Senadores do PSDB e do DEM acreditam que a estratégia do Planalto de atacar opositores na CPI da Petrobras com fatos antigos representa manobra inócua
João Valadares – Correio Braziliense
A oposição reagiu à tentativa dos governistas de resgatar fatos ocorridos há mais de uma década para colocar os tucanos como alvo na CPI da Petrobras. O PSDB e o DEM classificaram o plano do Palácio do Planalto como "desespero de quem quer encobrir denúncias graves". Nesta semana, toda a artilharia dos oposicionistas se volta para o ex-ministro da Saúde e pré-candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha (PT), que teve o nome citado na Operação Lava-Jato por ter supostamente indicado um ex-assessor para ser o principal executivo da Labogen, laboratório de fachada do doleiro Alberto Youssef.
O senador Alvaro Dias, do PSDB-PR, afirmou que, se o PT realmente desengavetar fatos ocorridos na Petrobras durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, é uma confissão de "prevaricação". "Se fizerem isso, estarão confessando que não cumpriram o dever deles na época. Chama-se prevaricação. Por que não denunciaram lá atrás? Por que só querem fazer isso agora? É uma estratégia para impedir os fatos atuais. É a revelação de um receio de que esses fatos escabrosos sejam esclarecidos", afirmou.
A mesma opinião teve o senador Agripino Maia (RN), líder do DEM na Casa. "Eles estão querendo, infantilmente, fazer um contraponto com fatos que estão indignando a opinião pública. Mas a opinião pública não é boba. Isso é uma atitude infantil. É querer tapar o sol com a peneira. Quer investigar? Pode investigar. Não há comparação", ressaltou.
Os dois senadores disseram que a instalação da CPI da Petrobras é irreversível. No entanto, Alvaro Dias acredita que o governo ainda tentará medidas protelatórias durante esta semana. "No futebol, se diz que determinado time joga com o regulamente embaixo do braço. O governo joga com o calendário embaixo do braço. Por isso, não creio que a CPI seja instalada nesta semana. Vão empurrar mais", salientou. O parlamentar afirmou que, mesmo com os governistas no comando da investigação, será possível avançar. "Uma CPI não é só restrita ao relatório final", disse.
Agripino Maia classificou como gravíssima a denúncia contra o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. O senador declarou que, quando a CPI da Petrobras for instalada, ele terá que ser convocado. "É muito grave. Os fatos é que vão impor a necessidade de ele se explicar na CPI. Os fatos levam a grandes dúvidas que precisam ser esclarecidas. Um brasileiro tem o direito de pensar que todo esse esquema foi montado para financiamento de campanha", atacou Agripino. Ele comparou o esquema montado pelo doleiro Alberto Youssef a outro escândalo: "Estamos diante do mensalão dois".
O deputado Rubens Bueno (PR), líder do PPS , deve protocolar hoje à tarde requerimento na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Casa para que Alexandre Padilha compareça à Câmara.
Pressão
A oposição vai correr esta semana para tentar instalar a CPI e evitar uma nova manobra do governo. O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), promete acionar a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, caso o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), descumpra a decisão de instalar a CPI da Petrobras imediatamente. "Se o presidente do Congresso não cumprir a decisão liminar da ministra Rosa Weber, estará praticando crime de responsabilidade. Por isso, o Democratas vai exigir a instalação imediata da CPI", ressaltou. Ele já indicou os dois membros do DEM que devem integrar a comissão mista. São os deputados Rodrigo Maia (RJ) e Onyx Lorenzoni (RS).
Padilha e PT discutem denúncia
O ex-ministro da Saúde e pré-candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha (PT) participou de uma reunião de emergência na noite de ontem com as bancadas federal e estadual do PT paulista. No encontro, que não foi divulgado oficialmente, foi debatido o estrago eleitoral da citação do nome do petista na Operação Lava-Jato. Até o fechamento desta edição, o encontro, a portas fechadas, ainda não havia sido encerrado. Publicamente, a cúpula do PT garante que Padilha não será substituído na disputa eleitoral. Nos bastidores, existe a preocupação de que novas denúncias envolvendo o ex-ministro afetem o desempenho da candidatura.
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