de Aécio, o tucano Arthur Virgílio, cuja popularidade está alta, um bom desempenho de Dilma é esperado, por causa do apoio de 60 dos 62 prefeitos do Estado e do palanque do governador, José Melo (Pros), postulante à reeleição, além daquele que abrigará o senador Eduardo Braga (PMDB), líder do seu governo no Senado e pré-candidato a governador. Ele exerceu o cargo por dois mandatos e lidera a disputa, mas ainda não conseguiu construir sua aliança eleitoral. A meta de aliados de Campos é conseguir 30% dos votos no Estado.

O pré-candidato a presidente pelo PSB reforçou, em Manaus, o discurso contra a gestão Dilma, que tem levado pelo país. Criticou o projeto do PT de "manter o poder pelo poder", defendeu o fim da "política do presidencialismo de coalizão" e repetiu que as mudanças realizadas pela gestão petista "perderam a velocidade e a consistência". Para ele, as conquistas estão sendo "derretidas". No seminário, disse que a preocupação eleitoral do governo fez com que ele tente "disseminar o medo" na população mais necessitada de que perderá seus benefícios, caso a presidente não seja reeleita.

Campos e Marina foram ao porto gravar cenas para o programa do PSB local. Conversaram com pescadores, feirantes e vendedores do local. Ao relatar reivindicações do setor, defendeu um polo naval, o turismo, cadeia produtiva para a pesca e uma ação de apoio ao artesanato. "Quando a gente sobe no barco e vê aquele mundo d'água nota que as conversas de lá [Brasília] não têm nada a ver com a realidade daqui e quem olha o Brasil daqui não se vê em Brasília".

Marina lembrou a pecha que carrega de ser "contra o progresso" e disse que defende o desenvolvimento da região amazônica, mas protegendo a biodiversidade. "A sustentabilidade não é o verde pelo verde. É uma ideia que chegou". Como Campos, defendeu a adoção de uma "nova política", que não seja marcada pelo fisiologismo e patrimonialismo e sim por uma aliança programática.

Eduardo Campos acusa governo de atrasar reajuste nas tarifas de energia para depois das eleições

Em congresso do partido, pré-candidato criticou atraso nas obras da Copa e fala em ‘distância do Nordeste’

Efrém Ribeiro - O Globo

TERESINA (PI) e TIMON (MA) — O pré-candidato Eduardo Campos (PSB-PE) desembarcou na noite deste sábado na capital Teresina, após uma visita à Manaus, e fez duras críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff nos aspectos políticos, econômicos, e também pela provável crise energética pela qual o país está passando.

O primeiro ponto abordado em Teresina foi a repercussão da crise na Petrobras. Ele afirmou que a Polícia Federal já prendeu dirigentes da companhia, e que é preciso tranquilidade para esperar as investigações e o julgamento. Sua maior preocupação, afirma, está relacionada com o setor elétrico. Para o ex-governador, o governo Dilma está postergando o reajuste das tarifas de energia elétrica para depois das eleições.

— Não sou eu que vou julgar absolutamente ninguém. A minha preocupação com a Petrobras é olhar o setor elétrico. O Brasil está com um problema sério na área de energia, está se postergando o reajuste de tarifa de energia para depois das eleições. (...) Para crescer, o Brasil precisa de energia, e nós estamos sem. — disse o pré-candidato em entrevista coletiva na capital piauiense, acompanhado do prefeito da cidade, Firmino Filho.

O candidato citou, como exemplo da crise no setor elétrico brasileiro a própria empresa de distribuição de energia do Piauí, que é federalizada e tem insuficiência na prestação de serviços no estado. Campos afirma que o Brasil precisa voltar a crescer economicamente.

— Temos que voltar a crescer e baixar os juros. O que está acontecendo hoje é que nós temos o menor crescimento da economia brasileira. Estamos com o juros entre os maiores do mundo.
Em Timon, no Maranhão, Campos discursou para cerca de 2 mil pessoas em um Centro de Convenções, durante o Congresso Estadual do partido, presidido pelo prefeito da cidade, Luciano Leitoa. No congresso discursaram o candidato do PC do B ao Governo do Maranhão, Flávio Dino, e candidatos a deputado federal, deputado estadual e ao Senado, além de Firmino Filho e Wilson Martins.

Eduardo Campos fez declarações acusando a presidente Dilma Rousseff de deixar obras pela metade no país, como a ferrovia Transnordestina, importante para o desenvolvimento da região.

Crítica as obras da Copa e ‘distância do Nordeste’
A menos de dois meses da Copa do Mundo, Eduardo Campos disse que vai esperar para saber se os aeroportos brasileiros funcionarão durante o evento. O candidato acredita que algumas obras fiquem pela metade.

— Eu torço para que as obras fiquem prontas, mas, só de olhar dá para perceber que não terminarão tão cedo — disse o candidato, que criticou a postura do governo Dilma com o Nordeste brasileiro.

— A presidente Dilma não fez pelo Nordeste o que tinha prometido fazer. O Brasil está no caminho errado, perdendo oportunidades e, com isso, começa a sofrer as consequências deste caminho, o que marcou uma decadência da nossa agropecuária — disse o candidato, afirmando que na região Norte o problema é o mesmo.

— O grupo político que hoje está dominando a capital federal não está tem mais a confiança do povo brasileiro, e não consegue mais fazer com que Brasil funcione da forma como funcionou num passado recente. Nós precisamos honrar a economia brasileira e fazer com que o Nordeste ajude as prefeituras que estão aí desamparadas. Os estados nordestino só conseguiram fazer obras com o dinheiro emprestado.

Para Lula, decisão do STF sobre mensalão foi 80% política

Em entrevista à TV portuguesa RTP, ex-presidente afirma ainda que escândalo vai ser recontado e que isso é uma questão de tempo

O Globo

RIO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista divulgada neste domingo pela TV portuguesa RTP, que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tomaram mais uma decisão política do que jurídica ao condenar 25 réus do processo do mensalão. Lula foi internado no sábado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, por causa de uma crise de labirintite. Ele fez exames e foi liberado na manhã deste domingo, segundo informou o hospital.

- Tem uma coisa que as pessoas precisam compreender: o povo é mais esperto do que algumas pessoas imaginam. O mensalão, o tempo vai se encarregar de provar, que o mensalão, você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica - disse o ex-presidente em um trecho da entrevista de quase 40 minutos.

Lula lembrou que indicou para o Supremo seis dos 11 ministros que julgaram o caso e, em seguida, disse que o mensalão será recontado para se saber o que aconteceu de verdade:
- O que eu acho é que não houve mensalão. Agora, eu também não vou ficar discutindo as decisões da Suprema Corte. O que eu acho é que essa história vai ser recontada, é apenas uma questão de tempo.

‘Mensalão foi massacre contra o PT’
Para ele, o processo do mensalão “foi um massacre que visava a destruir o PT e não conseguiram”. No momento em que falou sobre os escândalos envolvendo o PT, a apresentadora citou as denúncias envolvendo a Petrobras.

- Não adianta dizer que o Lula pratica qualquer ato ilícito porque o povo me conhece. Eu sou filho de pai e mãe analfabetos e digo todo dia para não ter dúvidas. O único patrimônio que minha mãe me deixou foi a conquista de andar de cabeça erguida - afirmou.

O ex-presidente voltou a reafirmar que não será candidato à Presidência e que vai ser cabo eleitoral da presidente Dilma Rousseff:

- Em política, a gente nunca pode dizer não, mas eu acho que eu já cumpri com a minha matéria no Brasil. Eu sonhava em ser presidente porque eu queria provar que eu tinha mais competência para governar do que a elite brasileira. E provei.

Ele disse também que não quer cargos políticos:

- Não quero cargo politico. Eu era deputado em1990 quando meu partido queria que eu fosse candidato, eu tinha perdido em 1989, (e o PT) queria que eu fosse candidato para ter 1,5 milhão de votos (como deputado). Eu disse: não vou ser candidato porque quero provar para o PT que eu não preciso de cargo para ser importante. Eu quero ser importante pela minha capacidade de trabalho.

Então, não preciso de cargo.

‘O povo quer mais’
Enquanto Lula falava que a vida do povo brasileiro mudou, a jornalista perguntou, então, por que a população estava indo as ruas.

- O povo quer mais. Você não tenha dúvida de que assim é a humanidade. Se você consegue comer hoje um contrafilé, depois de uma semana, você quer filé. Se você começar comer filé, vai querer comer uma coisa melhor - declarou. - Acho extraordinário que povo queira mais. A Fifa foi fazer a Copa e a Fifa exige estádios mais qualificados do que os que a gente tinha. Então, se instituiu no Brasil o padrão Fifa para a Copa. Achei extraordinário que o povo começasse a reivindicar escola padrão Fifa, saúde padrão Fifa, transporte padrão Fifa.

Quando a apresentadora questionou sobre o preço dos estádios para a Copa, Lula disse que queria aproveitar para fazer um esclarecimento:

- Não tem dinheiro público do orçamento em estádio de futebol. O que o governo brasileiro tomou como decisão, e foi no meu tempo ainda, é que o governo não financiaria clubes. O Brasil emprestaria até 400 milhões de reais de para os governos estaduais e financiaria até 400 milhões de reais a empresas que quiserem fazer estádios. O dinheiro gasto com a Copa é com mobilização urbana.

O ex-presidente disse que em seu governo os brasileiros compraram mais carros e foi questionado sobre a opinião de especialistas que dizem que o Brasil não tinha infraestrutura para isso:

- Isso é um bom problema porque o povo pobre tem que ter carro mesmo, tem o direito de comprar e usar aquele bem material que ele produziu . Ou nós pobres somos obrigados a produzir só para os ricos?

Lula diz que presos do mensalão não são de sua confiança

Ex-presidente diz à TV portuguesa que presos no mensalão não eram ‘gente de minha confiança’

Ricardo Chapola - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista exibida na noite de sábado, 26, pela Radio e Televisão de Portugal (RTP) que o julgamento do mensalão teve "80% de decisão política e 20% de decisão jurídica". Foi a primeira avaliação direta do petista sobre a sentença que levou à prisão ex-dirigentes do PT. Sobre os condenados, Lula afirmou: "Não se trata de gente da minha confiança".

Em novembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal começou a expedir as ordens de prisão dos condenados no mensalão. No Feriado da República, apresentaram-se à Polícia Federal o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino. Um dia depois, foi a vez de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, se entregar à PF. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha foi preso em fevereiro. Todos foram condenados por participar do esquema de compra de apoio político no Congresso no início do governo Lula.

"O mensalão teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica. O que eu acho é que não houve mensalão", disse Lula na entrevista em Lisboa, onde esteve na sexta-feira como convidado do governo para a comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos, que redemocratizou o país após 41 anos de ditadura.

Em seguida, a jornalista Cristina Esteves perguntava sobre o fato de pessoas da confiança do ex-presidente terem sido presas, mas foi interrompida por Lula. "Não se trata de gente da minha confiança", afirmou o ex-presidente. E emendou: "Tem companheiro do PT preso. E eu também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. O que eu acho é que essa história vai ser recontada". Lula disse na entrevista – que durou pouco menos de 40 minutos – que o processo do mensalão foi "um massacre que visava a destruir o PT". "E não conseguiram."

Pouco antes de deixar a Presidência, no fim de 2010, Lula havia dito que iria "desmontar a farsa do mensalão". Já fora do Palácio do Planalto, o ex-presidente evitou fazer comentários sobre o julgamento, que teve início a 2 de agosto de 2012 e levou à condenação de 25 dos 38 denunciados pelo Ministério Público.

No início do mês, Lula já havia dito em entrevista a blogueiros, em São Paulo, que o mensalão deveria ser recontado e que era preciso estudar a "participação e o poder de condenação" da mídia nesse processo.

Dilma. Lula também aproveitou para defender o governo de sua sucessora, Dilma Rousseff. A queda de popularidade da presidente e a possibilidade de troca na chapa do PT que vai disputar a eleição em outubro foi abordada na entrevista – e voltou a ser negada pelo petista. "O Lula não é candidato. Eu não vou ser candidato. A Dilma é uma mulher de extrema competência. Ela vai vencer as eleições", afirmou.

O ex-presidente riu, pouco depois, ao ser provocado a falar sobre o fato de sua popularidade não ter despencado com a de Dilma – que se recuperava da queda provocada pelas manifestações de junho, mas recentemente passou a enfrentar o desgaste das denúncias sobre irregularidades na Petrobrás. "O povo é mais esperto do que algumas pessoas imaginam", afirmou.

O ex-presidente comentou ainda a possibilidade de ocorrerem protestos durante a Copa do Mundo e rebateu as críticas que têm sido feitas sobre o custo dos estádios, dos aeroportos e de outras obras destinadas a receber os jogos do Mundial. Lula afirmou que não se faz Copa do Mundo "pensando só em dinheiro".

A entrevista teve longas conversas sobre política internacional e a situação da economia europeia. A crise em Portugal foi marcante nas celebrações dos 40 anos da Revolução dos Cravos. Provocado a analisar os problemas do governo socialista de François Hollande na França, Lula deixou um conselho: "Os políticos têm de assumir, decidir e dizer para onde o país tem que ir".

Senadores do PMDB defendem que Renan desista de recurso contra CPI

Líderes do partido preferem que presidente do Senado deixe de lado questionamento sobre liminar

Débora Álvares e Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo

Lideranças peemedebistas fecharam questão em torno da atuação na CPI da Petrobrás e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve desistir de recorrer ao plenário do Supremo Tribunal Federal. Na avaliação da cúpula do partido, o desgaste de questionar a decisão da ministra Rosa Weber, que determinou a imediata instalação da comissão, foi empurrada para "a conta" do partido. O próprio PT, da presidente Dilma Rousseff, desistiu de apelar ao STF para tentar inviabilizar as investigações.

Em Roma desde a semana passada, onde acompanhou ao lado do vice-presidente Michel Temer a missa em ação de graças pela canonização do padre José de Anchieta, Renan conversou por telefone com nomes de peso do partido, insatisfeitos com sua iniciativa de recorrer, anunciada na quinta-feira.

A provável mudança de rota na estratégia de Renan vai de encontro ao que já havia sido acordado entre os correligionários, em uma sequência de jantares nas últimas semanas. "Entrar com recurso no pleno para quê?", questionou o líder peemedebista no Senado, Eunício Oliveira (CE), um dos que ligou para o presidente do Senado para lhe dizer que "ele havia se precipitado" ao distribuir a nota sobre o recurso.

Renan retorna hoje ao Brasil e amanhã, assim que reassumir os trabalhos no Senado, vai reunir os membros da Mesa Diretora para falar sobre a desistência do recurso. A reunião, contudo, visa evitar mais desgastes, tirando do presidente do Senado a responsabilidade integral e deixando a decisão para o colegiado.

Na avaliação de um líder peemedebista, embora Renan seja o citado pela liminar do Supremo, por ser o presidente do Senado, o custo político de questionar a instalação da CPI da Petrobrás seria compartilhado pelo PMDB como um todo.

Na semana passada, após receber a notícia de que Rosa Weber decidiu a favor da CPI para investigar exclusivamente as denúncias contra a Petrobrás, como defendia a oposição, o Palácio do Planalto acionou os líderes da base aliada. A orientação foi que o PT não recorreria. Pesquisas internas mostram que a avaliação de Dilma já sofre desgaste por causa da CPI. O recurso caberia a Renan, como presidente do Senado, numa tentativa de institucionalizar a manobra.

Copa. Para tentar blindar a presidente, os governistas vão dar prioridade à indicação de parlamentares fiéis ao Planalto. PT e PMDB têm direito cada um a 4 das 13 vagas da CPI, enquanto o PSDB terá 2 nomes e o DEM, 1. Além disso, a aposta é que a proximidade da Copa do Mundo, que começa em 12 de junho, reduzirá os holofotes sobre a investigação no Congresso.

A oposição agora quer tentar instalar uma CPI mista, incorporando deputados à investigação. "A CPMI tem um peso político novo. Não podemos desprezar o apoio de 230 deputados", justificou o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes (SP).

Para tentar brecar a CPMI, mais ameaçadora ao governo, a base vai argumentar que a decisão de Rosa Weber se ateve ao processo no Senado. "O que foi decidido pelo Supremo foi a CPI do Senado. Não vamos aguardar o STF receber uma ação de CPMI. Vamos tocar essa que já está apresentada", disse o líder do PT, Humberto Costa (PE).

Tucanos e democratas vão destacar que a CPI mista já cumpriu os critérios regimentais exigidos e que não há argumento jurídico que impeça os deputados de participarem da investigação. A liderança do DEM na Câmara cogita levar a questão mais uma vez ao Supremo, caso Renan, que também é o presidente do Congresso, opte pela CPI restrita a 13 senadores. / Colaborou Débora Bergamasco

Em palestra em SP, Aécio fala em disputar o segundo turno contra Campos

Pré-candidato do PSDB à Presidência, senador afirma que ele e o ex-governador pernambucano podem tirar Dilma da disputa ao Planalto

Elizabeth Lopes e Pedro Venceslau – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O senador e pré-candidato do PSDB, Aécio Neves (MG), afirmou que não descarta um segundo turno nestas eleições entre sua candidatura e a do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). O tucano participa nesta segunda-feira, 28, de palestra na Associação Comercial de São Paulo.

Para Aécio, ele e Campos são concorrentes de "alto nível" e a presidente Dilma Rousseff pode ficar de fora da disputa. Desde o início do ano, o senador vem intensificando suas agendas em São Paulo com objetivo de se tornar mais conhecido do eleitorado paulista e do empresariado local.

Durante a palestra, o senador repetiu quais mudanças que pretende implementar se for eleito, entre reduzir à metade o número de ministérios. "Se for eleito, e creio que o PSDB tem condições para isso, vou acabar com metade dos atuais 39 ministérios e simplificar o sistema tributário", afirmou. "Hoje há uma concentração absurda nas mãos da União."

Aécio repetiu ainda que vai defender mandatos eletivos de cinco anos, sem reeleição.

Críticas a Dilma. Ao defender a redução de ministérios, Aécio aproveitou para atacar a gestão do atual governo e lembrou as atuais denúncias de corrupção envolvendo a Petrobrás. "Não é possível que o Brasil seja governado de forma perdulária", afirmou.

Aécio tirou risos da plateia ao dizer que o ministro das Micro e Pequenas Empresas, Guilherme Afif Domingos (PSD-SP), é o "homem certo no governo errado". Afif é do mesmo partido do ex-prefeito Gilberto Kassab, atual vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo. Na noite de domingo, Aécio participou de um jantar na casa de Kassab.

Prezada Dilma, vamos falar de Petrobrás?

Após denúncias, crise na estatal entra na lista de temas das mensagens enviadas por cidadãos

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A crise na Petrobrás se refletiu nas correspondências que chegam para a presidente Dilma Rousseff e ganhou destaque entre as 4.200 cartas e e-mails recebidos, em março, pelo Palácio do Planalto. Até o surgimento das denúncias envolvendo a estatal, ela aparecia genericamente nessas correspondências, segundo a Diretoria de Documentação Histórica da Presidência.
A declaração de Dilma ao Estado de que só aprovou a compra de 50% da refinaria de Pasadena por ter recebido informações "falhas" e "incompletas" despertou o interesse dos eleitores - muitos para cobrar explicações e outros para defender a presidente e definir o caso como "jogo de sucessão eleitoral".

"Por que todo este empenho em travar a CPI da Petrobrás? Há algo a esconder", questionou um baiano que diz ter sido "petista", mas "agora está a pensar". Depois de dizer que "o tapete não está aguentando com tanto lixo debaixo", ele pediu: "Vamos lavar as roupas sujas, uma de cada vez, para que os brasileiros saibam claramente quem as sujou". Neste caso, e em outros semelhantes, o Planalto manda uma resposta padrão: "Registramos o recebimento de sua mensagem. A presidente Dilma agradece seus comentários".

As correspondências sobre a Petrobrás chegam a meia centena. Um e-mail enviado de São Paulo afirma que "um governo sério faria criar uma tropa de choque para esclarecer o malfeito e punir os culpados, não para impedir a CPI". Outro paulista sugere que está na hora "de uma atitude da Dilma que elegemos". Mas há questionamentos mais radicais - como o que pergunta se "é intenção deste governo quebrar a Petrobrás" e "onde está a autossuficiência" da empresa.

'Ínfimo'. O Planalto minimizou a importância das cartas sobre Pasadena, alegando que o volume dessas cobranças "é ínfimo" no conjunto. Das 4.200 correspondências de março, 1.849 eram críticas - sobre temas como administração pública, educação, violência, saúde, transportes, cultura, meio ambiente - e 60 delas contêm citações nominais à presidente. De apoio foram 159. Outras 1.400 levavam sugestões e 1.300 faziam pedidos. A soma ultrapassa as 4.200 correspondências porque muitas juntam apoio, pedidos e críticas. São Paulo é o Estado que mais escreve (cerca de 30% do total), seguido de Rio e Minas. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebia, em média, de 30% a 40% mais cartas que a presidente.

Há quem escreva para se oferecer como cabo eleitoral, ou para pedir uma casa ou uma bolsa. Um eleitor do Maranhão pediu ajuda para receber logo a devolução do imposto de renda "em razão de doença cardíaca grave".

A questão da violência aparece em alta escala. Em tom de desabafo, uma mineira avisou: "Não precisamos de Copa, pré-sal ou novos aviões de caça. Queremos o direito de viver simplesmente pobres, porém voltando todo dia para casa sem sermos assaltados ou mortos por um celular ou um anel".

A presidente não costuma ler diretamente as cartas mas dedica o tempo, em voos de volta de alguma viagem pelo País, a recados que foram entregues a seus auxiliares, em palanques de eventos.

Para escrever à presidente, via e-mail, há um formulário na página da Presidência da República na internet.

PR abre dissidência contra Dilma

Senador do PR fala em disputar Planalto e recebe apoio, na legenda, de deputados que reclamam do governo por retenção de emendas

João Domingos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com 31 deputados, quatro senadores, um ministério poderoso, o dos Transportes, e o prestígio que adquiriu, em 2002, por ter ajudado a viabilizar a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para o Palácio do Planalto, o PR ameaça agora deixar a aliança formada para dar apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Uma decisão a respeito deve ser anunciada hoje pelo líder do partido na Câmara, o mineiro Bernardo de Vasconcelos.

A iniciativa é comandada pelo senador Magno Malta (ES), que foi o primeiro parlamentar a falar, em 2010, a favor da candidatura de Dilma. De aliado, passou a adversário. Com forte atuação entre os evangélicos, Malta não só rompeu com a presidente como decidiu anunciar sua pré-candidatura ao Planalto.

Na campanha de quatro anos atrás, Dilma enfrentou forte resistência de eleitores ligados a grupos religiosos. Parlamentares evangélicos e ligados à Igreja Católica ajudaram a amenizar a rejeição à então candidata petista.

A dissidência aberta por Malta não demorou a irradiar-se pelos Estados. Nos últimos dez dias foram realizadas pelo partido pelo menos 15 reuniões em diferentes Estados - e o que mais se ouviu foi um apelo para o rompimento com o PT nacional. Ele vinha seguido de uma frase: "O governo não é governista".

Em outras palavras, o PR quis dizer que, em ano de eleição, mais importante do que controlar um ministério é conseguir a liberação das emendas parlamentares ao Orçamento. Muitas obras de interesse direto dos eleitores, nos redutos dos políticos, dependem desses recursos. Sem elas, pedir votos fica mais difícil.

A situação tornou-se tão crítica que, em uma reunião do partido há cerca de 15 dias, seu presidente, senador Alfredo Nascimento (AM), foi colocado contra a parede por vários dos presentes, por não defender de modo adequado a liberação das emendas. Chegou-se a discutir a saída do ministro Cesar Borges dos Transportes e um rompimento formal. Foi então que Nascimento decidiu pedir prazo e ajuda ao líder do partido na Câmara. Vasconcellos perguntou a opinião dos deputados - e ouviu um rosário de queixas.

O líder anunciou que divulgaria hoje a posição da bancada. Sua estratégia é tentar acalmar o partido. "Esperamos resolver estas questões internas da melhor forma possível", disse.

Líder do PR anuncia rompimento com Dilma

Fábio Brandt – Valor Econômico

BRASÍLIA - O líder do Partido da República (PR) na Câmara dos Deputados, Bernardo Santana de Vasconcellos (MG), dará uma entrevista hoje para dizer que a bancada de sua legenda não apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Na sexta-feira, sem revelar o teor no anúncio a ser feito, o deputado havia marcado a entrevista para as 15h30 desta segunda, no gabinete da liderança do PR.

A declaração pública de Vasconcellos será a primeira de uma série de manifestações do PR sobre a eleição aguardadas para esta semana. Até sexta-feira, a executiva nacional do partido também deve se reunir. O presidente nacional da legenda, senador Alfredo Nascimento (AM), tem posição diferente o líder na Câmara e tende a apoiar a reeleição da petista.

Os integrantes do PR que defendem o rompimento com Dilma não têm uma alternativa definida para o que fazer nesta eleição. Parte deles quer levar o partido para a oposição, apoiando Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB) - até agora os principais adversários de Dilma Rousseff. Outra parte quer lançar um candidato próprio ao Palácio do Planalto. Nesse caso, o nome apresentado é o do senador Magno Malta (ES).

Não será a primeira vez, desde a posse de Dilma, que a bancada federal do PR racha com presidente. O partido integrou oficialmente a coligação de apoio à candidatura petista em 2010. Em 2011, após Alfredo Nascimento perder o cargo de ministro dos Transportes na "faxina ética" feita por Dilma, o PR se declarou independente. Poucos meses depois, a bancada de senadores da sigla voltou à base. A bancada de deputados demorou mais para retornar ao barco governista, e, mesmo assim, continuou dando problemas para Planalto.

Bernardo Santana de Vasconcellos foi, neste ano, um dos principais articuladores do "blocão" formado por siglas governistas que se rebelaram contra Dilma na Câmara. Esse bloco era, inicialmente, composto por PMDB, PR, PTB, PDT, PP, Pros, PSC, PSD e SDD. Terminou com PMDB, PR, PTB, PSC e SDD.

O anúncio de Vasconcellos deve ainda reforçar a divisão no PR. Próximo ao ex-presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, Vasconcellos não se entende com o atual presidente, Alfredo Nascimento. O deputado chegou a chamar o senador de "frouxo" em reunião recente, a portas fechadas, por integrantes da bancada federal da com a cúpula partidária.

O PR tem 32 deputados em exercício do mandato, mas comanda um bloco integrando também pelo PTdoB (3 deputados) e pelo PRP (2 deputados). Nos bastidores, os deputados do bloco reclamam, principalmente, do contingenciamento do dinheiro das emendas parlamentares. Essa verba pode ser aplicada em obras nas cidades dos deputados e, por isso, avaliam que a não conclusão das obras atrapalhará suas campanhas.

Planalto quer o PSDB no centro do ringue

Estratégia governista é escolher os principais cargos da CPI e desenterrar problemas na Petrobras ocorridos no governo FHC

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

O governo vai ressuscitar dois casos que considera escandalosos durante o governo Fernando Henrique Cardoso para perturbar os tucanos na CPI da Petrobras: a plataforma P-36, que afundou na Bacia de Campos em 2001, e a negociação da estatal para a compra de ativos da espanhola Repsol na Argentina em troca de uma participação na refinaria Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul. Para os petistas, esses dois casos exemplificam a gestão temerária e lesiva do PSDB à frente da maior empresa brasileira.

A estratégia, sugerida na semana passada, durante reunião dos líderes com os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais), será intensificada a partir de hoje, em uma nova rodada de encontros no Palácio do Planalto. Ciente de que é uma perda de tempo o recurso ao plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) para reverter a decisão de uma CPI restrita à Petrobras, o Planalto tenta, agora, trazer o PSDB para o centro do ringue. "Não somos só nós que temos de explicar coisas. Eles também têm as operações nebulosas que pretendem esconder", disse um interlocutor palaciano.

A base aliada já vinha ensaiando esse discurso ao lembrar que a compra da refinaria de Pasadena, no Texas — que ensejou o início da corrida pela assinatura para uma CPI da Petrobras —, fazia parte de um planejamento da estatal, iniciado ainda durante o governo Fernando Henrique Cardoso, para ampliar a presença internacional da empresa. Mas faltava o levantamento de dados concretos para arrastar os tucanos à vala comum das irregularidades. A negociação com a Repsol e a tragédia da P-36 surgiram como uma boa oportunidade para isso.

Integrantes da base aliada que participaram desses encontros admitem que o governo teme um aprofundamento nas investigações, por exemplo, das razões que levaram a Petrobras a contratar R$ 90 bilhões em máquinas e serviços sem licitação. Além disso, outras operações de venda de ativos no exterior — como refinarias em países sul-americanos e bacias de petróleo em mares africanos — poderiam fragilizar ainda mais a imagem da empresa em um momento delicado.

Por isso, além de pesquisar denúncias de irregularidades ocorridas ao longo do governo Fernando Henrique Cardoso, a tática é escolher uma lista de integrantes de elite para a CPI. Embora não seja uma regra, existe a preferência de que os parlamentares indicados — tanto senadores quanto deputados, se for instalada uma CPI mista — não sejam candidatos nas eleições de outubro. "Isso os deixaria mais livre para se dedicarem, full time, às investigações", aposta um aliado do Planalto.

Composição
A partir de amanhã, as indicações começarão a ser feitas. O nome do líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), já desponta como um dos favoritos. O governo espera contar com o senador Romero Jucá (PMDB-RR) para presidir a CPI, mas ele tem repetido que não tem interesse na vaga. "Eu só relatei a questão de ordem sobre a CPI da Petrobras na CCJ do Senado porque entrei desavisadamente na sala do Renan (Calheiros, presidente do Senado)", brinca Jucá.

Em 2009, o senador peemedebista foi relator de outra CPI que envolve a Petrobras, para investigar irregularidades na celebração de convênios de patrocínio para festas populares, e ajudou a sepultar a comissão. "Na época, ele tinha de fazer isso, era líder do governo. Hoje, ele deixa a missão para quem tem mais afinidade com o Planalto", disse um colega de bancada.

Como o recurso do Senado perante o STF não tem efeito suspensivo sobre a liminar concedida pela ministra Rosa Weber — que determina à CPI foco exclusivo na estatal —, o governo corre para indicar os nomes e instalar o mais rapidamente a CPI do Senado, Casa considerada "mais madura" e com "menos arroubos políticos". Há pouco mais de um mês, o Planalto trabalhava por uma CPI mista, para não dar palanque eleitoral para o pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG). "A oposição já conseguiu o palanque que queria com a vitória no STF. Daqui a pouco, começam a Copa do Mundo e as convenções partidárias, que contribuirão para o assunto Petrobras perder espaço na mídia e no imaginário político nacional", aposta um interlocutor palaciano.

Aspirações divergentes
Confira o que PSDB, DEM e demais partidos oposicionistas querem investigar e os temas que a base aliada pretende apurar

A CPI da oposição, restrita à Petrobras

Refinaria de Pasadena
Suspeita de superfaturamento na aquisição da planta norte-americana (foto). A unidade foi comprada pela empresa belga Astra Oil em 2005 por US$ 42,5 milhões (a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou que, na verdade, a refinaria custou US$ 360 milhões). Em 2012, a Petrobras comprou os 50% pertencentes à Astra por US$ 1,19 bilhão.

Venda de ativos
A oposição também quer apurar a venda de outros campos de petróleo no exterior, sobretudo na Argentina. Há suspeitas de prejuízos aos cofres públicos com essas operações.

Propina no exterior
Suspeitas de pagamentos de propina pela empresa holandesa SBM Offshore para a produção de plataformas marítimas.

Refinaria Abreu e Lima
Fruto de uma parceria mal explicada entre a PDVSA (companhia venezuelana de petróleo) e a Petrobras, a empresa ainda não ficou pronta e seu valor final subiu de US$ 2 bilhões para US$ 18 bilhões.

A CPI idealizada pelo governo

Metrô de São Paulo
Suspeitas de formação de cartel e de pagamentos de propina para autoridades tucanas nos contratos firmados pela Alston para fornecimentos de vagões para os trens e o metrô de São Paulo

Porto de Suape*
Indícios de superfaturamento e de irregularidades ambientais no principal porto do Recife. A ideia é prejudicar o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, pré-candidato do PSB à Presidência da República.

*Esse tema entraria no escopo da CPI da Petrobras, ao se investigar a Refinaria de Abreu e Lima, também em Pernambuco

Oposição vê "desespero" governista

Senadores do PSDB e do DEM acreditam que a estratégia do Planalto de atacar opositores na CPI da Petrobras com fatos antigos representa manobra inócua

João Valadares – Correio Braziliense

A oposição reagiu à tentativa dos governistas de resgatar fatos ocorridos há mais de uma década para colocar os tucanos como alvo na CPI da Petrobras. O PSDB e o DEM classificaram o plano do Palácio do Planalto como "desespero de quem quer encobrir denúncias graves". Nesta semana, toda a artilharia dos oposicionistas se volta para o ex-ministro da Saúde e pré-candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha (PT), que teve o nome citado na Operação Lava-Jato por ter supostamente indicado um ex-assessor para ser o principal executivo da Labogen, laboratório de fachada do doleiro Alberto Youssef.

O senador Alvaro Dias, do PSDB-PR, afirmou que, se o PT realmente desengavetar fatos ocorridos na Petrobras durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, é uma confissão de "prevaricação". "Se fizerem isso, estarão confessando que não cumpriram o dever deles na época. Chama-se prevaricação. Por que não denunciaram lá atrás? Por que só querem fazer isso agora? É uma estratégia para impedir os fatos atuais. É a revelação de um receio de que esses fatos escabrosos sejam esclarecidos", afirmou.

A mesma opinião teve o senador Agripino Maia (RN), líder do DEM na Casa. "Eles estão querendo, infantilmente, fazer um contraponto com fatos que estão indignando a opinião pública. Mas a opinião pública não é boba. Isso é uma atitude infantil. É querer tapar o sol com a peneira. Quer investigar? Pode investigar. Não há comparação", ressaltou.

Os dois senadores disseram que a instalação da CPI da Petrobras é irreversível. No entanto, Alvaro Dias acredita que o governo ainda tentará medidas protelatórias durante esta semana. "No futebol, se diz que determinado time joga com o regulamente embaixo do braço. O governo joga com o calendário embaixo do braço. Por isso, não creio que a CPI seja instalada nesta semana. Vão empurrar mais", salientou. O parlamentar afirmou que, mesmo com os governistas no comando da investigação, será possível avançar. "Uma CPI não é só restrita ao relatório final", disse.

Agripino Maia classificou como gravíssima a denúncia contra o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. O senador declarou que, quando a CPI da Petrobras for instalada, ele terá que ser convocado. "É muito grave. Os fatos é que vão impor a necessidade de ele se explicar na CPI. Os fatos levam a grandes dúvidas que precisam ser esclarecidas. Um brasileiro tem o direito de pensar que todo esse esquema foi montado para financiamento de campanha", atacou Agripino. Ele comparou o esquema montado pelo doleiro Alberto Youssef a outro escândalo: "Estamos diante do mensalão dois".

O deputado Rubens Bueno (PR), líder do PPS , deve protocolar hoje à tarde requerimento na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Casa para que Alexandre Padilha compareça à Câmara.

Pressão
A oposição vai correr esta semana para tentar instalar a CPI e evitar uma nova manobra do governo. O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), promete acionar a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, caso o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), descumpra a decisão de instalar a CPI da Petrobras imediatamente. "Se o presidente do Congresso não cumprir a decisão liminar da ministra Rosa Weber, estará praticando crime de responsabilidade. Por isso, o Democratas vai exigir a instalação imediata da CPI", ressaltou. Ele já indicou os dois membros do DEM que devem integrar a comissão mista. São os deputados Rodrigo Maia (RJ) e Onyx Lorenzoni (RS).

Padilha e PT discutem denúncia
O ex-ministro da Saúde e pré-candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha (PT) participou de uma reunião de emergência na noite de ontem com as bancadas federal e estadual do PT paulista. No encontro, que não foi divulgado oficialmente, foi debatido o estrago eleitoral da citação do nome do petista na Operação Lava-Jato. Até o fechamento desta edição, o encontro, a portas fechadas, ainda não havia sido encerrado. Publicamente, a cúpula do PT garante que Padilha não será substituído na disputa eleitoral. Nos bastidores, existe a preocupação de que novas denúncias envolvendo o ex-ministro afetem o desempenho da candidatura.

Ricardo Noblat: O que o PT teme

“Esta eleição vai ser um lamaçal. Todo mundo jogando lama para todo lado” Paulo Bernardo, ministro da Comunicações

- O Globo

Um doleiro é um doleiro, um doleiro, um doleiro. Pode até se apresentar como se fosse também outra coisa – um “homem de negócios”, talvez. Ou um empresário de qualquer ramo – quem sabe? Mas não deixará de ser um doleiro.

Sua fama o precede. Sua movimentação o expõe. Seus hábitos o denunciam. É impossível, por isso mesmo, conviver com ele e ignorar que se trata de um doleiro. Certo? Depende.

Submeta ao deputado federal Luiz Argôlo (PSD-BA) as mensagens eletrônicas que ele trocou no último dia 28 de fevereiro com Alberto Youssef, preso há pouco mais de um mês pela Polícia Federal sob a suspeita de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou cerca de R$ 10 bilhões.

E pergunte se na ocasião ele sabia que Youssef era doleiro. Com toda certeza dirá que não.

“Bom dia!”, saudou Argôlo. “Bom dia!”, respondeu Youssef. “Você sabe que tenho um carinho por você e é muito especial”, continuou Argôlo. “Eu idem”, retrucou Youssef. “Queria ter falado isso ontem. Acabei não falando. Te amo”, derramou-se o deputado. “Eu amo você também. Muitooooooooooo”, retribuiu o doleiro. “Sinto isso. E aí? Já melhorou? Melhorou?”, insistiu Argôlo. “Por favor, me diga alguma coisa”.

Não se sabe se Youssef atendeu ao apelo de Argôlo e disse mais alguma coisa. Acabou por ali a transcrição da conversa que consta de um relatório da Polícia Federal. Foi Felipe Patury, colunista da revista ÉPOCA, quem a publicou primeiro.

Procura-se quem tenha conhecido Youssef como doleiro antes de ele ser preso. A autoridade policial (61 3223-2302/2024-8450/8452) agradece desde já por qualquer informação.

Forçado pelo PT a renunciar à vice-presidência da Câmara e a se desfiliar do partido, o deputado André Vargas admitiu que é amigo de Youssef há mais de 20 anos.

Pediu a Yousseff que providenciasse um jatinho para que ele e a família voassem do Paraná à Paraíba? Pediu, sim.

Uma vez pediu que lhe reservasse a mais luxuosa suíte de um hotel em Londrina de propriedade de Youssef? Pediu.

Vargas cobrou de Youssef pagamento supostamente devido a um dos seus irmãos? Cobrou. E falou sobre negócios com Youssef? Bem, em termos.

Agiu para favorecer um laboratório de Youssef em suas relações com o Ministério da Saúde, conforme indicam diálogos interceptados pela Polícia Federal com autorização da Justiça? Ah, nunquinha. Apenas “orientou” Youssef a como proceder quanto a isso.

Vargas sabia que Youssef era doleiro? Imagina! Vargas já disse e repetiu que jamais soube que Yousseff fosse doleiro.

Tampouco sabia Carlos Borges, diretor do fundo de pensão dos economiários Federais, o terceiro maior fundo do país, com um orçamento de R$ 52 bilhões. Borges confirma que se reuniu com Youssef no ano passado a pedido de Vargas. Mas daí a saber que ele fosse doleiro vai uma longa distância, argumenta.

O deputado Cândido Vacarezza (PT-SP) se recusa a “negar peremptoriamente” que tenha recebido Yousseff em seu apartamento de Brasília. Se isso ocorreu, porém, foi porque Youssef “estava na companhia de Vargas”.

Yousseff doleiro? Não. Youssef empresário – o mesmo que fez parte de uma comitiva oficial do governo brasileiro que visitou Cuba em 2008 ou 2009. O deputado Vicente Cândido (PT-SP) o viu por lá. E depois voltou a vê-lo em São Paulo.

Na época, Yousseff não era um desconhecido. Seu nome fora citado no escândalo que sacudira o Banestado. E depois no escândalo do mensalão.

A CPI do Correio começou investigando o pagamento de uma reles propina e acabou por descobrir o mensalão. O PT teme que a história se repita com a CPI destinada a investigar malfeitos na Petrobras.

José Roberto de Toledo: Os antitudo e a eleição

- O Estado de S. Paulo

Partidários de Dilma Rousseff agarram-se a uma conta aritmética para brandir otimismo sobre sua reeleição: a soma das intenções de voto dos outros candidatos é uma fração do eleitorado da presidente. Conclusão aparentemente óbvia, Dilma não teria para quem perder. Mas há sempre a chance de perder para si mesma.

Na pesquisa Ibope de abril, Dilma, mesmo em queda, marcou 37%, enquanto Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e os sete anões somaram apenas 25%. É a expressão do desconhecimento dos candidatos anti-Dilma, mas também da sua incapacidade até agora de despertar o eleitor. Toda a oposição junta equivale ao contingente de desesperançados da política, aos antitudo.

Um a cada quatro eleitores está declarando voto nulo ou branco. É uma taxa excepcionalmente alta para padrões brasileiros. Parece mais uma forma de o eleitor expressar sua insatisfação com o sistema político em vigor do que um plano para outubro. Na solidão da urna, todos esses brasileiros vão invalidar os votos?

Pelo retrospecto, é improvável. A média histórica de votos inválidos é ao menos metade do que aparece hoje nas pesquisas: se considerarmos todos os primeiros turnos presidenciais entre 1989 e 2010, dá 12%, mas caindo. Nos três últimos, a taxa baixou para 9%. E foi ainda menor nos segundos turnos: 6%.

Por que, então, o branco/nulo está tão alto? Porque grande quantidade de brasileiros não está nem aí para o que vai acontecer nas urnas. Responder que vai anular ou votar em branco é, também, um jeito menos vexatório de dizer "não sei".

Três de quatro eleitores que estão hoje no branco/nulo dizem ter nenhum ou pouco interesse no pleito de outubro. Já entre os eleitores de Dilma, Aécio e Eduardo a maioria declara ter muito ou médio interesse na eleição. Ou seja, quem já se decidiu é o eleitor mais politizado ou que ainda acredita na política. Os demais só vão fazer sua opção quando não tiverem outra saída.

A implicação desses números é que, mantida a tendência histórica, a maioria dos eleitores que aparecem hoje na coluna do branco e nulo vai migrar para algum dos candidatos a presidente no decorrer da campanha eleitoral. Mas para qual?

Raramente para a incumbente. Na pesquisa Ibope de abril, 75% dos eleitores que declararam que votariam em branco ou anulariam escolheram a seguinte frase para descrever sua opinião sobre Dilma: "Não votaria nela de jeito nenhum para presidente". Apenas 12% admitiram a possibilidade de votar na petista. O resto não soube responder ou não a conhece o suficiente.

Se não será majoritariamente para Dilma, para quem, então, migrarão os eleitores insatisfeitos? Aécio Neves e Eduardo Campos têm chances equivalentes entre si, mas não muito maiores do que a presidente: 63% dos antitudo não votariam de jeito nenhum no tucano, e 61% dizem o mesmo sobre o pernambucano.

O problema parece estar também na imagem dos candidatos de oposição, ambos netos e herdeiros de políticos tradicionais. Mesmo mais conhecida do que Eduardo e Aécio, Marina Silva teria, se candidata, menor rejeição entre os insatisfeitos. Só 53% dos antitudo se dizem também anti-Marina. Entre eles, ela vai melhor até do que Lula, que alcança 60% de rejeição nesse grupo.

A rejeição maior a Dilma indica que alguém da oposição teria mais chances de conquistar o voto dos insatisfeitos. Mas não só.

CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari comparou o perfil dos eleitores que declaram voto na presidente, na oposição e em ninguém. Da geografia à escolaridade, passando por renda, cor e religião do eleitor, quem diz que votaria nulo ou em branco é muito mais parecido com o eleitor oposicionista do que com quem declara voto em Dilma. É o que basta? Depende da presidente.

Se confiar apenas na aritmética e não conquistar parte dos antitudo, Dilma deve desocupar o Planalto antes do previsto.

Luiz Carlos Azedo: Subiu no telhado

Dilma enfrenta uma situação nova: a possibilidade cada vez maior de uma disputa em dois turnos, mesmo estando hoje em vantagem nas pesquisas

- Correio Braziliense

A candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff enfrenta um momento crítico. Não é por causa do movimento "Volta, Lula!", que entrou em convulsão com a CPI da Petrobras e a Operação Lava-Jato, mas por causa das pesquisas de opinião, que registram queda gradativa das intenções de voto da candidata petista (de 44% para 38%, segundo o Datafolha) e, mais ainda, da avaliação de seu desempenho no governo (63% dizem que Dilma fez menos do que esperavam, revelou a mesma pesquisa). Até recentemente considerada favorita absoluta nas eleições deste ano, Dilma enfrenta agora uma situação nova: com a possibilidade cada vez maior de uma disputa em dois turnos, por uma série de razões, mesmo estando hoje em vantagem nas pesquisas, a reeleição subiu no telhado. Vejamos as razões:

A economia vai mal — Previsões de que a inflação deste ano deve ultrapassar 6,5% tiram o sono de Dilma Rousseff. Especialmente porque a taxa de crescimento continua baixa, e elevar ainda mais os juros pode jogar o país numa recessão. A contenção de tarifas públicas para segurar a inflação já é vista como uma bomba-relógio pelos analistas e começa a ser denunciada pelos candidatos adversários. Além disso, a condução da política econômica afasta grandes investidores de projetos de infraestrutura e outros negócios. A ponto de o Planalto vazar a informação de que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, está escalado para substituir o ministro da Fazenda, Guido Mantega, antes mesmo do pleito, se for preciso. Trata-se de uma tentativa de recuperar a confiança do mercado.

Petrobras no pelourinho — A CPI da Petrobras é uma pedra no sapato do governo, com ingredientes explosivos por causa da sucessão de fatos que vinculam o doleiro preso Alberto Youssef ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, também em cana, e ao deputado André Vargas (sem partido-PR) e alguns petistas. O parlamentar se desfiliou do PT na sexta, mas arrastou para o olho do furacão o candidato a governador de São Paulo Alexandre Padilha (PT), que é o principal palanque regional de Dilma. Como essas denúncias são resultado de vazamentos de investigações da Polícia Federal, mesmo que o governo consiga domar a CPI, isso não significa que se verá livre de novos escândalos.

A violência nas ruas — Por mais que o Planalto jogue o problema no colo dos governadores, aliados ou não, o tema da violência tende a desgastar o governo federal, quando nada pelo trabalho insuficiente para desmantelar as redes de tráfico de armas e de drogas. Nas cidades, além dos conflitos com o crime organizado, às vésperas da Copa do Mundo, a inquietação social também se ampliou, com a multiplicação de atos de vandalismo e confrontos violentos com policiais encarregados de garantir a ordem pública por causa de problemas nas áreas sociais: transportes, saúde, habitação. O governo prometeu soluções e não as entregou. Dilma tenta manter a bandeira da ordem em mãos, mas não se faz isso sem combater a violência.

Aliança com o PMDB — Deve-se ao vice-presidente Michel Temer, principalmente, a manutenção da aliança do PMDB com o PT, o que garantirá à presidente Dilma, com os demais aliados, o dobro do tempo de televisão de que disporão os adversários do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), e do PSB, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Entretanto, nos estados, a tensão entre PT e PMDB continua grande, principalmente no Rio de Janeiro e no Ceará, que sempre marcharam com o PT. O resultado disso é que as dissidências do PMDB estão fortalecendo os palanques de Aécio e de Eduardo na maioria dos estados.

A unidade do PSDB — Aécio conseguiu unir o PSDB em torno da candidatura dele, isolando o ex-governador paulista José Serra, seu desafeto interno, com quem pode até vir a compor a chapa, se depender das articulações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Além de subir o tom dos ataques contra o governo, com auxílio do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, Aécio ampliou a interlocução com setores empresariais descontentes com a política econômica de Dilma. Simultaneamente, busca atrair partidos da base governista. Os estrategistas de Dilma contavam com a divisão do PSDB, principalmente em São Paulo, o que não ocorreu.

A terceira via — Outra pedra no sapato de Dilma Rousseff é Marina Silva, cuja candidatura presidencial conseguiu inviabilizar. A ex-petista se filiou ao PSB e acaba de consolidar a chapa de Eduardo Campos ao assumir a condição de vice, como havia anunciado. Além disso, Dilma empurrou o candidato pernambucano para o campo da oposição no segundo turno, mesmo que ele fique fora da disputa. A inclusão do Porto de Suape no espectro de investigações que o PT pretendia adicionar à CPI da Petrobras foi um erro estratégico do Planalto, provocado pela bancada petista de Pernambuco.

Diante desse quadro, as fichas de Dilma para reverter a queda nas pesquisas serão apostadas no pronunciamento em rede de tevê e rádio que ela pretende fazer para comemorar o Primeiro de Maio, e no programa de televisão do PT que vai ao ar no próximo dia 15, quando, novamente, aparecerá ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essas variáveis acima, porém, não serão alteradas somente no gogó.

Valdo Cruz: Perdendo respeito

- Folha de S. Paulo / EBC

A liturgia do poder diz que algo anda errado quando um visitante, convidado ao palácio, não poupa de criticas seu anfitrião. Pior quando os áulicos presentes ao salão não escondem sua satisfação como desconforto do chefe.

Pois tal cena se deu em pleno Palácio do Planalto, durante recente reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado Conselhão, que reúne governo, empresários e sindicalistas para debater os rumos do país.

Presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, Ubiraci Oliveira, para surpresa dos presentes, disparou críticas ao governo.

Protestou contra promessas não cumpridas de verbas para mobilidade urbana. "O governo foi à TV em junho passado e apresentou um investimento de R$ 50 bilhões. Mas o que estou observando é que, de lá para cá, a situação não melhorou."

Disse mais. "Enquanto isso, corte no Orçamento para fazer superavit, taxa de juros nas alturas e exorbitantes transferências de recursos ao exterior para pagamento de juros aos bancos estrangeiros."

Dilma, na mesa principal, ouvia a tudo de semblante carregado. Na plateia, ministros e assessores faziam, protegidos dos olhares da chefe, gestos de concordância. Teve quem sorrisse de satisfação. Talvez nem tanto pelo conteúdo, mas pela coragem do convidado.

Ao final, Ubiraci foi efusivamente cumprimentado por colegas do Conselhão. Um empresário disse: "Mandou bem". Da anfitriã, ganhou um aperto de mão seco.

0 sindicalista lavou a alma de muito assessor que já não aguenta mais as descomposturas da chefe e de empresários que se cansaram do jeito sabe tudo de Dilma.

Enfim, o estilo irascível da petista só joga contra ela própria. Leva ao isolamento —tem ministro que hoje prefere evitar o Planalto— e sufoca a criatividade de sua equipe. Algo que não combina nem um pouco com a boa governança.