Em entrevista à TV portuguesa RTP, ex-presidente afirma ainda que escândalo vai ser recontado e que isso é uma questão de tempo
O Globo
RIO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista divulgada neste domingo pela TV portuguesa RTP, que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tomaram mais uma decisão política do que jurídica ao condenar 25 réus do processo do mensalão. Lula foi internado no sábado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, por causa de uma crise de labirintite. Ele fez exames e foi liberado na manhã deste domingo, segundo informou o hospital.
- Tem uma coisa que as pessoas precisam compreender: o povo é mais esperto do que algumas pessoas imaginam. O mensalão, o tempo vai se encarregar de provar, que o mensalão, você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica - disse o ex-presidente em um trecho da entrevista de quase 40 minutos.
Lula lembrou que indicou para o Supremo seis dos 11 ministros que julgaram o caso e, em seguida, disse que o mensalão será recontado para se saber o que aconteceu de verdade:
- O que eu acho é que não houve mensalão. Agora, eu também não vou ficar discutindo as decisões da Suprema Corte. O que eu acho é que essa história vai ser recontada, é apenas uma questão de tempo.
‘Mensalão foi massacre contra o PT’
Para ele, o processo do mensalão “foi um massacre que visava a destruir o PT e não conseguiram”. No momento em que falou sobre os escândalos envolvendo o PT, a apresentadora citou as denúncias envolvendo a Petrobras.
- Não adianta dizer que o Lula pratica qualquer ato ilícito porque o povo me conhece. Eu sou filho de pai e mãe analfabetos e digo todo dia para não ter dúvidas. O único patrimônio que minha mãe me deixou foi a conquista de andar de cabeça erguida - afirmou.
O ex-presidente voltou a reafirmar que não será candidato à Presidência e que vai ser cabo eleitoral da presidente Dilma Rousseff:
- Em política, a gente nunca pode dizer não, mas eu acho que eu já cumpri com a minha matéria no Brasil. Eu sonhava em ser presidente porque eu queria provar que eu tinha mais competência para governar do que a elite brasileira. E provei.
Ele disse também que não quer cargos políticos:
- Não quero cargo politico. Eu era deputado em1990 quando meu partido queria que eu fosse candidato, eu tinha perdido em 1989, (e o PT) queria que eu fosse candidato para ter 1,5 milhão de votos (como deputado). Eu disse: não vou ser candidato porque quero provar para o PT que eu não preciso de cargo para ser importante. Eu quero ser importante pela minha capacidade de trabalho.
Então, não preciso de cargo.
‘O povo quer mais’
Enquanto Lula falava que a vida do povo brasileiro mudou, a jornalista perguntou, então, por que a população estava indo as ruas.
- O povo quer mais. Você não tenha dúvida de que assim é a humanidade. Se você consegue comer hoje um contrafilé, depois de uma semana, você quer filé. Se você começar comer filé, vai querer comer uma coisa melhor - declarou. - Acho extraordinário que povo queira mais. A Fifa foi fazer a Copa e a Fifa exige estádios mais qualificados do que os que a gente tinha. Então, se instituiu no Brasil o padrão Fifa para a Copa. Achei extraordinário que o povo começasse a reivindicar escola padrão Fifa, saúde padrão Fifa, transporte padrão Fifa.
Quando a apresentadora questionou sobre o preço dos estádios para a Copa, Lula disse que queria aproveitar para fazer um esclarecimento:
- Não tem dinheiro público do orçamento em estádio de futebol. O que o governo brasileiro tomou como decisão, e foi no meu tempo ainda, é que o governo não financiaria clubes. O Brasil emprestaria até 400 milhões de reais de para os governos estaduais e financiaria até 400 milhões de reais a empresas que quiserem fazer estádios. O dinheiro gasto com a Copa é com mobilização urbana.
O ex-presidente disse que em seu governo os brasileiros compraram mais carros e foi questionado sobre a opinião de especialistas que dizem que o Brasil não tinha infraestrutura para isso:
- Isso é um bom problema porque o povo pobre tem que ter carro mesmo, tem o direito de comprar e usar aquele bem material que ele produziu . Ou nós pobres somos obrigados a produzir só para os ricos?
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